Cientistas descobrem campo de
crinóides ao largo do Algarve
Ecossistema raro indica que a
zona não tem sido afectada pelo arrasto
Publicado em www.cienciahoje.pt em 2012-10-16
Por Susana Lage
Uma equipa de investigação, coordenada pelo CCMAR, descobriu um campo
de crinóides a mais de 500 metros de profundidade ao largo do Algarve. Este
ecossistema é raro a esta profundidade e encontra-se numa zona não afectada
pelo arrasto.
Margarida Castro |
“A descoberta vai contribuir para o estudo da biodiversidade do mar
profundo e para a avaliação dos efeitos do arrasto em mar profundo. Foi ainda a
descoberta a maior profundidade deste tipo de ecossistema”, afirma Margarida
Castro ao Ciência Hoje.
Segundo a investigadora que acompanhou a expedição, isto significa “o
reconhecimento de uma potencial área marinha a proteger em mar profundo, uma
vez que estes ecossistemas são considerados sensíveis e nunca tinham sido
descritos para a costa do sul de Portugal”.
As primeiras colheitas de sedimentos foram feitas a bordo do navio de
investigação Garcia del Cid. Posteriormente, a suspeita da existência dos
campos de crinóides foi confirmada com a colaboração da ONG OCEANA, através de
filmagem com um ROV (Remotely Operated Vehicle).
Este tipo de habitat está classificado como sensível pela União
Europeia, já que pode ser utilizado como zonas de reprodução por distintas
espécies de peixes, como por exemplo o salmonete e a pescada. A presença de
crinóides, em altas densidades, é um indicador do bom estado dos fundos e de um
baixo ou inexistente impacto humano.
A pesca de arrasto pode danificar este tipo de campos e afectar o
fundo marinho, o que, consequentemente, tem também impacto no ecossistema do
leito marinho. Porém, neste caso concreto, a existência de um campo tão denso
de crinóides indica que a zona não tem sido afectada por esta arte de pesca.
Campo de Crinoides registado pelo ROV (Crédito: OCEANA) |
Os próximos passos na investigação incluem análise de imagens e
amostras para caracterizar este ecossistema quanto à biodiversidade (macrofauna,
endofauna e microfauna), sedimentos (propriedades geoquímicas).
Foram também recolhidas amostras em zonas adjacentes em que o arrasto
opera. A comparação entre zonas arrastadas e não arrastadas deverá indicar que
impacto tem, a longo prazo, a pesca de arrasto neste tipo de ecossistema.
“Num futuro próximo esperamos poder voltar a esta zona com um ROV para
avaliar a extensão deste ecossistema e a sua relação com a fossa submarina em
cuja encosta se encontra”, avança Margarida Castro.
A equipa de investigação coordenada pelo CCMAR, responsável pela
descoberta do campo de crinóides, integra diversas instituições nacionais e
internacionais como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o Centro de
Estudos do Ambiente e do Mar, da Universidade de Aveiro, o Instituto de
Ciências do Mar, Barcelona) Marine Scotland e Universidade Politécnica de
Marche, Itália.
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