terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Nemátodo do pinheiro já tem detecção precoce

Texto de Teresa Firmino publicado pelo jornal Público em 26/02/2013

"Cientistas de Coimbra desenvolveram dispositivo para detectar a doença muito antes dos sintomas.
Cientistas da Universidade de Coimbra e da Escola Superior Agrária de Coimbra desenvolveram um dispositivo para detectar a doença do nemátodo do pinheiro muito antes dos sintomas. O artigo que dá conta do trabalho foi distinguido com o Best Student Paper Award na Conferência Biodevices 2013, em Barcelona.

Recorrendo ao método da espectroscopia de impedância eléctrica, a equipa liderada por Elisabeth Borges, aluna de doutoramento em Engenharia Biomédica da Universidade de Coimbra, desenvolveu um dispositivo "simples" para ver se um pinheiro está infectado. "Permite aceder rapidamente à assinatura eléctrica de um material biológico e obter informação acerca da fisiologia. Qualquer material, biológico ou não, possui uma assinatura eléctrica, quando estimulado por uma corrente ou tensão alternada", diz Elisabeth Borges num comunicado divulgado ontem.

O dispositivo coloca dois elétrodos colocados no tronco - um injecta um sinal de corrente ou tensão em múltiplas frequências e o outro recolhe o sinal gerado por essa estimulação - e tem ainda um sistema de aquisição de dados. Através da sua análise, obtém-se a assinatura eléctrica do material, permitindo identificar se um tecido está saudável ou tem danos. "No nemátodo do pinheiro, isso assume relevância porque pode invalidar o avanço da doença e consequente corte dos pinheiros. Após a detecção do nemátodo, a única solução actual é o abate e destruição dos pinheiros, de acordo com a legislação."

Até agora, o diagnóstico baseia-se na observação de pequenas alterações nas árvores, como as folhas murcharem, e na recolha invasiva de amostras para analisar no laboratório. "Em termos de técnica para levar para o campo, que eu saiba não havia nada", diz-nos a cientista. "Esta técnica já se aplica na medicina humana, mas neste contexto é inovadora", explicando que na medicina permite obter imagens e é usada por exemplo na detecção de cancro da pele."

A equipa tem um pedido de patente provisória no Instituto Nacional da Propriedade Industrial desde Julho de 2012, tendo agora de pedir a patente definitiva. Agora que mostrou que a técnica funciona em árvores infectadas em estufa, o passo seguinte é a sua validação no campo.

Uma semana de pouco sono perturba centenas de genes e essa mensagem fica-nos "gravada" no sangue

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 26/02/2013

"Não dormir as horas suficientes pode ter um impacto muito negativo na saúde - e agora começa a perceber-se porquê.
A falta de sono perturba a actividade dos genes em poucos dias
Sabe-se que quem tem por hábito não dormir um número suficiente de horas por dia aumenta os seus riscos de obesidade, doenças cardiovasculares e disfunções cognitivas. Mas os mecanismos subjacentes a esta relação sono/doença têm permanecido misteriosos. Hoje, um estudo com base em amostras de sangue humano, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, sugere fortemente que, no ser humano, a falta crónica de sono começa por perturbar a actividade dos genes.

Em cada tecido do organismo, os genes apresentam padrões de actividade - ou "expressão" - diferentes e específicos do tecido em causa. Isso permite, a partir da uma mesma molécula de ADN, gerar a grande diversidade das células, das hepáticas às nervosas passando pelas sanguíneas. E a expressão de cada gene reflecte-se na quantidade dos vários tipos de moléculas de ARN (parecidas com o ADN) que são transcritas pela célula de forma a fabricar as proteínas de que ela precisa.

Experiências no ratinho já mostraram que tanto a falta de sono como o seu desfasamento no tempo alteram esse padrão de ARN, chamado "transcritoma", no fígado e no cérebro desses animais. E agora, para determinar o impacto da falta de sono no ser humano, Derk-Jan Djik e colegas, da Universidade de Surrey, no Reino Unido, analisaram o transcritoma do sangue de uma série de voluntários em função do número de horas que dormiam.

"Tanto quanto sabemos, somos os primeiros a ter investigado, no ser humano, os efeitos de um nível ecologicamente relevante de falta de sono sobre o transcritoma", disse Djik ao PÚBLICO. Os cientistas estudaram o transcritoma do sangue porque a sua recolha não é invasiva e porque fornece, argumentam, uma visão global do que está a acontecer.

Durante uma semana, 26 adultos dormiram menos de seis horas - e durante uma outra semana dormiram quase nove horas. No fim de cada semana de "tratamento", tiveram de ficar acordados durante 40 horas a fio, numa situação de privação total do sono - e foi durante esse período que foram efectuadas as colheitas de sangue, ao ritmo de uma de três em três horas. Diga-se ainda que as duas partes da experiência decorreram com um intervalo de dez dias.

A análise do ARN do sangue revelou claramente os efeitos da falta de sono sobre a actividade de... 711 genes! Por outro lado, a privação de sono levou a uma nítida queda - de 1855 para 1481 - do número de genes que possuíam naturalmente ritmos de actividade circadianos (isto é, que ao longo de cerca de 24 horas, em sintonia com a alternância do dia e da noite, viam a sua actividade passar por um mínimo e um máximo). E mesmo nos genes cuja actividade continuou diariamente a oscilar, a amplitude das oscilações foi mais pequena. Além disso: a privação total de sono alterou só por si a expressão de uma série de genes, mas o número dos genes alterados durante esse período foi sete vezes maior após uma semana de privação crónica do que depois de uma semana de sono normal: 856 contra 122.

Entre os genes afectados há genes implicados nos processos imunitários, inflamatórios, no metabolismo celular e na resposta das células ao stress oxidativo.

Se uma semana de sono curto surte estes efeitos, não é difícil imaginar as consequências para a saúde de uma vida com horas de sono a menos, noitadas, insónias - decorrentes da actividade profissional e social típica das sociedades modernas. Segundo os dados dos Centros de Prevenção e Controlo de Doenças norte-americanos, 30% da população adulta dos EUA (mais de 40 milhões de pessoas) dorme seis horas ou menos por dia. E em Portugal, a proporção poderá ser superior a 50%.

Agora, os cientistas querem saber "se as alterações [do transcritoma] variam com a idade e relacioná-las com as perturbações fisiológicas e hormonais da obesidade e das doenças cardiovasculares", diz Djik."

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Abelhas e flores comunicam através de campos eléctricos

Artigo da agência Lusa publicado pelo jornal Público em 22/02/2013.
"Artigo na Science revela métodos de comunicação.
Comunicação entre abelhas e flores é sofisticada, reconhecem cientistas
As abelhas e as flores comunicam através de campos eléctricos, revela um estudo da Universidade de Bristol, no Reino Unido, publicado na revista Science.
Segundo o artigo da equipa chefiada por Daniel Robert, os métodos de comunicação das flores são pelo menos tão sofisticados com os de uma agência de publicidade, utilizando as cores, os padrões e o cheiro para atrair os seus polinizadores.

