quarta-feira, 14 de março de 2012

Amianto - um inimigo silencioso


Conta-se que alguém ao confrontar um fumador com o facto de o consumo de tabaco matar aos poucos, lhe terá respondido que ainda bem que assim era, pois não pretendia morrer já. Esta situação, passe a caricatura, personifica o que acontece com a exposição ao amianto, também designado de asbesto, cujas partículas, uma vez inaladas atuarão silenciosamente sobre diversos locais do organismo, podendo causar a asbestose (afeção pulmonar resultante da exposição continuada ao pó de asbesto), o mesotelioma, o cancro do pulmão e o cancro gastrointestinal. Claro está que os efeitos estão em linha com a quantidade inalada e o tempo ao longo do qual se foi processando a sua acumulação no organismo. Indivíduos que laboram na extração ou no seu manuseamento para a produção de artigos, serão, naturalmente, os mais afetados.

A perigosidade dos produtos que contêm amianto - designação comercial utilizada para a variedade fibrosa de seis minerais metamórficos do grupo dos silicatos (serpentina e anfíbolas) cujas propriedades mecânicas e químicas, levaram a que fossem amplamente utilizadas na indústria e na construção civil, entre 1945 e 1990, resulta da capacidade de libertarem fibras microscópicas que, uma vez presentes no ar, poderão, através da exposição cutânea, ingestão e principalmente da inalação, provocar danos graves na saúde das populações expostas. As fibras microscópicas, qual inimigo silencioso, poderão depositar-se nos pulmões e, passados anos ou décadas de aí permanecerem, provocar doenças como o cancro do pulmão.

O amianto foi utilizado como isolador térmico, elétrico, acústico e de proteção contra o fogo e, devido à sua resistência química, utilizado, ainda, em processos de filtragem e processos eletrolíticos. Foi em função das suas propriedades, como a resistência ao fogo e a sua fraca condutibilidade, que passou a ser largamente utilizado em pavimentos, placas de tetos falsos, portas corta-fogo, tijolos refratários, telhas, caleiras, painéis de isolamento, paredes divisórias pré-fabricadas, impermeabilização de coberturas, entre outros produtos.

Na melhor tradição portuguesa, existe legislação no sentido de serem apurados “todos os edifícios, instalações e equipamentos públicos que contêm amianto na sua construção”, segundo noticiava o jornal Público em fevereiro deste ano. Só que tal ainda não foi feito, e, num jogo de empurra, infelizmente, por de mais conhecido, não está definida a entidade da administração pública a quem caberá a responsabilidade do apuramento.

Ainda segundo o mesmo jornal “um estudo sobre as escolas revelava que 59% dos estabelecimentos amostrados continham produtos com amianto. Estatísticas de 2008 indicavam ainda que havia no país 600 mil edifícios com coberturas de fibrocimento — um produto que contém amianto”.

Não obstante estes números, o problema não assume uma elevada gravidade porque, e parafraseando a resposta enviada pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge ao referido jornal, o fibrocimento já existente se trata de “de um material não friável, que tem na sua composição entre 10 a 20% de amianto e que tem o cimento, um aglutinante muito forte, a ligar as fibras. A haver libertação de fibras deste tipo de material ela será esporádica e de fraca intensidade” e portanto de baixo risco. Também, na opinião do mesmo instituto a remoção do fibrocimento poderia piorar a situação existente, na medida em que aquele só se torna problemático se estiver deteriorado.

Como uma praga nunca vem só, há estudos que apontam para um efeito sinergético na associação da exposição ao amianto, ao tabagismo e às radiações. A jornalista Andrea Cunha Freitas, do jornal Público, refere que o pneumologista Agostinho Marques considera que “O amianto é dos agentes cancerígenos mais dramáticos, é o que está de forma mais evidente ligado ao cancro do pulmão. Muito mais do que o tabaco”, apontando também para a existência de “um tipo de tumor, o mesotelioma (cancro na pleura, a membrana que cobre os pulmões) característico da exposição ao amianto”. O mesmo médico diz que “com muito raras exceções, o mesotelioma é quase só causado por isso. Muitas vezes, quando fazemos a análise do tecido de um pulmão afetado, vemos claramente as longas partículas de amianto.” A mesma jornalista escreve que “estudos internacionais indicam que a frequência de cancro do pulmão é dez vezes superior em trabalhadores expostos ao amianto durante 20 anos do que na população em geral. E se o risco de cancro é bastante mais elevado nas pessoas expostas a amianto de forma continuada, o perigo amplifica-se quando são também fumadoras” e assinala que “na Turquia percebeu-se que as mulheres de mineiros de amianto tinham um risco quatro vezes superior de ter cancro só por lavar a roupa dos maridos”.

Sem comentários: