sexta-feira, 26 de julho de 2019

99% das tartarugas que nascem em Cabo Verde são fêmeas, devido ao aquecimento global

MadreMedia / Lusa
26/07/2019
O aquecimento global está a provocar um aumento da proporção de tartarugas fêmeas em Cabo Verde, que em algumas ilhas já chegam a 99% do total, com implicações na continuidade da espécie, segundo um levantamento realizado no arquipélago.

Aos dados resultam de um estudo coordenado pela organização não-governamental (ONG) cabo-verdiana BIOS.CV, com sede na ilha da Boa Vista, e que com o apoio de outras organizações do género, em mais sete ilhas (apenas a Brava e Santo Antão não foram estudadas), monitorizaram as temperaturas, projetando depois as consequências para a espécie de tartaruga caretta caretta, predominante no país.
As conclusões, agora conhecidas, têm como base dados recolhidos entre 2011 e 2013 (maio a novembro, época de nidificação) em 40 praias de Cabo Verde, em que a temperatura — que define o sexo das tartarugas – foi monitorizada a cada 30 minutos.
“Estamos a falar de um claro aumento das temperaturas, que por sua vez definem o sexo dos répteis. Produzindo cada vez mais fêmeas, isso compromete o desenvolvimento da espécie”, explicou à agência Lusa Samir Martins, investigador e presidente da BIOS.CV.
O fenómeno, acrescentou, é cada vez mais evidente nas praias de areia negra de Cabo Verde, cuja nidificação já dá origem a 99% de fêmeas, mas o problema também já é visível nas praias de areia branca. Nestas, as fêmeas também já são a maioria, com um peso de 60 a 70%.
“Nas praias de areia negra o fenómeno é mais grave porque o calor é mais absorvido e com isso a temperatura aumenta”, acrescentou Samir Martins.
Ainda assim, garante que o problema é generalizado: “O que vemos é que, independentemente da cor da areia e da ilha, vão nascer [no futuro] mais de 90% de fêmeas”, alertou, apoiando-se nas extrapolações da Universidade de Exeter, do Reino Unido, que trabalhou os dados recolhidos no terreno.
As projeções, publicadas num artigo científico, apontam que a subida das temperaturas, mesmo num cenário favorável de emissões de gases de efeito estufa, levará a que 99,86% das tartarugas caretta caretta que vão nascer em 2100, em Cabo Verde, serão fêmeas.
“Está mesmo em causa a continuidade das tartarugas em Cabo Verde”, sublinhou Samir Martins, acrescentando que um outro estudo em curso já aponta também que as crias estão a nascer “mais fracas”.
“O que as torna mais vulneráveis à predação nas praias”, explicou.
A criação de zonas de sombra nas áreas dos ninhos de tartaruga é uma das recomendações dos especialistas, para tentar inverter o cenário.
“Ao baixar a temperatura nos ninhos, estamos a permitir uma reprodução mais equilibrada, em termos de sexo das tartarugas”, sublinhou o investigador.
Outra solução passa pela colocação de água — exclusivamente doce — sobre os ninhos, algo que face à seca que Cabo Verde atravessa há vários anos acaba por ser inviável.
“Mas criar sombras é viável, basta uns ramos e conseguimos minimizar o problema”, garantiu, apelando ao apoio do Ministério do Ambiente.
Em Cabo Verde há registo de uma média de 18.790 ninhos de tartarugas nos últimos 10 anos.