Agora, os cientistas descobriram que a estas formas de comunicação se junta uma outra: a emissão de sinais eléctricos, semelhantes a um sinal de néon, que permitem às abelhas distingui-los de outros campos e encontrar as reservas de pólen e néctar.

Os investigadores explicam que as plantas têm normalmente uma carga negativa e emitem campos eléctricos fracos. As abelhas, por seu lado, adquirem uma carga positiva de até 200 volts à medida que voam no ar.

Embora não haja qualquer descarga eléctrica quando uma abelha se aproxima de uma flor, surge um pequeno campo eléctrico que potencialmente transmite informação.

Ao colocar eléctrodos em petunias, os investigadores demonstraram que quando uma abelha (Bombus terrestris) aterra, o potencial eléctrico da flor muda e permanece assim durante vários minutos.

“Poderá isto ser uma maneira de a flor dizer às abelhas que uma outra abelha a visitou recentemente”, questionam os cientistas, que concluíram que as abelhas conseguem detectar e distinguir dois campos eléctricos distintos.

Os cientistas não sabem ainda de que forma as abelhas detectam os campos eléctricos, mas admitem que os seus pêlos possam reagir da mesma forma que o cabelo das pessoas reage à electricidade estática de um ecrã de televisão antigo.

“Este novo canal de comunicação revela como as flores podem potencialmente informar os seus polinizadores sobre o verdadeiro estado das suas reservas de néctar e pólen”, disse Heather Whitney, co-autora do estudo.

E Daniel Robert explicou: “A última coisa que uma flor quer é atrair uma abelha e depois não conseguir fornecer-lhe néctar. É uma lição de publicidade honesta, já que as abelhas são boas aprendizes e rapidamente perderiam o interesse de uma flor tão pouco remuneradora”.

“A co-evolução entre as flores e as abelhas tem tido uma história longa e benéfica, por isso talvez não seja inteiramente surpreendente que estejamos ainda hoje a descobrir quão sofisticada é a sua comunicação”, acrescentou."

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Curiosity recolhe solo de Marte com sucesso

Texto Nicolau Ferreira de publicado pelo jornal Público em 21/02/2013.
A fotografia que fez sorrir os cientistas da NASA
"Operação inédita permitirá analisar rochas para revelar características de antigo ambiente marciano onde poderá ter havido vida.
 
O Curiosity continua a dar motivos de orgulho à NASA. Desta vez, mostrou ter conseguido escavar uma porção de solo da superfície marciana, algo que nenhum robô enviado pelo Homem numa missão espacial tinha feito. Agora, vai analisar o material para recolher informação sobre as condições antigas do planeta vermelho, nomeadamente se teve ingredientes associados à vida.
 
“Estamos todos muito felizes e aliviados com a confirmação de que a perfuração teve sucesso”, disse na quarta-feira Scott McCloskey, engenheiro da equipa do Curiosity, do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA, na Califórnia.
 
A confirmação atravessou o espaço em informação codificada e chegou ao laboratório numa fotografia. Na imagem, vê-se um pormenor do Curiosity com um pedaço de solo numa pá, depois de ter feito um buraco de 6,4 centímetros no chão.
 
A amostra é de um veio de rocha sedimentar de grãos finos, de cor cinzenta, que contrasta com a rocha avermelhada da paisagem marciana. Os cientistas esperam que estes sedimentos revelem dados sobre o ambiente antigo, húmido, que existia ali, com características moleculares que podem estar associadas à vida.
 
“[Um robô] com capacidade de perfurar rochas é um avanço significativo”, explica Louise Jandura, engenheira responsável pelo sistema de amostragem do Curiosity. “Permite-nos ir além da camada superficial da rocha e abrir uma espécie de cápsula do tempo de provas sobre o estado de Marte há três ou quatro mil milhões de anos.”
 
Para isso a amostra terá que ser analisada pelo Curiosity através de dois equipamentos que tem, o instrumento de química e mineralogia, e o instrumento de análise de amostras de Marte. Os sedimentos que estão na pá têm de ser peneirados até ficarem grãos menores do que 150 micrómetros. Depois, pequenas amostras destes sedimentos serão transportadas para os dois minilaboratórios para serem analisadas e identificar-se a composição da rocha."

Como uma lesma contribui para 12 mil milhões de euros em prejuízos na Europa

Texto Ana Fernandes de publicado pelo jornal Público em 21/02/2013.
"Estudos da Agência Europeia do Ambiente dão conta de como 28 espécies invasoras podem ameaçar a saúde, a natureza e a economia.
 
Como é que um bicho de cinco centímetros consegue causar um imenso problema em Tchernobil? Ou outro, ainda mais pequeno, é capaz de condenar à morte imensas e centenárias palmeiras? São espécies exóticas, o que não seria de todo mau, se não se transformassem em pragas altamente destrutivas, capazes de causar prejuízos na Europa na ordem dos 12 mil milhões de euros por ano.
 
Para melhor conhecer as espécies invasoras e os impactos que podem causar na biodiversidade, saúde e economias europeias, a Agência Europeia do Ambiente acabou de publicar estudos que fornecem pistas para o seu controlo. Porque os danos podem ser significativos.
 
Xenofobia à parte, não é apenas por serem estrangeiras que se lhes pode apontar o dedo. Algumas, incapazes de sobreviver sozinhas, não colocam qualquer problema nos países que agora colonizam, longe da pátria. O caso mais conhecido é o da batata, originária do outro lado do oceano, mas que mudou os hábitos alimentares dos europeus.
 
Por razões alimentares ou ornamentais, ou simples acaso, são muitas as espécies não-nativas trazidas para a Europa e que agora se espalham pelo Velho Continente. Mas alguns destes bichos, fungos ou plantas têm uma capacidade invejável de chegar, ver e vencer. Sem predadores naturais, impõem-se, destroem as suas congéneres e causam milhares de problemas.
 
Nem é preciso sair da Europa para se perceber que espécies que viviam sem sobressalto em determinadas áreas são capazes de se transformar em monstros noutras. Peguemos num bicho que os portugueses tão bem conhecem: o coelho. Natural da Península Ibérica, foi levado pelos romanos para outras paragens há muitos séculos. E se nalguns casos não coloca qualquer problema, servindo para alimentar rapinas ou humanos ou até servir como presa de caça, noutros locais destrói campos agrícolas ou condena outras espécies à fome por tudo comer.
 
