sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Fragmentação florestal acelera extinção de faunas autóctones

Artigo publicado pelo jornal Público em 26/09/2013
As espécies que vivem em “ilhas” de floresta tropical poderão desaparecer muito mais depressa do que se pensava.
 

Uma das ilhas do reservatório de Chiew Larn, na Tailândia
Os resultados de um estudo realizado por uma equipa internacional de cientistas e publicado nesta quinta-feira pela revista Science são peremptórios: bastaram pouco mais de duas décadas para ver desaparecer quase todos os pequenos mamíferos que viviam em fragmentos de floresta tropical na Tailândia.
 
Luke Gibson, da Universidade Nacional de Singapura, e colegas, queriam perceber se as espécies autóctones desses habitats conseguiriam sobreviver o tempo suficiente – digamos, muitas décadas – para permitir a criação de corredores entre os fragmentos e compensar assim os efeitos nefastos do isolamento ecológico. A conclusão parece ser que não há tempo nenhum.
 
No estudo, os cientistas utilizaram como laboratório natural o reservatório hidroeléctrico de água de Chiew Larn, cuja inundação em finais dos anos 1980 deu origem a mais de 100 ilhas de floresta tropical. Por duas vezes, realizaram um inventário da fauna em 16 desses fragmentos florestais.
 
Puderam assim constatar, explica a Science, que nos fragmentos com menos de 10 hectares todos os pequenos mamíferos estavam extintos passados cinco anos – e que, nos fragmentos com 10 a 56 hectares, o mesmo acontecera ao fim de 25 anos.
 
“Foi um Armagedão ecológico”, diz Gibson em comunicado da sua universidade. “Ninguém imaginava que iria haver este tipo de extinções catastróficas locais.”
 
A fragmentação favoreceu porém uma espécie não autóctone invasora: o rato da Malásia (Rattus tiomanicus). “Isto sugere fortemente que a fragmentação do habitat aliada à presença de espécies invasoras pode ser fatal para a fauna autóctone”, diz por seu lado Antony Lynam, da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem norte-americana, citado pelo mesmo comunicado.
 
As florestas tropicais são uma grande fonte de biodiversidade e estão a sofrer uma fragmentação em todo o mundo devido à captação de terras pela agricultura e outras utilizações não florestais. Com base nestes resultados, os autores concluem que os esforços de conservação da biodiversidade deveriam passar pela preservação de grandes extensões de floresta tropical.

Este pequeno peixe viveu há 419 milhões de anos e tinha uma cara (quase) igual à nossa

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 26/09/2013
Descoberta de fóssil muito bem conservado de peixe primitivo pode obrigar a rever a história dos vertebrados.
Visão artística do peixe primitivo agora descoberto
 


Duas vistas da sua cabeça fóssil
 
Parece um capitel medieval, finamente esculpido na pedra no mais puro estilo naturalista. Mas é na realidade a cabeça fossilizada - e excepcionalmente bem preservada - de um peixe que viveu há 419 milhões de anos, durante o período Silúrico. Descoberto em 2010 nas rochas sedimentares marinhas da Formação Kuanti, no Sul da China, esta primitiva criatura é descrita hoje, na revista Nature, pela equipa internacional que a achou e que agora analisou as suas surpreendentes características anatómicas.
 
Segundo estes cientistas, trata-se do mais antigo animal com uma mandíbula moderna - ou seja, dono de uma cara muito parecida com a dos vertebrados actuais, entre os quais se incluem os seres humanos. Se assim for, esta descoberta contradiz uma ideia há muito enraizada em paleontologia: a de que o antepassado comum a todos os vertebrados modernos (que era um peixe) era fisicamente parecido com os tubarões actuais.
 
A equipa, liderada por Min Zhu, do Instituto de Paleontologia e de Paleoantropologia dos Vertebrados em Pequim, baptizou o novo animal Entelognathus primordialis, o que significa "mandíbula completa primordial".
 
O Entelognathus tinha cerca de 20 cm de comprimento (o tamanho de uma sardinha). Era um peixe da classe dos já extintos placodermos, cuja cabeça e ombros estavam cobertos por placas ósseas e que são considerados como o tipo mais primitivo de peixes com maxilares. Mas - e é aí que está a novidade -, embora à primeira vista os maxilares de Entelognathus parecessem bastante banais, afinal não eram. Tinham a estrutura dos nossos próprios maxilares, algo inédito num peixe como este. "É a primeira vez que vemos ossos [faciais] deste tipo num placodermo. Até aqui, os placodermos conhecidos tinham maxilares essencialmente feitos de cartilagem", explicou ao PÚBLICO Min Zhu num email.
 
Ora, se o antepassado de todos os vertebrados com maxilares era um placodermo, o seu aspecto não podia ter nada a ver com o dos tubarões, que possuem quanto a eles um esqueleto cartilaginoso e uma "couraça" de pequenas escamas a cobrir a totalidade do corpo. Resumindo, a confirmarem-se os resultados, o novo fóssil poderá vir a pôr em causa a história natural dos vertebrados tal como ela é contada há mais de cem anos.
 
"Esta é de facto uma descoberta surpreendente!", diz-nos Philippe Janvier, paleontólogo do Museu Nacional de História Natural de Paris. "A ideia de que o antepassado comum a todos os vertebrados com maxilares era parecido com os tubarões, com um exosqueleto formado por pequenas escamas, estava fortemente enraizada entre os especialistas de peixes desde o século XIX, sendo confortada pelo facto que todos os vertebrados conhecidos do Silúrico com maxilares eram "pequenos tubarões com espinhas", e portanto prováveis precursores dos tubarões", salienta este cientista. "Aqui, a grande novidade é a presença, no mesmo animal, de uma estrutura bastante típica dos placodermos associada a mandíbulas com um maxilar, um premaxilar, um jugal, etc., o que permite concluir que os primeiros vertebrados com maxilares possuíam uma organização corporal mais próxima dos placodermos e dos peixes com esqueleto ósseo do que dos tubarões."
 
Philippe Janvier disse-nos ainda que já estava a par do achado "através do seu colega Min Zhu" e que ficara "impacientemente" à espera da publicação do artigo. "Há muito tempo, eu também encontrei placas isoladas de placodermos do Silúrico, deste mesmo tipo, no Vietname (e até publiquei os resultados). Mas não conseguia imaginar o aspecto do animal inteiro. Agora, tudo se ilumina!"

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Corte e colagem de cromossomas é uma das chaves para a evolução dos organismos

Texto de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 26/08/2013
Como é que chimpanzés e humanos são tão parecidos e tão diferentes? Estudos de equipa portuguesa numa espécie de levedura, só com uma célula, dão algumas respostas.
 
Já foram documentados rearranjos cromossómicos em humanos
Os cromossomas são os moldes originais da informação genética. Alojados no núcleo das células, são um conjunto de moléculas e ADN constantemente requisitados para a produção de proteínas a partir dos genes codificantes nesse ADN. A evolução tornou os cromossomas como caixas-fortes para proteger a informação genética, evitando ao máximo as mutações, que podem ser prejudiciais para os organismos. Mesmo assim, essas mutações ocorrem e, às vezes, não se limitam a um tijolo do ADN, num determinado gene, mas dão-se em porções significativas de um cromossoma. A essas alterações chamam-se rearranjos cromossómicos.
 
As translocações são uma classe de rearranjos cromossómicos, em que dois cromossomas de tamanhos diferentes trocam uma porção dos braços. Estes rearranjos podem causar o aborto de um embrião, quando ocorrem nas células sexuais. Mas, se acontecem numa célula de um indivíduo adulto, poderão estar na origem de cancros.
 
Para avaliar as consequências deste fenómeno e investigar se estas alterações nos cromossomas também poderão ser motores da adaptação e evolução dos organismos, uma equipa de investigadores portugueses do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, provocou translocações e inversões (outro tipo de rearranjo cromossómico) na Schizosaccharomyces pombe, uma levedura unicelular muito usada nos laboratórios.
 
O resultado mostrou que algumas mutações podiam originar células com um metabolismo mais rápido, que prevaleciam. Noutros casos, as células passavam a dividir-se mais lentamente, mostrando que o rearranjo cromossómico não era positivo. Mas, uma célula mutada que se dividia menos podia adaptar-se melhor quando os investigadores a punham noutro ambiente, conclui o artigo da equipa publicado na última edição da revista Nature Communications.
 
“As nossas estirpes de levedura têm exactamente a mesma sequência de ADN. Nós apenas mudámos a localização das sequências dos cromossomas. Deste modo, as nossas experiências mostram pela primeira vez os efeitos originados por alterações na arquitectura dos cromossomas”, diz em comunicado Ana Teresa Avelar, uma das autoras do artigo.
 
