sexta-feira, 30 de março de 2012

Cientistas portugueses criam repelente de mosquitos ativado pela luz do Sol


Samuel Silva, num artigo da edição de 29 de março do jornal Público, dá-nos conta do que por cá se vai fazendo no campo da investigação científica. Os insetos e, em particular os mosquitos, que se cuidem, com a criação de um produto que liberta repelentes e inseticidas por ação da luz solar. E já agora, quando será a vez, de um produto que atue sobre os demagogos da nossa praça...


"Malária, febre de dengue e outras doenças transmitidas por mosquitos podem ter a propagação mais dificultada com um novo material desenvolvido em Portugal. Uma equipa de cientistas, liderada pela Universidade do Minho (UM), criou um material que liberta repelentes e inseticidas por ação da luz solar. Já mereceu atenção no Brasil e é visto como uma forma de combater epidemias nos países em desenvolvimento.


Os cientistas desenvolveram minúsculas cápsulas no interior das quais pode colocar-se praticamente qualquer composto: em contacto com a luz do Sol, libertam-se os repelentes ou inseticidas, de forma controlada. "Deixamos de precisar de eletricidade, que é normalmente utilizada para libertar os repelentes", explica o físico Carlos Tavares, da UM, que coordena o projeto.

A tecnologia pode ser usada em zonas remotas, onde não exista rede elétrica, sobretudo em países em desenvolvimento. O material pode depois ser aplicado a qualquer superfície, seja um vidro de uma casa ou o tecido de uma tenda. As potencialidades desta microcápsula motivaram o interesse de alguns países, nomeadamente do Brasil, onde serão feitos testes aos materiais no terreno (Carlos Tavares prefere não avançar o nome dos interessados, dizendo que o acordo ainda não é concreto).


Desodorizante nas cortinas


No centro desta investigação estão materiais fotocatalíticos, que são ativados pela luz solar, provocando várias reações. Um composto é colocado numa cápsula polimérica, que o sol faz abrir os poros e o químico é libertado. Mas tudo é feito à escala de mícrones (milésimos de milímetro) e os materiais dentro das cápsulas são ainda mais pequenos.


Desde 2004 que a investigação de Carlos Tavares está concentrada nos materiais fotocatalíticos, o que lhe permitiu desenvolver revestimentos que podem aplicar-se a um vidro, para se limpar sozinho. Expostos à luz solar, estes materiais, bastante finos para não interferirem na transparência do vidro, entram em contacto com os poluentes e degradam-nos.


A partir desta inovação, Carlos Tavares começou a pensar noutros usos que poderia dar a estes materiais. Durante uma palestra de um colega da sua universidade, ouviu falar de aromas e pensou em usar a tecnologia que tinha desenvolvido na libertação controlada de aromas.


O projeto integra também cientistas das universidades do Porto e Coimbra e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, onde serão feitos os últimos testes ao inseticida, nas colónias de mosquitos deste centro. Nos próximos três anos, os 15 cientistas da equipa vão aperfeiçoar as tecnologias já disponíveis para tornar os produtos mais eficazes, como por exemplo levar os materiais a absorver mais energia solar. Os fotocatalíticos desenvolvidos pela UM só absorvem a luz ultravioleta, que é três a cinco por cento da luz solar. A equipa também trabalha na espessura dos poros das cápsulas, para controlar melhor a quantidade libertada de substâncias.

Além das instituições académicas, há uma empresa no projeto, a Micropolis, nascida na incubadora da UM, que tem desenvolvido cápsulas libertadoras de repelentes para a indústria têxtil, ativadas por ação mecânica, por exemplo através da fricção do corpo num tecido.

A cápsula ativada pela luz solar permitirá reduzir a perda de efeito dos repelentes com as lavagens. Até porque não são só inseticidas e repelentes que podem ser introduzidos nas cápsulas. O composto pode ser aplicado a cortinas e servir como desodorizante de espaços interiores, o que, antecipa Carlos Tavares, até "pode ser mais atrativo do ponto de vista comercial"."

domingo, 25 de março de 2012

Construídos 12 ninhos para o regresso do abutre-preto ao Alentejo


Helena Geraldes, num artigo publicado na secção Ambiente da edição do Público de 24 de março destaca os esforços levados a cabo no Alentejo para facilitar a reprodução do abutre-preto.

"No coração do Alentejo, em pleno habitat mediterrânico onde abundam a urze e o tojo, acabam de ser construídos 12 grandes ninhos de abutre-preto, a maior ave de rapina da Europa e espécie Criticamente em Perigo em Portugal.

Estas 12 estruturas, compostas por varas metálicas e um cesto na ponta, foram colocadas na Herdade da Contenda, propriedade com 5300 hectares da Câmara Municipal de Moura, encostada a Espanha ao longo de 19 quilómetros.

O último ninho foi montado a 14 de Março. Nessa manhã, Alfonso Godino, 39 anos, subiu a um pinheiro, nove metros acima do solo. "A estrutura fica com 80 a 90 quilos, mas pode chegar aos 200. Tem de ser muito resistente, porque o abutre é um animal grande e pesado (três metros de envergadura de asa e 12 quilos) e tem uma época de reprodução muito longa", disse ao PÚBLICO o coordenador da equipa técnica do Centro de Estudos da Avifauna Ibérica (CEAI) e responsável pelas acções de conservação do abutre-preto.

Depois de se prender em segurança no topo do pinheiro, Alfonso ajudou os dois sapadores florestais e o técnico da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) que ficaram lá em baixo a içar a vara metálica, deitada no solo, com a ajuda de uma corda, até que esta ficasse na vertical, encostada ao tronco da árvore. "Agora, devagar. Cuidado." Para Alfonso, que já montou em Portugal 22 ninhos de abutre, esta é a parte mais difícil. "É crucial que o ninho fique estável." Mas à primeira tentativa, a vara ficou demasiado curta. "Não está bem, vai ter de descer." À segunda foi de vez. "Perfeito! Bom, fica porreiro." Duas estacas no chão ajudaram a fixar a base e correntes metálicas prenderam a vara à árvore. Nas horas seguintes, paus e troncos foram içados através de um sistema de roldanas para forrar o cesto metálico do ninho. "Um ninho, normalmente, demora um dia a ser instalado, se estiverem a trabalhar quatro pessoas", disse Alfonso.

O esforço faz parte do projecto Life Habitat Lince Abutre (2010-2014), para melhorar as condições de ocorrência destas duas espécies no Alentejo (Mourão, Moura e Barrancos e vale do Guadiana) e Algarve (Caldeirão).

Só três casais

Durante mais de 50 anos, o abutre-preto (Aegypius monachus) não fez ninho em Portugal. Em 2010 e 2011 regressou ao Tejo Internacional onde nidificaram três dos 7200 a 10.000 casais que a Birdlife International estima existirem no planeta.

O declínio em Portugal deveu-se à perda de habitat, incluindo locais para nidificação, ao envenenamento, colisão e electrocussão em linhas eléctricas e à diminuição de alimento disponível, especialmente coelho-bravo e cadáveres de animais. O abutre tem um papel crucial na sanidade do ecossistema mediterrânico, ao actuar como agente de limpeza natural, removendo cadáveres.

A instalação de ninhos na Contenda quer dar uma ajuda. "Os locais escolhidos são pouco perturbados, com muito declive e matos", explicou Alfonso Godino. "A conservação do abutre e de outras espécies ameaçadas é muito compatível com actividades como a caça, a extracção de cortiça, o mel, etc., desde que haja colaboração de todos. O que estamos a fazer na Contenda é um exemplo de que as espécies ameaçadas não são uma chatice nem reduzem os recursos disponíveis.