Mas há casos que só trazem malefícios, sem que se vislumbrem quaisquer benefícios. É o caso do mexilhão-zebra, natural da Rússia, e que chegou à Europa em cascos de navio ou por expansão natural através das vias fluviais postas em contacto pela engenharia do homem. Com fêmeas capazes de pôr um milhão de ovos por ano, aglomeram-se em canos e outras infra-estruturas, bloqueando-as. Foi o que chegou a acontecer com o reservatório para arrefecimento de água de Tchernobil.

Outros dois casos de espécies exóticas invasoras que têm vindo a inquietar os portugueses dizem respeito a dois insectos – mortais. Um é o escaravelho-vermelho-das-palmeiras, que não tem feito mais nada do que secar as árvores até ao seu definhamento. Há centenas de casos reportados no país. Outra, de que se tem falado recentemente mas que já é uma velha conhecida dos europeus, é a vespa-asiática, que não consegue conviver com as abelhas, desertificando colmeias.
 
Mas embora Portugal tenha casos graves com exóticas – com os das acácias, do jacinto-de-água ou do lagostim-do-luisiana –, a maioria das espécies agora estudadas pela Agência Europeia do Ambiente afecta sobretudo o resto da Europa. E vão desde a lesma-espanhola, que destrói culturas agrícolas, a plantas como a ambrósia-gigante, que potencia alergias como a febre-dos-fenos. São 28 espécies estudadas, que incluem insectos como o mosquito-tigre, acusado de transmitir 20 doenças diferentes, ou o esquilo-cinzento, dramático em certas zonas agrícolas.
 
O aumento do turismo e das trocas comerciais entre os países pode ter potenciado o número de espécies exóticas existentes na Europa, uma tendência que tem tudo para continuar, agravada pelas alterações climáticas que fazem com que habitats antes inóspitos para algumas espécies se tornem agora aprazíveis.
 
Este estudo é mais um contributo para a estratégia europeia de defesa da sua biodiversidade, ameaçada por inúmeros factores a que se acrescentam as espécies invasoras, tidas como estando a pôr em causa 110 das 395 espécies nativas da Europa que estão classificadas como criticamente em risco de extinção."

O mais pequeno exoplaneta foi encontrado a 210 anos-luz de distância

Texto de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 21/02/2013.

"O Kepler-37b é pouco maior do que a Lua e está muito mais próximo da sua estrela-mãe do que Mercúrio está do Sol.
O novo planeta é inabitável




Comparação entre novos exoplanetas e os planetas do Sistema Solar
 
É mais pequeno do que Mercúrio e um pouco maior do que a Lua: o Kepler-37b, descoberto agora e descrito num artigo publicado na edição desta quinta-feira da revista Nature, é, para todos os efeitos, um exoplaneta mínimo.
 
As nossas expectativas no que toca aos planetas do Universo têm, mais uma vez, de se adaptar à realidade. Ainda não se completaram 20 anos desde a descoberta do primeiro exoplaneta que orbitava uma estrela principal e já passámos de um Universo feito só de estrelas para a era dos Júpiteres gigantes, para um mundo mais complexo, com sistemas estelares que tornaram o nosso quintal cósmico numa ave rara.
 
O Kepler tem ajudado nessas mudanças de paradigmas. O observatório espacial, lançado em Março de 2009, está a apontar e a analisar constantemente uma pequena área da Via Láctea, que fica entre as constelações do Cisne e da Lira. A cada 30 minutos, capta o brilho de 150.000 estrelas. Entre estas, está o astro principal do sistema Kepler-37, a 210 anos-luz, um sol mais pequeno e frio do que o nosso. À volta, o telescópio identificou três planetas que giram numa órbita mais pequena do que a de Mercúrio.
 
O Kepler-37b é, dos três planetas, o que está mais perto da estrela. “O que faz este pequeno planeta ser tão interessante é que é mais pequeno do que qualquer coisa que nós temos na região interior do nosso Sistema Solar”, explica Thomas Barclay, citado pela revista Scientific American. O astrofísico pertence ao Centro de Investigação Ames da NASA, na Califórnia. Barclay é o primeiro autor do artigo assinado por várias dezenas de investigadores.
 
Em apenas 13 dias, o Kepler-37b completa uma órbita. Mercúrio demora quase 88 dias a fazer o mesmo. O que o telescópio Kepler detectou foi, a cada 13 dias, uma muito ligeira diminuição do brilho da estrela, de apenas 0,002%. Foi essa medição periódica que denunciou a existência deste pequeno astro rochoso.
 
“Mesmo o [telescópio] Kepler só detecta mundos tão pequenos como este à volta das estrelas mais brilhantes”, sublinha Jack Lissauer, astrofísico da mesma instituição de Thomas Barclay e outro autor do estudo. “O facto de descobrirmos o mínimo Kepler-37b sugere que estes pequenos planetas são comuns, e mais maravilhas planetárias esperam-nos enquanto continuamos a recolher e analisar dados adicionais”, diz em comunicado.
 
Apesar de não haver dados concretos sobre a massa do Kepler-37b, com as medições feitas pelo telescópio é possível ter uma ideia das proporções desta “maravilha”. O planeta tem 80% do raio de Mercúrio e 30% do da Terra, ou seja, é um pouco maior do que a Lua. O satélite da Terra tem um raio de 1737 quilómetros, Mercúrio tem um raio de 2439 quilómetros e o raio da Terra é de 6371 quilómetros.
 
A girar tão perto da estrela-mãe, com uma temperatura à superfície de cerca de 425 graus, o Kepler-37b não terá condições para conter vida. “Qualquer quantidade de água que existisse à superfície desapareceria muito rapidamente”, explica Thomas Barclay. “Não há quase hipótese alguma de haver uma atmosfera ou algo líquido à superfície.”
 
Os outros dois planetas descobertos neste sistema também não dão esperança em relação à possibilidade de haver água líquida. O Kepler-37c terá cerca de 70% do tamanho da Terra e completa uma órbita em 21 dias e o Kepler-37d faz um ano em 40 dias e terá o dobro do tamanho do nosso planeta. As temperaturas médias à superfície destes dois astros serão de 287 e 187 graus, respectivamente.
 
Não se sabe se haverá outros planetas neste sistema solar. “O que o observatório espacial Kepler está a mostrar é que o censo planetário da galáxia é muito diferente do que pensávamos quando a referência era apenas o nosso Sistema Solar”, diz Greg Laughlin, professor de Astronomia e de Astrofísica, da Universidade da Califórnia, que não faz parte deste projecto. “O nosso Sistema Solar não tem nada dentro da órbita de mercúrio. Mas, afinal, passa-se muita coisa na região interior dos sistemas planetários típicos”, explica, citado pela Scientific American.
 
Até agora, já foi confirmada a existência de 833 exoplanetas. Destes, 114 foram descobertos pelo observatório espacial, adianta a Reuters. A equipa científica do Kepler está a analisar outros 3000 planetas candidatos que orbitam à volta de estrelas naquela pequena região da galáxia que está a ser analisada. Não se espera que as surpresas terminem aqui."