Efeitos variados
Já foram documentados rearranjos cromossómicos em várias espécies animais, como nas moscas drosófilas, no parasita da malária ou em humanos. Alguns podem ser silenciosos e passarem despercebidos de pais para filhos, sem efeitos negativos. Mas, segundo a equipa, esses rearranjos cromossómicos que se encontram na natureza já sobreviveram ao teste da evolução e muitos outros não terão sobrevivido.
 
Os investigadores queriam, assim, criar novos rearranjos para verificar se essas alterações eram rapidamente adoptadas e influenciavam a evolução ou se, na maioria dos casos, eram preteridas. Os cromossomas só ficam bem visíveis na altura das células se dividirem, quando a longa molécula de ADN fica enroladinha e apertada entre muitas proteínas, que se agregam, formando um icónico X. Enquanto os seres humanos têm 23 pares de cromossomas, incluindo o par de cromossomas sexuais, a espécie de levedura utilizada pela equipa do IGC só tem três cromossomas durante a maior parte da vida.
 
Na experiência, o grupo liderado por Miguel Godinho Ferreira e Isabel Gordo criou oito translocações diferentes entre cromossomas e mais duas inversões. Imaginando que um cromossoma tem o formato de uma pessoa, uma inversão é como cortar o pescoço e inverter a posição da cabeça, pondo-a ao contrário por cima dos ombros.
 
A subtileza daqueles dez rearranjos cromossómicos feitos no laboratório é que, apesar de ter havido cortes nas longas moléculas de ADN para se rearranjar os cromossomas, os cientistas quiseram garantir que a sequência de ADN resultante mantinha toda a integridade dos genes. Isto para que os moldes das proteínas não ficassem potencialmente estragados. Desta forma, tinham a certeza de que todas as consequências nas células alteradas se deviam unicamente a uma nova estrutura destes cromossomas e não a mutações específicas no ADN.
 
Os resultados foram variados. Os cientistas observaram que, num ambiente perfeito para o crescimento destas leveduras, alguns rearranjos cromossómicos produziram células que cresciam 3% mais do que a variedade de leveduras-mãe. Mas outras tornaram-se mais lentas, tendo uma desvantagem de 1,5% no crescimento. Este tipo de resposta mudava, contudo, noutros ambientes, mostrando que as leveduras mais adaptadas variavam de acordo com o meio.
 
Adaptação: das células cancerosas até à evolução humana
“Podemos agora inferir como as células cancerosas, com rearranjos cromossómicos, conseguem adaptar-se e crescer mais depressa do que as células normais; ou como pessoas com diferentes cromossomas podem ter problemas de infertilidade sem se aperceberem disso; e como estes rearranjos cromossómicos podem ser mantidos na população sem serem eliminados”, diz Miguel Godinho Ferreira no comunicado.
 
Por outro lado, a equipa identificou uma alteração na actividade (expressão) dos genes que tinham mudado de sítio após os rearranjos feitos nos cromossomas. Nalguns casos, havia um efeito em cadeia, em que esta mudança de expressão genética afectou os três cromossomas. Para equipa, esta descoberta é importante. Se duas células têm um padrão de expressão genética diferente apenas por haver no cromossoma uma nova localização dos mesmos genes, então os rearranjos cromossómicos que acontecem na natureza podem desempenhar um papel na evolução dos seres vivos.
 
“Os estudos que comparam humanos e chimpanzés mostram que mudanças de blocos de genes [nos cromossomas] são importantes para que os genes tenham expressões diferentes. Efeitos posicionais como estes podem traduzir-se em variações morfológicas e fisiológicas com implicações importantes na evolução”, escrevem os cientistas no artigo.

Duas novas espécies animais descobertas na Mata do Buçaco

Artigo publicado pelo jornal Público em 19/09/2013
Uma equipa da Universidade de Aveiro descobriu o morcego-de-ferradura-mediterrânico e o musaranho-de-água nesta mata.
 
O morcego-de-ferradura-mediterrânico está criticamente em perigo

O musaranho-de-água é uma espécie pouco conhecida
Duas novas espécies animais, um morcego e um pequeno mamífero, foram descobertas, nas últimas semanas, na Mata do Buçaco, por investigadores da Universidade de Aveiro (UA), informou nesta quinta-feira a fundação que gere aquele espaço natural.
 
De acordo com uma nota da Fundação Mata do Bussaco (FMB), os investigadores do departamento de Biologia da UA registaram “pela primeira vez” a presença do morcego-de-ferradura-mediterrânico, uma espécie em vias de extinção, e ainda o musaranho-de-água, “um mamífero sobre o qual existe muito pouca informação”.
 
O morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale) está classificado no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal como “criticamente em perigo” e a mesma obra “atesta a raridade da espécie”, indicando, de acordo com a nota da FMB, que no território continental deverão existir menos de mil exemplares.
 
“Este morcego é maioritariamente cavernícola, podendo, no entanto, também abrigar-se em edifício. Alimenta-se em áreas de floresta de folhosas e autóctone, motivo que o terá atraído à Mata do Buçaco”, refere.
 
Com a confirmação da existência do morcego-de-ferradura-mediterrânico, o número de espécies de morcegos naquela mata nacional atinge as 15, “número bastante impressionante, atendendo a que em Portugal continental ocorrem 25 espécies”, assinala a Fundação.
 
Já o musaranho-de-água (Neomys anomalus), um pequeno mamífero semelhante a um roedor, com pelagem escura e ventre branco, é uma espécie “muito pouco conhecida” e “muito tímida”, cujo estatuto de conservação em Portugal aponta para “informação insuficiente”, por ser de difícil observação e captura “e assim existir muito pouca informação sobre a sua abundância e requisitos ecológicos”, adianta a nota.
 
“Estas duas descobertas vêm mais uma vez demonstrar o oásis de biodiversidade que é a Mata Nacional do Buçaco”, refere a Fundação, aludindo ao espaço natural que se estende por 105 hectares e providencia alimento, abrigo e refúgio para mais de 150 espécies de vertebrados.

Cientistas finalizam relatório que reafirma culpa humana no aquecimento global

Texto de Ricardo Garcia publicado pelo jornal Público em 23/09/2013
Painel da ONU iniciou reunião final para concluir a mais recente avaliação sobre a ciência das alterações climáticas.
 

O aquecimento global tem efeitos nos glaciares e no nível da água do mar
Os cientistas estão mais seguros do que nunca de que o ser humano é o maior responsável pelo aumento recente da temperatura da Terra, segundo o último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que será aprovado no final desta semana.
 
Numa reunião iniciada nesta segunda-feira em Estocolmo, cientistas e representantes governamentais vão discutir, linha a linha, a redacção final do relatório sobre o que se sabe hoje acerca das alterações climáticas. Versões preliminares do documento classificam como “extremamente provável” (95% de certeza) que mais de metade da subida do termómetro global desde 1950 se deve às actividades humanas.
 
“As provas científicas das alterações climáticas são reforçadas ano após ano, deixando poucas incertezas quanto às suas graves consequências”, disse o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, na sessão de abertura da reunião de Estocolmo.
 
O que está sobre a mesa agora é a avaliação da base científica sobre as alterações climáticas. Dois outros relatórios – sobre os impactos e sobre a redução das causas do aquecimento global – serão publicados mais tarde, em Março e Abril de 2014.
 
Neste primeiro relatório, 259 autores principais, secundados por centenas de outros cientistas, passaram a pente fino toda a produção académica desde a última avaliação do IPCC, em 2007. Cerca de 55 mil comentários foram recebidos e avaliados.
 
Segundo versões recentes do relatório, o termómetro global poderá subir até 4,8 graus Celsius até 2100, no pior cenário, ou apenas 0,2 graus Celius, no mais favorável. A subida no nível do mar é estimada num intervalo entre 26 a 81 centímetros.
 
No relatório de 2007, os cenários de aumento de temperatura estavam entre 1,1 e 6,4 graus Celsius e a subida do nível do mar entre 18 e 59 centímetros. Em 2007, havia 90% de confiança na culpa humana sobre a maior parte do aquecimento desde 1950.
 
Um tema que vai ser abordado no relatório agora é a relativa estabilização da temperatura média global na última década e meia. Esta tendência tem sido utilizada como argumento de sectores que contestam a tese da culpa humana nas alterações climáticas.
 
A Organização Meteorológica Mundial – que fundou o IPCC juntamente com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, em 1988 – tem chamado à atenção, no entanto, para o facto de a Terra estar a passar pelo seu período mais quente do último século e meio, desde que há registos fiáveis.
 