"A Contenda, onde vive apenas uma família de cinco pessoas que cuida dos rebanhos de cabras, quer ser uma experiência-piloto de como se pode compatibilizar a conservação com o desenvolvimento, disse ao PÚBLICO o presidente da Câmara de Moura, José Maria Pós-de-Mina. "Não nos podemos esquecer que o concelho tem hoje 15.200 habitantes, metade do que tinha nos anos 50, nem que as pessoas ainda consideram a conservação da natureza como uma questão de proibição. Mas a Herdade da Contenda e projectos como este podem dar um contributo para a demonstração e sensibilização.

"Miguel Ramalho - da empresa municipal Herdade da Contenda, que gere o espaço - contou que ali trabalham 14 pessoas e que estas "estão preparadas para ajudar no que for preciso". Nomeadamente, no esforço para aumentar as populações de coelho-bravo, dizimadas por doenças como a mixomatose (nos anos 50) e febre hemorrágica viral (nos anos 80). Eduardo Santos, da LPN e coordenador do projecto Life Habitat Lince Abutre, disse que estão a ser criados marouços (tocas artificiais de coelho) e a ser instalados comedouros e bebedouros, bem como pastagens de cereais e leguminosas para coelho. Especificamente para ajudar o abutre, está a ser criado um campo alimentador, vedado, com cerca de um hectare de extensão.

"A Contenda é um espaço muito especial", contou Eduardo Santos. "É considerada, há muito, uma das melhores áreas de habitat para o lince-ibérico e para o abutre-preto. Está bem conservada e tem uma área com muito boa dimensão." Ali "são observados regularmente, em média, 20 abutres-pretos. A zona é usada por estas aves como área de alimentação e alguns já foram vistos a pernoitar no perímetro da herdade". Esta está localizada a 20 quilómetros de uma colónia de abutre-preto em Espanha com 100 casais.

Por esta altura, as crias de abutre-preto já estão quase a nascer, em Abril. Mas este ano os novos ninhos artificiais da Contenda ainda não serão utilizados. Eduardo Santos acredita que "na próxima época de reprodução, que começará em Dezembro e terminará em Setembro [altura em que as crias abandonam os ninhos], os animais já estejam habituados a estes ninhos e que sejam convencidos a ficar por cá".

sábado, 24 de março de 2012

Há um gene que reage ao calor e faz a Primavera chegar mais cedo


Na secção Ambiente da edição do Público de 22 de março, Nicolau Ferreira destaca um artigo em que a Nature revela a existência de um gene que apressa a floração das plantas em responta ao aumento da temperatura ambiental.

"O tempo aquece e as plantas respondem com flores, mesmo que pelo calendário ainda seja Inverno. O fenómeno é testemunhado há muito, mas agora cientistas conseguiram determinar qual o gene responsável por este gatilho, os resultados foram publicados nesta semana, na Nature, e podem ajudar a prever os efeitos futuros do aumento de calor nos ecossistemas.

As flores podem ser vistas como folhas que foram comandadas para se transformar em sépalas, pétalas, estames e carpelos. Conhecem-se bem os genes que dizem a cada parte de um rebento para se transformar numa das estruturas da flor, e sabe-se que é a activação do gene Floregin que inicia a floração. “Tanto o tamanho do dia como temperaturas mais quentes provocam o funcionamento da Floregin. Algumas plantas, como a rosa, parecem estar mais dependentes do fotoperíodo do que da temperatura, mas isto ainda não é muito bem compreendido”, disse Philip Wigge ao PÚBLICO. O cientista pertence ao Centro John Innes, em Norwich, Reino Unido. É líder da equipa e último autor do artigo.

Apesar de se conhecer fisiologicamente como é que o fotoperíodo e os dias mais prolongados fazem activar a Floregin, ainda não se tinha conseguido desvendar o mesmo processo para a temperatura. Mesmo a forma como o calor afecta e transforma a actividade das plantas é mal compreendido. “Em 2010 publicámos um artigo na revista Cell que mostra que a cromatina (o ADN enrolado dentro [do núcleo] da célula) torna-se mais aberta a temperaturas mais altas”, explicou. Isto poderá tornar os genes mais facilmente utilizáveis.

Mais adaptadas

Além disso, o facto de a temperatura ser muito variável pode fazer adiantar a floração de muitas espécies, uma mudança que já é associada ao aquecimento global. Este aumento de calor pode extinguir umas plantas, melhorar o desempenho de outras, mas irá alterar sempre os ecossistemas. Para perceber este fenómeno, a equipa de Wigge foi estudar a influência da temperatura na floração da Arabidopsis thaliana, a espécie é utilizada por excelência para investigar a fisiologia das plantas. A Arabidopsis cresce cerca de 25 centímetros, dá pequenas flores brancas e foi o primeiro vegetal que viu o seu genoma sequenciado.

Os cientistas avaliaram a actividade do gene chamado PIF 4 na floração. O PIF 4 funciona activando outros genes e já se sabia que está associado a alterações estruturais das plantas em resposta à temperatura. Numa experiência, a equipa testou a capacidade da floração de uma planta mutante da Arabidopsis para o gene PIF 4. A uma temperatura de 27 graus a planta selvagem desenvolvia flores enquanto o mutante não. “As temperaturas mais quentes activam o PIF 4, o que causa a expressão do gene Floregin” e a floração.

Segundo Wigge, as plantas que estão mais dependentes do calor acabam por florir mais rápido se o tempo primaveril se antecipa. “Isto faz com que sejam mais competitivas em relação a outras plantas que utilizam a duração do dia para iniciar o crescimento e a reprodução.” Esta descoberta pode ajudar a perceber como é que os ecossistemas vão evoluir com o aumento das temperaturas. Mais, estes processos são importantes para a protecção das culturas agrícolas. “A maioria das culturas como o trigo ou o arroz já estão a crescer perto do topo do intervalo óptimo de temperaturas. Queremos produzir modificações no mecanismo que reage à temperatura para produzir plantas que possam crescer em climas diferentes.”

Contacto precoce com germes bom para a saúde


Ana Gerschenfeld, num artigo publicado na edição de 23 de março do Público, dá-nos conta de um estudo que parece confirmar a ideia de que o aumento das alergias nas crianças nos dias que correm poderá ser resultado do excesso de assepsia.

"Há anos que se pensa que a exposição das crianças desde cedo aos micróbios que normalmente nos rodeiam é importante para estimular o seu sistema imunitário. Só que até aqui, não havia indícios biológicos nem potenciais mecanismos que sustentassem a ideia, baptizada “hipótese da higiene” e que responsabiliza os elevados níveis de higiene do estilo de vida moderno e urbano (e o recurso precoce aos antibióticos) pelo aumento das alergias, da asma e das doenças auto-imunes. Mas ontem, Richard Blumberg e colegas, do Hospital Brigham and Women’s de Boston, nos EUA, publicaram na revista Science os primeiros resultados susceptíveis de pôr finalmente fim ao debate.

Os cientistas compararam os sistemas imunitários de ratinhos criados para serem “livres de germes” com o de ratinhos que viviam num ambiente normal – ou seja, cujo organismo continha bactérias e outros micróbios. Por um lado, constataram que os ratinhos “sem germes” apresentavam inflamações dos pulmões e do cólon semelhantes à asma e à colite e que esse estado se devia à hiperactividade de um certo tipo de linfócitos T já associados a estas doenças noutros estudos. Mas, mais importante ainda, descobriram que quando expunham os ratinhos sem germes aos micróbios logo durante as primeiras semanas de vida, o seu sistema imunitário normalizava-se e essas doenças não surgiam – o que não acontecia quando os animais só eram expostos aos micróbios já na idade adulta. A protecção imunitária obtida no primeiro caso era, para mais, de longa duração.