Poderia o nosso Universo acabar engolido por outro?

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 21/02/2013.

"Há quem defenda que a recente determinação da massa do bosão de Higgs torna possível um cenário de destruição do Universo. Mas também há quem duvide.

O mais provável é que a expansão e a diluição do Cosmos prossigam sem sobressaltos até nada restar
"É possível que o Universo em que vivemos seja intrinsecamente instável e que, a dada altura, daqui a dezenas de milhares de milhões de anos, venha de repente a ser varrido sem deixar rasto", afirmou, em Boston, um físico teórico norte-americano, Joseph Lykken, do Fermilab (EUA). O cientista fez esta declaração aos jornalistas na segunda-feira, quase no fim do congresso anual da AAAS (American Association for the Advancement of Science), à margem da sua conferência sobre os mais recentes resultados acerca do bosão de Higgs, noticiou a Reuters.

O fim do Universo não constitui propriamente uma ameaça para nós ou o planeta, visto que a Terra terá desaparecido muito antes, quando o Sol esgotar o seu combustível, daqui a uns 4,5 mil milhões de anos. Porém, isso não tem impedido os especialistas de imaginar uma série de possíveis cenários. E embora o mais provável seja que a expansão e a diluição do Cosmos prossigam sem sobressaltos até nada dele ficar, existem teorias mais apocalípticas, entre as quais se inclui a que foi agora evocada por Lykken.

Lykken falou do fim do Universo no mesmo dia em que o LHC - o grande esmagador de protões do CERN, perto de Genebra, na Suíça, onde o bosão de Higgs foi descoberto no ano passado - fechou por dois anos para uma renovação de fundo. E de facto, a "profecia" deste cientista, que também faz parte da equipa do LHC, tem tudo a ver com a descoberta do Higgs, uma vez que a estimativa da massa desta partícula é hoje muito mais certeira. A massa do bosão de Higgs ronda, sabe-se agora, graças aos dados produzidos pelo LHC, os 126 GeV (giga-electrão-volts).

O bosão de Higgs era a única partícula que faltava detectar para completar o elenco previsto pelo chamado Modelo-Padrão - a teoria que actualmente melhor descreve o mundo das partículas elementares. Teorizado há cerca de 50 anos, o Higgs só existe materialmente durante brevíssimos instantes, quando é criado numa colisão de protões dentro do LHC. No entanto, desempenha um papel no mínimo fundamental: confere massa às outras partículas, sendo por isso directamente responsável pela existência da matéria tal como a observamos todos os dias - nas galáxias, nas estrelas e nos planetas, mas também em nós próprios e em todos as coisas que nos rodeiam.

Mas acontece que, conhecendo-se a massa do bosão de Higgs - e daí, o valor de todos os parâmetros do Modelo-Padrão -, torna-se possível utilizar esse modelo para "calcular" o destino do Universo. Foi o que motivou as declarações de Lykken: "Esse cálculo diz-nos que, daqui a muitas dezenas de milhares de milhões de anos, vai acontecer uma catástrofe", explicou o cientista. "Uma pequena bolha de algo a que poderíamos chamar de universo "alternativo" irá surgir algures, expandir-se e destruir-nos." O fenómeno, que segundo a teoria em causa se verifica ciclicamente devido à instabilidade inerente do vácuo (designado por isso de "falso vácuo") irá desenrolar-se à velocidade da luz, dando origem a outro Universo que nada terá a ver com o actual.

Mas qual é, na realidade, a probabilidade de que as coisas se passem efectivamente dessa maneira? Peter Woit, físico e matemático da Universidade de Columbia (Nova Iorque), acha que se trata de um cenário muito pouco realista. "Para acreditar que este cálculo reflecte a realidade", disse Woit ao PÚBLICO, "seria basicamente preciso acreditar que não existe uma nova física, ainda desconhecida, muito para além dos níveis de energia acessíveis ao LHC. E também seria preciso acreditar que o cálculo [de Lykken] não será afectado pela gravitação quântica, que não percebemos mas que sabemos deve tornar-se importante a níveis de energia muito elevados". É um facto que a generalidade dos físicos acha que o Modelo-Padrão é um modelo incompleto, que está longe de conseguir prever tudo.

"O cenário de que Lykken fala", diz ainda Woit, "deriva de uma extrapolação para níveis de energia milhões de milhões de vezes superiores a tudo o que somos capazes de medir, utilizando um cálculo que temos todas as razões de pensar não é fiável a esses níveis. Portanto, as pessoas podem ficar descansadas..." "

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Em dia de surpresas vindas do céu, asteróide passou perto da Terra como previsto

Artigo publicado pelo jornal Público em 15/02/2013.
"O asteróide 2012 DA14 passou como previsto a quase 28 mil quilómetros da superfície terrestre.
No dia em que vários meteoritos causaram surpresa em todo o mundo ao cair na região Russa de Cheliabinsk – destruindo vários edifícios e causando pelo menos 1200 feridos –, o asteróide 2012 DA14 passou como previsto a quase 28 mil quilómetros da superfície terrestre, a uma velocidade de oito quilómetros por segundo (várias vezes a velocidade do som) e invisível a olho nu.
 
O asteróide, que a NASA estima ter 130 mil toneladas e 45 metros de diâmetro, passou pela Terra muito acima da atmosfera, mas já dentro da cintura de satélites de meteorologia e comunicações geoestacionários (que estão sempre na mesma posição em relação a um ponto da superfície), que orbitam o planeta a cerca de 36 mil quilómetros. Não houve qualquer contacto entre o asteróide e os satélites.
 
Foi por volta das 19h30 que o asteróide esteve mais próximo da Terra, altura em que passava por cima da ilha indonésia de Sumatra. A distância é menos de um décimo da distância entre a Terra e a Lua e muito mais pequena do que o habitual para asteróides.
 
O 2012 DA14 tornou-se o recordista para um objecto desta dimensão a fazer uma passagem prevista tão próxima da Terra. Os astrónomos, incluindo a NASA, tinham a rota do asteróide monitorizada e já tinham garantido não haver qualquer risco de colisão. A próxima passagem deste asteróide que merece a atenção dos astrónomos, esclareceu a agência espacial americana, vai acontecer em 2046, mas a distância será muito maior do que a desta sexta-feira: o DA14 vai passar a cerca de um milhão de quilómetros do centro da Terra.
 
Alguns especialistas chegaram a descrever os meteoritos que caíram na Rússia como podendo estar relacionados com o DA14, mas tanto especialistas ouvidos pelo PÚBLICO, como um comunicado divulgado pela NASA esclareceram não haver relação entre os dois fenómenos.
 
