sábado, 25 de julho de 2015

Plutão está coberto por uma névoa de 130 quilómetros

Jornal de Notícias - 25/07/2015
A agência espacial norte-americana NASA divulgou, este sábado, novas imagens de Plutão captadas pela sonda "New Horizons" que revelam que o planeta-anão está coberto por uma névoa.
 
A sonda, que passou perto do desconhecido Plutão na semana passada, numa missão que arrancou há quase uma década, continua a enviar informação para a equipa da NASA.
 
"As nossas expetativas foram mais que superadas. Com gelo solto, uma substância exótica na sua superfície, cordilheiras e uma ampla névoa, Plutão está a mostrar uma diversidade verdadeiramente emocionante de geologia planetária", disse em comunicado John Grunsfeld, um dos diretores adjuntos da NASA.
 
O "New Horizons" captou imagens que mostram uma névoa de 130 quilómetros por cima da superfície de Plutão, com duas capas bem diferenciadas, uma de 80 quilómetros e outra de cerca de 50 quilómetros.
 
"As névoas detetadas nesta imagem são um elemento chave da criação dos complexos compostos de hidrocarbonetos que dão à superfície de Plutão um tom avermelhado", acrescentou Michael Summers, um investigador da sonda "New Horizons" na universidade de George Mason, em Fairfaz (Virginia), citado no comunicado.
 
Alan Stern, o principal investigador da "New Horizons" em Boulder, Colorado, Estados Unidos, descreveu o ambiente de Plutão como "uma atmosfera extraterrestre" de uma "incrível beleza".
 
Até agora os cientistas estimavam que as temperaturas em Plutão fossem demasiado quentes para que se formassem neblinas a altitudes superiores a 30 quilómetros acima da superfície do planeta-anão.
"Precisamos de novas ideias para averiguar o que esta a ocorrer", disse Summers.
 
A missão do "New Horizons" também detetou nas imagens provadas de "gelos exóticos" na superfície de Plutão e assinalou uma atividade geológica recente.

Descoberta da NASA pode levar-nos ao futuro

Artigo de Anabela Natário - Expresso - 24/07/2015

O Kepler 452b, descoberto pela NASA e tido como “primo” do nosso planeta, poderá estar a enfrentar o que a Terra passará daqui a mais de mil milhões de anos. Será a nossa bola de cristal? E a vida, como é?
Neste cenário, o planeta acaba de entrar numa fase de efeito de estufa descontrolado na sua história climática. A energia crescente do seu sol envelhecido poderá estar a fazer evaporar quaisquer oceanos que existam, deixando grandes lagos pejados de depósitos minerais.
Roda em torno de uma estrela idêntica ao Sol, como a Terra, a uma distância parecida, na chamada zona habitável. É rochoso, com vulcões em atividade, e apresenta sinais de conter água em estado líquido - oceanos, como no planeta onde residem os humanos. Os seus descobridores dizem que é um primo mais velho do nosso planeta. Assim sendo, saber o futuro da Terra poderá estar ao nosso alcance. Mas é pouco animador.
 
O Kepler 452b, cuja descoberta foi anunciada quinta-feira pela NASA, orbita uma estrela - a Kepler 452 - que é parente próxima do nosso Sol, mas é 1500 milhões de anos mais velha. Tendo em conta a diferença de idades, o planeta pode estar a dar-nos uma antevisão do que sucederá à Terra daqui a mais de mil milhões de anos, à medida que o Sol for envelhecendo, tornando-se mais brilhante.
"É como olhar através de uma bola de cristal que mostra o futuro do nosso planeta." Quem o diz é o Instituto SETI, uma prestigiada organização privada norte-americana sem fins lucrativos, fundada em 1984 para se dedicar à investigação científica, à educação e à sensibilização do público para as questões da vida e que participa na Missão Kepler.
 
A nova descoberta vem incendiar a imaginação dos "caçadores de planetas", diz a NASA, já que é um planeta com a temperatura certa, dentro da zona habitável, e "tem apenas uma vez e meia o diâmetro da Terra, orbitando uma estrela muito parecida com o nosso próprio sol. O planeta também tem uma boa hipótese de ser rochoso, como a Terra".
Ter ou não rochas é o busílis da questão, já que os exoplanetas 60% maiores do que a Terra até agora descobertos são todos gasosos.
"Se for, de facto, um planeta rochoso, a sua localização face à estrela pode significar que está a entrar numa fase de efeito de estufa descontrolado da sua história climática", diz Doug Caldwell, cientista do SETI integrado na 0issão Kepler. "A energia crescente do seu envelhecido sol pode aquecer a superfície, fazendo evaporar os oceanos. O planeta pode estar a perder, para sempre, o vapor de água."
 
