No final de 2014, um conjunto de aljustrelenses lançou um abaixo-assinado a alertar a câmara da localidade, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA), a Almina – que gere a mina local – e a Assembleia Municipal para a “poeira negra, potencialmente cancerígena, que cai diariamente em cima de uma zona habitada” da região.
Segundo os cidadãos, que há muito procuram alertar para esta situação, a população afectada “respira o pó preto enquanto ouve e sente explosões subterrâneas que fazem o chão tremer”. “O pó é tanto que muitos populares afirmam limpar o negrume dos quintais duas vezes ao dia”, avançava o abaixo-assinado.
Segundo uma reportagem da Visão de 2014, Aljustrel sempre viveu paredes meias com o caos ambiental provocado pela exploração mineira. Desactivadas, finalmente, em 2008, as antigas Pirites Alentejana reabriram no ano seguinte – com a designação Almina.
A exploração foi reconvertida para a produção de cobre e o pó escuro voltou à vila. “Basta uma volta pelas redondezas para se perceber que, com a retoma da exploração mineira, em 2009, reapareceram muitas das antigas – e também novas – feridas ambientais”, escreveu a Visão.
A partir do momento em que a produção atingiu a velocidade de cruzeiro, a poluição tornou-se tema obrigatório para os 6.000 habitantes da vila, todos dependentes – directa ou indirectamente – da mina.
Emprego ou ambiente?
“O problema insere-se numa dualidade conflituosa em que as notórias chagas ambientais provocadas pela exploração mineira e os benefícios económicos carregados pela mesma se confrontam em polos opostos”, explica o abaixo-assinado.
Segundo o grupo de cidadãos que redigiu o abaixo-assinado, é inegável a mais-valia económica da mina para a população. Mas é também impossível “ignorar a rede hidráulica da vila, poluída com metais pesados”. Ou ignorar “as explosões diárias que fazem o chão da vila tremer”, os “solos amarelados” que circundam as zonas explorados ou o estudo do Instituto Nacional de Saúde que colocava o risco de mortalidade por cancro de Aljustrel como o mais elevado do país.
“É também impossível ignorar um artigo do jornal Mapa onde se afirma que Aljustrel é um dos concelhos com maior incidência de cancro pulmonar em Portugal”, continua o abaixo-assinado.
Pó de britagem
A poeira aljustrelense terá origem nos processos de britagem (trituração) e de estucagem (queda no parque) do minério em bruto. Não existem dados concretos, porém, sobre que partículas estão a chegar à vila nesta poeira negra. “Essa ausência de informação é só por si alarmante. Mas basta analisar a literatura científica sobre o tema para perceber que as poeiras resultantes destes processos podem conter finas partículas de metais pesados e outras substâncias como sílica, cobre, alumínio, chumbo, mercúrio, enxofre”, avança o abaixo-assinado.
O impacto para a saúde destas substâncias inclui irritações nos olhos, doenças respiratórias crónicas ou cancro. “Estamos em plano século XXI e a situação nesta vila alentejana é inadmissível”, escreveu-nos há dias o leitor Humberto Figueira, alertando-nos para a situação.
Nas redes sociais é também possível encontrar referências ao pó aljustrelense – a página do Facebook Não ao Pó da Mina, por exemplo. E o caro leitor, tem alguma história ou fotografia que queira partilhar connosco sobre o pó de Aljustrel?
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