Maçã para o coração e amoras
para a mente
Investigadores portugueses
comprovam benefícios da fruta nacional
Publicado em www.cienciahoje.pt em 2012-10-20
Por Susana Lage
Maças Bravo de Esmolfe |
O que é nacional é bom. Parece um mero slogan mas, de facto, dois
estudos portugueses desenvolvidos pelo Instituto de Biologia Experimental e
Tecnológica (IBET) e pelo Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB)
acabam de reforçar a qualidade da produção frutícola nacional e seus benefícios
para a saúde.
«Bravo de Esmolfe – Uma maçã com benefícios cardiovasculares» e
«Amoras silvestres portuguesas, uma aposta como alimentos funcionais para o
cérebro» são dois projectos vencedores da Categoria Investigação e
Desenvolvimento, na terceira edição do Nutrition Awards.
O estudo do IBET sobre a Bravo de Esmolfe sugere que a maçã é um fruto
promissor a nível da saúde cardiovascular devido à composição em fibra e
polifenóis os quais permitem diminuir os níveis de colesterol no sangue.
Teresa Serra |
“Verificámos que esta variedade possui maior quantidade de compostos
bioactivos. Uma Bravo de Esmolfe contém três vezes mais destes compostos do que
a variedade Golden”, afirma Teresa Serra ao Ciência Hoje.
“O que fizemos, em colaboração com a Faculdade de Farmácia, foi dar
diferentes variedades de maçãs a ratinhos e descobrir que só a Bravo de Esmolfe
conseguiu reduzir os níveis de colesterol nestes animais”, continua a
investigadora do IBET.
Os resultados obtidos indicaram que apenas a Bravo de Esmolfe foi
capaz de reduzir significativamente todos os biomarcadores estudados, como os
valores de triglicéridos, o colesterol total e LDL e as LDL oxidadas.
As conclusões aplicam-se aos ratinhos mas ao transpor as doses para
humanos isso corresponde a comer duas a três maçãs Bravo de Esmolfe por dia.
“Se uma pessoa comer diariamente a Bravo de Esmolfe pode ter benefícios a nível
da saúde cardiovascular”, garante Teresa Serra.
A maçã Bravo de Esmolfe é cultivada em poucos locais na região da
Beira Interior de Portugal. “É difícil encontrar esta maçã no supermercado
porque tem uma pele muito fininha, basta um toque para oxidar e por isso é
difícil de transportar. O que existe é muito caro, daí que tenhamos procurado
valorizá-la através das propriedades benéficas que tem para a saúde”, refere a
cientista.
“Esperamos que este nosso trabalho tenha um grande impacto a nível do
cultivo deste fruto em Portugal, que os agricultores insistam no cultivo desta
maçã para que possa chegar ao mercado nacional e internacional em maior
quantidade e, consequentemente, influencie positivamente a economia do país”,
conclui.
Mais-valia nutricional
Outro fruto português benéfico para a saúde, nomeadamente na prevenção
das doenças do envelhecimento como as doenças neurodegenerativas, é a amora
silvestre.
Por esse motivo, os cientistas do ITQB tentaram demonstrar o elevado
valor nutricional e vários efeitos benéficos na memória e manutenção do estado
cognitivo deteriorado com o envelhecimento que estes frutos têm.
Os resultados obtidos mostraram que “espécies de amoras silvestres,
nativas de Portugal, em comparação com variedades comerciais representam uma
mais-valia para um envelhecimento saudável, já que têm um efeito neuroprotector
superior”, afirma Lucélia Tavares.
Segundo a investigadora do ITQB, “os compostos conhecidos por
polifenóis, mesmo depois de submetidos a um processo que mimetiza a digestão
alimentar, conseguem proteger neurónios de um stress oxidativo”. O stress
oxidativo é um mecanismo comum a diversas neurodegenerações como Parkinson ou
Alzheimer.
Verificou-se ainda que os mecanismos responsáveis por esta protecção
vão muito para além da actividade antioxidante publicitada neste tipo de
alimentos, que durante o processo digestivo é fortemente diminuída. Desta
forma, este trabalho contribuiu também para desmistificar a ideia de que a
actividade antioxidante dos alimentos é responsável pelos seus benefícios para
a saúde.
O potencial nutricional das amoras silvestres identificado neste
trabalho visa o aumento do seu consumo pela população portuguesa, bem como a
disponibilização de novas espécies com reconhecidas vantagens nutricionais.
Assim, os cientistas esperam que o consumidor possa a vir adquirir
frutos/nutracêuticos com um elevado valor nutricional verificado
cientificamente em modelos celulares, sabendo que este constitui uma mais-valia
na prevenção de futuras doenças neurodegenerativas.
Cláudia Nunes dos Santos e Lucélia Tavares são as autoras do trabalho sobre as amoras |
“Estas amoras para além da mais-valia nutricional poderão também
constituir um produto diferenciado dos demais pequenos frutos, por serem
espécies silvestres, que remetem para as memórias de infância e para o ambiente
salutar do campo e com chancela 100 por cento portuguesa”, refere Lucélia
Tavares.
Por último, estas espécies enquanto endémicas encontram-se bem adaptadas
às condições edafo-climáticas portuguesas e ainda a subsistirem em condições de
baixos inputs. A sua introdução em cultura permitirá a sua valorização e
consequente protecção das espécies; e potencial adaptação a sistemas de cultivo
com baixos inputs, um objectivo essencial numa agricultura sustentável de
futuro, conclui.
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