ESTUDO SOBRE CANCRO
DESVENDA NOVA FORMA DE PRODUZIR NYLON
Poderá ser fabricado de forma ecológica e mais barata
Publicado em http://www.cienciahoje.pt
24/09/2012
Foi por mero acaso que investigadores do Instituto Duke
Cancer Institute (EUA) descobriram uma molécula que serve para produzir nylon
de uma forma mais barata e ecológica. O estudo, publicado agora na «Nature Chemical
Biology» surgiu da ideia de que algumas das alterações genéticas e químicas nos
tumores cancerosos podem ser aproveitados para fins benéficos.
“No nosso laboratório, estudam-se as mudanças genéticas que
fazem que os tecidos sãos comecem a funcionar mal e produzam tumores. O
objetivo desta investigação é compreender como os tumores se desenvolvem com o
objetivo de desenvolver melhores tratamentos”, diz Zachary J. Reitman,
investigador e autor principal do estudo.
Parte da informação obtida neste processo abriu caminho à
descoberta de um método mais eficaz de produzir nylon. Este material, uma fibra
têxtil sintética, está presente em vários produtos como roupa, tapetes ou peças
de automóveis. Um componente chave para a sua produção é o ácido adípico, um
dos compostos químicos mais usados do mundo.
Atualmente, este produz-se a partir de combustíveis fósseis
e a contaminação que liberta no processo de refinamento é um dos principais
causadores do aquecimento global. Os investigadores centraram as suas atenções
no ácido devido às semelhanças entre as técnicas de investigação do cancro e a
engenharia bioquímica.
Ambos os campos se baseiam nas enzimas, moléculas que
convertem um químico noutro. As enzimas desempenham um papel importante tanto
nos tecidos sãos como nos tumores e também se utilizam para converter matéria
orgânica em materiais sintéticos, tais como o ácido adípico.
Um dos caminhos mais prometedores para a produção de ácido
adípico ecológico estuda uma série de enzimas para converter açúcares baratos
neste ácido. No entanto, a enzima crítica chamada desidrogenase 2 nunca se
produziu, pelo que faltava um 'elo de ligação' na 'linha de montagem'.
É aqui que a investigação sobre o cancro entra em jogo. Em
2008 e 2009, os investigadores de Duke identificaram uma mutação genética nos
glioblastomas e outros tumores do cérebro que alteram a função de uma enzima
conhecida como isocitrato desidrogenase.
Os investigadores desconfiavam já que a mutação genética
observada no cancro podia dar lugar a uma mudança funcional similar numa enzima
intimamente relacionada que se encontra na bactéria da levedura, que daria
lugar à desidrogenase 2, necessária para a produção ecológica do ácido.
Os cientistas tinham razão. A mutação funcional observada no
cancro pode aplicar-se a outras enzimas estreitamente relacionadas criando um
resultado benéfico, neste caso o 'elo perdido' que podia permitir a produção de
ácido adípico a partir de açúcares baratos.
Artigo original: Enzyme redesign guided by cancer-derived IDH1
mutations
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