Entre as explicações possíveis dadas por cientistas para a subida menor da temperatura nos últimos anos estão variações na actividade solar e a absorção de calor pelos oceanos.
 
Durante quatro dias, o relatório do IPCC vai ser discutido, ponto a ponto, não só por cientistas, mas também por representantes governamentais – que têm assento no painel climático da ONU. Na sexta-feira, o IPCC deverá divulgar uma síntese do relatório, com cerca de três dezenas de páginas.
 
Esta é a quinta avaliação climática do IPCC, desde a sua a criação. A organização foi galardoada com Prémio Nobel da Paz em 2007, juntamente com o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore. Nos últimos anos, tem sido alvo de críticas, devido a erros encontrados no seu último relatório, em particular sobre o possível derretimento dos glaciares no futuro.

Em 2050, o Árctico não deverá ter gelo no Verão, diz relatório das Nações Unidas

Artigo publicado pelo jornal Público em 19/09/2013
O rascunho do relatório da próxima avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas antecipa para o meio do século verões quase sem gelo no Pólo Norte, revela o Financial Times. Apesar de 2013 não atingir o recorde do ano passado, este ano é o sexto com menos área de gelo no Árctico no final da época estival.
 

Em 2012, a área de gelo mínima foi de 3,5 milhões de quilómetros quadrados, o maior recorde desde que há monitorização no Árctico
Nas contas oficiais, o fim do gelo no Árctico durante o Verão está mais perto do que se esperava. Um rascunho do relatório da quinta avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês), avança que “é provável um oceano Árctico quase sem gelo antes do meio do século”, cita o Financial Times, esta quinta-feira.
 
O jornal britânico teve acesso ao rascunho do relatório do organismo das Nações Unidas. O IPCC lança, com alguns anos de distância, avaliações com vários relatórios sobre as alterações climáticas causadas pela actividade humana, os impactos dessas alterações, e medidas que sirvam de adaptação.
Previamente, na quarta avaliação do IPCC, publicada em 2007, esse momento – que se prevê vir a ser um testemunho definidor das alterações climáticas – estava estimado para o final deste século. Mas o rascunho do relatório da nova avaliação, que vai começar a ser publicada a 27 de Setembro mas que só deverá ser totalmente concluída no início do próximo ano, antecipa o fim de gelo no Pólo Norte. As estimativas dependem da quantidade de gases com efeito de estufa que poderão ser emitidos para a atmosfera nas décadas futuras.
 
“Esta nova avaliação do Árctico é um dos mais notáveis aspectos do relatório”, considera o Financial Times. O documento é o produto do trabalho de 800 cientistas de 200 países do mundo que pertencem ao IPCC, um organismo com 25 anos de idade. Um Árctico sem gelo oferece ao tráfego comercial novas rotas, mas o documento descreve o fenómeno como uma “bomba-relógio económica”, já que uma subida de temperatura pode ajudar a libertar o metano contido no permafrost, os solos gelados que existem nas latitudes mais a norte. Este metano pode acelerar as alterações climáticas.
 
Outra conclusão central do rascunho, diz o jornal britânico, é a de que os cientistas estão mais certos do que nunca que a causa das alterações climáticas é devido à libertação de gases com efeitos de estufa nas actividades humanas.
 
"É extremamente provável que a influência humana no clima seja a causa de mais de metade da subida das temperaturas médias globais observadas à superfície para o período de tempo entre 1951-2010", lê-se no rascunho do relatório transcrito pelo Financial Times. De acordo com o documento, esta actividade humana causou o aquecimento dos oceanos, o degelo, o aumento do nível médio do mar e mudou alguns extremos climáticos durante a segunda metade do século XX.
 
Mais um ano de mínimos no Pólo Norte
O fim da época de 2013 da recessão do gelo do Árctico está a poucos dias de ser oficializada pelo Centro Nacional de Dados de Neve e do Gelo dos Estados Unidos, em Boulder, no Colorado. A partir desta semana, a área de gelo começará a aumentar, à medida que as temperaturas arrefecem no Pólo Norte e a água congela, até se formar a área máxima de gelo, que será algures em Março de 2014.
 
Este ano não se testemunhou o recorde de degelo que aconteceu em 2012, desde que se monitoriza o gelo do Árctico. Mesmo assim, este foi o sexto ano com menos área de gelo no Pólo Norte – apenas cinco milhões de quilómetros quadrados, mais de um milhão de quilómetros quadrados abaixo da média mínima quando se considera o período de 30 anos entre 1981 e 2010. “É certamente uma continuação do declínio a longo prazo”, diz Julienne Stroeve, uma cientista do centro, citada pelo jornal britânico The Guardian. “Estamos a olhar para as mudanças a longo termo, e vão haver solavancos [ano após ano], mas todos os modelos climáticos mostram que vamos perder todo o gelo marinho durante o Verão.”
 
Em 2012, a área de gelo mínima foi de 3,5 milhões de quilómetros quadrados. “Tivemos um Verão bastante frio [no Árctico] mas mesmo assim o gelo não recuperou as proporções das décadas de 1970 ou 1980”, refere a cientista.
 
Mas se olharmos para a questão do ponto de vista tridimensional, 2013 já ganhou um recorde. O satélite CryoSat, que desde 2010 avalia a quantidade de gelo que existe em profundidade nos dois pólos da Terra, revelou que em Março este volume atingiu um mínimo nos três anos.
 
“A partir das medições do satélite, podemos ver que algumas partes da camada de gelo diminuíram mais rapidamente do que outras, mas tem havido uma diminuição do volume de gelo de Inverno e de Verão ao longo dos últimos três anos”, diz Andrew Shepherd, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, citado num comunicado de há uma semana no site do CryoSat, um satélite que pertence à Agência Espacial Europeia.
 
“O volume de gelo foi, no final do último Inverno, de menos de 15.000 quilómetros cúbicos, o que é menor do que qualquer outro ano e indica menos crescimento de gelo durante o Inverno do que o costume”, refere o investigador.
 
 

Resíduos das vindimas transformados em papel e cartão

Artigo publicado pelo jornal Público em 21/09/2013
Projecto de Pedro Teixeira aproveita vides para a elaboração de um papel "resistente" e com "menor impacto ambiental".
 

Resíduos de vides das vindimas do Douro dariam para mil toneladas de papel
O projeto Da_Vide apresenta este domingo, em Matosinhos, vários tipos de papel e cartão constituídos exclusivamente por fibras de vides, cujos resíduos queimados anualmente no Douro poderiam resultar em aproximadamente mil toneladas de papel. A apresentação destes materiais vai ser feita no “Mercado Consciente e Saudável”.
Esta iniciativa marca também o primeiro aniversário do projecto que está a ser desenvolvido por Pedro Teixeira, a residir em Peso da Régua, e que se propõe aproveitar as vides. Trata-se de resíduos resultantes da limpeza das videiras após as vindimas, e que, até agora, estavam a ser desperdiçados. Teixeira estima que as vides produzidas e queimadas todos os anos na Região Demarcada do Douro poderiam resultar em aproximadamente mil toneladas de papel.

Segundo o investigador, as aplicações para estes materiais vão desde o artesanato, à produção energética, indústria, componentes e acessórios, engenharia e tecnologia e ainda ‘design’, decoração e moda. Agora, Pedro Teixeira avança com o papel e cartão 100% ecológico, que tem como “vantagem importante o facto de ser obtido a partir de resíduos, não implicando o abate de árvores”.

“A utilização de vides evita ainda que as mesmas sejam queimadas reduzindo-se as emissões de CO2”, salientou o investigador referindo ainda a “não utilização de químicos na produção” do papel como um “aspecto muito relevante do ponto de vista ambiental”. E, segundo acrescentou, as características “muito especiais das fibras utilizadas permitem a obtenção de papéis que apresentam uma suavidade invulgar”.

Pedro Teixeira disse que foram desenvolvidos processos de produção que diferem significativamente dos habitualmente utilizados neste tipo de materiais. Destaca o processo de “extracção e selecção de fibras”, sendo, na sua opinião, “a mais relevante inovação a utilização de campos magnéticos, sem consumo energético, que geram uma distribuição espacial e temporal de forças que garante uma ligação mais eficiente das fibras”. O resultado é, segundo Pedro Teixeira, um papel “mais resistente sem recorrer a colas ou outros aglomerantes”.

O desenvolvimento destes materiais constitui também, para Pedro Teixeira, um “passo importante” no projecto “Vinho do Porto com ciclo fechado na vinha”, uma vez que “já torna possível a produção eficiente de rótulos e das caixas das garrafas de vinho”. Até ao final do ano serão apresentados vários tipos de madeira, assim como materiais semelhantes à cortiça, também construídos com fibras de videira. Desta forma, para o investigador, será possível produzir de forma eficiente as caixas em madeira e as rolhas.

