sábado, 20 de outubro de 2012

Datação por carbono 14 recua até aos 52 mil anos

Texto publicado pelo jornal Público em 19/10/2012

"No fundo do lago Suigetsu, no Japão, todos os anos se deposita um fi no cobertor de algas, de cor clara, que depois é tapado por uma camada mais escura de sedimentos. O fundo do lago é calmo e sem oxigénio, pelo que este mil-folhas de algas e sedimentos mantém-se imperturbável já lá vão mais de 52 mil anos e permitiu agora que uma equipa tornasse mais refinado o método de datação por carbono 14, ou radiocarbono — fazendo recuar as datações sem necessidade de calibrações em mais de 40 mil anos, ultrapassando assim os 52 mil anos.

Criado naturalmente na atmosfera, o carbono 14 vai sendo incorporado pelos seres vivos. Quando morrem, esta forma de carbono desintegra-se ao longo do tempo a uma taxa conhecida; por isso pode

calcular-se a idade de um objeto que inclua matéria orgânica, ao medir-se o carbono 14 que resta. Só que as coisas não são simples, e vários factores complicam esses cálculos, como as variações da quantidade de carbono 14 no ambiente.

Cientistas em todo o mundo calibram as datações de carbono 14, cruzando esses resultados com diversos registos cuja idade está bem determinada. Até aos 12.500 anos, a calibração das datações, com carbono 14 oriundo diretamente da atmosfera, baseia-se sobretudo nos anéis de árvores. Para lá disso, e até ao limite aproximado dos 50 mil anos, os resultados do carbono 14 são corrigidos com dados de corais e conchas marinhas. Mas o uso de registos vindos do mar, onde o ciclo do carbono é diferente, para calibrar dados do carbono 14 atmosférico aumenta mais a incerteza das datações.

Agora a equipa liderada por Takeshi Nakagawa, da Universidade de Newcastle (Reino Unido), revela, na revista Science, como os sedimentos do lago japonês permitiram uma datação direta (de folhas terrestres) por carbono 14 oriundo da atmosfera — e que essa datação recuou até aos 52 mil anos, porque puderam contar-se as camadas dispostas anualmente de algas e sedimentos. Sem mais calibrações, e tudo feito em laboratórios de radiocarbono do Reino Unido, Escócia e Holanda. Ainda que não tenha só por si dados sufi cientes para ser usado como a régua de correção de todas as datações por carbono 14 atmosférico, este lago e este trabalho vão torná-las muito mais rigorosas."

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