sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Aurica: o novo supercontinente nascerá dentro de 300 milhões de anos


Cientistas em Portugal e na Austrália defendem, como cenário provável, a formação de um novo supercontinente, a que deram o nome Aurica, dentro de 300 milhões de anos, em resultado do fecho simultâneo dos oceanos Atlântico e Pacífico.
 
O cenário, traçado com base em modelos computacionais, cálculos matemáticos, evidências e na história geológica da Terra, é sustentado pelos geólogos João Duarte e Filipe Rosas, do Instituto Dom Luiz e do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e Wouter Schellart, da Universidade de Monash, na Austrália.
 
Os resultados do estudo foram publicados na edição digital da revista Geological Magazine.
 
Ciclicamente, ao longo da história da Terra, a cada 500 milhões de anos, os oceanos fecham-se e os continentes juntam-se, formando um supercontinente.
 
Há 200 milhões de anos, quando os dinossauros habitavam a Terra, todos os continentes estavam reunidos num supercontinente, a Pangeia, em que a América do Sul estava ligada à África.
 
No novo supercontinente, apresentado pelos três investigadores, o núcleo é formado pela Austrália e pela América, que estão ligadas, daí o nome Aurica atribuído ('Au' de Austrália e 'rica' de América).
 
A hipótese da formação de um supercontinente, a partir do fecho simultâneo dos oceanos Atlântico e Pacífico, baseia-se na "evidência de que novas zonas de subducção se estão a propagar no Atlântico", refere a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em comunicado.
 
As zonas de subducção (locais onde uma placa tectónica mergulha sob a outra) são requisitos para os oceanos fecharem.
 
"Para fechar os oceanos, é necessário que as margens dos continentes se transformem em margens ativas, se formem novas zonas de subducção", esclareceu à Lusa o geólogo João Duarte.
 
O Pacífico, explicou, "está rodeado de zonas de subducção", nomeadamente próximo do Japão, do Alasca (EUA) e da região dos Andes (América do Sul).
 
As zonas de subducção "propagam-se de um oceano para o outro, do Pacífico para o Atlântico", sublinhou.
 
No Atlântico, já existem duas zonas de subducção totalmente desenvolvidas: o Arco da Escócia e o Arco das Pequenas Antilhas.
 
Uma nova zona de subducção poderá estar a formar-se ao largo da margem sudoeste ibérica, que apanha território português.
 
Segundo João Duarte, a chamada Falha de Marquês de Pombal, localizada ao largo do Cabo de São Vicente, no Algarve, e apontada como "uma das possíveis fontes do sismo de 1755", em Lisboa, está "a marcar o início dessa nova zona de subducção".
 
Hipóteses anteriores, de outros cientistas, sugerem a formação de um novo supercontinente a partir do fecho de um dos oceanos, do Atlântico ou do Pacífico.
 
O geólogo português, e investigador-principal no estudo, lembra que, no passado, dois oceanos tiveram de se fechar para dar origem a um supercontinente.
 
João Duarte advogou que manter o Pacífico ou o Atlântico aberto significa que um dos dois oceanos vai perdurar para lá da sua 'esperança de vida', cifrada em 200 a 300 milhões de anos.
 
"Isso é contraditório com a história, a geologia da Terra. Os oceanos não vivem mais do que 200 ou 300 milhões de anos", frisou.
 
O investigador acrescentou outro dado para sustentar a sua tese: a da fracturação da Euroásia (Europa e Ásia).
 
De acordo com João Duarte, o Oceano Índico "está a abrir" na Euroásia e existem novos riftes (fissuras da superfície terrestre causadas pelo afastamento e consequente abatimento de partes da crosta) que "estão a propagar-se para norte".
 
A cadeia montanhosa dos Himalaias, a Índia e o interior da Euroásia correspondem a "uma zona de rutura, onde as placas tectónicas vão partir-se num futuro", permitindo "partir ao meio" a Euroásia, cenário possível dentro de 20 milhões de anos, admitiu.
 
Para o cientista, a fratura da Euroásia irá possibilitar o fecho dos oceanos Atlântico e Pacífico.
 
João Duarte e restante equipa propõem-se, agora, testar "até à exaustão", com modelos computacionais mais avançados, o cenário "muito provável" que avançaram, o de um novo supercontinente chamado Aurica.

domingo, 16 de outubro de 2016

Isolamento de idosos pode levar à desnutrição, desidratação e obesidade

16 out 2016 · 13:19
Investigadores da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) acreditam que o isolamento dos idosos leva ao sedentarismo e à baixa mobilidade, fatores que podem provocar desnutrição, desidratação, excesso de peso e obesidade.
 
Neste que é o Dia Mundial da Alimentação, o investigador da FCNAUP Nuno Borges disse à Lusa que, embora sejam necessários mais estudos para comprovar os efeitos do isolamento nesta população, os dados indicam que há risco de insuficiência e deficiência de vitamina D, o que acontece em cerca de nove em cada dez idosos.
 
Nuno Borges é um dos responsáveis pelo NutritionUP 65, um projeto desenvolvido na FCNAUP e coordenado pela professora Teresa Amaral, que visa determinar o estado nutricional dos portugueses com mais de 65 anos, numa amostra representativa de 1500 pessoas idosas, de acordo com o intervalo de idades, o género, o nível de ensino e a área regional do país.
 
Segundo os dados recolhidos no estudo, cerca de 44% dos idosos apresentam excesso de peso e 39% têm obesidade, situações que derivam de problemas no balanço energético, despoletados por um hábito de "comer mal e a mais e praticar atividade física a menos".
 
Esta condição está relacionada com a sarcopenia (perda de massa, força e função musculares em consequência do envelhecimento), "que compromete todas as atividades do dia-a-dia dos idosos", como andar, subir e descer escadas, ir às compras e cozinhar, indicou o investigador.
 
Os dados relativos à desnutrição, outro dos fatores estudados no NutritionUP 65, indicam que 15% dos idosos estão em situação de risco, o que, para Nuno Borges, "é espantoso visto que quase 90% de idosos têm excesso de peso ou obesidade".
 
Para além da questão do isolamento, a desnutrição pode ser causada pelo acesso limitado aos alimentos, à incapacidade de preparar as refeições, por problemas económicos e por uma locomoção reduzida.
 
As doenças crónicas também influenciam esse fator, sendo que "quanto mais velha for a pessoa, mais patologias pode ir acumulando, o que aumenta a probabilidade de terem problemas a nível alimentar, agravando o risco de desnutrição", acrescentou o investigador.
 
Quanto à hidratação, mais de um terço dos idosos estão desidratados. "Há a ideia que o mecanismo que nos defende da desidratação - a sede - perde progressivamente eficácia com a idade e, por outro lado, não se verifica muito, nesta faixa etária e em Portugal, o hábito de se beber água", o que pode levar à obstipação e problemas renais, explicou o docente.
 
O consumo excessivo de sal, que se verifica em mais de 85% dos idosos, pode estar ligado à hipertensão arterial e aos acidentes vasculares celebrais (AVC).
 