No âmbito do “Da_vide” foi criado o “combustível sólido inteligente”, que queima à medida, com mais chama ou mais brasa, quer seja para um assador ou para uma lareira, e a “super madeira”, um material cuja matéria base é igual às madeiras naturais, mas em que as fibras de vide são estruturadas de forma diferente, permitindo, por exemplo, obter uma resistência mecânica muito superior em todas as direcções, num aglomerado mais leve e facilmente moldável, na fase de produção.

Ups, afinal o metano em Marte é quase inexistente

Texto de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 19/09/2013
Curiosity encontrou traços reduzidos de metano na atmosfera do planeta vermelho, ao contrário de medições feitas no passado. Descoberta dificulta a hipótese de vida microbiana.
 

O Curiosity analisou a atmosfera marciana em 2012 e 2013
Até agora, todos os dados indicam que Marte é um planeta desprovido de vida. Mas a existência de organismos microbianos escondidos no solo do planeta vermelho ainda é uma hipótese suficientemente apelativa, e pouco estudada, para estar em cima da mesa. As medições feitas no passado de plumas de metano na atmosfera marciana permitiram imaginar que este gás era libertado por micróbios metanogénicos. Estes organismos encontram-se em certos ambientes da Terra, e o seu metabolismo produz metano, tal como os humanos expiram dióxido de carbono. Mas os resultados das experiências feitas pelo Curiosity parecem atirar a hipótese cano abaixo.
 
O robô da NASA, que caminha por solos marcianos há mais de um ano terrestre, fez várias medições da quantidade de metano que existe na atmosfera, a um metro acima do solo, em 2012 e 2013. Para isso, utilizou um espectrómetro de laser que analisa os gases existentes em amostras de ar. Os resultados são desanimadores. “O limite superior de 1,3 partes [de metano] por mil milhões de partes é significativamente menor do que as quantidades de metano medidas por sondas ou a partir de telescópios terrestres”, escreve a equipa de Christopher Webster, do Laboratório de Propulsão a Jacto, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, EUA, no artigo publicado esta quinta-feira na edição online da revista Science.
 
Estas análises passadas mediram diferentes quantidades de metano ao longo dos anos e consoante o local do planeta analisado. Mas o gás tem um tempo de vida de centenas de anos antes de ser degradado pelo Sol, e os cientistas esperavam que a diluição deste gás na atmosfera gerasse uma quantidade de metano cerca de seis vezes maior do que a que foi encontrada agora.
 
Para os investigadores, “estes resultados reduzem em muito a probabilidade de actividade microbiana metanogénica em Marte” ou a produção deste gás devido a fenómenos geológicos. Mantém-se a incógnita sobre o que era o metano identificado nas experiências passadas.

Segurança de técnica experimental de FIV com três "progenitores" posta em causa

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 20/09/2013
A nova técnica de fertilização in vitro, destinada a evitar certas doenças genéticas graves, está gerar controvérsia.
Nova técnica ainda longe de estar pronta para uso clínico, afirmam especialistas
A revista Science publica esta sexta-feira um texto, assinado por três biólogos, que alerta para os riscos que uma nova técnica de procriação medicamente assistida, dita de “substituição mitocondrial”, poderá apresentar para a saúde de futuros bebés.
 
Recorde-se que, em Junho passado, o Governo britânico anunciou que iria elaborar directivas destinadas a permitir que, dentro de dois anos, os serviços de procriação medicamente assistida do Reino Unido pudessem começar a oferecer aos casais uma técnica destinada a evitar doenças genéticas graves associadas a defeitos do ADN das mitocôndrias, as "baterias" das células.
 
As mitocôndrias possuem um bocadinho de ADN próprio e as mutações nesse ADN podem acarretar uma série de doenças: diabetes, surdez, problemas oculares e gastrointestinais, doenças cardíacas, demência. Estima-se que uma em cada 6500 crianças seja afectada por este tipo de mutações.
 
Ora, devido à forma de transmissão hereditária das mitocôndrias – que passam exclusivamente da mãe para os seus futuros filhos via o citoplasma (a "clara") do ovócito –, basta “trocar” de citoplasma para substituir as mitocôndrias mutantes por mitocôndrias normais.
 
Mais concretamente, antes da fecundação, transfere-se o núcleo do ovócito da futura mãe (que contém 99% do ADN total da célula materna) para um ovócito cujo citoplasma contém mitocôndrias saudáveis, doado por outra mulher e previamente esvaziado do seu próprio núcleo. A futura criança terá assim três "progenitores" – um homem e duas mulheres. A técnica de substituição mitocondrial já foi testada com êxito em macacos-rhesus.
 
Porém, Klaus Reinhardt, da Universidade de Tubinga (Alemanha), Damian Dowling, da Universidade Monash (Austrália), e Edward Morrow, da Universidade de Sussex (Reino Unido), afirmam agora que os debates éticos e científicos em torno da nova técnica têm eclipsado uma análise mais cuidada dos riscos potenciais associados para a saúde humana.
 
Estes especialistas salientam, em particular, que a substituição mitocondrial pode “modificar profundamente os padrões de expressão dos genes nucleares [o resto do ADN, situado no núcleo das células], afectando uma leque de traços importantes tais como o desenvolvimento individual, o comportamento cognitivo e parâmetros-chave da saúde”. Por isso, antes de se passar para a aplicação clínica, afirmam, são precisos mais estudos em animais.
 
Os defensores de uma passagem rápida da técnica para o ser humano argumentam, pelo seu lado, que os eventuais riscos são pequenos face às doenças que a nova técnica permitiria evitar. A isso, os três autores respondem, que embora “algumas famílias afectadas pelas doenças mitocondriais possam estar mais dispostas a correr riscos, outras, que tiveram crianças com sintomas menos graves (...), poderão querer esperar por uma clarificação empírica dos riscos envolvidos”.

Cientistas descobriram como uma proteína implicada na doença de Alzheimer destrói ligações nervosas

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 20/09/2013
A proteína beta-amilóide desencadeia um processo que degrada as estruturas que os neurónios utilizam para comunicar
 

Visão artística de aglomerados beta-amilóides (vermelho) a ligarem-se a receptores neuronais (verde)
Pela primeira vez, investigadores mostraram que pequenos agregados de proteína beta-amilóide, o ingrediente de base das placas que se formam à volta dos neurónios na doença de Alzheimer, conseguem ligar-se fortemente a uma molécula receptora presente à superfície dos neurónios. Os seus resultados são hoje publicados na revista Science.
 
A proteína beta-amilóide, naturalmente presente no cérebro, tem tendência para formar aglomerados. Inicialmente pequenos, esses agregados acabam por formar placas ditas amilóides que "asfixiam" os neurónios e são uma das "assinaturas" inequívocas da Alzheimer.
 
Carla Shatz, da Universidade de Stanford (EUA), e colegas, tinham anteriormente estudado, em ratinhos, um receptor presente à superfície dos neurónios chamado PirB. E tinham descoberto que, quando activado por substâncias que se ligam a ele, favorece o enfraquecimento das sinapses (as estruturas de passagem dos impulsos nervosos de um neurónio para outro). Ora, como uma outra característica da doença é a perda maciça de ligações nervosas, os cientistas quiseram ver o que aconteceria, com uma estirpe de ratinhos geneticamente manipulados com particular predisposição para a doença de Alzheimer, se os seus neurónios fossem "despidos" do receptor PirB. Puderam constatar então que, efectivamente, esses ratinhos deixavam de apresentar sinais da doença tais como formação de placas amilóides ou perda de memória. Pelo contrário, os ratinhos cujo receptor PirB funcionava normalmente apresentavam sintomas patológicos de degradação mental, como era de esperar.
 
O que poderia estar a proteger os primeiros animais das suas nefastas mutações pró-Alzheimer? É aqui que entram em cena o autor principal do estudo agora publicado, Taekho Kim, e a sua teoria. Segundo Kim, o que poderia estar a acontecer é que a proteína beta-amilóide, ao ligar-se ao receptor PirB, estivesse a provocar o enfraquecimento das sinapses e a comunicação entre os neurónios acabava por se tornar impossível - e a memória por desaparecer.
 
As experiências seguintes mostraram que, efectivamente, os pequenos agregados de proteína beta-amilóide se ligavam fortemente ao receptor PirB. Entretanto, Kim descobriu que existe também um receptor equivalente nos neurónios humanos, chamado LilrB2, igualmente capaz de se ligar à beta-amilóide.
 