domingo, 21 de julho de 2019

O AVC mata. Sete passos simples para preveni-lo

Liliana Lopes Monteiro
19/07/2019

Cerca de 90% dos derrames podem ser evitados.
O derrame ou acidente vascular cerebral (AVC) ataca especialmente as mulheres. Entre os sintomas estão dores de cabeça, náuseas e convulsões.
Eis sete passos simples para prevenir a condição que infelizmente tantas vezes se prova fatal:
1. Controle a ira
Uma meta-análise da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, mostra que, nas duas horas seguintes a um ataque de raiva, o risco de um derrame cresce. “A explosão aumenta a pressão, deixa o sangue mais viscoso e endurece os vasos”, diz Elizabeth Mostofsky, epidemiologista e autora do estudo.
2. Faça exercício físico
E nem precisa ser uma atividade intensa. Segundo evidências reveladas na Conferência Internacional de Derrame, nos Estados Unidos, caminhadas rápidas já contribuem para a saúde das artérias.
3. Fuja de infeções
A exposição frequente a alguns vírus, como o do herpes, e bactérias, como a das úlceras estomacais está associada a um maior risco de derrames.
4. Escape de vícios
Tabagismo e abusos alcoólicos, entre outros danos, lesam a parede dos vasos, contribuindo para a subida da pressão. Um estudo da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, aponta que a cocaína, nas 24 horas seguintes ao uso, é outra droga que catapulta o risco de AVCs isquémicos.
5. Durma
Uma pesquisa publicada no European Heart Journal notou que os voluntários que repousavam menos de seis horas estavam mais propensos a um derrame. Porém, aqueles que dormiam mais de nove também tinham um maior risco de sofrer eventos cardiovasculares.
6. Alimente-se bem
Evite alimentos com muito açúcar, gordura saturada, sódio e colesterol. E invista em frutas, grãos integrais, leguminosas e peixes repletos de ómega-3 – salmão, atum e truta são alguns deles. Dessa forma, assegura a integridade do sistema vascular.
7. Evite sofrer pancadas
Choques na cabeça e no pescoço promovem ruturas nas artérias e formam coágulos que talvez as entupam mais adiante. Tanto que um artigo da Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos, sugere que lesões nessa região aumentam três vezes o risco de um acidente isquémico.

O maior parque eólico de África

Reuters, Agência Lusa
21/07/2019
Turbinas de energia eólica próximas ao lago Turkana, no norte do Quénia

O maior parque eólico de África foi inaugurado esta sexta-feira (19.07) pelo Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta. O projeto pretende reduzir os custos da eletricidade no país e atrair investidores para a nação da África Oriental.
São 365 turbinas às margens do lago Turkana, no norte do Quénia. O custo do projeto superou 700 milhões de dólares. "O Quénia está, sem dúvida, no caminho para se tornar um líder global em energias renováveis", afirmou o Presidente queniano.
Kenyatta referiu que o Quénia é o único país africano a alcançar a meta de 75% de energias renováveis no seu 'cabaz' energético. O Governo tem o plano ambicioso de alcançar 100% de energia limpa em 2020.
O projeto 'Eólico do Lago Turkana', que está ligado à rede energética queniana desde o ano passado, deverá produzir 17% da energia do país e vai permitir reduzir a dependência energética dos geradores movidos a diesel. Além disso, deve reduzir os custos da eletricidade para a população.
O diretor executivo do projeto, Rizwan Fazal, considerou que a eletricidade produzida por este parque eólico já contribuiu para uma redução do custo da energia no país.

Desafios

O país fez grandes avanços no setor de energias renováveis nos últimos anos e é considerado uma das poucas nações africanas que fazem progressos em direção à energia limpa.
Quénia quer alcançar 100% de energias limpa até 2020 

Atualmente, cerca de 70% da eletricidade do Quénia é proveniente de fontes renováveis, como a energia hidrelétrica e a geotérmica, o que representa mais de três vezes a média global.
Apesar disso, um em cada quatro quenianos, sobretudo nas áreas rurais, não tem acesso à eletricidade. Os custos ainda são altos e frequentemente há apagões.
"Este é um marco importante na marcha contínua do país na direção da auto-suficiência na produção de energia", disse Mugo Kibati, presidente do Parque Eólico do Lago Turkana, um consórcio privado que administra a usina.



Cascas de ovo podem ser utilizadas para melhorar regeneração óssea

Ana Tavares



O estudo, intitulado Eggshell particle-reinforced hydrogels for bone tissue engineering: an orthogonal approach e liderado por Gulden Camci-Unal, do departamento de Engenharia Química da universidade, foi publicado este mês na revista científica Biomaterials Science.
A pesquisa revela que as cascas de ovo, que são compostas maioritariamente por cristais de carbonato de cálcio, podem ser utilizadas para criar tecido ósseo. Como? Os investigadores utilizaram partículas microscópicas de cascas de ovo para reforçar hidrogéis à base de gelatina, que serviram depois como base para o crescimento de osteoblastos.
“Este é o primeiro estudo que usa partículas de casca de ovo numa matriz de hidrogel para reparar osso”, disse a líder da investigação. Camci-Unal acrescentou ainda que esta técnica pode ser aplicada no tratamento e reparação de ossos em pacientes que sofreram lesões próprias do envelhecimento ou decorrentes de cancro e outras doenças, mas também para gerar cartilagem, dentes e tendões.
“Já efetuámos um registo da patente mais no início do ano. Estamos muito entusiasmados com os resultados, e antevemos muitas aplicações importantes para a nossa invenção”, disse a investigadora, citada pela publicação Dental Tribune.
A pesquisa de novos materiais que possam favorecer a regeneração óssea tem sido alvo de estudos recentes da parte de várias universidades.