EVOLUÇÃO POUCO ANIMADORA
Até agora, face às descobertas, o 452b é o planeta mais semelhante ao nosso sistema solar, o seu "sol" tem até uma temperatura semelhante ao nosso, mas um diâmetro 10% maior e um brilho 20% superior, o que implicará uma temperatura mais alta em Kepler. O seu ciclo orbital é de 385 dias, mais 20 do que na Terra. Todavia, a sua evolução é pouco animadora para os padrões atuais.
A panorâmica não parece agradável neste exoplaneta que está na constelação do Cisne a 1400 anos-luz de distância do nosso planeta. Mas ainda pouco se conhece sobre este Kepler.
Sabe-se que 6 Kepler 452b é uma vez e meia maior do que a Terra, mas os astrónomos ainda não conseguiram medir a sua massa, usam "modelos para estimar uma gama de massas possíveis, sendo que a mais provável é cinco vezes a da Terra". E se for mais ou menos igual ao do nosso planeta, a probabilidade de ali se encontrar vida sobe verdadeiramente.
Mas de que falamos quando se fala de vida? “Nós imaginamos a vida (mesmo a definição de vida não é linear) como algo baseado na química do carbono, precisa de água. Nada me diz que não haverá outros processos químicos que podem dar origem a algo que poderemos também chamar de vida, mas não está comprovado que tal seja possível. Portanto, com base no conhecimento atual, o que podemos dizer é que, se tivermos as condições que existem na Terra, podemos ter vida, mais do que isso é especulação”, foi a resposta de Nuno Cardoso, há cinco anos, altura em que acabava de ganhar o prémio Viktor Ambartsumian por excecionais contributos para a ciência.
Nuno Cardoso, com base no Porto, lidera em Portugal o projeto Espresso (Echelle Spectrograph for Rocky Exoplanet and Stable Spectroscopic Observations), cujo objetivo é, precisamente, detetar planetas parecidos com a Terra ou a orbitar outras estrelas. Em 2010, trabalhava na elaboração de um catálogo de planetas habitáveis e acreditava que bastaria uma década para o concretizar - e duas ou três depois, um outro mais aliciante ainda, o dos “planetas com indicação de existência de vida”.
"Procuramos planetas semelhantes à Terra que tenham as mesmas condições, a existências de água líquida e que orbitem uma estrela parecida com o sol. É neste tipo de planetas que nós podemos encontrar vida, planetas fora do nosso sistema solar”, dizia há três anos ao Expresso, numa outra conversa sobre as mesmas interrogações, Nuno Cardoso Santos, um dos (ou mesmo O) astrofísicos portugueses mais conhecidos no estrangeiro pelo seu trabalho.
O astrofísico e professor encontra-se fora do país. O Expresso tentou contactá-lo, em vão, mas continuará a tentar saber se em 2020 já haverá essa lista de planetas para onde os humanos poderão um dia pensar viver e na qual estará certamente o Kepler 452b. “Estamos a desenvolver tecnologia que nos vai permitir detetar, nos próximos anos, planetas mais parecidos com a Terra e o passo seguinte será, naturalmente, procurar sinais de existência de vida”, dissera-nos Nuno Cardoso Santos.
 
 
 
MAIS UM PASSO NO ESPAÇO
A primeira descoberta de um planeta semelhante à Terra foi em 1995, mas todos os dias são descobertos astros. Desta vez, foi do telescópio Kepler, da NASA, e significa "mais um passo para se perceber quantos planetas habitáveis há por aí fora", como refere Joseph Twicken, do Instituto SETI e que é também o líder da programação científica da missão Kepler.
Twicken deixa uma garantia da parte dos norte-amerticanos, aliás idêntica à dos europeus: as investigações vão continuar para se saber se os outros candidatos - os outros 11 avistados através do Kepler, no caso - são mesmo planetas habitáveis. E um dia, neste campo, a realidade suplantará a ficção científica.

domingo, 12 de julho de 2015

Quais os efeitos dos sapatos de salto alto a longo prazo?

Green Savers - 12/07/2015
Investigadores da Universidade Hanseo, na Coreia do Sul, procuraram descobrir o que ocorre na estrutura corporal das mulheres quando elas usam saltos altos durante muito tempo.
Publicado recentemente na revista científica The International Journal of Clinical Practice, o estudo acompanhou universitárias de um curso para hospedeiras de bordo.
 
Durante um determinado período, as participantes tinham de usar salto alto durante as aulas – o treino era necessário, já que a maioria das companhias aéreas exige que as hospedeiras usem sapatos de salto alto. Os pesquisadores analisaram a capacidade de equilíbrio (utilizando uma superfície plana apoiada em um cilindro) e a força dos músculos do tornozelo das estudantes que faziam parte do nível iniciante, intermédio e avançado do curso. As iniciantes usavam menos tempo salto alto e as mais experientes faziam-no durante um período maior.
 
Segundo o agregador O Meu Bem Estar, os investigadores revelaram que o grupo de mulheres que estava a frequentar o curso de nível intermédio mostraram ter mais força nos músculos do tornozelo, sobretudo os localizados na parte interna e externa da junta, em comparação com as iniciantes, que usavam menos tempo saltos altos.
 