Restava perceber como é que PirB fazia para enfraquecer as sinapses. Mais experiências, desta vez a comparar os cérebros de ratinhos com e sem receptor PirB (mas todos eles propensos à doença de Alzheimer), permitiram constatar que, nos primeiros, a actividade de uma enzima, a cofilina, era muito mais elevada do que nos segundos. O mesmo se verificou, aliás, na autópsia ao cérebro de doentes com Alzheimer, quando comparados com os de pessoas que não tinham a doença na altura da morte.
 
A cofilina actua partindo aos bocados uma outra proteína, a actina, que é por sua vez essencial à manutenção da integridade das sinapses. E de facto, estes cientistas mostraram que a ligação dos agregados de beta-amilóide ao receptor PirB, à superfície dos neurónios, acarreta, dentro dessas células, alterações bioquímicas na cofilina, reforçando assim a acção destruidora de sinapses da actina. Todas a peças encaixavam perfeitamente.
 
"O nosso estudo é um dos primeiros a explicar como a proteína beta-amilóide pode conduzir à perda de ligações cerebrais através da ligação a um receptor de superfície das células nervosas", disse ao PÚBLICO Carla Shatz. "Isso é novo - como também a descoberta de um receptor equivalente no cérebro humano." Os resultados sugerem, em particular, "que a doença de Alzheimer começa a manifestar-se muito antes de a formação de placas amilóides se tornar óbvia", salienta a cientista - e poderão abrir o caminho a tratamentos mais eficazes nas fases precoces da doença.
 
Conhecem-se outros receptores da proteína beta-amilóide no cérebro. Mas ainda nenhum deles foi associado a mecanismos específicos de patologia celular, lê-se num comentário na mesma edição da Science. "Os novos resultados são provavelmente uma nova e importante peça do puzzle que nos permitirá perceber totalmente a doença de Alzheimer", diz-nos Bart De Strooper, do Instituto de Neurociências e Doença de Lovaina (Bélgica) e um dos co-autores daquele comentário. "Existem outros receptores da amilóide e a questão é agora a de saber como cada um dos diversos receptores contribui para a patologia."

Núcleo interno da Terra gira no sentido oposto ao planeta

http://querosaber.sapo.pt/ambiente/nucleo-interno-da-terra-gira-no-sentido-oposto-ao-planeta
Artigo escrito por Alexandre Lopes

Anteriormente pensava-se que o núcleo interno da Terra completava uma rotação cerca de dois terços de segunda mais rápido que o resto do planeta. Agora, uma nova teoria sugere que, embora seja efetivamente mais rápido que o resto do planeta, o núcleo gira na direção oposta.
 
A teoria surge da parte de um grupo de investigadores da Universidade de Leeds, em Inglaterra, que afirmam que o núcleo interno – tem 3,5 mil quilómetros de diâmetro e é composto de ferro sólido - gira mais rapidamente e na direção leste, em relação ao resto do planeta. Já o núcleo externo, composto principalmente de ferro fundido, gira para o oeste em velocidade mais lenta.
 
Este estudo foi feito utilizando um modelo do planeta Terra no supercomputador Monte Rosa que é capaz de simular o comportamento do núcleo da Terra com uma precisão surpreendente. Com o uso desta máquina, descobriu-se que a rotação do campo magnético da Terra consegue puxar o núcleo externo líquido na direção oeste e, ao mesmo tempo, exercer forças opostas sobre o núcleo interno, resultando numa rotação para o lado oposto.
 
Termina assim um enigma com mais de 300 anos. Os cientistas esperam agora com esta descoberta perceber melhor a dinâmica do núcleo da Terra, assim como o campo magnético do planeta.
 
Imagem: National Geographic

Nova teoria diz que os “anéis de fadas” resultam de uma competição pelos recursos do subsolo

http://querosaber.sapo.pt/ambiente/nova-teoria-diz-que-os-aneis-de-fada-resultam-de-uma-competicao-entre-os-recursos-do-subsolo
Artigo escrito por Alexandre Lopes

Já anteriormente tínhamos falado destes misteriosos círculos em África. Mais conhecidos por “anéis de fadas”, inicialmente pensava-se que estes famosos círculos eram gerados por térmitas Psammotermes. Contudo, uma nova teoria acaba com essa explicação.
 
Segundo um estudo publicado na revista PLOS ONE, os “anéis de fada” resultam de uma competição de plantas pelos recursos do subsolo.
 
De acordo com esta nova teoria, o solo do deserto estaria inicialmente revestido de vegetação de maneira uniforme. Contudo, e dado o mesmo ser pobre de mais, ou seja, oferece poucos nutrientes, resultou numa disputa onde só as plantas mais fortes sobreviveram. Isto é, as mais fortes consumiam os recursos das menos resistentes, que morriam e deixavam um espaço vago no terreno.
 
Depois, esse espaço vago cresce, torna-se num buraco e, finalmente, acaba por se transformar num reservatório de água e nutrientes. Estes anéis de fadas podem chegar aos 75 anos de existência.
 
Será esta uma explicação coerente?
 
Imagem: Michael D. Cramer

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Descoberta nova espécie de tubarão que “anda”

Texto de Marisa Soares publicado pelo jornal Público em 29/08/2013
Uma equipa de investigadores descobriu na Indonésia uma nova espécie de tubarão-bambu, que possui várias manchas castanhas espalhadas pelo corpo e parece “andar” à medida que se desloca pelo fundo do mar, com a ajuda das barbatanas peitorais e pélvicas.
Tubarão "anda" no fundo do mar à procura de invertebrados e pequenos peixes
Este peixe recém-descoberto, cujo nome científico é Hemiscyllium halmahera, tem cerca de 70 centímetros de comprimento. A equipa, liderada pelo biólogo Gerald Allen, da organização não-governamental Conservation International, identificou dois indivíduos junto à ilha de Ternate, perto de Halmahera, no arquipélago de Maluku, na Indonésia.
 
Os tubarões-bambu (Chiloscyllium punctatum), também conhecidos como tubarões-tapete de cauda longa, são frequentes nas águas do Pacífico e do Índico, sobretudo na Austrália, Papua Nova Guiné e Indonésia. Podem atingir cerca de 1,22 metros. A espécie está classificada como quase ameaçada no Livro Vermelho da União Internacional para a Conservação da Natureza.
 
Na revista aqua, International Journal of Ichthyology, publicada esta semana, os investigadores descrevem a espécie agora descoberta como tendo uma coloração acastanhada, pontuada por várias manchas de cor castanho-escuro ao longo do corpo, misturadas com pequenos pontos brancos.
 

 
“Tem relativamente poucos, menos de dez, grandes pontos negros na região do focinho, um par de grandes marcas escuras na superfície ventral da cabeça, e uma marca fragmentada pós-cefálica, que consiste num grande ponto negro em forma de U, com uma margem branca mais ou menos contínua na parte mais baixa, seguida de uma linha vertical de três pequenos conjuntos de 2-3 marcas escuras em forma de polígono”, escrevem os investigadores.
 
Estes tubarões usam as barbatanas peitorais e pélvicas para se movimentarem no fundo do mar, enquanto procuram invertebrados marinhos e pequenos peixes para comer. A forma estranha como se movimentam pode fornecer pistas sobre como evoluíram os antepassados dos primeiros animais a andar em terra, escreve o jornal The Telegraph.

Descobertas no Quénia reservas com água suficiente para abastecer o país durante 70 anos

Texto de Marisa Soares publicado pelo jornal Público em 14/09/2013
Aquíferos estão situados na região de Turkana, uma das mais quentes e pobres deste país africano.

