Artigo de Maria
do Céu Pereira publicado no jornal Público em 28/08/2012
Resina fossilizada |
“Duas espécies de ácaros e uma de mosquito, aprisionadas durante 230 milhões
de anos em âmbar, foram descobertas nos Alpes italianos, perto de Cortina d’Ampezzo.
A equipa de Alexander Schmidt, da Universidade de Göttingen, na Alemanha,
analisou algo como 70 mil gotículas de âmbar (resina fossilizada), com cerca de
três milímetros de diâmetro cada uma, até que se deparou, entre vários
microrganismos, com os ácaros e o mosquito. O que eles têm de especial é
passarem a ser os fósseis mais antigos de artrópodes em âmbar. Até agora, os
mais antigos eram do início do Período Cretácico, com 130 milhões de anos.
A antiguidade dos ácaros e a sua aparência estranha, para um animal do
Período Triásico, com características semelhantes às dos ácaros actuais, como
terem apenas dois pares de patas, surpreenderam os cientistas. Um dos ácaros
tem o corpo alongado como um verme, com “estruturas de alimentação bizarras”,
enquanto o outro é mais arredondado e a “boca” é mais vulgar, diz a equipa no
artigo que publicou sobre a descoberta na revista norte-americana Proceedings
of the National Academy of Sciences.
Os dois ácaros descobertos |
“A descoberta de artrópodes do Triásico Superior terá implicações para
compreender a evolução dos organismos terrestres”, diz o artigo.
Naqueles tempos, não havia ainda muita resina (produzida por exemplo pelas
coníferas), que já tinha surgido na Terra há mais de 300 milhões de anos. Só
passou a haver mais resina a partir do início do Período Cretácico e, por isso,
a descoberta de tantas gotículas de âmbar tão antigas, ainda por cima com
animais lá dentro, é rara. O local onde foram encontradas no Norte de Itália é
o maior depósito de resina fossilizada do Triásico no mundo e deu-nos agora a
ver estas relíquias do passado.”
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