domingo, 20 de outubro de 2019

O que acontece quando um furacão se encontra com um sismo

Visão
O fenómeno natural foi descoberto na semana passada e já tem nome digno de filme de ficção científica 

A equipa de cientistas responsável pela descoberta, publicada no Geophysical Research Letters, chama-lhes stormquakes e explica que ocorrem quando um furacão cria na superfície do oceano ondas de grande dimensão, que vão aumentando e formando novas ondas, a maior profundidade. A interacção entre estas ondas secundárias e o leito oceânico produz um tipo específico de pressão que, por sua vez, atua como se fosse um martelo no fundo do oceano.
A equipa de investigadores da Universidade da Flórida, liderada por Wenyuan Fan, garante que o fenómeno não é perigoso, mas alerta que a descoberta não deve ser vista como insignificante. "Tudo na natureza está interligado, estes stormquakes podem ter efeitos na natureza que ainda não foram estudados", explica Wenyuan Fan.
Tal como acontece muitas vezes, os stormquakes foram descobertos de forma inesperada. No verão de 2018, a equipa de cientistas da Universidade de Flórida estava a desenvolver um método para estudar sismos de frequência muito baixa. Durante o processo, surgiram uma série de eventos que se assemelhavam aos terramotos procurados pela equipa de cientistas e que ocorreram de forma simultânea com tempestades e furacões.
Apesar de este fenómeno ocorrer tendencialmente num contexto geológico muito específico, a equipa de Wenyuan Fan registou um número considerável destes stormquakes, cerca de 14 mil, durante o período entre 2006 e 2015.

Osteoporose é tão mortal como o cancro da mama. Doença afeta mais de 800 mil portugueses

Nuno Noronha

A alimentação rica em cálcio e vitamina D, juntamente com a prática regular de exercício físico que permita aumentar a resistência óssea, são fatores decisivos na prevenção da osteoporose, doença que afeta mais de 30% das mulheres.
"O risco de osteoporose depende, em parte, de fatores genéticos, e é mais comum entre as mulheres, após os 50 anos e em pessoas de pequena estatura, muito magras ou com familiares que sofreram fraturas ósseas. A par destes fatores não modificáveis, a osteoporose está diretamente relacionada com a perda progressiva de massa óssea, que ocorre em todas as pessoas a partir dos 35 anos", explica António Vilar, médico reumatologista no Hospital Lusíadas Lisboa.


"Para prevenir esta doença a pessoa deve incluir na sua alimentação alimentos ricos em cálcio como leite, iogurte e queijo; espinafres, sardinhas enlatadas, frutos secos, tofu e sementes de sésamo. ​Mesmo que ingira níveis adequados de cálcio, este não será absorvido pelo intestino nem aproveitado pelos ossos, deverá incluir na alimentação alimentos como salmão, atum, cavala, sardinha, carapau ou gema de ovo", refere o médico.


"As doenças da tiroide, a artrite reumatoide e o uso prolongado de corticoides aumentam o risco de osteoporose. Hábitos tabágicos e consumo de álcool em excesso devem também ser abandonados. As pessoas devem aconselhar-se com o seu médico sobre a possibilidade de tomar suplementos de cálcio e vitamina D ou medicamentos para a prevenção da osteoporose", revela.

Um doença silenciosa

​​​​​​​​A osteoporose afeta a densidade e qualidade dos ossos e é considerada uma doença silenciosa. Esta doença é responsável por 40 mil fraturas ósseas por ano em Portugal, sendo as mais comuns da anca, da coluna e do punho. Em todo o mundo, revela a Fundação Internacional da Osteoporose, as mulheres são as mais afetadas: uma em cada três (30%), face a um quinto dos homens com mais de 50 anos, sofre uma fratura.
Durante a menopausa, há uma perda acelerada da massa óssea na mulher, sobretudo nos primeiros anos, o que requer algum tipo de tratamento logo numa fase inicial, alerta a Sociedade Portuguesa de Reumatologia. Caso contrário, a descalcificação dos ossos poderá levar irremediavelmente a uma situação de osteopenia ou mesmo de osteoporose.
As fraturas do fémur têm uma mortalidade de quase 25 por cento no primeiro ano, pelo que o risco de uma mulher morrer de fratura da anca é igual ao de morrer de cancro da mama. Havendo formas de tratamento e medidas que podem facilitar a vida de quem é afetado, a prevenção é a opção que melhor garante qualidade de vida e se​ aplica a todas as pessoas, desde a infância.
Estima-se que a cada três segundos ocorra uma fratura osteoporótica em algum lugar do planeta.