Para Nuno Borges, "todos estes indicadores agravam-se com o isolamento", o que, "a confirmar-se com mais estudos", configura uma ideia dos idosos em Portugal, "que estão nas suas casas ou apenas em centros de dia, com níveis excessivamente baixos de atividade física e altos de uma alimentação desadequada".
 
"Há um grande trabalho que deve ser feito ao nível das medidas governamentais, além das alimentares, no sentido de proporcionar aos nossos idosos condições e estímulos para que se mexam mais, venham mais para à rua e se exponham mais à luz", tornando-se em "elementos ativos na sociedade", concluiu.
 
O NutritionUP 65 conta com a participação da FCNAUP, do Departamento para a Pesquisa do Cancro e Medicina Molecular da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE, e foi financiado pelo EEAGrants - Programa Iniciativas de Saúde Pública - em 519 mil euros.

Há uma razia nos pepinos-do-mar da ria Formosa

Margarida David Cardoso

Pesca em excesso, para o mercado internacional, está na origem do desaparecimento abrupto em dois anos destes animais E não são só eles que estão em risco, alertam os cientistas. Vazio legal afasta a possibilidade de condenação.
Pepinos-do-mar criados em aquacultura na Estação Experimental do Ramalhete, perto de Faro
Em dois anos, 75% da população de pepinos-do-mar desapareceu em vários locais da ria Formosa, no Algarve. A espécie Holothuria arguinensis é a mais afectada: junto à ilha da Armona havia 120 indivíduos por hectare, em 2014. Hoje, são cerca de 30. Apesar de estarem na área protegida do Parque Natural da Ria Formosa, é junto às ilhas da Armona e da Culatra que se detectam as maiores perdas.
 
Os números preocupam os investigadores do Centro do Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR), dada a dificuldade de reprodução deste animal quando a sua densidade é baixa. Sabendo que os pepinos-do-mar são denso-dependentes (dependem da existência de grandes quantidades de fêmeas e machos para terem êxito na reprodução), Mercedes González Wangüemert, do CCMAR, alerta: “Já podemos falar do risco de a espécie desaparecer completamente da ria.”
 
E não só. Segundo noticiou o jornal Barlavento, também ao largo de Olhos de Água, de Albufeira e Sagres, onde a equipa da espanhola González Wangüemert tem vindo a monitorizar a população de pepinos-do-mar desde 2012, se registou a quebra de três quartos, de 2014 até agora. A população que sobra é maioritariamente juvenil, uma vez que os pepinos-do-mar adultos e reprodutores são a faixa etária mais afectada.
 
“Se continuar a este ritmo, em menos de dois anos não vamos ter nada em algumas localidades”, lamenta.
 
A causa está na “pesca abusiva”, aponta a investigadora. Os pepinos-do-mar – animal da família dos ouriços-do-mar e das estrelas-do-mar – são extremamente procurados para alimentação e medicina tradicional com destino ao mercado asiático. Tanto que os chineses são capazes de correr o mundo em busca deles. Secos, cada quilo pode chegar aos 150 a 200 euros. A somar ao valor nutricional (possíveis antioxidantes e ácido gordo ómega-3), estes animais são ainda usados na obtenção de substâncias para fins terapêuticos.
 
No entanto, González Wangüemert não arrisca classificar a pesca de “ilegal”, porque, na verdade, não há nenhuma lei que a proíba. Apesar de haver três espécies de pepinos-do-mar (Holothuria forskal, Mesothuria intestinalis e Sthichopus regalis) referenciadas num regulamento sobre a apanha de animais marinhos, nenhuma das existentes na ria Formosa está incluída nele: “Nesta zona, não há qualquer legislação específica.”
A investigadora Mercedes González Wangüemert
Quando González Wangüemert confronta os mariscadores, como fez na passada semana ao largo da Armona, é a economia a falar: “Só numa maré apanho 70 ou 80 euros, no mínimo, de pepinos-do-mar. Faz ideia de quantas horas são precisas na apanha das ostras ou do lingueirão?”
 
Os mariscadores podem facilmente vender cada pepino-do-mar a 1,5 euros e, numa só maré, são capazes de apanhar 30 a 40 indivíduos, pelas contas da investigadora. E a venda não é difícil, dada a rede de processamento que os investigadores identificaram em Olhão, que escoa os animais para o mercado internacional. “Tendo em conta estas quantidades, já não estamos a falar de restaurantes locais”, o negócio chega mesmo a Hong Kong e a Pequim, afirma. Cá, tirando os restaurantes chineses, não há tradição de os comermos.
 
E as perguntas e propostas de empresas estrangeiras são cada vez mais frequentes, com a Malásia no topo da lista dos novos países interessados.
 
No Índico e Pacífico, a procura desenfreada já levou os cientistas a considerarem que nalgumas regiões os pepinos-do-mar estão “praticamente extintos”. Esta escassez nos trópicos tem provocado uma deslocação dos mariscadores para o Mediterrâneo e a costa europeia.

O que está em risco?

Não falamos só da sobrevivência de uma espécie, mas “de toda a diversidade de um ecossistema”, ressalva a investigadora do CCMAR. Tendo em conta a “pequena distribuição geográfica” destes animais, encontrados apenas desde o sul de Lisboa até ao fim da costa africana, um desequilíbrio local pode significar “um efeito em cadeia para o fim das espécies”.
 
Soma-se a isto a importância dos pepinos-do-mar na limpeza dos sedimentos depositados no fundo dos mares. “Estes bichos limpam a matéria orgânica e é deles que depende uma parte importante da cadeia alimentar do ecossistema.” A investigadora relata o desequilíbrio ecológico existente no Norte da Turquia, onde três espécies de pepinos-do-mar desapareceram por completo: “Começaram por morrer algas, depois peixes pequenos até se notar uma diminuição dos peixes maiores”, explicou.
 
Perante o risco de desaparecimento do animal em ambiente natural, o CCMAR começou a criá-los em terra, através da aquacultura, na Estação Experimental do Ramalhete, uma estação-piloto na ria Formosa instalada num antigo armazém da Companhia de Pescarias do Algarve, perto de Faro. Foi nesta estação que, em meados de 2014, nasceram as primeiras crias de pepinos-do-mar, precisamente a Holothuria arguinensis. Mas agora até esta criação “em terra” pode estar em causa: “Se continuar esta dinâmica, vou ficar sem reprodutores.” Risco que levou a cientista a pedir autorização à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (que financia esta investigação) para este ano ficar com os reprodutores, em vez de os libertar na ria como era procedimento habitual.
 
Apesar de não ter sido bem-sucedida em anteriores abordagens, González Wangüemert acredita que a solução passa pela sensibilização dos mariscadores para a pesca sustentável. No entanto, a investigadora vê a elaboração de uma lei e regulamentação restritiva como uma prioridade, para que, a partir daí, seja possível iniciar programas para restabelecer o número de animais. Outro dos objectivos é a criação de um programa de monotorização da costa em parceria com a Polícia Marítima e a GNR, para que seja possível fazer um registo dos animais que estão a ser capturados.