“Estes estudos mostram a importância crucial de um condicionamento imunitário adequado por micróbios logo nas primeiras fases da vida”, diz Blumberg. Porém, os cientistas permanecem prudentes, salientando que ainda serão precisos estudos em humanos".

Nasceram sete crias de lince-ibérico no centro de Silves

Na edição do Público de 23 de março, Helena Geraldes, num artigo a seguir transcrito, dá-nos conta do andamento do projeto levado a cabo no Centro de Reprodução de Lince-ibérico em Silves, que tem como objetivo salvar o lince-ibérico da extinção.

"Sete crias de lince-ibérico, uma das espécies-símbolo da luta contra a extinção de animais, nasceram no início de Março no Centro de Reprodução de Lince-ibérico em Silves. Uma acabou por morrer e as outras seis estão bem de saúde.

A época de partos em Portugal foi inaugurada com Biznaga, uma fêmea que deu à luz três crias a 5 de Março, segundo informações do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB). “Duas das crias foram abandonadas uma hora após o nascimento, pelo que está a ser tentada a sua sobrevivência com amamentação artificial e incubadora”, de acordo com uma nota do instituto. Hoje pesam cerca de 400 gramas cada uma. A terceira cria acabou por morrer passadas 48 horas, apesar de a fêmea ter “demonstrado cuidados parentais normais”.

Biznaga, com seis anos, foi mãe pela primeira no ano passado e deu à luz duas fêmeas, depois de 64 dias de gestação. Mas Biznaga acabou por abandonar as crias poucas horas depois, algo normal para as fêmeas que dão à luz pela primeira vez. Os animais acabaram por não resistir.

Além de Biznaga, outra fêmea foi mãe no início deste mês. A 6 de Março foi a vez de Castañuela dar à luz quatro crias. “Apesar de serem muito raros partos com número tão elevado de crias, esta fêmea mostra grande dedicação e demonstra estar a cuidar adequadamente de toda a sua prole, que segue com actividade e ritmos de lactação normais”.

A temporada de cria 2011/2012 começou em Dezembro e só terminará em Abril. Em Silves foram formados nove casais, pelo que se esperam mais novidades para breve. Além das parelhas Biznaga e Drago e Castañuela e Fado foram formados os casais Fresa e Eon, Flora e Foco, Fruta e Fresco, Era e Fauno, Espiga e Calabacin e Azahar, Enebro, Erica e Gamma. As datas previstas para os partos estendem-se até a primeira semana de Abril, segundo o Programa ibérico de reprodução em cativeiro para esta espécie.

A população residente do Centro de Reprodução de Lince-ibérico em Silves conta, de momento, com 18 linces (nove fêmeas e nove machos): 13 dos que inauguraram o centro em 2009, três foram transferidos no final de 2010 e dois transferidos no final de 2011.

"Este é um projecto muito querido do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade", disse ao PÚBLICO Paula Sarmento, presidente do Instituto. "O lince-ibérico é uma espécie emblemática para a Península Ibérica, nomeadamente para Portugal", acrescentou.

Este é o segundo ano de reprodução em Silves. Na época 2010/2011 foram registados seis abortos e três crias - das fêmeas Biznaga, Fresa, Fruta e Azahar. Mas nenhuma das três crias sobreviveu.

"Agora, este ano está a correr muito melhor e aguardamos com alguma expectativa" o que se passa em Silves, disse Paula Sarmento. "O centro está a acompanhar as mães e as crias, 24 horas por dia, através de televigilância", acrescentou.

A rede ibérica dos cinco centros de reprodução em cativeiro – Silves, El Acebuche, La Olivilla, Granadilla e Gerez – conta esta época de reprodução com um total de 28 casais. E já há uma história de sucesso para contar. Pela primeira vez, uma equipa de um destes centros (El Acebuche, em Doñana) recuperou uma cria que tinha sido abandonada pela mãe, Boj, através sete dias em cuidados intensivos numa incubadora, e conseguiu que a progenitora a aceitasse de volta.

A reprodução em cativeiro é uma solução de fim de linha para tentar evitar a extinção do lince-ibérico (Lynx pardinus). O objectivo é reforçar com estes animais as duas únicas populações em estado selvagem, em Doñana e na Serra de Andújar, na Andaluzia. Para este ano, o programa de conservação espanhol pretende reintroduzir na natureza entre 14 e 15 linces nascidos em cativeiro, nomeadamente nas populações silvestres de Guadalmellato (Córdova) e Guarrizas (Jaén).
"

As condições difíceis que o país atravessa são indiscutíveis. Mas projectos como este, que contam com patrocínios como medidas de minimização de impactes, podem ser uma mais-valia para o desenvolvimento de uma região, nomeadamente através do turismo de natureza", considerou ainda Paula Sarmento".

sexta-feira, 23 de março de 2012

Hepatite Viral

Dada a importância do tema para a defesa da saúde pública, e dos jovens em particular, fica o registo de uma entrevista efetuada pela SAPO Saúde ao gastroenterologista Dr. José Mendonça Santos.

"ENTREVISTA:
Poderia explicar-nos em que consiste a hepatite viral em oposição a outro tipo de hepatite?

Hepatite, significa “inflamação do fígado”. Vários agentes podem dar origem a uma hepatite, desde a acumulação excessiva de gordura no fígado ou esteatose, numa forma grave, a esteatohepatite, o consumo de álcool em excesso, ou hepatite aguda alcoólica (as lesões mais frequentemente associadas ao álcool são crónicas, como a cirrose hepática), medicamentos vários em pessoas suscetíveis, alguns alimentos, como os cogumelos do género amanita phalloides, plantas, doenças autoimunes, em que o organismo desencadeia a formação de anticorpos para agentes agressores mas que, por razões desconhecidas, acabam por lesar células do próprio organismo, neste caso o fígado, bactérias e alguns vírus, causadores de hepatite chamada, neste caso, hepatite viral.

Qual dos vírus da hepatite é mais perigoso para o homem?

Os principais vírus que causam hepatite são os designados pelas primeiras letras do alfabeto, (as designações foram sendo acrescentadas à medida que foram sendo descobertos novos vírus – A, B, C, D, E, G). A esmagadora maioria das hepatites virais são causadas pelos vírus A, B ou C, sendo que apenas as duas últimas (B e C) são perigosas – a hepatite causada pelo vírus A não evolui para formas crónicas e os casos mortais na fase aguda são verdadeiramente excecionais. Outros vírus, D, E, G, herpes, etc, pela reduzida frequência, não merecem, aqui, menção especial.

Que tipo de cuidados e recomendações devemos seguir para evitar contrair esta infeção?

A prevenção da hepatite A reside em medidas higiénicas – o contacto é feito através de produtos fecais e lavagem inadequada das mãos ou ingestão de alimentos contaminados e não devidamente lavados ou cozinhados – saladas, marisco de viveiros contaminados por água de esgotos, etc.
Em áreas de risco endémico (África, Oriente, Américas Central e do Sul) deve-se evitar o consumo de água de garrafas que já tenham sido abertas, não beber bebidas com gelo, que poderá ter sido feito a partir de água contaminada, não comer marisco (amêijoas, ostras, etc.).
Em relação aos vírus B e C, a sua transmissão faz-se, no mundo ocidental através do contacto com sangue de doentes contaminados – antigamente as transfusões sanguíneas (até ao início da década de 1990), hoje, por partilha de objetos que entrem em contacto com sangue – tatuagens, piercings, acupuntura, escovas de dentes ou material de barbear, etc., mas, sobretudo, partilha de seringas, nos toxicodependentes (60 a 80% dos toxicodependentes são, em Portugal, positivos para o vírus da hepatite C).
No caso da hepatite B, existe também um risco significativo de transmissão sexual, pelo que se devem abster de ter relações de risco e, preferencialmente, usar sempre preservativo. Hoje dispomos de vacinas eficazes para as hepatites A e B, incluídas no Programa Nacional de Vacinação. A vacina da hepatite C, por enquanto está fora do horizonte a curto/médio prazo.
Quanto à vacinação da hepatite A, está aconselhada a pessoas que lidam com alimentos, que trabalham com crianças, em creches e infantários, toxicodependentes, trabalhadores de limpeza de lixo e esgotos e quem queira viajar para zonas de alto risco, como África, América Latina e Oriente, não esquecendo que a vacina necessita de um mês para se tornar eficaz. Certos indivíduos possuem defesas imunitárias capazes de produzir anticorpos que atacam os agentes infeciosos. No entanto, nem todos são capazes de travar por completo o ataque do vírus.