O estudo conclui ainda que o uso de sapatos de salto alto, num primeiro momento, estimula a adaptação do corpo e, portanto, exige uma maior força muscular, já que o tornozelo faz um esforço maior para se adaptar à mudança.
 
Contudo, as mulheres que usavam durante mais tempo sapatos de salto alto apresentavam um enfraquecimento dos músculos em comparação com as participantes dos outros dois grupos.
 
Além disso, os músculos da região frontal e traseira do tornozelo das mulheres com mais tempo de curso também se mostraram mais fracos – estas participantes tiveram inclusive um desempenho muito inferior em relação às restantes quando foi analisada a capacidade de equilíbrio. O estudo revelou também que, após anos de uso do salto alto, os músculos do tornozelo ficam mais instáveis, escreve a Veja.

Os sinais de envelhecimento que podem aparecer a partir dos 20 anos

Green Savers - 12/07/2015
O envelhecimento é uma fase fisiológica com características próprias, tal como o crescimento ou a idade adulta. Apesar dos sinais de envelhecimento serem discretos, é importante reconhecê-los. No entanto, se está à espera que estes sinais só surjam numa idade mais avançada, sabia que, segundo um novo estudo realizado pela Universidade Duke, nos Estados Unidos, os diferentes aspectos do envelhecimento podem ser detectados em pessoas a partir dos 20 anos de idade.
 
As conclusões, publicadas na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, foram encontradas a partir de um grupo de 954 pessoas nascidas na Nova Zelândia em 1972 e 1973, escreve a Veja, citada pelo agregador O Meu Bem Estar.
 
Os cientistas recolheram dados dos participantes sobre vasos sanguíneos nos olhos, higiene bucal, metabolismo, sistema imunológico e função de órgãos como rim, pulmão e fígado dos participantes. E também mediram a taxas de colesterol, os níveis de condicionamento físico e o comprimento dos telómeros, estruturas localizadas nas extremidades dos cromossomas que costumam ter o tamanho reduzido com o avanço da idade. Os neozelandeses foram observados aos 26, 32 e 38 anos.
 
Utilizando 18 medições diferentes, os pesquisadores determinaram uma espécie de idade biológica para cada participante com 38 anos. O resultado: alguns registraram uma idade biológica inferior a 30 anos e outros chegavam a ultrapassar os 60.
 
Para aqueles que tiveram um processo de envelhecimento mais rápido, foi observado que os sinais de deterioração eram evidentes aos 26 anos, quando a primeira avaliação clínica foi realizada. A maioria das pessoas observadas, contudo, envelheceu de acordo com a taxa esperada. Ou seja, um ano biológico para cada ano cronológico – ou até menos.
 
Além disso, os investigadores solicitaram a um grupo de estudantes da universidade que observassem fotografias dos participantes do estudo e classificassem aqueles que consideravam ser mais velhos. Aqueles considerados com idade mais avançada pelos estudantes eram os mesmos que tiveram o processo de envelhecimento mais rápido no estudo.
 
Os investigadores esperam que as descobertas sirvam para que as pessoas possam, no futuro, com auxílio de testes mais acessíveis, descobrir a rapidez com a qual estão envelhecendo aos 20 anos e tomar medidas para prevenir possíveis doenças e sinais da idade. “Isso dá-nos alguma esperança de que a medicina possa ser capaz de retardar o envelhecimento e dar mais anos saudáveis às pessoas activas”, disse o autor sénior do estudo, Terrie Moffitt, professor de psicologia e neuro-ciência na Universidade de Duke.

6 inimigos pouco conhecidos do sistema imunitário e como combatê-los

Green Savers - 11/07/2015
Para ter um sistema imunitário de ferro é preciso alimentar-se bem, fazer exercício físico e não stressar. Mas seguir apenas estas regras pode não ser suficiente para proteger a sua saúde.
 
A qualidade do sono ou mesmo das relações com amigos e familiares são também factores importantes para que o sistema imunitário se proteja das doenças.
 
Confira abaixo alguns factores menos conhecidos que derrubam as defesas do organismo e como combatê-los, segundo a Veja e o agregador O Meu Bem Estar.
 
1.Dormir mal
Dormir menos de seis horas por noite pode desregular o ritmo circadiano (período de 24 horas em que se completam as atividades biológicas do organismo), causando a falha na produção de substâncias importantes para o bom funcionamento do organismo. Entre elas, os corticoides, anti-inflamatórios do organismo. O sono durante a noite também induz a fabricação de melatonina, hormona que ajuda na produção de leucócitos que combatem microrganismos e evitam as doenças. Sem eles, a porta fica aberta para as infecções. O ideal é dormir entre 7 a 8 horas de sono por noite, num ambiente escuro e silencioso e com uma temperatura agradável.
 