Afinal, o Universo terá dez vezes mais galáxias do que se pensava

AFP

São dois biliões (milhões de milhões) mas só conseguimos observar cerca de 10%, segundo novas estimativas de uma equipa internacional astrónomos.
Daqui a 3000 milhões de anos a nossa galáxia, a Via Láctea, vai encontrar-se com Andrómeda e formar uma outra galáxia
Afinal, o Universo terá cerca dois biliões (milhões de milhões) de galáxias, ou seja, dez vezes mais do que se pensava até agora, conclui um estudo de uma equipa internacional de astrónomos publicado esta quinta-feira. Nos últimos anos, os astrónomos pensavam que o Universo continha entre 100 bilhões e 200 bilhões de galáxias.
 
A equipa de Christopher Conselice, da Universidade de Nottingham (Reino Unido), trabalhou com os dados obtidos pelo telescópio espacial Hubble, desenvolvido pela NASA com a Agência Espacial Europeia, e por outros telescópios. Com estas informações, os cientistas construíram cuidadosamente imagens em 3D e extrapolaram o número de galáxias presentes em diferentes momentos da história do Universo. Quanto mais longe estão as galáxias, mais fraca é a luz que emitem e que chega até nós. Os telescópios que usamos actualmente permitem estudar apenas cerca de 10% das galáxias.
 
“É espantoso pensar que 90% das galáxias do cosmos ainda têm de ser estudas”, afirma Christopher Conselice. “Quem sabe o que vamos descobrir quando pudermos começar a estudar estas galáxias graças à nova geração de telescópios”, interroga-se o cientista num comunicado divulgado após a publicação do estudo na revista Astrophysical Journal.
 
Para os cálculos, a equipa de astrónomos utilizou métodos estatísticos e apoiou-se no conhecimento que temos do Universo mais próximo para prever o que se passará mais longe. “O estudo é muito interessante, embora possamos ter algumas reservas sobre o número preciso de galáxias”, comenta François Hammer, astrónomo do Observatório de Paris e especialista na formação de galáxias, em declarações à agência AFP.
 
“Christopher Conselice fez o melhor que conseguimos fazer nesta altura. Mas o resultado não pode ser considerado a palavra final”, disse o astrofísico. “É um trabalho que não poderá ser confirmado até que tenhamos telescópios gigantes que nos permitam ver muito melhor nestas regiões distantes”, refere ainda François Hammer.
 
O Telescópio Europeu Extremamente Grande E-ELT (European Extremely Large Telescope) está prestes a começar a ser construído no Chile pelo Observatório Europeu do Sul (ESO, organização intergovernamental europeia a que pertence Portugal). O seu espelho primário terá um diâmetro de 39 metros. O telescópio deverá começar a funcionar “em 2024/2025”, precisou François Hammer, responsável científico do seu espectrógrafo multi-objecto (MOS). Este instrumento vai permitir observar galáxias extremamente distantes.
 
Os Estados Unidos também pretendem construir, no Havai, o Thirty Meter Telescope (TMT), que terá um espelho segmentado de 30 metros.
 
O estudo agora publicado reforça um cenário que está “na moda” e que defende que as galáxias se formam quando se fundem umas com as outras, observa ainda François Hammer. “No início, há muitas galáxias pequenas e, em seguida, fundem-se, tornando-se cada vez maiores”, refere o cientista, acrescentando: “Dentro de 3000 a 4000 milhões de anos, a nossa galáxia, a Via Láctea, vai encontrar-se com Andrómeda e formar uma outra galáxia.”

Obama felicita acordo para eliminar hidroflurocarbonetos

Renascença
15 out, 2016 - 18:08
Emenda de Kigali foi assinada por 200 países e junta-se ao Acordo de Paris como mais um avanço para ajudar a travar as alterações climáticas.
 
O Presidente norte-americano, Barack Obama, felicitou "o ambicioso" novo acordo alcançado por 200 Estados para eliminar gradualmente os hidroflurocarbonetos (HFC), os gases utilizados nos sistemas de refrigeração, espumas e aerossóis, e que potenciam o aquecimento do planeta.

Em comunicado, o Presidente norte-americano aplaude a aprovação em Kigali, de uma emenda ao Tratado de Montreal de 1987 que inclui as duas maiores economias do mundo, a China e os Estados, e cuja aplicação poderá evitar o aumento em meio grau da temperatura da Terra neste século.
 
"Durante muitos anos, nos Estados Unidos trabalhámos sem descanso para encontrar uma solução global que permitisse eliminar, gradualmente, a produção e o consumo dos HFC", que "podem ser centenas e até milhares de vezes mais potentes que o dióxido de carbono", assegurou Obama.
 
"Hoje em Kigali, cerca de 200 países adoptaram uma solução ambiciosa e de grande alcance para esta iminente crise", acrescentou.
 
Segundo o acordo, baptizado como Emenda de Kigali, os países desenvolvidos começam a diminuição gradual do uso de HFC em 2019, apesar de estar já em vias de desenvolvimento o congelamento dos seus níveis de consumo entre 2014 e 2028.

Unicef. Nutrição deficiente causa danos mentais e físicos irreversíveis

Renascença
14 out, 2016 - 07:00
Relatório "Desde a primeira hora de vida" revela que apenas uma em cada seis crianças recebe os nutrientes suficientes.
 
Apenas uma em cada seis crianças com menos de dois anos recebe alimentos em quantidade e diversidade suficientes para a sua idade, o que deixa as restantes em risco de danos físicos e mentais irreversíveis.
 
A conclusão é de um relatório da agência das Nações Unidas para a infância. "Os bebés e as crianças pequenas têm maior necessidade de nutrientes do que em qualquer outra fase da vida. Mas milhões de crianças pequenas não desenvolvem todo o seu potencial físico e intelectual porque recebem pouca comida e demasiado tarde", disse France Begin, conselheira sénior para os assuntos de Nutrição da Unicef, citada num comunicado da organização.
 
A responsável alerta que "uma nutrição deficiente numa idade tão tenra causa danos mentais e físicos irreversíveis".
 
Intitulado "Desde a primeira hora de vida", o relatório agora divulgado revela um mundo onde uma dieta saudável está fora do alcance da maioria.
 
Os dados da Unicef mostram que a introdução tardia de alimentos sólidos, o número reduzido de refeições e a falta de variedade de alimentos são práticas generalizadas no mundo, privando as crianças de nutrientes essenciais quando o cérebro, os ossos e o físico deles mais precisam.
 
Com efeito, embora os alimentos sólidos devam ser introduzidos a partir dos seis meses de idade, um terço de todas as crianças no mundo só começa a comê-los demasiado tarde e um em cada cinco bebés só começa a comer alimentos sólidos após os 11 meses.
 
Apenas 52% das crianças de entre seis e 23 meses recebem o número mínimo de refeições diárias para a sua idade e a diversidade alimentar é outro problema: menos de metade das crianças recebe diariamente alimentos de pelo menos quatro grupos alimentares diferentes.
 