A que se deve o facto de umas pessoas conseguirem expulsar o vírus e outras não?

A capacidade de eliminação espontânea dos vírus causadores de hepatite, excetuando o da hepatite A, é muito baixa; contudo, nem todos os casos tendem a evoluir para formas crónicas – apenas uma minoria de casos de hepatite B tenderão a evoluir para formas crónicas, enquanto que 50 a 85% dos casos de hepatite C evoluirão para a cronicidade.

Em relação à pergunta anterior, existem cuidados a ter em conta para fortalecer o nosso organismo?

As únicas atitudes que podemos tomar com vista a reforçar as nossas defesas em relação aos vírus da hepatite são evitar agressões por outros agentes potencialmente hépato tóxicos, como o álcool, rigorosamente proibido a menores e muito limitado ao sexo feminino que apresenta, geneticamente, uma tolerância muito inferior ao homem, tomar apenas medicação prescrita por médicos – muitos medicamentos, mesmo do dia-a-dia, como o paracetamol são, a partir de certas doses e pessoas mais suscetíveis, agressivos para o fígado, não consumir “drogas de abuso”, etc. Todos estes agentes fragilizam as células do fígado e as defesas do organismo, dum modo geral, e potenciam a agressividade dos vírus, sendo o exemplo mais bem estudado o efeito aditivo do álcool e do vírus C.

Que tipo de cuidados deve ter uma pessoa que contrai Hepatite Viral?

Qualquer pessoa a quem seja diagnosticada uma hepatite deve ser seguida pelo seu médico de família ou especialista – Gastrenterologista ou Hepatologista. No caso da hepatite A, transmissível por via fecal-oral (ingestão de material contaminado por conteúdo fecal), obriga a reforço das medidas normais de higiene, como a lavagem frequente das mão, não só após a utilização dos sanitários, como antes da preparação de alimentos.
Nos casos de hepatites B e C, deve ser estudada a situação de defesa do parceiro(a) sexual relativamente ao vírus em questão e, no caso do vírus B, usar obrigatoriamente preservativo se não houver anticorpos adequados. Por agora só foram desenvolvidas vacinas para a hepatite A e a hepatite B, no entanto, já foram descobertas substâncias que podem travar a multiplicação dos vírus.

Como prevê o futuro da luta contra a doença?

Quanto ao tratamento, a evolução de novas armas terapêuticas tem sido razoavelmente rápida, pelo que as expectativas no que ao tratamento diz respeito, são otimistas; não obstante, atualmente, não devemos contar com percentagens de erradicação do vírus C em mais de 50% e, ainda menos para o vírus B- 15 a 45%. Atualmente, em todo o mundo, estima-se que existam cerca de 350 milhões de portadores do vírus da Hepatite B e 170 milhões portadores da Hepatite C.

A vacinação está a abranger uma grande percentagem da população? Está já a travar o avanço?

A vacinação está a abranger uma diminuta parte da população mundial porque, onde mais falta faria, nos países do terceiro mundo, os locais de maior prevalência, não há dinheiro para campanhas de vacinação ou sequer para educação sanitária, pelo que estas doenças continuarão a ser endémicas, inclusivamente com elevada taxa de transmissão vertical, isto é, de mãe infetada para o filho, aquando do parto".

quinta-feira, 22 de março de 2012

Agência Europeia do Ambiente: Relatório alerta para o uso ineficiente da água

Em 14 de março de 2012, Isabel Palma num artigo a seguir transcrito, alertou para o problema do uso ineficiente da água, por uma sociedade que ainda não interiorizou a ideia de que a água é um bem cada vez mais escasso.

"Um relatório da Agência Europeia do Ambiente alerta que o contínuo uso ineficiente da água pode ameaçar a economia, produtividade e ecossistemas da Europa. Estas conclusões foram apresentadas no 6º Fórum Mundial da Água que está a decorrer em Marselha.

Um relatório da Agência Europeia do Ambiente, intitulado Towards efficient use of water resources in Europe, pretende aumentar a consciência da população e dos decisores políticos sobre a escassez da água e o uso ineficiente deste recurso.

“O crítico para nós é que estamos a ver um número crescente de regiões onde bacias hidrográficas, devido às alterações climáticas, estão a enfrentar a escassez de água”, alertou Jacqueline McGlade, diretora-executiva da Agência Europeia do Ambiente. “Contudo, a mudança de comportamentos (…) ainda não aconteceu realmente.”

“As nações precisam de utilizar diferentes métodos. Em vez de terem apenas uma proibição do uso da mangueira para controlar o problema deste ano, deveriam investir de forma diferente. Os investimentos a longo-prazo precisam de reconhecer os diferentes usos da água, como é usada [e a necessidade] de diferentes qualidades de água.”

O relatório sublinha os diferentes desafios que os países enfrentam à medida que as alterações climáticas alteram os padrões de disponibilidade de água das diferentes regiões.
No seio da União Europeia, a agricultura utiliza cerca de um quarto das reservas de água mas, no sul da Europa, esse valor atinge os 80%.

Contudo, os agricultores estão a reconhecer que a água está a ser utilizada de forma ineficiente. Estão a mudar para “usos mais eficientes, como a irrigação gota-a-gota e [utilização] de outras técnicas avançadas, por causa do custo do tratamento da água.”

Para além dos impactes negativos económicos e sociais, o uso insustentável da água também provocará danos nos ecossistemas.

O relatório da Agência Europeia do Ambiente é o primeiro de cinco relatórios relacionados com a água que a agência planeia publicar em 2012. O último relatório irá agrupar uma série de recomendações para os decisores políticos europeus.

As conclusões deste relatório foram apresentadas no 6º Fórum Mundial da Água que está a decorrer em Marselha, até ao dia 17 de março. O Fórum Mundial da Água é uma conferência internacional que reúne políticos, técnicos e ONG de todo o mundo, de três em três anos.

Na segunda-feira, o presidente fundador da Cruz Verde Internacional e ex-presidente soviético Mikhael Gorbachev referiu que “o défice de água doce está a tornar-se cada vez mais grave e em grande escala” e que ao contrário de outros recursos, “não há substitutos para a água”.

“Já não é possível a continuação do consumo de água às taxas do século XX.” Gorbachev salientou que cinco décadas de experiência na política convenceram-no de que a crise global da água está “diretamente relacionada com as falhas da política e economia contemporâneas.”

“Precisamos de repensar os objetivos do desenvolvimento económico. A economia precisa de ser reorientada para objetivos que incluam os bens públicos como o ambiente sustentável, a saúde humana, a educação, a coesão social e cultural, assim como a ausência de lacunas gritantes entre ricos e pobres.”

Dia Mundial da Água

Na sequência da comemoração do Dia da Árvore surge o Dia Mundial da Água, recurso natural dito renovável mas cada vez mais finito, como o podemos comprovar num ano em que o país se depara com uma situação de seca extrema e seca severa abrangendo praticamente todo o território. Em época de crise económico-social profunda, como se não fossem já suficientes os dramas e tragédias do dia a dia, parece que os deuses resolveram castigar-nos, com mais uma desgraça, que muito provavelmente vai passar a ser uma situação normal, a revelarem-se corretos os estudos relativos à evolução meteorológica do sul da Europa.
Este ano a comemoração do dia da Água centra-se na sua importância para a segurança alimentar.
Sobre este tema incide o artigo de Isabel Palma a seguir transcrito.

"Num mundo habitado por 7 mil milhões de pessoas e que aguarda por mais 2 mil milhões até 2050, questões como a segurança alimentar e acesso a água potável não podem ser ignorados. As estatísticas referem que cada um de nós consome em média 2 a 4 litros de água por dia, no entanto, a maioria desta água está integrada nos alimentos. Por exemplo, produzir 1 quilo de carne de vaca consome 15 mil litros de água enquanto para a produção de um quilo de trigo são “apenas” necessários 1500 litros.

Atualmente mil milhões de pessoas passam fome e uma vez que os recursos hídricos já estão sob pressão é necessário agir para mudar o paradigma. Neste Dia Mundial da Água, as Nações Unidas alertam que “o mundo está com sede porque nós estamos com fome.” Como tal sugerem uma série de ações que cada um de nós pode adotar no seu dia-a-dia para diminuir a nossa pressão sob este recurso: Seguir uma dieta mais saudável e sustentável, consumir produtos que precisam de menos água para serem produzidos e reduzir o desperdício de alimentos. Cerca de 30% dos alimentos produzidos nunca são consumidos e a água utilizada para os
produzir está definitivamente perdida.

No panorama nacional, há vários planos de gestão que continuam atrasados. Segundo um comunicado da Quercus, os Planos de Gestão de Região Hidrográfica (PGRH) que, de acordo com o estipulado na Diretiva-Quadro da Água, deveriam ter entrado em vigor em 2009, ainda não foram aprovados.

Também o Plano Nacional da Água continua muito atrasado, dado que deveria ter sido publicado em 2010. Trata-se de um instrumento de gestão das águas, de natureza estratégica, que estabelece as grandes opções da política nacional da água e os princípios e as regras de orientação dessa política, a aplicar pelos Planos de Gestão de Bacias Hidrográficas e por outros instrumentos de planeamento e gestão dos recursos hídricos.

Esta associação ambientalista alerta ainda que as metas de saneamento também ainda estão longe do objetivo proposto, registando-se um desvio de 9% na drenagem e de 19% no tratamento de águas residuais. Verificam-se ainda muitos casos de descargas ilegais provenientes de indústrias ou de instalações agro-pecuárias, degradação das margens dos cursos de água, com depositação de resíduos nas suas margens, proliferação de espécies invasoras e ocupação indevida dos leitos de cheia. A instalação de infraestruturas hidroelétricas diversas nos cursos de água afetam de forma muito significativa a conectividade e a ligação ao longo dos mesmos. Estas infra-estruturas não só afetam os caudais dos rios, como contribuem muito significativamente para a degradação da qualidade da água e impedem a passagem de peixes migratórios, muitos destes com elevado valor económico.

A Quercus recorda a necessidade e a urgência, para mais tendo em conta que grande parte do país atravessa um período de seca extrema, da implementação do Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA), que tem como principal finalidade a promoção do uso eficiente da água em Portugal, especialmente nos setores urbano, agrícola e industrial, contribuindo para minimizar os riscos de escassez hídrica e para melhorar as condições ambientais nos meios hídricos. O PNUEA foi aprovado em 2005, pela Resolução do Conselho de Ministros nº 113/2005, de 30 de Junho, mas ainda não foi implementado".

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia Mundial da Árvore



Não é com certeza por acaso que o Dia Mundial da Árvore e o Dia Mundial da Poesia são assinalados na mesma data, equinócio de março, neste outro tempo em que o sol, a luz, se sobrepõe às trevas, e se inicia o ciclo da explosão da vida. Quem diz árvore, diz expressão magnificente do mundo vegetal, suporte da vida na biosfera. Quem diz poesia, diz expressão da palavra na sua forma mais sublime, criação, fonte de vida, "no princípio era o verbo...". Não se pode separar o que é, o que se mostra tão igual, a voluptuosidade dos ramos entrelaçados e o esvoaçar das letras no corpo da palavra que se faz vida. E porque se homenageia a árvore, berço, alimento e tumba do homem, homenageemos o carvalho-portugês, o velho Quercus faginea, com a poesia de Miguel Torga.
A Um Carvalho
Eis o pai da montanha, o bíblico
Moisés
Vegetal!
Falou com Deus também,
E debaixo dos pés, inominada, tem
A lei da vida em pedra natural!
Forte como um destino,
Calmo como um pastor,
E sempre pontual e matutino
A receber o frio e o calor!
Barbas, rugas e veias
De gigante.
Mas, sobretudo, braços!
Longos e negros desmedidos traços,
Gestos solenes duma fé constante…
Folhas verdes à volta do desejo
Que amadurece.
E nos olha a prece
Da eternidade
Eis o pai da montanha, o fálico
pagão
Que se veste de neve e guarda a
mocidade
No coração!

Miguel Torga

terça-feira, 20 de março de 2012

Melanoma ocular

Hoje, primeiro dia da primavera, na secção de Saúde do motor de busca sapo aparece em destaque um excelente artigo de opinião do médico oftalmologista do British Hospital Lisboa XXI, Nuno Campos, sobre um dos tumores malignos mais perigosos passíveis de afetar o globo ocular.
Conforme referido pelo médico "Trata-se de um tipo de neoplasia agressiva e potencialmente fatal que se desenvolve nos melanócitos, as células responsáveis pela produção de um pigmento normal, a melanina.
Este pigmento encontra-se presente, entre outras áreas do corpo, na íris, no corpo ciliar (um tecido responsável pela produção de humor aquoso) e na caróide (a camada intermédia
entre a retina e a esclera). O melanoma ocular é maligno e pode estender-se a outras partes do corpo (metastização).
Esta é uma situação que costuma ocorrer em metade dos casos. De acordo com a Ocular Melanoma Foundation, cerca de 50% dos casos de melanoma ocular registam a propagação de células malignas a outras partes do corpo. Ainda não há certezas absolutas sobre as causas deste
tipo de tumor, mais prevalente entre pessoas de pele clara e olhos azuis.
Sabe-se, contudo, que a doença surge quando ocorrem erros ao nível do ADN das células que fazem com que estas se multipliquem e cresçam descontroladamente. O melanoma ocular é também mais comum em indivíduos afetados pela síndrome do nervo displásico, caracterizada pelo aparecimento de muitas dezenas de sinais no corpo, de tamanho e forma anormais.

O melanoma ocular pode desenvolver-se sem provocar sintomas. Ainda assim, é possível que surjam sinais de alarme como o aparecimento de uma mancha escura na íris ou na esclera, a sensação de flashes anormais, mudanças na forma da pupila, alterações na visão ou mesmo a sua perda. Caso ocorram, é essencial procurar o médico oftalmologista com a maior brevidade possível.
O tratamento irá depender de fatores como a dimensão do tumor, a sua localização e o estado de saúde do doente. Entre os tratamentos disponíveis encontram-se vários tipos de cirurgia, que permitem remover a parte afetada (como a iridectomia, que visa a remoção de parte da íris) ou, se necessário, todo o globo ocular. Outra solução passa pelo recurso a técnicas de radioterapia (como a braquiterapia ou a teleterapia) que são usadas nos casos de melanoma ocular de pequena e média dimensão e que permitem, através de radiação, destruir as células cancerosas.
Existem também tratamentos laser, como a termoterapia transpupilar, em que se aplica calor marcado e localizado no pigmento da retina e coróide. Nos casos de melanomas oculares de pequena dimensão também se recorre, embora mais raramente, à crioterapia (tratamento à base de frio).