2.Exagerar na comida fast-food
A falta de alguns nutrientes, provocada pela má alimentação, afecta o sistema imunitário. A vitamina C tem sido associada a uma boa imunidade, pois é um importante antioxidante. O nosso “exército de defesa” é formado por células que nascem e morrem a todo o momento, num processo contínuo de renovação: quando há algum quadro de infecção, as células de defesa no organismo aumentam e, quando a resposta inflamatória acaba, as células morrem. A vitamina C evita a morte (ou a oxidação) de uma parte dessas células, deixando o nosso corpo mais preparado para lutar contra os agentes externos. É importante, portanto, seguir uma dieta equilibrada com leites e iogurtes (para o fortalecimento do sistema imunitário), cereais integrais, castanhas, sementes e leguminosas, (fontes de zinco), peixes e azeite (contêm ómega-3) e arroz integral, semente de girassol ou soja (com vitamina B).
 
3.Viver stressado
Fases de trabalho excessivo ou problemas familiares intensos podem levar a alterações cardiovasculares, como pressão alta e taquicardia. Esse tipo de situação também aumenta a produção de corticoides, hormonas que, em excesso, diminuem a actividade e a eficiência do sistema imunitário. Para o médico João Viola, investigador do Instituto Nacional do Cancro (Inca) e presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIM), “o ideal é fazer pausas no trabalho para respirar ou ter momentos de folga das discussões familiares”. Estudos demonstram que a meditação é um bom aliado para relaxar, lidar melhor com o stress e reforçar as defesas do organismo.
 
4.Passar muito tempo sozinho
Um estudo publicado em 2013 mostrou que a solidão pode enfraquecer o sistema imunitário e deixar o corpo mais vulnerável a doenças como herpes ou quadros de inflamações crónicas, como artrite reumatóide e diabetes tipo 2. Isso acontece porque a solidão é um tipo de stress, situação que afecta as defesas do organismo. A melhor arma contra a solidão é procurar amigos, familiares ou colegas de trabalho, que ajudem a relaxar. Outra opção é fazer actividades em grupo.
 
5.Fumar e beber
O consumo prolongado de álcool e cigarro inibe a resposta imunitária do organismo. Isso faz com que algumas infecções, como as respiratórias, de garganta e de boca, surjam. Evitar o tabaco e as bebidas alcoólicas previne não só a baixa imunidade, mas também doenças mais sérias como o cancro de pulmão e de boca. Alguns estudos mostram, no entanto, que o consumo moderado de vinho ou cerveja pode proteger contra doenças cardiovasculares.
 
6.Manter hábitos sedentários
Ficar parado durante um longo tempo diminui o metabolismo e torna o corpo mais lento na hora de produzir as células do sistema imune. Por isso, tente fazer exercícios físicos, com actividades constantes e regulares. Os exercícios aeróbicos, como ginástica ou corridas, são os mais indicados pela Sociedade Brasileira de Imunologia.

Hibernação animal pode dar-nos dicas para combater a doença de Alzheimer

Green Savers - 12/07/2015

A forma como os animais acordam de um longo e frio Inverno, depois da hibernação, pode ajudar os cientistas a descobrir novos tratamentos para a demência e doença de Alzheimer. Uma pesquisa da Universidade de Leicester isolou uma proteína activada pelo frio, a RBM3, que ajuda a restabelecer a actividade cerebral dos animais que estão a sair de um longo período de hibernação.
Segundo o Inhabitat, apesar de a proteína existir nos humanos, ela desparece nos doentes de Alzheimer, uma vez que os seus cérebros possuem um número reduzido de sinapses.
Quando os animais entram em hibernação, o número de sinapses do seu cérebro diminui, permitindo-lhes entrar num estado prolongado de inactividade. Depois, a proteína RBM3, activada pelo frio, reconstrói as sinapses quando o animal acorda, recuperando a sua actividade cerebral normal.
A pesquisa acredita que uma droga que reproduza o efeito desta proteína tem o potencial de restaurar a função cerebral perdida nos indivíduos que sofrem de desordens neurodegenerativas.
“O caminho identificado neste estudo pode ser um passo importante”, explicou Hugh Perry, presidente da Medical Research Counsil’s Neurosciences and Mental Health Board. “Agora precisamos de descobrir algo que reproduza o efeito do cérebro a arrefecer. Tal como os medicamentos anti-inflamatórios são preferíveis a banhos frios para baixar a temperatura, precisamos de descobrir medicamentos que possam induzir os efeitos da hibernação e hipotermia”.
A hipotermia é conhecida por proteger o cérebro, pelo que os investigadores britânicos procuram determinar se, ao arrefecerem os cérebros dos pacientes com Alzheimer, podem prevenir a perda sináptica.
O estudo foi publicado no jornal Nature.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Novo tratamento para cancro tem bons resultados, mas é caro

 3 Julho 2015 // Susana Krauss // Notícias // Lusa
Um novo tratamento para o cancro, baseado na ativação do sistema imunológico, através de moléculas biológicas, tem "resultados muito interessantes", mas é caro e a sua aplicação vai depender da decisão dos responsáveis hospitalares, afirmou hoje um especialista.
 
