“São precisas novas definições do gene”, diz Thomas Gingeras, do Laboratório
de Cold Spring Harbor – e um dos principais autores dos resultados hoje
publicados na Nature –, num
comunicado emitido por aquela prestigiada instituição norte-americana.
A visão da genética convencional é que, numa
primeira fase do fabrico de uma proteína humana, na sequência do gene que
codifica essa proteína é “transcrita” numa outra sequência, feita à base de uma molécula
ligeiramente diferente – o ARN. A seguir, essa molécula inicial de ARN será
processada para dar origem a uma outra molécula, desta vez de “ARN mensageiro” (ARNm). É sob esta última
forma que a informação genética contida no gene será transportada para fora do
núcleo da célula – mais precisamente, para os ribossomas –, onde servirá de matriz para o
fabrico da proteína por aquela maquinaria celular especializada.
Mas o trabalho que a equipa de Gingeras publica
hoje na Nature, no âmbito do projecto ENCODE, vai contra esta visão por
de mais simplista das coisas. Os cientistas fizeram uma análise de todas as transcrições
de ADN em ARN produzidas por todo o genoma nas células humanas. E concluem
que 75% cento do genoma é susceptível de ser transcrito em ARN (embora não em
ARN mensageiro) – e não apenas os 2% que contêm os genes que codificam
proteínas. Para mais, os resultados sugerem fortemente, salienta Gingeras, que
grande parte desse ARN, apesar de não servir para fabricar proteínas,
desempenha alguma função dentro das células.
Segundo Gingeras, “o comprimento daquilo que pensávamos
ser os espaços entre os genes está a encolher”. As fronteiras entre os genes
estão a esboroar-se, acrescenta, “pondo em causa a noção de que um gene é uma região
discreta e localizada do genoma, separada dos outros por ADN inerte”.
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