Não é certo que possa ser prevenido. Há teorias que defendem que pode ser provocado pela exposição solar excessiva, mas ainda não existem estudos que comprovem uma relação direta entre os dois fatores.
De qualquer forma, a utilização de óculos de sol e a exposição solar apenas nas horas em que
a ação dos raios ultravioletas não é tão nefasta (até às 11 horas e a partir das 17h) são medidas benéficas. Deve, por isso, evitar expor-se ao sol nesse período.
Aconselha-se principalmente a realização de consultas anuais de oftalmologia, para despiste dos casos assintomáticos, um cuidado especialmente recomendado a quem tem olhos e pele clara e sofre da síndrome do nevo displásico.

O melanoma ocular pode provocar glaucoma (aumento da pressão intraocular), perda de visão total ou parcial e descolamento da retina. Pode ainda espalhar-se a outras partes do corpo, nomeadamente fígado, pulmões e ossos, podendo ser potencialmente fatal".

domingo, 18 de março de 2012


Escaravelhos ameaçam três centenas de palmeiras no Jardim Botânico de Lisboa

O escaravelho vermelho, proveniente da Ásia, após ter dizimado centenas de palmeiras no Algarve chegou a Lisboa onde até agora já infectou centenas delas, das quais várias foram abatidas. Os escaravelhos põem em risco, assim, todas as palmeiras no Jardim Botânico que não possui dinheiro para o seu tratamento permanente.

O Rhynchophorus ferrugineus, vulgarmente denominado por escaravelho vermelho, é proveniente da Ásia e, ao longo do tempo, tem vindo a propagar-se nos países do Mediterrâneo, e a alastrar-se para outros, tal como Portugal, infiltrando-se primeiro no Algarve e acabando no resto do país. Este insecto propaga-se mais facilmente nos países com um clima temperado/tropical, por favorecer a sua mobilidade, ou seja, neste clima o insecto consegue desenvolver-se mais rapidamente e voar de palmeira em palmeira, o que não é possível durante o inverno, uma vez que o frio inibe a sua mobilidade e crescimento.
As palmeiras mais afectadas  pertencem à família Arecacea em particular a Palmeira-das-Canárias, a Palmeira-Tamareira e ainda a Palmeira-de-Leque, embora a propagação do escaravelho nesta última seja bastante menor.
Ao alcançar a palmeira, o insecto põe ovos que mais tarde se desenvolverão na copa e no interior da planta, alimentando-se da mesma, o que poderá levar à sua morte.
A presença de escaravelhos numa palmeira é evidenciada pela presença de:
- Folhas desprendidas da copa e caídas no chão;
- Orifícios e galerias na base das folhas, podendo conter larvas e casulos;
- Copa desguarnecida no topo ou com um aspecto achatado pelo descaimento das folhas centrais, que amarelecem e secam;
- Folíolos de folhas novas seccionadas em ângulo ou com as pontas truncadas a direito;
- Fibras cortadas, húmidas com um cheiro fétido.
O Jardim Botânico de Lisboa teme que muitas das suas palmeiras estejam infectadas, podendo não ter recursos para verificar todas as palmeiras. Para além deste tratamento ser caro, requer muito tempo pois é difícil analisar todas as palmeiras, agravando-se pelo facto de, numa primeira fase da infecção, não se conseguir verificar a olho nú se a palmeira está ou não infectada. Mesmo assim, após a confirmação da infecção, o tratamento poderá não resultar, já que os insectos se encontram no interior da planta que lhe fornece protecção contra os insecticidas, o que acaba por contribuir para a propagação do escaravelho vermelho e a sucessiva morte das palmeiras.

Fontes das imagens:
Isa Fernandes e Jan Hofman, alunos do 11ºB

sexta-feira, 16 de março de 2012

Está em curso a maior erupção solar desde 2005

"A erupção solar ocorrida ontem, a mais forte desde uma tempestade solar em 2005, está a enviar em direcção à Terra partículas com carga eléctrica. Mas a maior parte está a ser desviada pelo campo magnético do planeta, sem ter impactos na superfície, diz a NASA. As partículas ionizadas, expelidas pela erupção no hemisfério Norte do Sol, estão a viajar a uma velocidade superior a dois mil quilómetros por segundo, informa o Centro espacial Goddard, da agência espacial norte-americana (NASA). Os protões (partículas com carga eléctrica positiva) começaram a chegar à Terra ontem e deverão continuar a fazer-se sentir nos próximos dias. Ainda que esta erupção tenha sido “relativamente forte” – não chega a ser severa –, não é um fenómeno raro. Segundo Filipe Pires, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, o Sol tem um ciclo regular de 11 anos. “O Sol esteve no mínimo e agora está a voltar a ter uma maior actividade. O máximo deverá ocorrer em 2013”, disse ao PÚBLICO. Estas erupções têm origem em manchas solares, “regiões com um campo magnético muito intenso” e que ”podem ser maiores que a Terra, duas a três vezes”. A NASA garante, em comunicado, não existir perigo para a Terra. O único efeito será a ocorrência de auroras, especialmente nas regiões perto das zonas polares. Filipe Pires diz que o centro de astrofísica e o planetário não detectaram qualquer consequência da erupção solar. “A maior parte das partículas é desviada pelo campo magnético da Terra", disse o especialista. "Há uma camada muito grande de atmosfera que nos protege”, acrescenta. No espaço, o cuidado deve ser maior. “Os astronautas devem evitar saídas espaciais por estes dias. Mas tirando isso, não deverá haver problemas dentro da Estação Espacial Internacional”, disse Filipe Pires. Ainda assim, o risco maior será para os satélites. “Podem ser induzidas correntes que podem queimar a parte electrónica dos aparelhos e afectar o software. Mas há sempre sistemas de apoio em caso de algo correr mal”.



in PÚBLICO.PT / Helena Geraldes NASA/AFP (24.01.2012)

(Imagem distribuída pela NASA, captada pelo Solar Dynamics Observatory, mostra a erupção solar )

Bactérias com 34 mil anos são reanimadas em laboratório

Um complexo ecossistema de bactérias devoradoras de sal sobrevive há 34 mil anos em fluidos no interior de minerais de Death Valley e Saline Valley, no estado da Califórnia (EUA). A halite, como se denomina o mineral formado por cristais de cloreto de sódio, tem sido o lar dessas bactérias, procariotas e eucariotas, durante dezenas de milhares de anos. A pesquisa consta na edição de Janeiro da revista da Sociedade Geológica Americana, GSA Today. De acordo com o principal autor do texto, o cientista Brian A. Schubert, do Departamento de Estudos Geológicos da Universidade do Estado de Nova Iorque, as bactérias estavam vivas. Mas a vida delas era limitada à sobrevivência pois não usam energia para nadar nem se reproduzir. A base da sua sobrevivência é um organismo unicelular, chamado alga Dunaliella, presente em muitos sistemas salinos. Esse organismo produz carvão e outros metabolitos que servem de sustento às bactérias. Assim, os organismos podem sobreviver, durante períodos imprevisíveis, flutuando em fluidos no interior dos minerais. «A parte mais emocionante da pesquisa foi quando pudemos identificar as células de Dunaliella nos cristais, porque eram indícios de que poderia haver uma fonte de alimento", explicou Schubert ao site Our Amazing World. O rápido crescimento dos cristais de sal, que envolvem todos os fluidos em pequenas bolhas de ar protegidas no seu interior, é outra das razões da surpreendente longevidade das bactérias, aponta o estudo. A pesquisa de Schubert e a sua equipa não é a primeira descoberta de organismos tão antigos. Já foram publicados outros que falam de bactérias vivas com mais de 250 milhões de anos. Esta, entretanto, é a primeira em que os cientistas comprovaram as suas conclusões com a repetição de testes. De acordo com Schubert, ele conseguiu fazer com que os organismos voltassem a crescer uma segunda vez, um resultado também obtido em testes posteriores em laboratórios, o que prova que o seu estudo não foi manipulado. Em cinco dos 900 cristais de sal analisados pela equipa, novas bactérias se reproduziram, indicou Schubert. Os microrganismos demoraram cerca de dois meses e meio para «despertar» do seu estado de letargia antes de começar a proliferar. Os cientistas ainda não determinaram, no entanto, como as bactérias conseguiram sobreviver durante tantos anos com o sustento tão mínimo que a alga lhes proporcionava. A equipa pretende agora aprofundar essa pesquisa e contrastá-la com outras que exploram a vida microbiana na Terra e no Sistema Solar, onde existem materiais potencialmente capazes de abrigar microrganismos, incluindo aqueles com milhares de milhões de anos de idade. Por enquanto, Schubert e os seus colegas conseguiram algo pouco comum: a reprodução de bactérias que se se reproduzam pela primeira vez após milhares de anos.