"Estes tratamentos são uma grande revolução e estão indicados para cancros mais avançados, pois para cancros em fases iniciais temos outras alternativas", disse à agência Lusa o vice diretor do Instituto de Medicina Molecular (IMM).
 
Bruno Silva Santos avançou que o tratamento, na área da imunoterapia, chamado pembrolizumab, vai estar disponível em Portugal a partir deste mês e "é necessário que o Sistema Nacional de Saúde tenha dinheiro para comparticipar", uma decisão que "tem de ser tomada ao mais alto nível nos vários hospitais", pois é "realmente caro", custando cerca de 100 mil euros.
 
Já o ipilimumab, o outro tratamento que segue o mesmo princípio, já está aprovado nos EUA e na Europa e é usado em Portugal para o melanoma metastático e "é impressionante o efeito que essa molécula teve", acrescentou.
 
O investigador falava a propósito de um encontro marcado para sábado, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, para informar profissionais ligados à investigação pré-clínica e à prática clínica acerca do avanço desta alternativa.
 
"Trata-se de anticorpos, moléculas biológicas produzidas por células vivas", diferentes dos tratamentos feitos com drogas químicas, como a quimioterapia, e que começaram por ser usadas no tratamento do melanoma metastático, referiu.
 
No último ano, os resultados foram alargados a outros tipos de cancro, incluindo o do pulmão, e atualmente decorrem ensaios clínicos para perceber em que cancros sólidos estes anticorpos têm resultados mais interessantes.
 
"O que eles fazem é remover o travão que impede que o sistema imunitário, neste caso os linfócitos T, esteja ativamente a combater o cancro", explicou, e o objetivo é "reverter o processo em que o sistema imunitário está a perder a batalha para o cancro".
 
Até agora, tentava-se focar a luta nas células cancerígenas, eliminando-as com quimioterapia, radioterapia ou com cirurgia, mas em muitos casos os cancros são resistentes a estas terapias.
Para poder receber este tratamento, o doente não pode estar demasiado debilitado ou ter doenças autoimunes.
 
"Se tivermos um tumor em estadio 1 e 2, os estados iniciais, ainda são relativamente fáceis [de ser] alvejados pelos outros tratamentos mais baratos, mais estabelecidos na clínica e de mais fácil acesso", enquanto a imunoterapia "surge para os estadios 3 e 4 que são casos mais avançados".
 
E para o cancro do pulmão, "tipicamente induzido pelo fumo do tabaco, este tratamento pode dar uma nova esperança", realçou o responsável do IMM, um dos especialistas a participar no encontro.
 
Acerca do valor do novo tratamento, Bruno Silva Santos defendeu ser necessário fazer as contas ao custo dos outros tratamentos, nomeadamente quando se prolongam por vários anos.
 
"Os locais credenciados para tratamentros médicos de saude têm todos e por igual acesso a este tratamento, depois é a questão de quem é que consegue pagar", admitiu.
 
Perante a taxa de sucesso entre 50% e 60% apresentada pela imunoterapia, os investigadores procuram "biomarcadores, parâmetros biológicos, que permitam prever a resposta dos doentes para otimizar os recursos".

Há cada vez mais casos de cancro e doenças pulmonares associados ao tabaco em Portugal

Lusa - Público - 23/06/2015
Nos últimos dois anos o número de fumadores aumentou de 23 para 25%. Há um aumento de fumadores em idades mais jovens e o número de mulheres fumadoras já se aproxima dos homens.
 
O cancro e a doença pulmonar obstrutiva crónica associados ao consumo de tabaco estão a aumentar em Portugal, disse à agência Lusa Ana Maria Figueiredo, coordenadora da comissão de tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. "Há apenas uma diminuição da incidência das doenças cardiovasculares associadas ao tabagismo devido às novas tecnologias, mas a incidência de cancro está a aumentar, tendo-se registado nos últimos dois anos um aumento de 23 para 25% no número de fumadores", sublinhou a médica.
 
Ana Maria Figueiredo, que falava a propósito do Congresso de Pneumologia do Centro, que se realiza na quinta e na sexta-feira, em Viseu, salientou que se regista um aumento de fumadores em idades mais jovens e que o número de mulheres fumadoras se aproxima dos homens. Ao longo de dois dias, cerca de 250 participantes vão analisar e debater as "perigosas alternativas" ao tabaco e rastreio no cancro do pulmão.
 
