terça-feira, 7 de outubro de 2008

Na senda do combate ao vírus HIV

Este ano o Prémio Nobel da Medicina foi atribuído aos médicos franceses Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi que, em 1983, isolaram e identificaram o vírus da imunodeficiência humana, vulgarmente conhecido como HIV. O prémio é compartilhado pelo médico alemão Harald zur Hausen que, pela primeira vez, estabeleceu uma relação directa entre o cancro do colo do útero e o vírus do papiloma humano (HPV). De notar que em 2006 conseguiu-se obter uma vacina preventiva no sentido de imunizar as jovens contra o HPV.
No que toca ao vírus da imunodeficiência humana é conhecida a sua estrutura, o modo como a infecção se desenvolve, bem como os esforços, até agora inglórios, do sistema imunitário para se defender. Por ora, todas as tentativas desenvolvidas para a criação de uma vacina têm-se revelado infrutíferas, na medida em que não funcionaram as vacinas baseadas em vírus vivos e atenuados, as constituídas por vírus inactivos e as feitas a partir de proteínas. Nenhum dos processos habituais de imunização tem conseguido levar a melhor ao vírus. Isto, porque o HIV incorpora o seu próprio material genético no do homem e, não se tem conseguido retirá-lo sem danificar o DNA humano. Uma dificuldade acrescida deriva do facto de que, quando ocorre a replicação do vírus, cada cópia formada é um pouco diferente do vírus original, isto é, o vírus sofre mutações constantes, sendo que no combate a travar é necessário eliminar cada uma das variantes e, assim, evitar o aparecimento de novas cópias. Segundo Luc Montagnier, o processo que permite ao vírus estar constantemente a mudar resulta de um dos seus genes comandar a produção de uma proteína responsável por uma situação de "stress oxidativo" (produção de radicais livres tóxicos para a célula) que induz o aparecimento de mutações no próprio vírus. Mesmo que a célula infectada morra há tempo suficiente para a replicação e alteração do vírus. Para evitar que este mude é preciso agir sobre os factores responsáveis pela sua variação, a saber, a recombinação genética, a dispersão genética (o vírus reparte a sua informação genética por estruturas que contêm fragmentos dessa informação e a que Luc Montagnier chamou nanoformas) e o "stress oxidativo". Para este médico o caminho a seguir é o da estabilização do vírus para melhor o destruir e, o objectivo da vacina a criar será o de impedir a variação do mesmo. Dá vontade de dizer que inimigo conhecido é inimigo vencido. Todavia com este que a todo o momento muda de "rosto" depara-se aos investigadores um combate sem prazo, uma refrega digna de Hércules.
Face às proporções que a SIDA tem tomado a nível mundial, a única opção a tomar é reforçar a luta a este flagelo envidando esforços no sentido de se conseguir criar uma vacina eficaz e, ao mesmo tempo, desenvolver novos tratamentos para a doença. O combate para o desenvolvimento de vacinas contra o HIV é obra para variadíssimas entidades públicas e privadas e equipas multidisciplinares, que não se compadece com os menos de 1% de um montante de 70 biliões de dólares gastos anualmente em investigação na área da saúde, encaminhados para esse fim.
No estado em que se encontra a luta contra o HIV, a atitude mais sensata é fugir dele como o diabo da cruz, o mesmo é dizer que a prevenção é o melhor remédio. Cuidem-se!
Fernando Ribeiro