Entre os seis e os 11 meses, a faixa etária em que a nutrição é mais importante, a situação é ainda mais preocupante: apenas 20% estão a receber alimentos de quatro grupos diferentes por dia, o que provoca carências de vitaminas e minerais.
 
A importância da amamentação
O relatório da Unicef refere-se também à amamentação, que segundo as recomendações da Organização Mundial de Saúde deveria ser a forma exclusiva de alimentação dos bebés até aos seis meses de idade.
 
Segundo os dados revelados, apenas 45% dos 140 milhões de bebés que nasceram em 2015 foram amamentados na sua primeira hora de vida, como é recomendado, e três em cada cinco bebés com menos de seis meses não recebem os benefícios da amamentação exclusiva.
 
De acordo com o relatório, quase metade das crianças em idade pré-escolar sofre de anemia e metade das crianças entre os seis e os 11 meses não recebem qualquer tipo de alimento de origem animal.
 
A Unicef alerta ainda para as desigualdades: Na África subsaariana e no Sul da Ásia, apenas uma em cada seis crianças dos agregados familiares mais pobres com idades entre os seis e os 11 meses têm uma dieta minimamente diversificada, comparando com uma em cada três dos agregados mais ricos.
 
A organização sublinha que a melhoria da nutrição das crianças mais pequenas poderia salvar 100.000 vidas por ano, mas sublinha que as famílias, embora façam o seu melhor com os recursos a que têm acesso, não podem fazer tudo sozinhas.
 
É precisa a liderança dos governos e os contributos de sectores-chave da sociedade para fornecer uma dieta saudável às crianças, pode ler-se no relatório.
 
Tornar os alimentos nutritivos mais baratos e acessíveis para as crianças mais pobres exige investimentos mais consistentes e direccionados por parte dos governos e do sector privado.
 
"Não podemos permitir-nos falhar nesta nossa luta para melhorar a nutrição das crianças pequenas. A sua capacidade para crescer, aprender e contribuir para o futuro dos seus países depende disso", concluiu France Begin.

Papa lembra que 800 milhões de pessoas passam fome no mundo

14 out, 2016 - 14:38 • Ecclesia
O Vaticano divulgou esta sexta-feira a sua mensagem por ocasião do Dia Mundial da Alimentação 2016.
 
O Papa Francisco divulgou esta sexta-feira a sua mensagem por ocasião do Dia Mundial da Alimentação de 2016, na qual recorda os “800 milhões de pessoas que ainda passam fome” actualmente.
 
O texto, endereçado à Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), questiona um modelo de desenvolvimento que não consegue impedir as situações de fome e desnutrição.
 
“Já não basta impressionar-se e comover-se diante de quem, em qualquer latitude, pede o pão de cada dia”, afirma o Papa.
 
“É necessário decidir-se e actuar. Muitas vezes, também enquanto Igreja Católica, recordamos que os níveis de produção mundial são suficientes para garantir a alimentação de todos, com a condição de que haja uma justa distribuição”, acrescenta.
 
Alertando para as consequências das alterações climáticas, Francisco pede que o Acordo de Paris “não fique somente nas palavras, mas se transforme em corajosas decisões concretas”.
 
“Está a crescer o número dos que pensam que são omnipotentes e podem ignorar o ciclo das estações ou modificar indevidamente as diferentes espécies de animais e plantas, provocando a perda desta variedade que tem – e há de ter – uma função”, observou o Papa.
 
Ainda a respeito das manipulações genéticas, a mensagem adverte que “obter uma qualidade que dá excelentes resultados em laboratório pode ser vantajoso para alguns, mas pode ter efeitos desastrosos para outros”.
 
Francisco convida todos a prestar atenção à sabedoria dos produtores rurais.
“A sabedoria que os agricultores, os pescadores, os pecuaristas conservam na memória das gerações e que agora está a ser ridicularizada e esquecida por um modelo de produção que beneficia somente pequenos grupos e uma pequena porção da população mundial”, denunciou o Papa.
 
A mensagem evoca também as consequências das alterações climáticas para as migrações humanas da actualidade, falando em “migrantes climáticos” que engrossam “as filas desta caravana dos últimos, dos excluídos, daqueles a quem é negado um papel na grande família humana”.
 
O Papa termina com um apelo à mudança de rumo, para que “o desenvolvimento não seja somente uma prerrogativa de poucos nem os bens da criação sejam património dos poderosos”.

Dia Mundial da Alimentação - 11 alimentos em vias de extinção

Será que a sua comida favorita corre o risco de desaparecer? As mudanças climáticas, a desflorestação e outros problemas provocados pela mão humana estão a provocar o desaparecimento de algumas das comidas mais deliciosas do planeta. Saiba quais.

domingo, 9 de outubro de 2016

Há novas regras para tentar salvar o mamífero mais traficado do mundo

PÚBLICO

O comércio de pangolins, cujas escamas são usadas na medicina tradicional chinesa, foi banido e foram aprovadas medidas coercivas para caçadores e traficantes.
Os pangolins representam cerca de 20% do tráfico total de animais
Estão longe de ser o animal mais bonito do mundo, mas diz-se que é, de longe, o mamífero mais traficado de todos. Os pangolins são um animal nocturno, com o corpo coberto de escamas, que se alimenta de formigas e vive em regiões tropicais em África e na Ásia. Além de a sua carne ser considerada uma iguaria em certas regiões da China, as escamas também são um ingrediente muito procurado na medicina tradicional chinesa. Isso ajuda a perceber porque é que estão à beira de desaparecer na China e porque é que são os alvos privilegiados de caçadores furtivos nas florestas da Indonésia e do Vietname.
 
Apesar de serem um animal pouco conhecido, estima-se que os pangolins representem 20% de todo o tráfico ilegal de espécies selvagens e que na última década mais de um milhão tenha sido capturado, escreve a BBC.
 
Entre Janeiro e Setembro deste ano, as autoridades capturaram mais de 18 mil toneladas de escamas destes animais ameaçados de extinção em cerca de 19 países, de acordo com um estudo do grupo de conservação da natureza Annamiticus. A maioria destas escamas era proveniente de animais africanos, oriundos dos Camarões, da Nigéria e do Gana. Segundo o especialistas, por cada quilograma de escamas é preciso matar três ou quatro animais.
 
O facto de a procura por pangolins continuar a crescer levou a que recentemente a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (organização que junta governos de todo o mundo e é conhecida como CITES) tenha, no seu último encontro, em Joanesburgo, votado a proibição total do comércio de qualquer uma das oito espécies conhecidas (quatro vivem na Ásia e outras quatro em África). Além disso, a CITES aprovou uma série de medidas coercivas que os seus membros devem por em acção para combater o tráfico ilegal destes animais.
 
Segundo dados publicados pelo Worldwatch Institute, a enorme procura por parte da China já levou ao “grande declínio” nas populações de pangolins de países como o Camboja, Vietname e Laos. Actualmente, são os pangolins provenientes da Indonésia e da Malásia que abastecem grande parte da procura, além daqueles que vêm de África.
 