Segundo a especialista, verifica-se um aumento do cancro do pulmão e de outros tumores associados ao consumo de tabaco. A coordenadora da comissão de tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia defende uma legislação mais restritiva sobre o tabaco, sem excepções, referindo que "nos países com legislação mais restritiva existem menos jovens a iniciarem-se no tabagismo". "Haverá outros factores para o aumento do número de fumadores, mas precisamos de uma legislação forte que seja cumprida, que tenha vigilância no terreno", frisou Ana Maria Figueiredo, que considera "importante os mais jovens viverem num ambiente em que fumar não é regra".
 
O Congresso de Pneumologia do Centro visa, segundo a médica, discutir as novas alternativas ao tabaco, como por exemplo os cigarros electrónicos, tabaco de mascar ou cachimbos de água, que são igualmente prejudiciais à saúde. "A forma saudável de fumar é não fumar", enfatizou Ana Maria Figueiredo, também pneumologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que espera uma mudança de paradigma na sociedade portuguesa para que as pessoas sejam informadas dos malefícios de todas as formas alternativas aos fumadores.
 
A organização do congresso envolve a cadeira de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, o Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, do Centro de Diagnóstico Pneumológico de Viseu, o Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário de Coimbra e a Associação de Estudos Respiratórios.
 
Durante a sua realização, serão discutidos temas como a "Tuberculose", "A Terapêutica antibiótica inalatória", os "Limites da patologia intersticial e do tecido conjuntivo", "Tabagismo: novas e perigosas alternativas", "Cancro do Pulmão e Asma brônquica" e "Rastreio no Cancro do Pulmão".

OMS classifica lindano como “cancerígeno para os humanos”

Kate Kelland - Público - 23/06/2015
Para além deste insecticida, o conhecido DDT e um herbicida, o 2,4-D, passaram a ser considerados como potenciais causadores de cancros pela Organização Mundial da Saúde.
Um agricultor fotografado em 2005 a aplicar pesticida num arrozal nos arredores de Hanoi, no Vietname
O lindano, um insecticida que em tempos foi muito utilizado na agricultura, bem como contra os piolhos e para tratar a sarna nos seres humanos, provoca cancro e foi especificamente relacionado com o linfoma dito não-Hodgkin, anunciou nesta terça-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS).
 
A IARC (a agência internacional do estudo do cancro da OMS) disse também que o DDT (dicloro-difenil-tricloroetano) causa provavelmente o cancro, uma vez que os resultados de estudos o relacionam com o linfoma não-Hodgkin, o cancro dos testículos e o cancro do fígado.
 
Numa reavaliação dos diversos compostos químicos utilizados na agricultura, um painel de especialistas declarou agora que tinha decidido colocar o lindano no Grupo 1 da classificação definida pela IARC, que inclui os compostos “cancerígenos para os humanos”; o DDT no Grupo 2A dos compostos “provavelmente cancerígenos para os humanos”; e o herbicida 2,4-D (ácido diclorofenoxiacético) no Grupo 2B dos compostos “possivelmente cancerígenos para os humanos.
 
A decisão em relação ao 2,4-D, salientou o painel, deveu-se ao facto de não terem sido detectados indícios fortes ou sistemáticos de aumento do risco de linfoma não-Hodgkin ou de outros cancros após a exposição àquele herbicida. Contudo, existem indícios que sugerem fortemente que o 2,4-D provoca “stress oxidativo”, um processo que pode danificar as células do organismo — e ainda indícios moderados de que esta substância pode ter efeitos imunossupressores.
 
O lindano, cujo uso foi banido ou restringido a partir de 2009 na maioria dos países, ao abrigo da Convenção de Estocolmo relativa a poluentes orgânicos persistentes, era anteriormente muito utilizado como pesticida na agricultura. Todavia, uma isenção prevista na lei permite que continue a ser usado como tratamento de segunda linha contra os piolhos e a sarna.
 
A IARC disse que exposições a altas doses de lindano tinham previamente sido reportadas entre trabalhadores agrícolas e pessoas que aplicam pesticidas — e que “grandes estudos epidemiológicos da exposição associada à agricultura nos EUA e no Canadá mostram um risco acrescido de 60% de contrair linfoma não-Hodgkin nas pessoas expostas ao lindano”.
 
O DDT foi introduzido para combater doenças transmitidas por insectos durante a Segunda Guerra Mundial e mais tarde o seu uso generalizou-se na luta pela erradicação da malária e na agricultura. Embora a maior parte dos seus usos tenham sido banidos já nos anos 1970, a IARC avisa que os seus subprodutos são “altamente persistentes e podem ser detectados no ambiente e nos tecidos animais e humanos no mundo inteiro” — acrescentando que “a exposição ao DDT ainda se verifica, principalmente através dos alimentos”, e que o DDT ainda é utilizado contra a malária em certas regiões de África, embora em condições muito controladas.
 
Quanto ao 2,4-D, desde a sua introdução em 1945 foi muito utilizado como herbicida na agricultura, nas florestas e em meio urbano e residencial. A IARC explica que a exposição profissional ao 2,4-D pode ocorrer durante o seu fabrico e aplicação — e que a população em geral também pode ser exposta a este composto através da alimentação, da água, do pó ou da aplicação doméstica, nomeadamente com pulverizadores.