Apesar de a passagem do DA14 ter sido inteiramente prevista e não ter colocado qualquer risco, suscitou inevitavelmente o debate sobre a protecção do planeta em relação a eventuais impactos com asteróides. A NASA garante ter já arrancado com vários projectos para “entender melhor a natureza dos asteróides e como estes podem ser desviados de uma trajectória de impacto com a Terra”. Além disto, a agência está a trabalhar no desenvolvimento de tecnologia que pode vir a permitir missões a estes objectos – tanto apenas com robôs, como com astronautas. Um potencial objectivo destas missões será a exploração de minerais. "

Meteoro com 10 a 40 toneladas fez 1200 feridos na Rússia

Texto de Victor Ferreira, João Manuel Rocha, Ricardo Garcia e Andreia Cunha Freitas publicado pelo jornal Público em 15/02/2013.
"Há danos materiais em seis cidades, segundo o Ministério do Interior. Vários meteoritos foram encontrados em terra. Não há relação com o asteróide que passa nesta sexta-feira perto da Terra.
Pelo menos 1200 pessoas ficaram feridas depois de um meteoro de 10 a 40 toneladas se ter desintegrado na atmosfera, sobre a Rússia, despejando meteoritos na região de Cheliabinsk, a leste dos montes Urais.
 
Os habitantes de Cheliabinsk foram surpreendidos, cerca das 9h30 (3h30 em Lisboa), por um rasto incandescente a cruzar o céu, seguido de um intenso clarão. Uma grande explosão ouviu-se depois, partindo vidros, danificando coberturas e fazendo disparar os alarmes dos automóveis. Muitos dos feridos foram atingidos por estilhaços dos vidros.
 
A zona mais afectada fica perto da cidade de Cheliabinsk. O estado de emergência foi declarado em três distritos da região - Krasnoarmeisky, Korkinsky e Uvelsky. Entre os feridos contavam-se, segundo a agência Itar-Tass, mais de 200 crianças.
 
Num balanço apresentado ao princípio da noite, hora local, contavam-se 170 mil metros quadrados de vidros partidos, 2962 edifícios de apartamentos e 361 escolas danificadas. A principal prioridade do Governo era a de acalmar a populalão e reinstalar os vidros no menor espaço de tempo possível, dada as temperaturas polares que se sentem naquela região nesta altura.

Uma fonte do Ministério do Interior russo citada pela AFP refere estragos materiais em seis cidades. A agência RIA Novosti diz que foram atingidas três regiões da Rússia e do vizinho Cazaquistão.
 
"Informações verificadas indicam que foi um meteoro que se incendiou quando se aproximou de Terra e se desintegrou em pequenas partes", disse Elena Smirnykh, do Ministério das Situações de Emergência, citada pela RIA Novosti. Segundo a agência espacial russa, Roscomos, deslocava-se à velocidade de 30 quilómetros por segundo.
 
Vários meteoritos terão atingido o solo.“Houve dezenas de fragmentos consideravelmente grandes, alguns dos quais chegaram ao solo”, disse o ministro russo das Situações de Emergência, Vladimir Puchkov, citado pelo agência. “Equipas especiais de cientistas estão no local a estudar estes fragmentos.”
 
Imagens mostram um círculo geometricamente talhado por um destes fragmentos que caiu sobre um lago congelado próximo da cidade de Chebakul.
 
A Roscomos informou que é difícil prever este tipo de ocorrência. "Segundo a informação disponível, o objecto não foi registado pelos sistemas de observação espacial russo ou estrangeiros devido às características especiais da sua movimentação. A entrada destes objectos na atmosfera é acidental e difícil de prever."
 
O Governo diz que não há danos nas unidades militares existentes na região. Os prejuízos materiais terão sido provocados sobretudo pelas ondas de choque de uma explosão, audível em vários vídeos que captaram a ocorrência.
 
Testemunhas na cidade de Cheliabinsk ouvidas pela Reuters dizem ter visto, às primeiras horas da manhã, objectos brilhantes a caírem do céu. Ouviram estrondos, sentiram edifícios a abanar e os alarmes de carros dispararam na mesma altura. "Definitivamente não foi um avião [em queda]", disse um responsável da protecção civil, ouvido pela agência Reuters, pouco depois da ocorrência.
 
No Youtube há diversos vídeos filmados a partir de carros em movimento que mostram claramente a passagem do meteoro, como um objecto muito luminoso, a grande velocidade, e que provoca um grande clarão, deixando um rasto de fumo à passagem. Num dos vídeos vê-se ainda o que parece ser a desintegração do meteoro em partículas mais pequenas.
 
Não há qualquer relação deste episódio com a passagem do asteróide DA14, que se aproxima nesta sexta-feira da Terra e poderá ser visto com binóculos. “Não há ligação com isso”, diz Rui Agostinho, director do Observatório Astronómico de Lisboa. O mais provável é que o meteoro russo venha da cintura de asteróides localizada entre Marte e Júpiter, que é a origem da esmagadora maioria de corpos celestes que chegam à Terra.
 
Filipe Pires, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), concorda que este fenómeno não estará relacionado com o asteróide DA14. “É uma coincidência”, acredita, confirmando que ainda assim estamos perante algo que é muito raro.
 
Uma "estrela cadente" mas mais perto
Filipe Pires, ouvido pelo PÚBLICO de manhã, suspeitava que se tratasse de um meteoro com cerca de um metro, que causou uma onda de choque quando entrou na atmosfera e se desfez. O que se terá passado na Rússia, simplifica Filipe Pires, é o resultado do que normalmente chamamos “estrela cadente” mas maior e mais perto.
 
Quando penetrou na parte mais densa da atmosfera, desfez-se e provocou as várias ondas de choque que vemos nas imagens de vídeo amador que estão a ser mostradas na Internet.
 
Filipe Pires ajuda-nos a ter uma imagem aproximada do que aconteceu: “É como o que acontece quando damos um mergulho na água, provocamos aquelas ondas. A água, neste caso, é a atmosfera. Mas não tocámos o fundo da piscina, que seria a Terra.”
 
Mais tarde, a Academia Russa de Ciências estimou que se tratasse de um objecto bem maior, com cerca de 10 toneladas de peso quando entrou na atmosfera. A astrónoma Margaret Campbell-Brown, da Universidade de Western Ontario, no Canadá, reviu em alta esta estimativa, dizendo à revista Nature que o corpo celeste teria 15 metros de diâmetro e 40 toneladas.
 
Na interpretação de Rui Agostinho, do Observatório Astronómico de Lisboa, a explosão que se ouve claramente em diversos vídeos corresponde à passagem do meteoro pela barreira do som, e não ao intenso clarão que se vê nas imagens. Um meteoro, explica o investigador, entra na atmosfera a uma velocidade hipersónica – de milhares de metros por segundo – e vai travando até chegar ao limite da velocidade do som (340 metros por segundo). “Neste momento, ocorre uma explosão sónica”, afirma. “É o contrário dos aviões.”
 