Ainda que a China seja membro da CITES, o país permite o consumo de pangolins, nomeadamente as escamas, por respeito às tradições médicas chinesas, lembra o Worldwatch Institute. E, por outro lado, embora vários países tenham proibido a caça furtiva e o comércio internacional instituindo penas pesadas, a verdade é que a sua eficácia é reduzida porque são poucos os que têm os meios humanos e financeiros necessários para uma fiscalização activa, nota a organização.
 
Foi em 2013 que um acidente de barco expôs, por acaso, a crua realidade do tráfico desta espécie ameaçada. Quando um barco de pesca chinês embateu contra um recife de coral ao largo das Filipinas e as autoridades subiram a bordo para o examinar, descobriram mais de 2000 pangolins mortos e acondicionados em 400 caixas.
 
Foi precisamente um trabalho sobre a captura ilegal de pangolins que deu ao fotógrafo Paul Hilton o prémio Wildlife Photographer of the Year. O fotojornalista de Hong Kong chamou-lhe The pangolin pit (a fossa de pinguins). Nessa imagem, captada em Sumatra (Indonésia), podem ver-se os cadáveres de cerca de quatro mil pangolins, enrolados (tal como o ouriço-cacheiro, enrolam-se quando se sentem ameaçados), em processo de descongelação, momentos antes de serem incinerados pelas autoridades indonésias.
 
Esta foi uma das maiores apreensões de pangolins de que há registo – cerca de cinco mil toneladas, segundo a BBC Earth. Além disso, foram encontrados 96 animais vivos devido ao seu tamanho. Explica a BBC que são alimentados à força, para crescerem e poderem ser vendidos por um preço melhor. "Os crimes contra as espécies selvagens são um grande negócio, mas só vão acabar, quando acabar a procura”, diz Hilton.

Chimpanzés e orangotangos também percebem o que vai na cabeça dos outros

Will Dunham /Reuters

Reconhecer as crenças dos outros é uma capacidade central em muitos comportamentos humanos.
Chimpanzés num jardim zoológico na Bélgica
Utilizando vídeos caseiros que mostravam uma pessoa vestida com um fato de King Kong, uma equipa de cientistas documentou uma capacidade cognitiva extraordinária comum a chimpanzés, bonobos e orangotangos: a capacidade humana de reconhecer que as crenças dos outros estão erradas.
 
Publicada na edição desta semana da revista Science, a investigação demonstrou que os grandes símios, os nossos primos mais próximos do ponto de vista evolutivo, têm uma capacidade que até agora se pensava ser exclusiva das pessoas. Nas experiências, os cientistas mostraram individualmente a vários símios vídeos nos quais aparecia um actor humano e uma pessoa vestida com a personagem do King Kong. O movimento dos olhos dos grandes símios era monitorizado. No vídeo, a pessoa estava a observar o King Kong a esconder um objecto numa de duas caixas. Quando a pessoa saía, o King Kong mudava o objecto para um novo lugar. E quando a pessoa regressava para procurar o objecto, os símios olhavam intensamente para o lugar original, antecipando que a pessoa iria procurá-lo aí. Mesmo sabendo que o objecto tinha mudado de sítio, os símios percebiam que o humano pensava que estava aí, explicou um dos coordenadores do estudo, Fumihiro Kano, psicólogo comparativo na Universidade de Quioto, no Japão.
 
A capacidade de perceber os pensamentos e as emoções dos outros está no centro de muitos dos comportamentos sociais humanos, incluindo as nossas formas únicas de comunicação, cooperação e cultura, disse outro coordenador do estudo, Christopher Krupenye, psicólogo comparativo no Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, na Alemanha. No centro desta capacidade está a compreensão de que as acções dos outros não são necessariamente guiadas pela realidade mas pelas suas crenças sobre a realidade, mesmo quando ela é falsa, acrescentou Christopher Krupenye.
 
As crianças humanas desenvolvem completamente esta capacidade de compreensão por volta dos quatro ou cinco anos. “Os grandes símios são incrivelmente inteligentes, o que não é assim tão surpreendente, uma vez que são os nossos parentes mais próximos, mas penso que muitas pessoas subestimam as capacidades cognitivas dos animais em geral”, disse Christopher Krupenye.
 
Ao estudar os grandes símios, os investigadores procuram aprender quais os aspectos da psicologia que são únicos das pessoas e quais é que são partilhados com outros símios, sendo assim provável que já estivessem presentes no antepassado comum a todos eles que viveu há cerca de 13 a 18 milhões de anos antes da separação da linhagem evolutiva entre os humanos e as outras espécies, referiu ainda Christopher Krupenye.
 
Estudos anteriores, acrescentou este investigador, já tinham mostrado que os grandes símios conseguem compreender os objectivos e as intenções dos outros, saber o que eles vêem e perceber o que eles sabem tendo em conta o que viram.

Nobel da Física leva-nos até aos estados exóticos da matéria

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Novos materiais, novos supercondutores, computadores incrivelmente rápidos – eis algumas aplicações possíveis da física por trás do prémio deste ano. Há três galardoados.
Os três premiados com o Nobel da Física de 2016
O Prémio Nobel da Física de 2016, anunciado esta terça-feira, leva-nos numa viagem até aos estados exóticos da matéria. Até ao mundo das temperaturas muito baixas (muito para lá dos zeros graus Celsius) e de átomos em películas tão finas que estão quase só numa ou em duas dimensões. Neste mundo da matéria fria, o que acontece? Será que a matéria muda de estado ou, como dizem os físicos, há transição de fases?
 
No mundo que todos conhecemos, vemos que as moléculas da água, por exemplo, podem estar no estado gasoso, líquido ou sólido. E que, às temperaturas que nós próprios podemos suportar, as moléculas de água passam de um estado para o outro. Ou seja, ocorre a tal transição de fases. Mas os três premiados com o Nobel da Física deste ano – os britânicos David Thouless, Duncan Haldane e Michael Kosterlitz, todos físicos teóricos a trabalhar nos EUA – ajudaram-nos a compreender o que se passa com a matéria a temperaturas muito baixas, perto do chamado “zero absoluto” (que é de 273 graus Celsius negativos), e em sistemas com uma ou duas dimensões.
 
Até às suas investigações, nas décadas de 70 e 80, achava-se que nada acontecia nesses mundos da matéria fria com menos de três dimensões (comprimento, altura e largura). Que não havia transição de fases. David Thouless (da Universidade de Washington em Seattle), Duncan Haldane (da Universidade de Princeton) e Michael Kosterlitz (da Universidade de Brown) viram que sim, que a matéria mudava de estado. E que tinha propriedades físicas bizarras. Esta mudança chama-se “transição de fase topológica”.
 
“Ninguém tinha considerado essa possibilidade”, explica-nos Pedro Sacramento, físico da matéria condensada no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. “Essa ideia nova não estava em desacordo com a teoria anterior. O que adicionou foi mais uma via”, acrescenta.
 
“Pelas descobertas teóricas das transições de fase topológicas e fases topológicas da matéria”, a Real Academia Sueca das Ciências atribui-lhes agora o Nobel da Física. Os três cientistas vão receber ao todo 833.000 euros. Metade irá para David Thouless e a outra metade para Michael Kosterlitz e Duncan Haldane.
 