A prevenção com a ajuda do sol

O tratamento da osteoporose realiza-se com medicamentos anti-osteoporóticos e só assim é possível reduzir o número de doentes e o número de fraturas. A vitamina D e o sol são um complemento ao tratamento anti-osteoporótico.
Em Portugal, estima-se que haja 10 mil fraturas da anca todos os anos, sendo a lesão mais incapacitante provocada por esta doença, e que representa mais de 100 milhões de euros gastos anualmente.
A vitamina D proveniente do Sol é sintetizada na pele sob a exposição da luz ultravioleta B, mas a capacidade de sintetizar esta vitamina subcutaneamente diminui com a idade.

Grilo, tenebrião e gafanhoto. Três espécies de insetos comestíveis em Portugal à espera de lei para chegar ao prato

MadreMedia/Lusa

O mundo tem pelo menos duas mil espécies de insetos comestíveis e em Portugal a indústria está a investir em três, grilo, tenebrião e gafanhoto, à espera de que a lei permita produção para pessoas e animais.

O Dia Mundial do Inseto Comestível assinala-se na quarta-feira e a associação do setor não tem dúvidas que ele vai fazer parte da alimentação do futuro. Mas diz que no presente, por causa de leis da União Europeia, a vida não está fácil para investidores na maior parte dos países.
A Portugal Insect – Associação Portuguesa de Produtores e Transformadores de Insetos vai assinalar a efeméride no próximo sábado na Universidade Nova de Carcavelos, arredores de Lisboa, com uma conferência sobre temas como insetos na alimentação humana, enquadramento legal, aplicações culinárias ou insetos nas ementas das escolas.
No final da conferência vai haver uma sessão de degustação, a título excecional porque ainda é proibido o comércio de insetos para alimentação, como lembrou à Lusa o presidente da Portugal Insect, Rui Nunes.
A propósito da iniciativa desta semana o responsável afirmou que em Portugal já existem há vários anos alguns produtores de insetos, juntos na associação que foi criada no ano passado, e lembrou também que o inseto como fonte de proteínas já é um tema na agenda da FAO – Organização das Nações Unida para a Alimentação e Agricultura desde 2013.
Em maio de 2013 a FAO defendeu num relatório que os insetos consumidos anualmente por 2.000 milhões de pessoas são uma alternativa promissora à produção convencional de carne, com vantagens para a saúde e para o ambiente.
Num planeta com nove mil milhões de pessoas em 2050, “onde vamos arranjar fontes proteicas?”, questiona agora Rui Nunes, acrescentando que dentro do milhão de espécies de insetos há duas mil espécies “comprovadamente comestíveis”, que já são consumidas por milhões de pessoas, embora os europeus ainda tenham “alguma relutância”.
Em Portugal os produtores estão a investir, para alimentação humana e animal, em algumas espécies de grilos, no tenebrião, a chamada larva da farinha, e mesmo gafanhotos.
Por uma questão de segurança alimentar, explica Rui Nunes, a produção tem de ser controlada e em cativeiro, de forma segura, O que acontece, diz, é que atualmente, por força de um regulamento europeu (2015/2283), não é permitido esse tipo de comercialização.
“O que está em causa é que para os insetos poderem ser consumidos tem de se apresentar dossiers de segurança alimentar. E ainda nada está aprovado”, explica Rui Nunes.
Mas o regulamento permite que países que antes da publicação já produziam insetos o possam continuar a fazer. E “hoje temos países onde é permitido comer insetos e há outra Europa onde é proibido porque ainda não estão aprovados os dossiers de segurança alimentar. Há uma Europa que permite produção e consumo e há uma Europa que não”, lamenta.