Pelas imagens, Rui Agostinho acredita que o meteoro ter-se-á dividido em vários fragmentos. Só quando se encontram fragmentos no solo é que se fala em "meteoritos"."
 
 

Tunguska, o misterioso fenómeno siberiano de 1908

Artigo publicado pelo jornal Público em 15/02/2013.
"Durante décadas nunca se soube muito bem o que aconteceu a 30 de Junho de 1908, perto do rio Tunguska, no meio da Sibéria, quando um asteróide de 30 metros de diâmetro embateu contra a Terra.
Fotografia tirada ao local duranter a expedição de 1927 de Leonid Kulik
Durante décadas nunca se soube muito bem o que aconteceu a 30 de Junho de 1908, perto do rio Tunguska, no meio da Sibéria. Uma enorme explosão devastou uma área de 200 quilómetros quadrados, derrubando milhões e milhões de árvores. Hoje, sabe-se que um asteróide de cerca de 30 metros embateu contra a Terra, vaporizando-se na atmosfera terrestre antes de chegar ao chão.
 
“Se alguém quiser começar uma conversa sobre as questões dos asteróides, a palavra que se deve dizer é Tunguska”, disse Don Yeomans à NASA, no centenário do fenómeno. "Na era moderna, é a única entrada de um grande meteoróide que se conhece e de que há testemunhas em primeira mão”, explica o então responsável pelo departamento dos Objectos Próximos da Terra do Laboratório de Jet Propulsion da NASA.
 
Há vários testemunhos sobre o que se passou. Um homem que estava em Vanavara, a 65 quilómetros da cratera de impacto, foi projectado da cadeira onde estava sentado, e sentiu um calor tão intenso que pensava que a sua camisa estava em chamas.
 
A primeira visita ao local foi feita em 1921, mas só em 1927, numa expedição russa de Leonid Kulik, foi possível chegar à cratera de impacto. Os cientistas foram ajudados pelo sentido para onde as árvores estavam tombadas. No centro, os troncos das árvores ficaram de pé, mas os ramos estavam desfeitos.
 
Durante décadas ninguém soube explicar o fenómeno, mas hoje a teoria de um impacto do asteróide é consensual. Estima-se que o asteróide tenha entrado na atmosfera a 15 quilómetros por segundo, o que fez as 100 mil toneladas de matéria aquecerem até aos 24.000 graus. Esta quantidade de energia e pressão provocou a fragmentação do asteróide a uma altitude de 8500 metros provocando uma explosão equivalente a 185 bombas de Hiroxima. “É daí que vem a cratera de impacto”, disse Yeomans. “A grande maioria do asteróide foi consumida na explosão.”
 
A poeira levantada pelo impacto fez reflectir a luz solar e fez brilhar o céu nocturno em toda a Ásia durante dias. As pessoas conseguiam ler jornais à noite. Centenas de renas morreram por causa da explosão, mas não há relatos de pessoas mortas, o que se justifica pelo facto de a região ser um local inóspito."

Meteoro ou meteorito? Depende do momento

Texto de Ricardo Garcia e Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 15/02/2013.
Situações como a que ocorreu na Rússia não são raras, mas em geral não se podem prever
Foi um “meteoro” ou “meteorito” o que caiu na Rússia nesta sexta-feira, provocando centenas de feridos? Ambos, explica Rui Jorge Agostinho, director do Observatório Astronómico de Lisboa.
 
Na terminologia científica, há três nomes para um corpo celeste como aquele. Quando ainda está a navegar no espaço, diz-se “meteoróide”. No momento em que atinge a atmosfera terrestre, passa a “meteoro” – que é o nome que se dá não à partícula em si, mas ao rasto luminoso que deixa no céu, devido à combustão causada pelo atrito com o ar.
 
Muitos meteoros não passam disso, com o corpo que veio do espaço a desintegrar-se na atmosfera. Mas se alguns resíduos chegam ao chão e são encontrados, então a estes chamam-se “meteoritos”.
“Obviamente que neste caso há meteoritos”, afirma Rui Agostinho, com base nas imagens até agora divulgadas do episódio na Rússia.
 
A esmagadora maioria dos meteoritos que chegam à Terra provêm da cintura de asteróides que existe entre Marte e Júpiter. Quando os asteróides chocam entre si, explica Rui Agostinho, muitas vezes ejectam material desta cintura para o interior do sistema solar. Algumas destas partículas podem chegar à Terra, como ocorreu na Rússia.
 
Partículas como estas viajam a velocidades hipersónicas. Segundo as autoridades russas, o meteoro desta sexta-feira terá entrado na atmosfera a 30 quilómetros por segundo, quase 90 vezes a velocidade do som. Sob o atrito do ar, o meteoro trava até atingir a barreira do som. “Neste momento dá-se uma explosão sónica”, afirma Rui Agostinho.
 
Foi a onda sonora desta explosão que causou a maior parte dos danos na Rússia, sobretudo vidros partidos.
 
O episódio ocorrido na Rússia não é raro. “Objectos com aquele tamanho até são relativamente frequentes. Mas nem todos chegam até ao chão”, afirma Rui Agostinho. Situações semelhantes podem ocorrer em qualquer parte do mundo, com consequências distintas caso se dêem sobre o mar ou regiões despovoadas, ou em áreas urbanas.
 
O astrónomo Nuno Peixinho, do Centro de Geofísica da Universidade de Coimbra, relembra que o meteoro que caiu no Sudão em 2008, há quase cinco anos, teria um tamanho entre os dois e os cinco metros.
 
O objecto foi descoberto 20 horas antes da sua queda na Terra, que se deu a 7 de Outubro de 2008, e foi seguido por astrónomos por todo o mundo por ter sido o primeiro meteoro identificado antes de bater na Terra.
 
“O meteoro que caiu agora na Rússia foi uma surpresa. Aquele que caiu no Sudão foi identificado com horas de antecedência”, disse Nuno Peixinho ao PÚBLICO. “Com antecedência de 20 horas não daria para evacuar uma cidade grande, mas permitia tomar algumas medidas.”
 
O investigador explica que o comportamento de um meteoro à medida que se desfaz na atmosfera é, para já, imprevisível. O objecto pode desfazer-se em cem pedaços ou em três bólides maiores e essa diferença pode definir as consequências da queda no que toca aos estragos. “Para se prever melhor, tem de se estudar bem estes fenómenos”, defende o astrónomo.
 
Mas não são eventos tipicamente previsíveis, como as chuvas de estrelas cadentes, que estão associadas à passagem de cometas.
 