“Fiquei muito surpreendido e satisfeito. Só agora é que há um número tremendo de novas descobertas com base no trabalho inicial. Isto ensinou-nos que a mecânica quântica se pode comportar de uma forma muito mais estranha do que poderíamos adivinhar”, disse Duncan Haldane ao telefone durante o anúncio do prémio, citado pelo site Physics World. “Era apenas um modelo que demonstrava algo… E como muitas descobertas, tropeça-se nelas e é preciso perceber que há uma coisa interessante ali.”
 
Regressando um pouco atrás, as mudanças de estado da matéria no nosso quotidiano são bem conhecidas. Os físicos sabem que as moléculas da água, por exemplo, estão organizadas de formas diferentes consoante a temperatura (e a pressão). No estado sólido, as moléculas de água encontram-se ligadas umas às outras, enquanto no líquido estão aos trambolhões. E que no estado gasoso ficam ainda mais soltas. Estes saltos entre fases ocorrem de forma brusca, quando a temperatura muda (basta pensar numa panela com água a ferver).
 
Também já se sabia que, perante temperaturas muito baixas, a matéria podia ganhar propriedades físicas invulgares. É o caso do hélio-4, que a 271 graus Celsius negativos se comporta como um superfluido, perdendo a viscosidade. Há vídeos incríveis que mostram que hélio líquido num frasco, quando arrefecido até àquela temperatura extrema, começa a subir pelas paredes do recipiente. As experiências da superfluidez do hélio-4 foram realizadas nos 30 pelo russo Pyotr Kapitsa e valeram-lhe o Nobel da Física em 1978, década em que David Thouless e Michael Kosterlitz começaram os seus trabalhos.
 
Os dois físicos teóricos começaram a trabalhar juntos em Birmingham, no Reino Unido. “O que fizeram, através do pensamento, usando a matemática, foi ver como é que a matéria se comportava em situações extremas”, diz o físico Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra. Mais concretamente, pensaram nas mudanças das propriedades da matéria não só quando ela é submetida a temperaturas muito baixas, próximas do zero absoluto, mas também quando está a duas dimensões. Por outras palavras ainda, num mundo plano. E o que acontece então?
 
“A transição de fase topológica não é uma transição de fase vulgar, como entre o gelo e a água líquida. Num material plano, o papel principal na transição topológica é desempenhado por pequenos vórtices”, lê-se no comunicado da Real Academia Sueca das Ciências. Pode-se dizer que estes vórtices são formados por pequenos ímanes dos átomos que estão orientados de determinadas formas. “A temperaturas baixas os vórtices estão juntos aos pares. Quando a temperatura aumenta, ocorre a transição de fase: subitamente, os vórtices afastam-se um do outro e navegam pelo material”, acrescenta o comunicado. Esta proposta teórica foi demonstrada mais tarde, em experiências.
 
Mas se esta parte do trabalho de David Thouless e Michael Kosterlitz foi teórica, a investigação que se seguiu também premiada pelo Nobel teve origem em observações. Em 1980, o físico alemão Klaus von Klitzing descobriu (em experiências numa fina camada condutora de electricidade entre dois materiais semicondutores) que os electrões têm um comportamento também estranho a baixas temperaturas. Esta camada fininha é submetida a um campo magnético. Ao variar este campo magnético, a sua condutância eléctrica sofre alterações em “degraus” e não gradualmente, como seria esperado.
 
Na altura, a física teórica não tinha explicação para o que Klaus von Klitzing tinha observado. Mas David Thouless e Duncan Haldane conseguiram explicar fenómeno a nível teórico, socorrendo-se de um ramo da matemática, a topologia – que estuda as propriedades que permanecem intactas de um objecto quando é esticado, dobrado e deformado. E aplicaram esses métodos para descrever os saltos, ou degraus, que tinham sido observados nos valores da condutância eléctrica.
 
Que aplicações pode ter esta área da física, evoluiu bastante nas últimas décadas? Pode ter em novos materiais, novos supercondutores ou na criação de computadores quânticos com capacidades de cálculo imensas. Os cientistas designam estas tecnologias do futuro como “novos materiais topológicos”.
 
“A mente vai primeiro e depois lá vai o corpo atrás”, diz Carlos Fiolhais, resumindo o caminho desta e de outras descobertas que começam com cientistas teóricos, são comprovadas em experiências nos laboratórios e acabam no nosso quotidiano em diversas tecnologias, mesmo que isso demore. “Muitas vezes, surgem aplicações ao fim de 40 ou 50 anos.”
http://www.publico.pt/n1746107

Laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata? Não é bem assim



A laranja à noite afinal ajuda a adormecer, os cereais são desnecessários numa alimentação saudável e os antioxidantes são prejudiciais para os desportistas, revelam especialistas em nutrição que no sábado se reúnem em Lisboa para desmistificar conceitos alimentares errados.

O 3.º Congresso Europeu de Nutrição Funcional vai reunir os “maiores especialistas do mundo em nutrição funcional” para partilhar conhecimentos e alertar para cruciais questões de saúde.
 
A “nutrição funcional” - considerada a nutrição do século XXI – foca-se na deteção e correção dos desequilíbrios nutricionais de cada pessoa, vendo-a como única, mas tendo em conta que o seu organismo é um todo, consistindo numa abordagem preventiva e de tratamento de problemas crónicos de saúde através da deteção e correção de desequilíbrios bioquímicos que geram as próprias doenças, explicou à Lusa o investigador português Pedro Bastos, responsável pela organização do congresso.
 
Em debate vão estar vários temas alimentares, destacando-se alguns que contrariam ideias enraizadas na sociedade, como é o caso do painel subordinado ao tema “afinal devemos comer laranja ao deitar, entre outros alimentos amigos do sono” que deita por terra o provérbio “laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata”.
 
Pedro Bastos explica que, resultando de observações casuais e de informações transmitidas de forma oral, os provérbios populares não foram sujeitos a análise rigorosa e científica, o que resulta por vezes em incorreções, como será o caso deste.
 
“No que diz respeito ao sono, um estudo publicado em 2013 no Journal of Pineal Research demonstrou que a ingestão de laranja aumenta as concentrações de Melatonina, a principal hormona responsável pelo sono”, acrescentou.
 
Ainda no que respeita a crenças alimentares, os cereais surgem na base da pirâmide alimentar e são tidos como fundamentais na alimentação, por serem o “combustível” do organismo, estando presentes em quase todas as refeições e em snacks nos intervalos.
 
Nada mais errado, na verdade, os cereais são absolutamente desnecessários, pois “do ponto de vista puramente nutricional, não existe nada nos cereais que os torne essenciais, pois todos os nutrientes existentes nos mesmos estão presentes em outros alimentos, incluindo fibra, vitaminas e minerais”, sendo que o seu teor em vitaminas e minerais é reduzido e a biodisponibilidade (quanto de facto absorvemos e aproveitamos) dos mesmos é baixa, esclareceu o especialista.
 
