Telescópio espacial Hubble detectou a ejecção de materiais da superfície de satélite natural de Júpiter. Análises futuras dessas plumas permitirão estudar o oceano de Europa escondido por camada de gelo.
A Europa |
Pela segunda vez, há indicações de que Europa, uma das luas de Júpiter, expele materiais em forma de plumas que poderão ser vapor de água, anunciou a agência espacial norte-americana NASA numa conferência de imprensa esta segunda-feira (a partir das 19h de Lisboa). A superfície desta lua é formada por uma camada de gelo cheia de estrias. E tudo indica que, por baixo deste gelo, existe um oceano líquido.
“Se houver plumas, podemos investigar o oceano de Europa sem ter de fazer perfurações à superfície”, disse na conferência de imprensa William Sparks, líder da equipa que identificou as plumas, e astrónomo do Instituto Científico do Telescópio Espacial, em Baltimore, nos Estados Unidos.
Juntamente com Encelado, uma das luas de Saturno, Europa apresenta-se como um dos locais do nosso sistema solar que os astrónomos e os astrobiólogos mais anseiam explorar. Qualquer sítio onde haja água líquida no espaço é um especial, já que a água, juntamente com a matéria orgânica e o calor, é um ingrediente fundamental para a existência de vida tal como a conhecemos.
A luz solar nem sequer é obrigatória. Na Terra há formas de vida que não dependem da luz solar, mas da síntese de elementos químicos, presentes nas fontes hidrotermais de grande profundidade, emanações de água quente vinda do interior da Terra e que foram descobertas no oceano Pacífico pela primeira vez nos anos 70. E depois em vários oceanos: ao largo dos Açores encontraram-se várias desde a década de 90.
Esta é a segunda vez que se detectam estas erupções. Em 2012, uma outra equipa liderada por Lorenz Roth, do Instituto de Investigação do Sudoeste em San Antonio, no Texas, detectou plumas junto do pólo sul de Europa. Publicada em 2014, a detecção foi também feita usando o espectrómetro do Hubble, mas com um método diferente.
“Quando calculámos, de uma forma completamente diferente, a quantidade de material necessária para criar aquelas assinaturas de absorção [obtidas pelo espectrómetro], os resultados foram bastante semelhantes aos da equipa de Roth”, diz agora William Sparks, num comunicado da NASA. “As estimativas para a massa são similares, assim como as estimativas para a altitude das plumas. A latitude para dois dos candidatos a plumas corresponde aos resultados daquela equipa.”
Na conferência, os investigadores explicaram que esta informação obtida pelo espectrómetro do Hubble estava no extremo da capacidade daquele instrumento. Ou seja, não é possível para já ter uma definição melhor do que a obtida. Por outro lado, apesar de os resultados serem significativos a nível estatístico, ainda poderá haver uma outra explicação para a existência daquele padrão. É por isso que esta descoberta ainda não é a prova final da existência das plumas.
Mesmo a natureza da substância que estará a ser expelida e a absorver a radiação vinda de Júpiter é uma incógnita. A informação do espectrómetro não diz exactamente que moléculas absorveram radiação e a hipótese de ser água, vapor de água ou gelo, é porque estes materiais são comuns em Europa.
Para se confirmar que as plumas são de facto plumas, serão necessárias mais observações semelhantes mas com uma técnica completamente diferente. Enquanto não houver novos instrumentos, como o futuro telescópio espacial James Webb (da NASA), cabe aos cientistas gizarem experiências inéditas com os instrumentos actualmente existentes. Esta descoberta deverá agora pôr equipas de astrónomos de todo o mundo a trabalhar para esse fim.
De qualquer forma, a serem verdadeiros, estes resultados mostram que aquelas plumas são intermitentes – a lua Europa não está constantemente a lançar material para o espaço.
A NASA está a programar uma missão a Europa para a próxima década. Com mais informação sobre o padrão e a geografia destas plumas, será possível usar essa sonda para analisar directamente o que se liberta misteriosamente do interior daquela lua. E assim tentar responder a uma das perguntas mais importantes da humanidade: haverá vida fora da Terra?
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