sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Projeto ENCODE


Artigo de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público, em 06/09/2012

O que é o projecto ENCODE?

A Enciclopédia de Elementos de ADN (ENCODE) é um consórcio internacional que arrancou em 2003 com um projecto-piloto que foi o passo natural que se seguiu à sequenciação do genoma humano, quando se descobriu que tínhamos cerca de 20.000 genes – pedaços de ADN que comandam o fabrico de proteínas – e que perfazem apenas 2% de todo o genoma. O objectivo do ENCODE era tentar compreender a função do resto do ADN, principalmente os 98% que, aparentemente, quase não tinha funções. Em 2007 foram apresentados os resultados do projecto-piloto que estudou apenas 1% do genoma humano. Cinco anos depois, o consórcio publica a informação sobre todo o genoma.

Quem participa no ENCODE?

O ENCODE é liderado pela Instituto Nacional de Investigação do Genoma Humano, que pertence aos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, mas o consórcio envolve 32 laboratórios dos Estados Unidos, Singapura. Estiveram envolvidos 442 investigadores numa empreitada que custou, desde 2003, 185 milhões de dólares (148 milhões de euros).

O que é que foi feito e com que objectivo?

O consórcio analisou os genomas de 147 tipos diferentes de células humanas, algumas eram linhas celulares mantidas há décadas nos laboratórios.

Através de várias técnicas de sequenciação conseguiram identificar que porções do ADN estavam a ser utilizadas em cada tipo de célula. Descobriram que 80% do genoma que se pensava ser lixo, afinal, serve para regular a activação ou desactivação dos genes humanos. Mas estes “interruptores” não estão todos activos, podem variar de uma célula do fígado para uma célula do rim, o que aumenta a complexidade do funcionamento do genoma.

E agora?

O mais provável é que esta descoberta tenha implicações que ultrapassem a biologia e alterem a nossa compreensão das doenças que tenham factores genéticos. A própria forma como a selecção natural actua sobre o genoma e condiciona a evolução terá de ser repensada. O consórcio pode vir a receber mais 123 milhões dólares (97 milhões de euros) para uma próxima fase. O que se quer agora é compreender a dinâmica destes “interruptores”.

Os cientistas viram apenas instantes do que estava a acontecer em algumas células, e a biologia de muitas estava completamente artificializada por virem do laboratório.

A verdadeira dificuldade é compreender o que é que vai mudando no funcionamento do genoma e faz com que uma célula, ao longo do tempo, dê origem a um indivíduo.

Onde se podem ver os resultados?
A revista Nature disponibiliza os 30 artigos no seu site www.nature.com/encode. A informação produzida pelo ENCODE pode ser consultada na página: http://genome.ucsc.edu/ ENCODE/.

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