Uma responsável supervisiona o teste de bombagem
O Governo do Quénia e a UNESCO anunciaram esta semana que foram descobertas reservas subterrâneas de água que podem ser estratégicas para este país africano, constantemente fustigado pela seca. A quantidade de água armazenada é suficiente para abastecer o país nos próximos 70 anos.
A descoberta foi possível graças à utilização de uma tecnologia avançada de exploração via satélite, financiada pelo Japão, que funciona de forma semelhante à tecnologia utilizada na pesquisa por depósitos de petróleo. Os resultados foram depois confirmados no terreno por perfurações realizadas por uma equipa da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
Foram localizados dois importantes aquíferos, em Lotikipi e em Lowar. O primeiro tem pelo menos 200 mil milhões de metros cúbicos e o segundo terá dez mil milhões. Ainda falta determinar o tamanho de outros três poços, embora os investigadores estimem que sejam muito mais pequenos. Estas reservas estão localizadas na região semidesértica de Turkana, no norte do Quénia, perto do lago com o mesmo nome, que é partilhado com a Etiópia.
Num comunicado conjunto, a UNESCO e o Governo queniano ressalvam que ainda falta determinar com exactidão a quantidade de água descoberta, bem como a sua qualidade. Ainda assim, sublinham a importância do achado, sobretudo nesta altura. “A notícia sobre estas reservas de água é anunciada num momento em que a presença de reservas de água confiáveis é mais necessária do que nunca”, afirma o ministro do Ambiente, Judi Wakhungu, citado no comunicado.
O aquífero de Lotikipi poderia "aumentar as reservas estratégicas de água do Quénia", lê-se no comunicado. Já a reserva subterrânea encontrada em Lodwar poderia servir como "reserva estratégica para o desenvolvimento" da cidade homónima, capital do condado de Turkana.
A região está há dois anos a viver uma terrível seca, que fez aumentar a taxa de desnutrição até aos 37%. Segundo o Governo e a UNESCO, mais de um terço da população queniana (ou seja, 17 dos 41 milhões de habitantes) não tem acesso a água potável e 28 milhões de pessoas não têm saneamento.
"Agora temos que explorar estes recursos de uma forma responsável e garantir sua duração para as gerações futuras", considera o governante.
A região do Lago Turkana, o maior lago desértico permanente do mundo, fica nas fronteiras com o Uganda, o Sudão do Sul e a Etiópia. Cerca de 70% da população daquela região é semi-nómada.
O Governo do Quénia e a UNESCO anunciaram esta semana que foram descobertas reservas subterrâneas de água que podem ser estratégicas para este país africano, constantemente fustigado pela seca. A quantidade de água armazenada é suficiente para abastecer o país nos próximos 70 anos.
 
A descoberta foi possível graças à utilização de uma tecnologia avançada de exploração via satélite, financiada pelo Japão, que funciona de forma semelhante à tecnologia utilizada na pesquisa por depósitos de petróleo. Os resultados foram depois confirmados no terreno por perfurações realizadas por uma equipa da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
 
Foram localizados dois importantes aquíferos, em Lotikipi e em Lowar. O primeiro tem pelo menos 200 mil milhões de metros cúbicos e o segundo terá dez mil milhões. Ainda falta determinar o tamanho de outros três poços, embora os investigadores estimem que sejam muito mais pequenos. Estas reservas estão localizadas na região semidesértica de Turkana, no norte do Quénia, perto do lago com o mesmo nome, que é partilhado com a Etiópia.
 
Num comunicado conjunto, a UNESCO e o Governo queniano ressalvam que ainda falta determinar com exactidão a quantidade de água descoberta, bem como a sua qualidade. Ainda assim, sublinham a importância do achado, sobretudo nesta altura. “A notícia sobre estas reservas de água é anunciada num momento em que a presença de reservas de água confiáveis é mais necessária do que nunca”, afirma o ministro do Ambiente, Judi Wakhungu, citado no comunicado.
 
O aquífero de Lotikipi poderia "aumentar as reservas estratégicas de água do Quénia", lê-se no comunicado. Já a reserva subterrânea encontrada em Lodwar poderia servir como "reserva estratégica para o desenvolvimento" da cidade homónima, capital do condado de Turkana.
 
A região está há dois anos a viver uma terrível seca, que fez aumentar a taxa de desnutrição até aos 37%. Segundo o Governo e a UNESCO, mais de um terço da população queniana (ou seja, 17 dos 41 milhões de habitantes) não tem acesso a água potável e 28 milhões de pessoas não têm saneamento.
 
"Agora temos que explorar estes recursos de uma forma responsável e garantir sua duração para as gerações futuras", considera o governante.
 
A região do Lago Turkana, o maior lago desértico permanente do mundo, fica nas fronteiras com o Uganda, o Sudão do Sul e a Etiópia. Cerca de 70% da população daquela região é semi-nómada.

Micróbios produzem energia eléctrica a partir de águas residuais

Artigo publicado pelo jornal Público em 16/09/2013
Estudo da universidade de Stanford.

Engenheiros norte-americanos descobriram uma maneira eficaz de produzir energia eléctrica a partir de águas residuais utilizando micróbios que digerem matéria orgânica, foi esta segunda-feira divulgado.
Os responsáveis pelo estudo da universidade de Stanford, divulgado pela AFP, esperam que esta técnica venha a ser usada nas estações de tratamento de águas residuais e na remoção de poluentes orgânicos em "zonas mortas" nos oceanos e lagos.

Este protótipo de laboratório é limitado no momento, estando num tubo do tamanho de uma pilha, com eléctrodos negativo e positivo, imerso num recipiente de águas residuais onde estão as bactérias.

Ao consumir partículas de resíduos orgânicos, estes micróbios agrupados à volta do eléctrodo negativo são capturados pelo eléctrodo positivo da bateria.

"Chamamos a este processo de 'pesca de electrões'", refere Craig Criddle, professor do departamento de engenharia civil na Universidade de Stanford, na Califórnia, um dos principais autores da pesquisa, citado pela AFP.

Silves é a melhor maternidade para o lince ibérico

Texto de Marisa Soares publicado pelo jornal Público em 15/09/2013
 
Todas as 17 crias nascidas este ano continuam vivas. A estas, juntam-se mais 27 nascidas em Espanha.

Este ano houve uma ninhada com cinco crias, pela primeira vez em cativeiro
Este ano, nasceram 53 crias de lince ibérico nos centros de reprodução em cativeiro em Portugal e Espanha, das quais sobreviveram 44 – tantas quanto na temporada de 2012. O centro de Silves, no Algarve, foi o que registou maior taxa de sucesso, pelo segundo ano consecutivo: nasceram 17 crias e todas continuam vivas.
 
É apenas mais um capítulo com um final feliz, de uma história que começou em Maio de 2009, com a inauguração do Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro para o Lince Ibérico, na Herdade das Santinhas, em Silves. A temporada de partos de 2013 começou em Março e desde então as 17 crias continuam saudáveis, à espera do momento em que serão libertadas na Natureza, em território espanhol.
 
Em Junho, Jazz e Joaninha, dois dos linces nascidos em 2012 no centro de Silves, foram libertados em Guarrizas, na Andaluzia. Foram as últimas libertações de 2013, ano em que 11 dos 19 linces reintroduzidos saíram do centro português. No entanto, em Agosto, o colar de radiotransmissão do Jazz foi encontrado num aterro em Almagro, na comunidade autónoma de Castela-La Mancha. A Guardia Civil espanhola está a investigar o caso, mas suspeita-se que o animal tenha morrido, por causas ainda desconhecidas, e alguém terá decidido deitar o colar num contentor de lixo.
 
Cinco crias numa só ninhada
Em Silves, esta temporada de reprodução ficou marcada pelo parto da fêmea Fruta, que teve cinco crias numa só ninhada. Esta é a primeira ninhada de cinco crias registada em cativeiro desde o começo do programa.
 
Segundo os dados mais recentes do Programa de Crias em Cativeiro de Lince Ibérico, disponibilizados pela Consejeria Andaluza de Agricultura, Pesca e Meio Ambiente e citados pelo jornal espanhol 20minutos, no total nasceram 53 linces ibéricos nesta temporada, repartidos por 18 ninhadas, em quatro dos cinco centros de reprodução existentes em Portugal e Espanha. Apenas 44 sobreviveram.
 
No princípio da temporada de crias, foram definidos 25 pares reprodutores nos vários centros, sendo que dois desses casais foram emparelhados com o objectivo de serem castrados e recolhidos os respectivos embriões.
 
Dos casais que se reproduziram com êxito, sete estão no centro de Silves e os restantes estão em Espanha. Quatro encontram-se no centro de Zarza de Granadilla, em Cáceres, onde nasceram 12 crias, das quais duas não resistiram. Cinco casais estão no centro de La Olivilla, em Jaén, onde nasceram 13 crias, das quais sobreviveram oito, e seis casais encontram-se no centro de crias de El Acebuche, em Doñana, onde nasceram 11 linces, nove ainda vivos.
 
O lince-ibérico é a espécie de felino mais ameaçada do mundo, classificada como criticamente em perigo de extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. O último censo, de 2011, dava conta de 298 exemplares de lince-ibérico.
 
A reprodução em cativeiro é uma solução de fim de linha para tentar evitar a extinção do lince-ibérico (Lynx pardinus). O objectivo do projecto ibérico LIFE Iberlince (2011-2016) é reforçar com estes animais as duas únicas populações em estado selvagem, em Doñana e na Serra de Andújar, na Andaluzia, recuperando também as populações que existiam em Portugal, na Extremadura espanhola e em Castela-La Mancha.