Descoberto potencial teste de despistagem precoce do cancro do pâncreas?

Ana Gerschenfeld - Público - 24/06/2015
Os resultados são ainda muito preliminares, mas um novo estudo, cuja autora principal é portuguesa, permite vislumbrar uma possível forma de detectar este cancro para o conseguir tratar antes que se torne letal.
Umas gotas de sangue poderão bastar para detectar o cancro do pancreas de forma precoce
A maioria dos cancros do pâncreas é mortal. Isto porque, quando eles são detectados, já se encontram em geral num estado muito avançado, tendo-se espalhado para outros órgãos, o que impossibilita qualquer tratamento eficaz, cirúrgico ou outro. Até agora, não se vislumbravam potenciais testes de diagnóstico precoce deste cancro. Mas a situação poderá vir a mudar, como o sugere uma descoberta publicada esta quarta-feira na revista Nature.
 
O estudo, cuja autora principal é a cientista Sónia Melo, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), mostra que o cancro do pâncreas produz, no sangue dos doentes, uma “assinatura biológica” da sua presença. E sugere que esta assinatura poderá estar presente nos doentes bem antes de o seu cancro ser detectável por métodos convencionais tais como a ressonância magnética ou o exame das alterações microscópicas do tecido afectado.
 
Mais precisamente, a marca do cancro do pâncreas, descobriram estes cientistas, é uma proteína específica, presente à superfície de diminutas vesículas – chamadas exossomas – que normalmente circulam no sangue.
 
“Todo nós temos exossomas a flutuar no nosso sangue”, explicou em entrevista à Nature Raghu Kalluri, da Universidade do Texas (EUA) e líder do estudo. Diga-se de passagem que este cientista também tem uma ligação a Portugal: foi o primeiro director do Centro do Cancro da Fundação Champalimaud, em Lisboa.
 
“Todas as células do nosso corpo se livram do excesso de proteínas de vez em quando e estas passam a circular no sangue dentro dos exossomas, que são umas bolinhas do tamanho de um vírus”, salientou. E como os exossomas informam sobre as células que os produziram, “a nossa ideia foi que talvez fosse possível conhecer a ‘carga cancerosa’ de um doente a partir [das características] dos seus exossomas.”
 
Foi assim que a equipa descobriu que uma proteína, chamada glipicano-1 (GPC1), só está presente à superfície dos exossomas dos doentes com cancro do pâncreas – e nunca, ao que tudo indica, nos das pessoas que não padecem este cancro.
 
“Esta proteína também se encontra nos exossomas associados a outros cancros”, explicou ainda Kalluri, “mas no caso do pâncreas, a correlação é de 100%”. Ou seja, todos os doentes com cancro do pâncreas testados apresentavam níveis aumentados de GPC1, enquanto as pessoas sãs ou com lesões benignas do pâncreas não tinham esta proteína.
 
“Bastaram 150 a 200 microlitros de sangue [correspondentes a três a quatro gotas] para conseguirmos isolar os exossomas no soro e testar a presença da proteína”, diz Kalluri.
 
Os cientistas realizaram um ensaio clínico – junto de uma centena de doentes com cancro do pâncreas já em estado avançado e de um grupo de pessoas sãs – e viram que, de facto, o teste conseguia distinguir “com absoluta sensibilidade e especificidade”, nas palavras da Nature, os doentes dos não doentes.
 
O teste também permitiu detectar a presença da proteína em causa nos exossomas de cinco doentes com lesões malignas do pâncreas mais precoces. No entanto, para além desta amostra ser demasiado pequena para permitir avaliar a fiabilidade do teste, estes doentes já tinham sido diagnosticados e já apresentavam sintomas da doença. O que faz dizer a Paul Pharoah, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), em declarações aos jornalistas, que ainda “não há provas de que os exossomas positivos para a GPC1 já estejam presentes no sangue antes que os sintomas se manifestem”.
 
Esta seria de facto a prova de fogo para um potencial teste de diagnóstico do cancro do pâncreas capaz de salvar vidas – algo que Alastair Watson, da Universidade de East Anglia (Reino Unido) chama de “santo graal da medicina oncológica”. Watson aponta contudo um obstáculo prático à utilização de um teste deste tipo: a sua complexidade, uma vez que exige obter um "concentrado" de exossomas, pode torná-lo difícil de realizar de forma rotineira nos laboratórios de análises clínicas.
 
Quanto à sua potencial fiabilidade, há contudo um sinal positivo: quando os cientistas testaram a nova abordagem em ratinhos com uma predisposição genética para o cancro do pâncreas, observaram que, nestes animais, era de facto possível detectar a GPC1 nos exossomas mesmo quando as lesões cancerosas dos animais ainda não eram detectáveis por ressonância magnética, explica o IPATIMUP em comunicado.
 