Abstract

Hydrogel-based biomimetic scaffolds have generated broad interest due to their tunable physical, chemical, and biological properties for bone tissue engineering applications. We fabricated eggshell microparticle (ESP) reinforced gelatin-based hydrogels to obtain mechanically stable and biologically active three-dimensional (3D) constructs that can differentiate pre-mature cells into osteoblasts. Physical properties including swelling ratio, degradation, and mechanical properties of the composite hydrogels were investigated. Pre-osteoblasts were encapsulated within the ESP-reinforced hydrogels to study their differentiation and evaluate mineral deposition by these cells. The ESP-reinforced gels were then subcutaneously implanted in a rat model to determine their biocompatibility and degradation behaviors. The composite hydrogels have shown outstanding tunability in physical and biological properties holding substantial promise for engineering mineralized tissues (e.g. bone, cartilage, tooth, and tendon). These 3D scaffolds enabled the differentiation of pre-osteoblasts without the use of specialized osteogenic growth medium. The ESP-reinforced gels exhibited significant enhancement in mineralization by pre-osteoblasts. These behaviors are positively correlated with increasing concentrations of ESP. Findings suggest that our novel composite hydrogel exhibits superior mechanical properties and indicates a favorable in vivo response by subcutaneous implantation in a rat model.

Graphical abstract: Eggshell particle-reinforced hydrogels for bone tissue engineering: an orthogonal approach

sábado, 20 de julho de 2019

Ibuprofeno tem efeitos anticancerígenos


O anti-inflamatório ibuprofeno tem efeitos anticancerígenos sobretudo no cancro do colón, inibindo o crescimento de células malignas, revela uma investigação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
Investigadores do INSA, associados ao Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, descreveram uma nova perspetiva sobre os efeitos anticancerígenos do ibuprofeno, que foi publicada na revista European Medical Journal.
De acordo com a investigação, este medicamento anti-inflamatório de uso comum impede as células cancerígenas de produzirem variantes tumorigénicas de certas proteínas.
O uso prolongado de medicamentos anti-inflamatórios não-esteroides (AINE), como por exemplo o ibuprofeno ou a aspirina, já foi anteriormente associado a um efeito quimiopreventivo contra o desenvolvimento do cancro do cólon em indivíduos com risco aumentado.
Tradicionalmente, a ação do ibuprofeno foi explicada através do seu efeito inibitório sobre uma atividade enzimática do organismo, que está na origem da produção de moléculas pro-inflamatórias conhecidas como prostaglandinas.
O trabalho da equipa liderada pelo investigador do Departamento de Genética Humana do INSA, Peter Jordan, revelou que o ibuprofeno tem ainda outro modo de ação anticancerígena: “impede as células cancerígenas de produzirem variantes tumorigénicas de certas proteínas, num processo conhecido como 'splicing' alternativo”.
Em declarações à agência Lusa, Peter Jordan explicou que já se conhecia que a toma regular deste medicamento podia em casos de risco prevenir o aparecimento do cancro do colón, “mas achava-se sempre que tinha a ver com o efeito do ibuprofeno e as outras drogas, a aspirina também é um exemplo ao nível da formação de prostaglandinas”.
O nosso trabalho veio mostrar que, pelo menos, o ibuprofeno tem outros mecanismos de ação que também podem estar na origem deste efeito anticancerígeno”, adiantou Peter Jordan, que liderou a equipa de investigadores.
No caso do cancro do cólon, uma das variantes tumorigénicas que a equipa de investigação identificou anteriormente caracteriza cerca de 10% dos tumores e estimula a taxa de sobrevivência das células malignas.
Segundo o investigador, “o ibuprofeno, mas não outros AINE como a aspirina, ao contrariar a produção desta variante consegue inibir o crescimento das células malignas", explicou o investigador.
Peter Jordan explicou que “existem subgrupos geneticamente distintos de cancro do colón e que o ibuprofeno atua sobretudo sobre um subgrupo que explica 10 a 15%” destes tumores.
Para o geneticista, são importantes estudos que identificam marcadores de progressão maligna no início do desenvolvimento tumoral para desenvolver um diagnóstico mais preciso e uma terapia mais eficaz que seja dirigida especificamente às alterações génicas presentes em cada tumor do doente.
Um estudo mais sistemático dos efeitos do ibuprofeno poderá agora indicar quais os subgrupos genéticos desta doença que beneficiariam da inclusão deste AINE no regime terapêutico administrado", defendeu.
O investigador adiantou que a publicação na European Medical Journal, uma revista dirigida aos médicos, desta investigação realizada ao longo dos últimos anos poderá chamar a atenção de que valeria “a pena investir mais na utilização do ibuprofeno em certos casos de doentes”.
Segundo os dados mais recentes sobre a incidência de cancro divulgados pela Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC), o cancro do cólon passou a ser, em 2018, a primeira causa de novos casos de cancro em Portugal.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