Em termos nutricionais, uma alimentação saudável deve recolher os hidratos de carbono das hortaliças (que simultaneamente têm oito vezes mais fibras do que os cereais), frutas (duas vezes mais fibras) e tubérculos.
 
As consequências de uma alimentação fortemente baseada em cereais, sobretudo os refinados, são risco acrescido de diabetes tipo II, de doença cardiovascular, de progressão de alguns tipos de cancro (mama, próstata e cólon) e de algumas doenças inflamatórias e metabólicas, afirmou Pedro Bastos.
 
Outra “surpresa” deste congresso é que os “suplementos antioxidantes diminuem a eficácia do exercício físico”, ou seja, a prática de exercício físico “induz adaptações que melhoram a nossa saúde e resistência a diversas patologias”.
 
“Uma dessas adaptações consiste na produção endógena de proteínas antioxidantes, que nos vão 'proteger' não apenas de futuras sessões de exercício, como de vários outras agressões às quais somos expostos (como tabaco e poluição)”, acrescenta o investigador.
 
O que acontece é que o recurso a suplementos antioxidantes vai diminuir a produção de antioxidantes endógenos e outras adaptações que melhoram a saúde e o rendimento desportivo, explicou, aconselhando antes a ingestão de “quantidades fisiológicas de vitamina C e E através de fruta, hortaliças e oleaginosas”, para garantir “um aporte adequado dos nutrientes necessários para a produção e ação dos antioxidantes que nós próprios produzimos”.
 
Além do sono, do exercício físico e da composição corporal, este ano o congresso vai também destacar a importância da nutrição funcional na gravidez e em complicações na infância, como a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, dando enfoque aos “temas mais relevantes para a sociedade atual: inflamação, intestino e longevidade”.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Nobel da Química para as máquinas mais pequenas do mundo

(actualizado às )
Um elástico, um elevador, um motor e um carro são algumas das máquinas moleculares desenvolvidas por Jean-Pierre Sauvage, Fraser Stoddart e Bernard Feringa. Pensa-se que estas nanotecnologias vão ser tão importantes como é hoje o motor eléctrico.
 
Bernard Feringa
Jean-Pierre Sauvage
James Fraser Stoddart
 As palavras podiam entrar numa conversa de oficina: motores, rotores, elevadores, chassis. Este léxico, cujo imaginário remonta ao início da revolução industrial, traz imagens de óleo, fumo, barulho e trabalho. Mas nesta quarta-feira o mundo associou-as a uma realidade completamente diferente, onde impera a escala dos átomos. O Prémio Nobel da Química de 2016 foi para os três cientistas que desenvolveram máquinas moleculares: o francês Jean-Pierre Sauvage, o escocês Fraser Stoddart e o holandês Bernard Feringa. Em menos de 20 anos, eles puseram moléculas a mexer e a trabalhar, com pouca energia.
 
Estas são as máquinas mais pequenas de sempre fabricadas pelo homem, mil vezes mais pequenas do que a espessura de um fio de cabelo. Onde irá parar o mundo movimentado (e fascinante) das máquinas moleculares? A Real Academia Sueca das Ciências, que atribui os Prémios Nobel, explica que estamos na alvorada de uma nova tecnologia. As próximas décadas trarão novidades, mas da informática à medicina, muitas áreas serão transformadas.

 “Em termos de desenvolvimento, o motor molecular está no mesmo estado de desenvolvimento do que o motor eléctrico na década de 1830, quando os cientistas exibiam máquinas eléctricas capazes de mover pedais e rodas, mas não sabiam que essas máquinas se iriam tornar comboios, máquinas de lavar, ventoinhas”, lê-se no comunicado. “Estas máquinas moleculares podem vir a ser usadas no desenvolvimento de coisas como novos materiais, sensores e sistemas de armazenamento de energia.”

Por isso, “pela concepção e síntese de máquinas moleculares”, nas palavras do comité que atribuiu esta quarta-feira o Nobel, Jean-Pierre Sauvage (Universidade de Estrasburgo, em França), Fraser Stoddart (Universidade Northwestern em Evanston, nos Estados Unidos) e Bernard Feringa (Universidade de Groningen, na Holanda) irão dividir o prémio de oito milhões de coroas suecas (833 mil euros).

“Não soube o que dizer e fiquei um pouco chocado. Foi uma surpresa”, disse ao telefone Bernard Feringa, durante uma breve sessão de perguntas de jornalistas no anúncio do prémio, em Estocolmo, lembrando o que sentiu quando lhe deram a notícia. Bernard Feringa acredita que estas máquinas moleculares poderão vir a estar na origem de robôs (que viajarão até células cancerosas para administrarem medicamentos que as matem) ou de novos materiais (que recebem estímulos químicos para fazerem uma qualquer tarefa), entre muitas outras possibilidades.

Um avanço em três passos

“Para uma máquina ser capaz de executar uma tarefa tem de ser composta por partes que se movem umas em relação às outras”, explica-se no comunicado. Ao longo da evolução, a natureza já criou mecanismos moleculares que produzem movimento. Os flagelos das bactérias, com forma em espiral como os saca-rolhas, giram e permitem que elas se movam. No entanto, apesar de a ideia de máquinas microscópicas construídas pelo homem já ser antiga, o seu desenvolvimento a sério começou há menos de 35 anos.

Em 1983, Jean-Pierre Sauvage conseguiu ligar moléculas em forma de anel, formando uma “corrente” com elas. Nas décadas anteriores, outros químicos tinham conseguido fazer estas correntes moleculares, mas a muito custo e este ramo da química estava praticamente esgotado. Jean-Pierre Sauvage usou um truque com um ião de cobre para obter a estrutura dos elos que formam a corrente. Depois de os anéis estarem presos um ao outro com ajuda do ião, ele é removido. Com esta nova técnica, a produção destes elos moleculares subiu de 10% para 42%. “De repente, as correntes de moléculas eram mais do que uma mera curiosidade científica”, explica o comunicado.
Oito anos depois, Fraser Stoddart desenvolveu o rotaxano: uma estrutura de duas moléculas em que uma se parece com um pequeno eixo, com rodas na extremidade, e a outra com uma argola. A argola está presa ao eixo e é capaz de se movimentar, de uma forma que os cientistas conseguem controlar, entre as suas extremidades.

Finalmente, Bernard Feringa produziu em 1999 o primeiro motor molecular. O cientista construiu um rotor molecular, estrutura que se movimenta circularmente sob o seu próprio eixo, com ajuda da energia dos raios ultravioletas e um sistema de pás que permite que o movimento se faça num só sentido. A equipa de Feringa aperfeiçoou depois o sistema, transformando-o num motor capaz de fazer algo como 12 milhões de revoluções por segundo. Com estes motores, a equipa conseguiu rodar um cilindro de vidro 10.000 vezes maior do que os próprios motores.