Na prática, diz na entrevista à Lusa, a Holanda, a Finlândia, o Reino Unido, a Dinamarca, a Bélgica e a Áustria podem produzir e consumir insetos, os restantes países não. E a Portugal Insect não se sente por isso representada pela associação europeia do setor (International Platform of Insects for Food and Feed – IPIFF), preferindo trabalhar, a nível interno, com as autoridades portuguesas.
Atualmente, alimentos a partir de insetos não são permitidos junto da população nem sequer podem servir para alimentar animais, exceto para aquacultura.
O presidente da associação explica que a proibição de rações com fontes proteicas a partir de animais existe desde a “doença das vacas loucas”, uma doença que afeta o gado descoberta nos anos 1980 e que será provocada por um agente infeccioso chamado prião e que supostamente é constituído apenas por proteína.
Rui Nunes, fundador da empresa Entogreen, explica que na altura se proibiu que os animais fossem alimentados por outros animais, e defende que a proibição seja levantada para os porcos e as aves.
E que naturalmente os insetos possam ser comercializados e consumidos pela população, porque é um produto “normal” e “não é estranho nem esquisito”.
José Guimarães, vice-presidente da direção da Portugal Insect e fundador da empresa Nutrix, diz também à Lusa que até à autorização de comercialização se projeta e se investiga, e salienta que além da questão de ser preciso alimentar a população mundial em crescimento a produção e consumo de insetos tem um lado muito importante “na questão dos impactos ambientais”.
Quer no consumo de água, na quantidade de alimentos, no espaço necessário, e na produção de gases com efeito de estufa, o uso de insetos como fonte de proteína tem um impacto “significativamente inferior” quando comparado com outras produções tradicionais.
Por tudo isto Rui Nunes diz que o que se espera é que no próximo ano todos os entraves sejam desbloqueados a nível europeu ou que uma decisão política em Portugal abras portas a um setor “em franco crescimento”, que vai ficar por conta de seis países se nada for feito.
E nesses países a população come insetos? Rui Nunes diz que a aceitação é gradual, que é “um produto de nicho, que está a crescer".
Na associação, a pensar numa maior aceitação do consumidor, discute-se a melhor forma de apresentar os insetos, se desfeitos numa farinha ou numa barra, se inteiros, “ao natural”.
Para já, e porque nem sequer podem vender, no dia 26, na iniciativa de Carcavelos, vão “dar a provar” quer insetos processados, em forma de bolachas, quer inteiros, como vieram ao mundo. E o “chef” de cozinha Chakall também se associou ao projeto, com sobremesas e entradas de insetos.
José Guimarães está otimista. A alimentação transforma-se ao longo dos tempos. “Há 20 anos, quando o sushi surgiu, as pessoas reagiram de forma adversa. Hoje nem seque é tema de conversa”.
É José Guimarães quem o diz. E recua um pouco mais no tempo com outro exemplo. Nos Estados Unidos, há dois séculos, os prisioneiros eram alimentados com lagosta. E reclamavam por isso.








Blob. 720 sexos num mesmo ser vivo que não se sabe bem o que é agora em exposição no Zoo de Paris

  • MADREMEDIA

Não tem boca nem estômago, mas pode comer. Não tem braços nem pernas, mas pode mover-se. Não tem cérebro, mas consegue aprender e transmitir conhecimento. É o "blob", tal qual o vídeo do Zoo de Paris, onde está em exposição, o apresenta. 