O nascimento e evolução da Lua

National Geografic

Reconstituição das diversas fases formativas do sistema Terra-Lua, segundo a hipótese do impacte gigante: 1. O grande impacte. A Terra primitiva partilhava a sua órbita com o protoplaneta Tea, que foi aumentando de tamanho. Com a agregação de materiais devido à gravidade, a sua posição tornou-se cada vez mais instável até colidir com a Terra. 2. Anel de escombros. A matéria ejectada por esta colisão, formada sobretudo por materiais mais leves, produziu um anel de escombros que orbitava o novo planeta. Os materiais mais pesados, como o ferro, ficaram presos na Terra recém-formada. 3. Condensação. Com o tempo e devido à acção da gravidade, o anel circumplanetário de escombros começou a desfazer-se em alguns corpos que, por fim, se condensaram numa única grande massa que deu lugar à Lua.

De objecto de adoração a troféu cobiçado pelas superpotências e a alvo da curiosidade da comunidade científica, a omnipresente parceira da Terra no Sistema Solar continua a atrair o nosso olhar.
A hipótese mais consensual sobre a formação da Lua foi a do “impacte gigante”, segundo a qual o nosso satélite terá resultado dos restos de uma colisão do protoplaneta Terra com um hipotético planeta, baptizado com o nome de Tea, há 4.500 milhões de anos, durante as fases iniciais da formação do Sistema Solar. A Terra actual resulta assim da mistura de dois corpos e a Lua teria surgido dos materiais projectados pelo embate.
Um incidente desta natureza coincide com os modelos informáticos de formação de sistemas planetários, que prevêem colisões planetárias catastróficas e frequentes em momentos iniciais da formação de um planeta.
As rochas lunares e terrestres apresentam proporções idênticas de isótopos químicos, o que revela uma origem comum. Apesar disso, a Lua tem menor densidade do que a Terra e possui uma quantidade muito reduzida de ferro no seu núcleo. Caso se tivessem formado juntas, uma em redor da outra, ambas teriam proporções semelhantes de ferro. De acordo com outra corrente, o núcleo de ferro de Tea fundiu-se com o do protoplaneta Terra, retendo a maior parte dos elementos densos e deixando uma quantidade residual na Lua.
Até adquirir a sua configuração actual, a Lua teve de passar por etapas sucessivas. As suas crateras e mares narram a história violenta de um astro aparentemente tranquilo.
A riqueza da paisagem lunar é complementada por uma orografia surpreendente, composta por amplos vales de origem vulcânica e por montanhas e cordilheiras formadas pelos impactes.
Não há só crateras e mares na Lua: existem também vales e montanhas, embora com uma formação e aspecto diferentes dos seus equivalentes terrestres. Neste sentido, os vales lunares remontam ao passado vulcânico do satélite, quando os fluxos de lava arrefeceram e se contraíram. Têm um aspecto muito distinto do dos vales terrestres e, embora abundem por toda a superfície lunar, encontram-se facilmente nas margens dos mares.
Fotografias: NASA/Centro de Voo Espacial Goddard/Universidade Estadual do Arizona (Cratera Chaplygin, Cratera da Bacia Aitken, Cratera Giordano Bruno e Cratera Tycho); Istock/Helen Field (A Terra e a Lua). Infografias: Mark Garlick / Age Fotostock (Formação e Evolução da Lua); Fontes: NASA, ESA, União Astronómica Internacional (UAI). Revisão: Luís Tirapicos.