O caso da Rússia não estará associado à aproximação do asteróide DA14, com 45 metros de diâmetro e que poderá ser visto com binóculos ou telescópios nesta sexta-feira, quando passar a 35.000 quilómetros da Terra. “Não há ligação com isso. A órbita do DA14 é muito estável”, diz Rui Agostinho, que dará uma palestra nesta sexta-feira sobre os asteróides, às 21h, no Observatório Astronómico de Lisboa. A palestra poderá ser seguida em directo na Internet e o Observatório terá as portas abertas, embora as condições do tempo possam prejudicar a visualização do DA14.
 
Nuno Peixinho também é da mesma opinião: “Muito provavelmente deverá ser uma coincidência. Há muita coisa a passar muito perto da Terra.” Segundo as estatísticas, um objecto de dez metros de diâmetro cai de dez em dez anos. “Estes casos servem de alerta, é de facto necessário que se investigue estes objectos para tentar prevenir este tipo de acidentes.”

Um em cada cinco répteis está ameaçado de extinção

Texto de Ricardo Garcia publicado pelo jornal Público em 15/02/2013.
"Aproximadamente uma em cada cinco espécies de répteis está em risco de desaparecer para sempre da Terra, segundo um estudo que faz pela primeira vez uma avaliação global da situação desta classe de animais.
Répteis ameaçados: Ahaetulla nasuta

Répteis ameaçados: Atheris ceratophora

Répteis ameaçados: Chamaeleo hoehnelii

Répteis ameaçados: Amphisbaena fuliginosa

Répteis ameaçados: Crytodactylus soba

Répteis ameaçados: Chamaeleo laterispinis

Répteis ameaçados: Eunectes notaeus

Répteis ameaçados: Echis pyramidum

Répteis ameaçados: Goniurosaurus kuroiwae
 
Répteis ameaçados: Ceratophora stodaartii

Répteis ameaçados: Lampropeltis triangulum

Répteis ameaçados: Ephebopus murinus

Répteis ameaçados: Lyriocephalus scutatus
 
No estudo, publicado na revista Biological Conservation, cientistas avaliaram uma amostra aleatória de 1500 espécies de répteis e concluíram que 19% estão ameaçadas de extinção. Não havia, até agora, uma indicação fidedigna do estado dos répteis a nível global. A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, mantida e actualizada anualmente pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), identifica 807 répteis “criticamente ameaçados”, “em perigo” ou “vulneráveis”. Mas apenas 39% das 9547 espécies descritas de répteis foram até agora avaliadas, segundo dados da Lista Vermelha. E a avaliação não tem sido sistemática, incidindo mais sobre determinadas áreas do globo ou sobre alguns tipos de répteis.
 
Está em curso uma avaliação completa dos répteis do mundo (Global Reptile Assessment). Mas enquanto isso não fica concluído, o estudo agora publicado oferece um atalho, através de uma amostra com representatividade global. “É basicamente um retrato imediato do estado dos répteis”, disse ao PÚBLICO Philip Bowles, da Comissão de Sobreviência das Espécies da UICN e um dos autores principais do estudo.
 
Cerca de duas centenas de cientistas, de vários países, estiveram envolvidos nesta avaliação. Os resultados serão validados à medida que a avaliação global dos répteis for avançando, explica Philip Bowles.
 
A percentagem estimada de espécies ameaçadas não é tão grande como a da classe dos anfíbios – onde duas em cada cinco corre o risco de se extinguir. “Não é tão mau como poderia ser. Mas não são boas notícias”, afirma Philip Bowles.
 
As espécies ameaçadas concentram-se sobretudo nas regiões tropicais, onde têm sido vítimas da destruição do seu habitat, para dar lugar à agricultura ou à exploração de madeira. Os répteis de água doce apresentam maior número de espécies em risco: 30% no total e 50% só para as tartarugas.
 
De acordo com Philip Bowles, o estudo, embora seja apenas uma primeira abordagem à escala global, permite identificar desde já espécies para as quais é prioritário adoptar medidas de conservação."

Cancro de pulmão está a tornar-se o mais mortal para as mulheres

Texto de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 13/02/2013.
"Um estudo divulgado nesta quarta-feira avança com previsões sobre as mortes por cancro na Europa. Em 2015 o cancro do pulmão deverá ultrapassar o da mama e será a primeira causa de morte por cancro nas mulheres.
Aumento de cancro de pulmão nas mulheres é o efeito de uma mudança social que ocorreu há décadas
Ao todo, vão morrer 1.314.236 pessoas de cancro nos 27 países da União Europeia durante o ano de 2013, prevê um artigo publicado nesta quarta-feira na revista Annals of Oncology. São mais 32.542 pessoas do que as que morreram em 2009 devido ao cancro. Ainda assim, é um saldo positivo, em termos percentuais morrerão menos 6% de homens e menos 4% de mulheres, de acordo com o estudo. O aumento do número efectivo deve-se a uma população europeia mais envelhecida entre as duas datas.
 
Mas há más notícias dentro das boas novas. A percentagem de mortes por cancro do pulmão está a crescer nas mulheres e prevê-se que seja a primeira causa de morte por cancro na população feminina em 2015, ultrapassando o cancro da mama, tal como já é nos homens.
 
“Se estas tendências opostas dos rácios [de mortes] de cancro do pulmão e da mama continuarem, então em 2015 o cancro do pulmão será o mais mortal na Europa”, defende Carlo La Vecchia, co-autor do estudo e responsável pelo departamento de Epidemiologia no Instituto Mario Negri em Milão, Itália.
 
Nos 27 países da UE , em 2013, 14 em cada 100 mil mulheres vão morrer de cancro do pulmão, segundo o estudo, o que equivale a 82.640 mortes, um aumento de 7% face a 2009. O cancro da mama, que por enquanto é mais mortal, vai ser este ano a causa de morte de 14,6 mulheres em cada 100 mil, números brutos são 88.886 mortes. Mas representa uma redução de 7% desde 2009.
 
No Reino Unido e na Polónia, o cancro do pulmão já se tornou no mais letal. Mata respectivamente 21,2 e 17,5 mulheres em cada 100 mil. “O previsto aumento de cancro de pulmão nas mulheres no Reino Unido pode reflectir a prevalência de jovens mulheres que começaram a fumar nos finais da década de 1960 e na década de 1970, possivelmente devido à mudança de atitudes socioculturais”, diz Carlo La Vecchia.
 
“No entanto, há hoje menos mulheres jovens a fumar no Reino Unido e em outros países da Europa e, por isso, as mortes por cancro do pulmão deverão começar a diminuir e a nivelar pelas 15 em 100 mil depois de 2020”, acrescenta.
 
O grande problema do cancro do pulmão é ser muito mais letal quando aparece do que, por exemplo, o cancro da mama, diz-nos por seu lado Helena Gervásio, médica presidente do Colégio da Especialidade de Oncologia Médica da Ordem dos Médicos que trabalha nos Serviços de Oncologia Médica de Coimbra do Instituto Português de Oncologia.
 