É um ser de uma só célula mas tem em si mesmo 720 sexos e, se cortado ao meio, capacidade de se regenerar em cerca de dois minutos. É uma espécie de fungo - ou bolor -  e apesar de não ter boca, olhos ou cérebro consegue resolver problemas simples.
O Blob, ou la Blob como é chamado pelos franceses, está desde ontem, dia 19 de outubro exposto no Parc Zoologique, em Paris. O seu nome científico é physarum polycephalum (lodo com muitas cabeças) e, continuando na ciência, pertence a um sub-conjunto de fungos conhecidos por fungos plasmodiais que são constituídos por uma única célula de grandes dimensões que possuí milhares de núcleos.
Muita da atenção que tem recaído sobre o Blob prende-se com o facto de esta espécie de logo constituído por uma só célula possuir quase 720 sexos. Explica a revista Wired, que "no Physarum, o sexo é determinado por uma variedade de genes diferentes que vêm em múltiplas variantes. Os fungos reproduzem-se libertando esporos que se desenvolvem em células sexuais, e para que uma reprodução bem-sucedida ocorra, tudo o que precisa acontecer é que duas células sexuais que contenham diferentes variantes desses genes sexuais se encontrem".
A questão da memória é, todavia, mais interessante para os investigadores do Centro Nacional de Investigação Científica em França. É que os "blobs" parecem ter adquirido memória sem ter nenhum dos componentes biológicos normalmente necessários para que as memórias se formem. O que levanta inúmera questões, nomeadamente sobre a forma de aprendizagem e sobre a extensão do conceito de cognição a seres não-humanos.
Bruno David, diretor do Museu de História Natural de Paris, do qual faz parte o Parque Zoológico onde  Blob se encontram, referiu-se a este lodo com muitas cabeças como "um dos mistérios da natureza".  "Não sabemos o que é, se um animal, se um fungo. Não é uma planta, disso estamos certos, mas será algo intermédio entre um fungo e um animal? (...) É capaz de aprender. Se o colocarmos num labirinto consegue encontrar a melhor rota para o seu alimento. (...) Se juntarmos dois blobs, um ensinará o outro".


quarta-feira, 2 de outubro de 2019

MICROPLÁSTICOS ENCONTRADOS PELA PRIMEIRA VEZ EM PINGUINS NA ANTÁRTIDA

Nuno Noronha

Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) encontrou, pela primeira vez, microplásticos em pinguins da Antártida.

Não são boas notícias. A poluição por microplásticos já chegou à Antártida, revela um estudo da Universidade de Coimbra (UC) publicado hoje na revista Scientific Reports, do grupo Nature.

Uma equipa de investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) encontrou, pela primeira vez, microplásticos em pinguins da Antártida, confirmando que este tipo de poluição já entrou na cadeia alimentar marinha.

Ao analisarem a dieta de pinguins gentoo Pygocelis papua em duas regiões da Antártida, os investigadores observaram que 20% das 80 amostras de fezes das aves continham microplásticos (partículas de plástico menores que 5mm de comprimento) de diversas tipologias, formas e cores, o que indica uma grande variedade de possíveis fontes destes microplásticos.

A poluição marinha por plásticos é reconhecidamente uma ameaça aos oceanos em todo o mundo mas só recentemente tem havido um aumento do esforço científico sobre microplásticos. Em zonas mais remotas do planeta, como a Antártida, esperava-se que a presença de microplásticos fosse muito reduzida, embora estudos recentes já tenham encontrado microplásticos em sedimentos e nas águas do Oceano Antártico.

Para Filipa Bessa, autora principal do artigo, "é alarmante que microplásticos já tenham chegado à Antártida. O nosso estudo é o primeiro a registar microplásticos em pinguins e na cadeia alimentar marinha Antártica".

A investigadora nota que "a variedade de microplásticos encontrados nos pinguins poderá indicar diferentes fontes de poluição, indiciando uma difícil solução para este problema".

Por seu lado, José Xavier, autor sénior do artigo, afirma que "este estudo vem na altura certa, pois os microplásticos podem causar efeitos tóxicos nos animais marinhos e nada se sabe sobre o que eles poderão provocar nos animais da região Antártica".

Por isso, salienta o também docente do Departamento de Ciências da Vida da FCTUC, "esta descoberta é de muita importância para desenvolver novas medidas para reduzir a poluição na Antártida, particularmente relacionada com plásticos, podendo servir de exemplo para outras regiões do mundo".