in Diário Digital (14.01.2011)

Bióloga portuguesa descobre escaravelho único no Mundo

Um escaravelho predador, único no mundo, foi descoberto nas grutas da Serra do Sicó pela bióloga portuguesa Sofia Reboleira, que assim aumenta para seis as espécies descobertas. "É o primeiro escaravelho estafilinídeo cavernícola de Portugal Continental, ao qual foi dado o nome científico Domene lusitanica, em alusão à sua restrita distribuição geográfica, confinada às partes profundas da Serra do Sicó", disse à Lusa a bióloga Sofia Reboleira. O escaravelho, com quase um centímetro de comprimento é "o maior dos Domene ibéricos" e, segundo a bióloga, apresenta várias caraterísticas morfológicas de adaptação à vida nas grutas. "É um escaravelho predador, despigmentado, carece de verdadeiros olhos e asas e tem o corpo alongado", descreve Sofia Reboleira. Pertencente a um subgénero cujos parentes mais próximos se encontram no noroeste da Península Ibérica, este escaravelho tem a particularidade de não existir em nenhuma outra parte do mundo o que, segundo a bióloga "coloca grandes desafios em termos de conservação". Agressões como "a utilização de pesticidas e inseticidas, a destruição das grutas nas zonas de exploração de inertes e os problemas associados ao escoamento de esgotos industriais e urbanos no único local do mundo onde vivem, colocam as espécies estritamente cavernícola, em vias de extinção" explica. Com esta eleva-se as seis as espécies descobertas por Sofia Reboleira. A descoberta ocorreu durante o trabalhos de campo no âmbito do doutoramento de Sofia Reboleira, orientado pelos professores Fernando Gonçalves (CESAM & Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro) e Pedro Oromí (Universidade de La Laguna, Espanha). O trabalho foi financiado pela Fundação Para a Ciência e Tecnologia da qual a bióloga é bolseira.

in Diário Digital / Lusa (08.03.2011)

Ostras na ria de Alvor

Uma equipa de investigadores foi surpreendida ao descobrir pérolas em ostras do género Crassostrea em vários locais do Algarve, desde as rias de Alvor e Formosa até ao Rio Guadiana. O fenómeno, dizem, é muito raro nesta família de bivalves. "Foi uma surpresa para nós", disse ao PÚBLICO Deborah Power, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), responsável pela investigação, ao lado de Frederico Batista e Ana Grade, da Estação Experimental de Moluscicultura de Tavira do IPIMAR. "A descoberta das pérolas aconteceu quando estávamos a trabalhar num projecto para fazer um levantamento das espécies de ostras no Algarve. Visualmente são todas muito parecidas mas, na realidade, podem ser diferentes", acrescentou a investigadora. Ao longo de todo o ano de 2011, os investigadores recolheram 756 ostras e, de forma inesperada, encontraram pérolas em dois exemplares de Crassostrea, originária do Japão e importada da França para a criação comercial no Algarve. Num só indivíduo foram encontradas quatro pérolas (com um diâmetro inferior a 2 mm) e noutro foi observada uma pérola com cerca de 5 mm de diâmetro e 190 mg de peso. Esta ostra teria entre dois e três anos de idade, estima Deborah Power. "Ficámos contentes. Este é um fenómeno muito interessante. Noutros países, como o Japão, já se estimula a produção de pérolas pelas ostras. Mas estas não foram provocadas por nós, cresceram no próprio organismo", acrescentou Deborah Power. “Este fenómeno é frequente noutras espécies, podendo as pérolas atingir um elevado valor comercial. Mas nos últimos dez anos não tinha sido observado em ostras do género Crassostrea, que existem em Portugal”, disse a Universidade do Algarve, em comunicado. “As pérolas são produzidas por moluscos bivalves, tratando-se de uma reacção defensiva do hospedeiro a corpos estranhos, tais como parasitas ou partículas inertes. O corpo estranho é coberto por várias camadas, sendo estas constituídas essencialmente por carbonato de cálcio sob a forma de cristais de aragonite”, escrevem os investigadores. Deborah Power adiantou que já foram enviadas algumas pérolas para um laboratório da Universidade de Cambridge. "Através da realização de vários testes e do estudo da estrutura das ostras vamos tentar saber o que provocou a formação das pérolas." Depois de um ano de monitorização das ostras do Sul do país, os investigadores confirmaram a "grande diversidade" da região. "A Ria Formosa e a zona do Guadiana são focos de grande biodiversidade". Agora, os investigadores gostariam de desenvolver estudos para valorizar a espécie portuguesa, Crassostrea angulata, um recurso endógeno e mais adaptado às condições do país. Questionada sobre os impactos da espécie japonesa sobre a portuguesa, Deborah Power respondeu que os estudos ainda não estão concluídos. "Mas, com base naquilo que observámos, posso dizer que, por enquanto, não há uma grande competição; a japonesa não é considerada invasora, apesar de ocuparem o mesmo espaço. Mas pode haver cruzamento. Esta é uma área com muito interesse".

in PÚBLICO.PT Helena Geraldes (03.01.2012)

Portugueses estudam antibiótico encontrado em bactéria dos Açores

Uma equipa de cientistas portugueses conseguiu pela primeira vez produzir mais facilmente uma classe de antibióticos, os chamados lantibióticos. Fez isso com uma substância de um bacilo encontrado nos Açores, esta molécula combate bactérias resistentes. As fontes hidrotermais dos Açores foram o início da história que terminou este ano, com a publicação de um artigo na revista Chemistry & Biology. Foram nestas fontes que Sónia Mendo, professora da Universidade de Aveiro e coordenadora do trabalho, encontrou em 2000 o Bacillus licheniformis, durante o seu doutoramento. “As fontes hidrotermais são habitats adversos em que vamos encontrar organismos com capacidades diferentes do habitual”, explicou Sónia Mendo ao PÚBLICO. A investigadora descobriu que este bacilo produz a lichenicidina, uma substância que combate duas das bactérias hospitalares mais resistentes: o Staphylococcus aureus resistente à meticilina e Enterococcus resistente à vancomicina. A lichenicidina é interessante porque é uma molécula que faz parte dos lantibióticos, uma das várias classes de antibióticos, que se distingue por ter na sua composição o aminoácido lantionina. A molécula identificada nas fontes hidrotermais dos Açores é formada por duas cadeias de cerca de 30 aminoácidos cada. Deste modo, a lichenicidina causa dois efeitos diferentes nas bactérias: impede-as de produzir a parede celular que as envolve e causa buracos na membrana celular deses micróbios, destruindo-os. “Em vez de ter um alvo tem dois, para as bactérias é mais difícil desenvolver resistências.” O passo seguinte passa pelo estudo deste químico em bactérias manipuladas para haver um aperfeiçoamento da molécula, que poderá assim ser utilizado na medicina. Muito desse trabalho é feito na bactéria Escherichia coli, onde "as manipulações são mais simples”, disse a cientista. Faz-se isto através da manipulação genética. Identifica-se o gene responsável pela produção do antibiótico na bactéria original, neste caso seria no bacilo hidrotermal, e depois transfere-se o gene para a E. coli. Depois, pode-se substituir aminoácidos no antibiótico, e testar as novas conformações da molécula e aperfeiçoar as suas funções. O problema é que nunca se tinha conseguido pôr a E. coli a produzir lantibióticos. Era um dogma com 20 anos. Com a lichenicidina foi diferente. “Ao colocar o grupo de genes na E. coli ela produziu a substância”, disse a cientista, que referiu que o trabalho molecular foi feito por Tânia Caetano, também de Aveiro, e tiveram a colaboração da Universidade Técnica de Berlim. Agora a equipa vai poder brincar com a estrutura da molécula e ver o que acontece. É possível que no futuro este lantibiótico seja aplicado na medicina? “Gostaríamos de chegar a essa fase, mas falta muito tempo”, explicou a cientista. “Ainda não sabemos o mecanismo de acção ou se a substância é tóxica nas células humanas.”