O artigo fez uma previsão probabilística do número de mortes por cancro em 2013 na UE baseado em dados da Organização Mundial de Saúde dos 27 países e utilizando ainda os dados mais recentes dos países mais populosos: França, Alemanha, Itália, Polónia, Espanha e Reino Unido.
 
“São dados muito importantes para sabermos se estamos no caminho certo [do combate ao cancro]”, explica Helena Gervásio. “O estudo serve para fazermos interpretações sobre a qualidade do tratamento e prevenção dos doentes oncológicos.”
 
Segundo o artigo, em 2013, irão morrer de cancro 737.747 homens e 576.489 mulheres. Nos homens, o cancro do pulmão é responsável por um quarto das mortes: 37,2 em 100 mil homens. Apesar de a proporção ser muito maior do que nas mulheres, no caso dos homens este cancro está a decrescer. Desde 2009 que já diminuiu a mortalidade em 6%.
 
A tendência de aumento na mortalidade do cancro do pulmão para as mulheres também se observa em Portugal? “Sim”, responde-nos Helena Gervásio. “É uma tendência mundial que se vem a observar há uns anos. É o reflexo dos hábitos adquiridos há décadas.”
 
O outro cancro que está em leve crescimento a nível de mortalidade é do pâncreas, neste caso tanto nas mulheres como nos homens (respectivamente 5,5 e 8 mortes em cada 100 mil mulheres/homens para 2013). “Para o cancro do pâncreas os factores de risco [como a alimentação] aumentaram e a melhoria da qualidade da nossa medicina permite-nos também diagnósticos mais precisos”, diz Helena Gervásio.
 
O estudo prevê ainda que para os outros tipos de cancro como o do estômago, dos intestinos, da próstata ou do útero, a mortalidade vai diminuir em 2013. Helena Gervásio defende que a vacinação contra vírus que provocam cancro e a opção de um estilo de vida saudável são as melhores formas de evitar a doença. Para a médica, estes resultados mostram que “estamos a ter um maior controlo da doença, estamos a dar uma maior qualidade de vida e sobrevivência”."

Investigadores portugueses desenvolvem pulseira para detectar febre em bebés

Artigo publicado pelo jornal Público em 11/02/2013.
"Pulseira muda de cor quando a temperatura dos bebés atinge os 38 graus celsius. Tecnologia pode vir a ser utilizada para controlo de qualidade dos alimentos.
A pulseira não precisa de pilhas ou baterias para funcionar
Uma equipa da Universidade de Coimbra está a finalizar uma pulseira de polímeros que muda de cor quando a temperatura dos bebés atinge os 38 graus celsius, indicando que têm febre.
 
Estas pulseiras inteligentes funcionam a partir de polímeros. “Seleccionámos dois polímeros de base e trabalhámos esse sistema até o tornar sensível à temperatura desejada”, disse em comunicado Filipe Antunes, coordenador do projecto.
 
A técnica “tira partido do facto de haver moléculas que interagem bem entre si e outras que se ‘odeiam’”, explica o cientista da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
 
A equipa quer agora incorporar este sistema numa pulseira que tem duas partes: a exterior é insensível à temperatura e a interior tem um reservatório que activa a mudança de cor da pulseira quando são atingidos os 38 graus.
 
A pulseira não necessita de pilhas ou baterias e os polímeros utilizados “não causam qualquer tipo de lesão ao bebé”, acrescenta Filipe Antunes. Um protótipo desta pulseira irá ser apresentado à indústria brevemente.
 
A tecnologia também está a ser adaptada para alimentos. Se os polímeros forem alterados para serem sensíveis a outras temperaturas, “o consumidor poderá saber se os produtos [como embalagens congeladas ou vinhos] foram mantidos à temperatura certa e se são adequados para consumir”, diz o comunicado."

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Investigadores curam diabetes tipo 1 em cães


Terapia genética aplicada no estudo poderá ser no futuro, acreditam os cientistas, utilizada em humanos

Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-02-10


Grupo da Universidade Autónoma de Barcelona liderado por Fàtima Bosh.
Investigadores da Universidade Autónoma de Barcelona, dirigidos por Fàtima Bosh, conseguiram curar a diabetes em cães com só um tratamento de terapia genética. O estudo, publicado na revista «Diabetes», refere que depois de um só tratamento, os animais recuperaram o seu estado de saúde, deixando de ter sintomas da doença.
O acompanhamento foi realizado ao longo de mais quatro anos e em nenhum dos casos, a enfermidade voltou a aparecer. “A terapia é muito pouco invasiva. Consiste em uma só sessão de diversas injeções nas patas traseiras do animal”, explicam os investigadores.
Com as injeções são introduzidos vetores de terapia genética com um duplo objetivo: a expressão genética da insulina e da glicoquinase. Esta última é uma enzima que atua como regulador da captação da glicose do sangue. Quando ambos os genes atuam simultaneamente funcionam como um “sensor de glicose”, conseguindo a regulação automática da captação da glicose e reduzindo assim a hiperglicemia (excesso de açúcar associado à doença).

“O estudo é a primeira demonstração de cura da diabetes a longo prazo num modelo animal grande, através da terapia genética”, sublinha Bosh. Este tipo de tratamento já tinha sido testado em ratinhos pelo mesmo grupo de investigadores. Mas os “excelentes resultados” obtidos agora com animais maiores podem ser uma base para futuras aplicações em humanos.

O estudo disponibiliza bastantes dados que certificam a segurança e a eficácia do tratamento com esta terapia genética. Esta baseia-se na transferência de dois genes para o músculo de animais adultos utilizando uma nova geração de vetores adenoassociados, que derivam de um vírus não patogénicos amplamente utilizados em terapia genética e que já demonstraram eficiência no tratamento de outras doenças.



Lula faz “sofisticadas manobras de voo”


Cientistas japoneses desvendam os truques que a lula utiliza para voar

Publicado em www.cienciahoje.pt  2013-02-11

Lulas utilizam voo para fugirem dos predadores.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Hokkaido (norte do Japão) desvendou as técnicas de propulsão que as lulas utilizam para conseguirem sair da água e deslizar no ar até 30 metros durante vários segundos.
No artigo intitulado «A lula oceânica voa», os especialistas definem esta surpreendente habilidade como uma “sofisticada manobra de voo”.
Os cientistas levaram a cabo o estudo a partir de uma fotografia que foi tirada a este de Tóquio e onde se vê mais de uma centena de moluscos a voar.
A equipa, liderada pelo professor Jun Yamamoto, mostra como depois de se impulsionarem para fora do mar, as lulas são capazes de ganhar lanço a partir de uma corrente de água e de ficarem no ar durante vários segundos, ganhando velocidade estendendo a cauda e tentáculos, que utilizam como asas.
O artigo revela que se trata de um movimento que a lula – com apenas 20 centímetros – utiliza como manobra de fuga quando é ameaçada por predadores como atuns e golfinhos.