Equipa portuguesa associa excesso de restos de células no sangue à asma

Artigo publicado pelo jornal Público em 12/09/2013
Restos de plaquetas em grandes quantidades no sangue foram associados a doentes asmáticos, mostra um novo artigo de uma equipa da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
 

Os asmáticos têm os pulmões inflamados
Uma equipa portuguesa da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) observou que os asmáticos têm mais partículas celulares no sangue do que as pessoas sem esta doença, mostra um artigo publicado na última edição da revista Allergy. O estudo poderá ajudar a compreender os mecanismos que causam esta doença que afecta 300 milhões de pessoas no mundo.
 
Em muitas doenças, como o cancro, a diabetes ou a artrite reumatóide, há um excesso de acumulação dos restos de células – normalmente são fragmentos de membranas de células endoteliais, plaquetas ou glóbulos brancos. Mas nunca se tinha encontrado este fenómeno nos doentes de asma.
 
“Realizámos testes clínicos e laboratoriais num grupo de 20 pacientes asmáticos e 15 não asmáticos”, relata em comunicado Delfim Duarte, líder da equipa de investigadores que realizou esta experiência, dos Departamentos de Bioquímica e Imunologia da FMUP. Além disso, a equipa observou o grau de inflamação e de formações de vasos sanguíneos novos.
 
Os cientistas descobriram que as pessoas com asma tinham níveis maiores de restos de plaquetas do que o grupo de não asmáticos, o que sugere que este fenómeno é uma característica de quem tem esta doença. Esta descoberta pode ajudar a desenvolver novos biomarcadores que identifiquem a doença.
 
A asma é uma doença respiratória originada por uma combinação de factores genéticos e ambientais que causa a inflamação dos pulmões. Os asmáticos têm frequentemente crises que podem ser controladas por medicação. Durante essas crises têm dificuldade de respirar, tosse e síbilos.
 
 

Vacina contra vírus da sida nos símios confere protecção a macacos-rhesus

Texto de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 12/09/2013
Primatas foram vacinados e depois infectados com o vírus da imunodeficiência símia, provocando a infecção. Cerca de metade dos primatas conseguiu debelá-la em meses.
 

Os macacos rhesus ganharam imunidade ao vírus da imunodeficiência em símios 
Uma equipa de cientistas criou uma vacina contra o vírus da imunodeficiência símia (VIS), equivalente ao vírus que provoca a sida em humanos, o vírus da imunodeficiência humana (VIH). Esta vacina provou funcionar em cerca de metade dos macacos-rhesus testados. Entre um ano e meio e três anos depois, todos os testes feitos a estes macacos não conseguiram encontrar sinais do vírus da imunodeficiência símia (VIS), que se esconde muitas vezes no ADN de certas células. Os resultados, publicados num artigo da edição desta quinta-feira da revista Nature, mostram que a estratégia desta potencial cura em macacos é, escrevem os autores, “promissora” para o desenvolvimento de uma vacina contra o VIH.
 
A vacina foi feita a partir de um vírus da família dos citomegalovírus que infecta os macacos-rhesus. O vírus que causa a herpes é também um citomegalovírus, que vai reaparecendo ao longo do tempo. Mas estas partículas utilizadas para vacina foram alteradas pelos cientistas da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon, nos Estados Unidos, para estarem atenuadas e para apresentarem proteínas do SIV. Deste modo, o sistema imunitário dos símios está constantemente a ser “espicaçado” com estas proteínas do VIS e acaba por criar uma classe de glóbulos brancos, os linfócitos T, dedicada a atacar e a matar tudo o que apresente as proteínas do VIS.
 
Depois de vacinarem os macacos-rhesus, os cientistas infectaram estes símios com uma estirpe altamente patogénica do VIS. Tal como o HIV, o VIS infecta e reproduz-se em algumas classes de células do sistema imunitário. Neste processo, acaba por matar estas células, tornando o corpo do hospedeiro vulnerável a infecções que, antes, eram facilmente controladas. Normalmente, os macacos-rhesus não sobrevivem mais do que dois anos quando contraem esta estirpe virulenta do VIS.
 
Mas, desta vez, depois dos primeiros meses, onde mostravam sofrer da infecção, cerca de metade dos símios conseguiu controlar o vírus. Passados mais de dois anos e meio, os cientistas correram uma série de testes à procura do vírus VIS, que, sendo semelhante ao HIV, pode esconder-se durante anos no ADN de certas células, os chamados “reservatórios” do vírus. Mas não encontraram nenhum fragmento ou sinal do agente patogénico nos símios.

Memória imunitária de longo prazo
A equipa defende que o sistema imunitário dos macacos-rhesus está recorrentemente a ser relembrado do VIS sempre que os citomegalovírus voltam a replicar-se e a mostrar proteínas do outro vírus. Por isso, cria-se uma memória imunitária de longo prazo contra o VIS nestes linfócitos e, qualquer vírus que volte à vida a partir de uma célula-reservatório, é controlado pelos linfócitos T, que matam essa célula.
 
“É sempre difícil alegar que estamos perante a erradicação do vírus – pode sempre existir uma célula, que não foi analisada, e que tem o vírus lá dentro”, começa por dizer Louis Picker, do Instituto para Vacinas e Terapia Genética da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon. “Mas, no geral, utilizando critérios muito rigorosos, não há nenhum vírus [VIS] no corpo destes macacos”, diz o líder da equipa que conduziu o estudo, citado pela BBC News.
 
Os cientistas vão agora tentar compreender por que é que, na outra metade dos macacos-rhesus, a vacina não teve efeito. Mesmo assim, estão convencidos de que esta descoberta poderá ajudar a desenvolver uma vacina contra o VIH. “É concebível que os linfócitos T estimulados e mantidos por um citomegalovírus possam exercer uma pressão imunitária nas células que expressem proteínas do HIV e facilitem a deplecção de reservatórios residuais de HIV nos pacientes que estão a fazer tratamentos anti-retrovirais para suprimirem o vírus”, escrevem os autores no artigo da Nature.
 
O primeiro passo para desenvolver uma vacina parecida para humanos é construir um citomegalovírus humano que não tenha qualquer risco de causar, ele próprio, uma infecção, explica Louis Picker à BBC News, que diz já ter feito isso em laboratório. Segundo o cientista, se as autoridades regulatórias permitirem o uso deste vírus, então as primeiras experiências em humanos poderão já começar daqui a dois anos.

Análise ao sangue determina eficácia do tratamento da disfunção eréctil

Artigo publicado pelo jornal Público em 12/09/2013
Teste está a ser patenteado por cientistas da Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto e poderá estar disponível no mercado dentro de “um ou dois anos”.


 
Um grupo de investigadores portugueses está a desenvolver um teste que determina a eficácia do tratamento da disfunção eréctil, permitindo a adopção de uma estratégia terapêutica personalizada.
 
“Através da determinação, numa simples análise de sangue periférico, de substâncias moleculares envolvidas na génese da disfunção eréctil, pode-se predizer o sucesso ou insucesso de determinado fármaco para o tratamento da disfunção eréctil em cada doente”, explicou o investigador e urologista, Fábio Almeida.
 
Em declarações à Lusa, Fábio Almeida disse que a análise “baseia-se sobretudo na avaliação da função vascular dos vasos sanguíneos do pénis. No fundo, permite perceber como é que a camada mais interna dos vasos sanguíneos está a funcionar. A esse nível existe um conjunto de moléculas que, quando alteradas, num estado oxidado, se tornam incapazes de ser eficazes para que os vasos sanguíneos possam relaxar e o pénis possa tornar-se eréctil de uma maneira satisfatória para o doente”.
 
“Esta análise permite determinar e quantificar a quantidade dessas moléculas que estão alteradas. Sabemos que se houver um determinado número, um determinado rácio de moléculas oxidadas versus moléculas reduzidas (estado normal), que de facto os fármacos não são eficazes, portanto não consegue relaxar os vasos sanguíneos e a erecção não se proporciona”, sustentou.
 
O especialista considerou que “não tem interesse estar a medicar um doente sem saber qual é que é o seu estado oxidativo/reduzido porque, de facto, para esses doentes que vamos tentar medicar ‘às cegas’ a probabilidade de ter sucesso é muito baixa”.
 
“O nosso objectivo é corrigir os factores que estão na base da disfunção eréctil, da disfunção vascular para que, mais tarde, possa fazer a medicação correcta e de uma maneira satisfatória”, sublinhou.
 
Fábio Almeida disse ainda à Lusa que esta análise de sangue periférico está a ser patenteada pelos investigadores da Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto e que poderá estar disponível no mercado dentro de “um ou dois anos”.
 
Actualmente está disponível em termos académicos e de investigação e para os doentes que reúnem os critérios definidos pelos protocolos de investigação.
 