in PÚBLICO.PT Nicolau Ferreira Reuters/Stoyan Nenov (20.06.2011)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Amianto - um inimigo silencioso


Conta-se que alguém ao confrontar um fumador com o facto de o consumo de tabaco matar aos poucos, lhe terá respondido que ainda bem que assim era, pois não pretendia morrer já. Esta situação, passe a caricatura, personifica o que acontece com a exposição ao amianto, também designado de asbesto, cujas partículas, uma vez inaladas atuarão silenciosamente sobre diversos locais do organismo, podendo causar a asbestose (afeção pulmonar resultante da exposição continuada ao pó de asbesto), o mesotelioma, o cancro do pulmão e o cancro gastrointestinal. Claro está que os efeitos estão em linha com a quantidade inalada e o tempo ao longo do qual se foi processando a sua acumulação no organismo. Indivíduos que laboram na extração ou no seu manuseamento para a produção de artigos, serão, naturalmente, os mais afetados.

A perigosidade dos produtos que contêm amianto - designação comercial utilizada para a variedade fibrosa de seis minerais metamórficos do grupo dos silicatos (serpentina e anfíbolas) cujas propriedades mecânicas e químicas, levaram a que fossem amplamente utilizadas na indústria e na construção civil, entre 1945 e 1990, resulta da capacidade de libertarem fibras microscópicas que, uma vez presentes no ar, poderão, através da exposição cutânea, ingestão e principalmente da inalação, provocar danos graves na saúde das populações expostas. As fibras microscópicas, qual inimigo silencioso, poderão depositar-se nos pulmões e, passados anos ou décadas de aí permanecerem, provocar doenças como o cancro do pulmão.

O amianto foi utilizado como isolador térmico, elétrico, acústico e de proteção contra o fogo e, devido à sua resistência química, utilizado, ainda, em processos de filtragem e processos eletrolíticos. Foi em função das suas propriedades, como a resistência ao fogo e a sua fraca condutibilidade, que passou a ser largamente utilizado em pavimentos, placas de tetos falsos, portas corta-fogo, tijolos refratários, telhas, caleiras, painéis de isolamento, paredes divisórias pré-fabricadas, impermeabilização de coberturas, entre outros produtos.

Na melhor tradição portuguesa, existe legislação no sentido de serem apurados “todos os edifícios, instalações e equipamentos públicos que contêm amianto na sua construção”, segundo noticiava o jornal Público em fevereiro deste ano. Só que tal ainda não foi feito, e, num jogo de empurra, infelizmente, por de mais conhecido, não está definida a entidade da administração pública a quem caberá a responsabilidade do apuramento.

Ainda segundo o mesmo jornal “um estudo sobre as escolas revelava que 59% dos estabelecimentos amostrados continham produtos com amianto. Estatísticas de 2008 indicavam ainda que havia no país 600 mil edifícios com coberturas de fibrocimento — um produto que contém amianto”.

Não obstante estes números, o problema não assume uma elevada gravidade porque, e parafraseando a resposta enviada pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge ao referido jornal, o fibrocimento já existente se trata de “de um material não friável, que tem na sua composição entre 10 a 20% de amianto e que tem o cimento, um aglutinante muito forte, a ligar as fibras. A haver libertação de fibras deste tipo de material ela será esporádica e de fraca intensidade” e portanto de baixo risco. Também, na opinião do mesmo instituto a remoção do fibrocimento poderia piorar a situação existente, na medida em que aquele só se torna problemático se estiver deteriorado.

Como uma praga nunca vem só, há estudos que apontam para um efeito sinergético na associação da exposição ao amianto, ao tabagismo e às radiações. A jornalista Andrea Cunha Freitas, do jornal Público, refere que o pneumologista Agostinho Marques considera que “O amianto é dos agentes cancerígenos mais dramáticos, é o que está de forma mais evidente ligado ao cancro do pulmão. Muito mais do que o tabaco”, apontando também para a existência de “um tipo de tumor, o mesotelioma (cancro na pleura, a membrana que cobre os pulmões) característico da exposição ao amianto”. O mesmo médico diz que “com muito raras exceções, o mesotelioma é quase só causado por isso. Muitas vezes, quando fazemos a análise do tecido de um pulmão afetado, vemos claramente as longas partículas de amianto.” A mesma jornalista escreve que “estudos internacionais indicam que a frequência de cancro do pulmão é dez vezes superior em trabalhadores expostos ao amianto durante 20 anos do que na população em geral. E se o risco de cancro é bastante mais elevado nas pessoas expostas a amianto de forma continuada, o perigo amplifica-se quando são também fumadoras” e assinala que “na Turquia percebeu-se que as mulheres de mineiros de amianto tinham um risco quatro vezes superior de ter cancro só por lavar a roupa dos maridos”.

sexta-feira, 9 de março de 2012


O fenómeno de Taos Hum

Por todo o mundo é bastante normal ouvir um zumbido. As suas causas podem estar relacionadas com uma agressão ao ouvido após um som muito alto, como por exemplo uma explosão, com o uso de determinada medicação ou por certos tipos de aparelhos eletromecânicos.

Mas e se, sempre à mesma hora, ouvisses na tua cidade um zumbido sem motivo aparente? E se o mesmo acontecesse a outras pessoas que vivem no mesmo sítio que tu? E se esse barulho fosse tão irritante que te tiraria boas noites de sono e levaria algumas pessoas à loucura? Consegues imaginar? Há pessoas que certamente conseguem, até porque elas próprias convivem com isso. Chama-se Taos Hum e é assim denominado porque foi relatado na localidade Taos, Novo México (EUA). Este som de origens ainda incertas carateriza-se por ser contínuo e de baixa frequência, e embora não seja detetado por toda a gente devido a isso, é suficientemente audível para chegar a incomodar as pessoas que o conseguem ouvir. Ainda mais intrigante é saber que esse mesmo som tem sido detetado noutros locais do mundo, entre eles a Europa. É também chamado de Zumbido da Morte por já ter levado pessoas a cometerem suicídio.
Apesar de ninguém saber a origem deste estranho ruído, nem mesmo os cientistas que se dedicam à sua investigação, existem algumas teorias que o relacionam com a espessura fina da crusta terrestre e com a atividade vulcânica desses mesmos locais. Há ainda quem pense em equipamento de comunicação militar ou até mesmo em presença extraterrestre.
Podes ouvir este enigmático som através da gravação seguinte.
Atenção: o barulho pode ser irritante para os ouvidos.

Alexandra Bass e Celina Palma, alunas do 11º B