Entretanto, já se produziram “carros” moleculares, elevadores moleculares, sistemas semelhantes aos músculos que se esticam e se contraem e um robô molecular capaz de ligar aminoácidos (os tijolos das proteínas). Já foi produzida uma malha de polímeros em cima de motores moleculares que são accionados quando expostos à luz, enrolando a malha. “Desta forma, a energia solar é armazenada nas moléculas e, se os cientistas descobrirem uma técnica para retirar esta energia [acumulada na malha de polímeros], poderá desenvolver-se um novo tipo de bateria”, adianta o comunicado.
Durante a conversa entre Bernard Feringa e os jornalistas, o cientista holandês explicou como nasceu o seu motor molecular: “Comecei por construir interruptores moleculares, que davam informação [no sistema binário] de zeros e uns. O objectivo era ter uma alternativa para armazenar informação.”

Mas rapidamente o cientista percebeu que tinha à sua frente um rotor molecular, capaz de criar movimento. “Quando se consegue controlar o movimento, então é possível pensar em todo o tipo de funções mecânicas, como caminhar e transportar coisas, e ter pequeníssimas máquinas”, disse. “Mas tudo começou a partir de interruptores, de uma ideia muito simples.” E assim nasceu um mundo novo de possibilidades.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

E pela segunda vez aterrámos num cometa

Nicolau Ferreira
(actualizado às )

A sonda Roseta pousou no cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko. Chegou ao fim uma missão que galvanizou pessoas de todo o mundo. Mas a investigação do cometa continuará.
O cometa 67P fotografado pela sonda Roseta
 
O cometa 67P fotografado pela sonda Roseta
A fotografia está desfocada. Sem haver uma escala, a paisagem que se vê pode ser um pedaço de areia com cascalho ou então um grande terreno cheio de pedregulhos. Só a aridez é inquestionável. São as palavras a acompanhar a imagem a preto e branco que lhe emprestam nitidez, significado e emoção: “Do 67P com amor: uma última imagem, obtida a 51 metros antes da aterragem no cometa. Missão cumprida.” A frase original, em inglês, tem as particularidades da escrita do Twitter: poucas dezenas de caracteres, três hashtag, zero pontos finais, ideias concisas. Mas esta entrada da conta da sonda Roseta naquela rede social diz-nos tudo. O tempo de vida do aparelho da Agência Espacial Europeia (ESA) terminou esta sexta-feira. A Roseta aterrou no cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko e adormeceu, para sempre.
 
O 67P continuará a dar voltas ao sistema solar. Desde Agosto de 2014, quando a Roseta se encontrou com ele, passámos a conhecer este cometa com um pormenor inédito. Nunca um aparelho humano se agarrou à gravidade de um cometa para o estudar. Visto como um todo, o 67P tem dois lóbulos – um maior e outro menor –, que lhe dão um ar de pato de borracha e uma cova na ponta. Mais de perto, a superfície do cometa é agreste, feita de cortes, com desfiladeiros, ravinas, mas também planícies, onde há rochas com metros de diâmetro.
   
A última imagem obtida pela Roseta, a 51 metros da superfície do 67P ESA
Com os seus 11 instrumentos científicos, a Roseta ajudou-nos a compreender essa paisagem complexa, longínqua e misteriosa. Até ao fim da sua vida, a sonda enviou fotografias e outros dados científicos sobre o cometa. A imagem final divulgada no Twitter, apesar de ter pouca qualidade, também simboliza esse diálogo com a Terra. Os seus frutos estão agora nas mãos dos astrofísicos da ESA e de outras organizações, que poderão estudar com profundidade o 67P e tentar encontrar respostas sobre a história do sistema solar e do nosso planeta.
 
“A Roseta entrou de novo nos livros de história”, disse Johann-Dietrich Wörner, director-geral da ESA, num comunicado divulgado esta sexta-feira pela ESA, pouco depois de ter chegado o sinal de que a sonda tinha fechado os olhos. “Hoje celebramos o sucesso de uma missão que mudou a forma de fazer as coisas, uma missão que ultrapassou todos os nossos sonhos e expectativas.” E que também fez sonhar, tornando-se uma das mais emblemáticas missões espaciais.

Palmas e abraços

Desde que saiu da Terra, a 2 de Março de 2004, a Roseta já percorreu 7900 milhões de quilómetros. Parte deles com o cometa (cuja órbita se situa entre Júpiter e um ponto entre a Terra e Marte), acompanhando-o na sua aproximação ao ponto mais próximo do Sol, o periélio, em Agosto de 2015.
 
Colado à Roseta, com 2900 quilos, veio o File, um robô de 100 quilos. O File protagonizou em Novembro de 2014 a conquista inédita (e atribulada) de aterrar no cometa 67P. O robô, que entretanto já adormeceu no mesmo lóbulo pequeno em que agora descansa a Roseta, tinha dez instrumentos científicos e usou com sucesso a maioria deles durante as cerca de 60 horas que se manteve activo, escondido nas sombras junto de uma ravina.
 
Os dados dos dois aparelhos permitiram descobrir que o 67P é um objecto feito de pó, minerais, moléculas orgânicas e gelo. Os dois lóbulos formaram-se independentemente, há cerca de 4600 milhões de anos, numa região fria e longínqua do sistema solar, quando o nosso canto do Universo estava no seu início de vida. Os lóbulos juntaram-se algum tempo depois. A água do cometa é de um tipo diferente da que existe na Terra, o que significa que a água na Terra não provém deste tipo de cometas.
 
A decisão de fazer colidir o aparelho no cometa é uma sequência natural do carácter científico da missão. Durante os últimos quilómetros da descida, a sonda foi comandada para medir a temperatura à superfície, a densidade do gás à volta do cometa, a aceleração das partículas que estão a ser projectadas para fora do 67P, o plasma, entre outros aspectos.
   
Na quinta-feira, às 21h50 (hora de Lisboa), um comando accionou a sonda para a manobra de descida, a 19 quilómetros de altitude. A região de Ma’at, no lóbulo pequeno do cometa, foi a escolhida para alvo. Durante a descida, a Roseta foi divulgando fotografias e “falando” connosco. “Tão perto do cometa 67P… Agora sei exactamente como é que o File se terá sentido!”, lia-se no Twitter da sonda Roseta, por volta das 12h08, minutos antes do fim.
 
Cientistas e engenheiros celebram o fim da missão no Centro de Operações Espaciais Europeu, em Darmstadt, na Alemanha DANIEL ROLAND/AFP
Às 12h19 desta sexta-feira, no Centro de Operações Espaciais Europeu, em Darmstadt, na Alemanha, o sinal electrónico da Roseta desapareceu. A sonda deixou de enviar sinais, calando-se para sempre. Houve palmas e abraços entre os vários técnicos e cientistas da missão. Pela segunda vez na história da exploração espacial, uma sonda aterrou num cometa.
“Estamos apenas a dizer adeus à sonda”, disse Matt Taylor, astrofísico da ESA que faz a ligação entre a equipa científica e a equipa de operações desta missão, ao PÚBLICO. “A ciência da missão continuará por muitos anos. É nisso que nos vamos concentrar a partir de agora. Foi por isso que, em primeiro lugar, elaborámos esta missão.”
http://www.publico.pt/n1745693