Neste momento, referiu o especialista, uma parte do protocolo de investigação já esta fechado e os resultados já foram validados em varias reuniões cientificas.
 
“Estamos a alargar o número de doentes que estão a participar no estudo para que os resultados possam ter mais peso estatístico, mais validade”, disse Fábio Almeida, referindo que os doentes que pretendam obter informações podem contactá-lo através do endereço electrónico: fa1escorcio@gmail.com ou dirigindo-se ao Centro de Urologia da Imagem Médica da Lapa, no Porto.
 
O investigador salientou ainda que “esta simples colheita de sangue permite ter dados muito importantes sobre o estado da função vascular do próprio doente. Isto não representa um avanço apenas para a disfunção eréctil, representa um avanço para o estudo cardiovascular do doente”.
 
“Podemos muitas vezes evitar que estes doentes que sofrem de disfunção erétil venham a sofrer um enfarte ou um AVC porque o estado oxidativo dos vasos sanguíneos não afecta apenas o pénis, afetca todo o corpo e, particularmente, os vasos do coração e do sistema nervoso central”, frisou.

Dez homens mudaram o estilo de vida e reverteram envelhecimento celular

Texto de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 17/09/2013
Estudo analisou homens que mudaram de estilo de vida e cinco anos depois tinham telómeros, as pontas dos cromossomas, maiores.
 

Os participantes tinham uma alimentação mais saudável e faziam exercício moderado durante a semana
As pontas dos cromossomas humanos podem ser vistas como uma espécie de ampulheta da idade celular. Cada vez que há uma divisão de células, todo o ADN que está nos cromossomas tem de ser copiado para as células-filhas conterem exactamente o mesmo material genético da célula-mãe. Mas as pontas de cada cromossoma, divisão após divisão, anos após ano de vida, vão ficando mais curtas em muitas células. Essa diminuição natural dos telómeros, o nome dado a estas pontas, tem efeitos negativos na protecção do material genético e já foi relacionada com doenças que surgem na velhice.
 
Mas agora, um estudo associou pela primeira vez uma mudança radical do estilo de vida em dez homens com um aumento médio de cerca de 10% do tamanho dos seus telómeros. Um segundo grupo de homens, que não seguiu este programa de saúde, mas que serviu como referência, viu os seus telómeros reduzirem de tamanho em 3%. Os resultados foram publicados na revista Lancet Oncology.
"Os nossos genes e os nossos telómeros não ditam necessariamente o nosso destino", diz em comunicado Dean Ornish, líder da equipa, médico e professor da Universidade da Califórnia, São Francisco. "Estas descobertas indicam que os telómeros podem aumentar à medida que se muda o estilo de vida. Pesquisas anteriores mostraram que os telómeros maiores estão associados a menos doenças e a uma vida mais longa."
 
Os telómeros são pedacinhos repetidos de ADN que não codificam nada, ao contrário dos genes. Tal como a ponteira de plástico do atacador, que não o deixa desfiar, os telómeros protegem o material genético. Durante a replicação dos cromossomas, evitam que o ADN seja digerido por enzimas e não deixam que ocorram fusões das extremidades das moléculas. Todos estes fenómenos, quando acontecem, fazem envelhecer as células.
 
Nos humanos, ainda não se compreende completamente qual é o efeito do encurtamento dos telómeros no envelhecimento do organismo. Mas o cancro, os ataques cardíacos, a obesidade, a diabetes, os acidentes vasculares cerebrais - todos problemas de saúde ligados à idade - já foram associados a telómeros mais pequenos nos cromossomas dos glóbulos brancos, células do sistema imunitário.
 
Em 2009, Elizabeth Blackburn, Jack Szostak e Carol Greider ganharam o Prémio Nobel da Medicina por, 25 anos antes, terem descoberto a telomerase. Esta enzima vai acrescentando pedaços repetidos de ADN aos telómeros depois de cada divisão celular. Desta forma, há uma luta contra a corrosão dos telómeros, adiando assim o envelhecimento das células. No entanto, ainda não se demonstrou que esta enzima seja o elixir da eterna juventude. Pelo contrário, em alguns casos a telomerase foi associada à presença de células cancerosas, células que se tornam letais precisamente porque nunca morrem.
 
A equipa de Dean Ornish, que agora publicou o estudo, foi tentar perceber se um estilo de vida saudável tinha algum efeito nos telómeros. O estudo foi feito com participantes que tinham sido diagnosticados com cancros da próstata em fase inicial. Durante cinco anos, um grupo de dez homens, com uma idade média de 61 anos, passou a ter uma alimentação à base de proteínas de origem vegetal, com fruta, legumes, com pouca gordura e poucos hidratos de carbono refinados. Este grupo fazia caminhadas de 30 minutos seis vezes por semana, além de ter aulas de alongamento, meditação e respiração baseadas no yoga, para lidarem com o stress, e de estarem em contacto com profissionais que os apoiavam nos seus problemas quotidianos.
 
A equipa mediu o tamanho dos telómeros dos glóbulos brancos dos dez participantes no início do programa e passados cinco anos. Para poder comparar estes resultados, os investigadores também mediram o tamanho dos telómeros de outro grupo de 25 homens que tinham sido diagnosticados com cancro da próstata, mas que não seguiram este programa - embora, autonomamente, possam ter alterado aspectos do seu estilo de vida.
 
Os resultados foram drasticamente diferentes: enquanto no grupo de dez homens com um estilo de vida globalmente saudável, os telómeros aumentaram em média 10%, no grupo de controlo, os telómeros dos participantes tinham diminuído, em média, 3%. Os cientistas não conseguem, para já, explicar como é que este fenómeno ocorreu e, perante uma amostra tão pequena, não podem afirmar que exista uma relação causal entre a mudança de estilo de vida e o aumento do tamanho dos telómeros. Mas a equipa observou ainda que os participantes que foram mais radicais em adoptar o novo programa tiveram os maiores aumentos de tamanho dos telómeros.
 
Para Dean Ornish, "as implicações deste pequeno estudo-piloto podem ir para lá dos homens com cancro na próstata. Se forem validados por ensaios controlados e em grande escala, estas grandes mudanças de estilo de vida poderão reduzir substancialmente o risco de certas doenças e a mortalidade prematura."

Tigre é um assassino nato, mostra primeiro estudo a descodificar genoma

Artigo publicado pelo jornal Público em 17/09/2013
Genoma do tigre mostra sobre-representação dos genes relacionados com a força muscular, a utilização da energia e a transmissão sensorial. Estudo publicado na revista Nature Communications.
O tigre partilha com o gato e os outros grandes felinos um elevado número de genes ligados ao cheiro e às percepções sensoriais 
O tigre e os outros grandes felinos são assassinos natos, cuja força muscular e dieta carnívora estão literalmente inscritos nos seus genes, indica um estudo publicado nesta terça-feira, o primeiro a descodificar o genoma de um tigre.
 
O tigre, Panthera tigris, é o maior dos felinos, calculando-se que vivam em estado selvagem em todo o mundo entre 3000 e 4000 espécimes.
 
Das nove subespécies identificadas, três a quatro foram extintas durante o século XX e as sobreviventes estão todas ameaçadas de extinção, segundo a AFP.
 
Uma equipa internacional com uma maioria de investigadores asiáticos e dirigida pelo geneticista sul-coreano Jong Bhak decifrou pela primeira vez o genoma de um tigre da Sibéria, Panthera tigris altaica, o maior de todos.
 
Os cientistas compararam-no depois com o do gato doméstico, bem como com algumas sequências genéticas de outros grandes felinos, como o tigre de Bengala, Panthera tigris tigris, o leopardo das neves, Panthera uncia, das montanhas da Ásia Central, e o leão, Panthera leo.
 
O tigre da Sibéria tem uma grande semelhança genética com o gato, 95,6 por cento, do qual divergiu há cerca de 10,8 milhões de anos. O homem e o gorila divergiram dois milhões de anos mais tarde e os seus genomas são idênticos em 94,8 por cento.
 
De acordo com o estudo, publicado na revista Nature Communications, o tigre partilha com o gato e com os outros grandes felinos um elevado número de genes ligados ao cheiro e às percepções sensoriais em geral.
 
Os investigadores identificaram também mais de 3600 genes característicos dos grandes felinos, dos quais cerca de 1400 estão relacionados com a assimilação das proteínas e dos ácidos gordos, típicos dos regimes estritamente carnívoros.
  
O genoma do tigre da Sibéria esboça o retracto robot de uma fera terrível: os genes ligados à força muscular, à utilização da energia e à transmissão sensorial (percepção, reflexos) estão todos “sobre-representados”.