Apesar de uma óbvia prudência e dos vários problemas que apontam, os vários especialistas inquiridos não escondem que acham estes resultados potencialmente muito importantes.
 
Em particular, Clotilde Théry, do Instituto Curie (França) que comenta o estudo na mesma edição da Nature, escreve que os resultados “mostram pela primeira vez que as vesículas em circulação no sangue podem ser uma fonte de biomarcadores específicos e fiáveis para o diagnóstico do cancro”. E acrescenta que “as potenciais implicações de um teste deste tipo são gigantescas.”
 
Kalluri, que não nega que ainda há muito trabalho pela frente para confirmar a real utilidade clínica desta abordagem, mostra-se confiante: “Esperamos que daqui a uns anos seja possível utilizar este resultado para diagnosticar o cancro do pâncreas”, conclui.

Um novo método identifica à primeira as resistências do bacilo da tuberculose

Nicolau Ferreira - Público - 29/06/2015
Taane Clarke é o investigador da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres responsável por um método capaz de identificar em poucas horas as resistências do bacilo da tuberculose em cada doente.
 
Chama-se In silico e é uma biblioteca onde estão identificadas as variações do ADN do bacilo da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis) associadas à resistência desta bactéria a 15 antibióticos. Esta base de dados promete mudar completamente a identificação das resistências do bacilo da tuberculose de cada doente.
 
Uma análise que, antes, podia chegar a demorar meses a fazer, poderá ser obtida em algumas horas com uma simples sequenciação genética, que compara o ADN do bacilo com as mutações que estão na base de dados, permitindo determinar quais os fármacos que cada doente deve tomar. Taane Clark, neozelandês a trabalhar na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, liderou a equipa que construiu esta base de dados, e que contou com Miguel Viveiros, especialista em tuberculose do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em Lisboa, além de investigadores do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Segundo o cientista, que visitou o IHMT, este método poderá vir a ser usado nos hospitais por um preço “relativamente barato”. Só em 2013, a tuberculose matou 1,5 dos nove milhões de pessoas doentes. Apesar da prevalência da doença estar a diminuir, as resistências aos fármacos continuam a aumentar.
  
Como é que se analisa a resistência do bacilo da tuberculose num doente?
Uma das formas é obter a expectoração e cultivar as bactérias [no laboratório] na presença de fármacos. Vê-se directamente a resistência da bactéria. Sabemos que a bactéria cresce e divide-se muito lentamente, leva semanas, às vezes meses. Por isso, pode demorar até sabermos quais são as resistências. Há ainda alguns kits de análise que olham para determinadas mutações do bacilo da tuberculose [que dão resistência a determinados antibióticos]. Mas estes kits só conseguem detectar um número muito pequeno de mutações.
 
Qual é o problema de não se identificar as resistências de um bacilo de um doente?
Se se dá ao doente o fármaco errado isso faz falhar o tratamento, o que leva a menos hipóteses de uma cura.
 
Qual a novidade da base de dados In silico?
Podemos retirar uma amostra [de um doente] e sequenciar o genoma do bacilo desse doente, e aí vamos ter toda a sequência de ADN da bactéria. O que temos estado a fazer, em conjunto com outros colegas, é olharmos para as mutações do ADN associadas a diferentes tipos de resistências a fármacos. Com essa informação podemos fazer rapidamente um perfil da bactéria e das suas principais resistências, o que vai ajudar na forma como se define o tratamento do doente. Muita desta nova tecnologia está a ser colocada nos laboratórios de microbiologia e em hospitais. No futuro, o diagnóstico vai ser muito rápido.
 
Já se conhecem todas as mutações do bacilo da tuberculose?
Nós compreendemos os genes envolvidos e as mutações envolvidas. Em alguns dos novos fármacos, que pertencem à segunda linha de tratamentos, não sabemos todos os genes envolvidos [na resistência das bactérias a esses fármacos]. Por isso, estamos a trabalhar com vários parceiros e já sequenciámos o genoma de muitos milhares de bactérias de todo o mundo em que conhecemos o perfil de resistência aos fármacos e o mecanismo dessa resistência.
 
Quando é que este método de diagnóstico vai ser usado nos doentes?
Para já, tem sido usado como instrumento de investigação. Alguns hospitais têm ido buscar a informação da base de dados. Este instrumento não só dá a informação sobre o potencial de uma bactéria para as resistências, a base de dados também diz de que estirpe a bactéria é. E há algumas estirpes que são mais virulentas do que outras. A estirpe de Pequim é muito virulenta, a estirpe de Lisboa também é muito virulenta. Além disso, num hospital é possível armazenar a informação da sequência genética de uma estirpe. Se, daqui a uma semana, o hospital encontrar a mesma bactéria num outro doente, há provavelmente aqui uma prova de transmissão. Por isso, esta tecnologia permite detectar transmissões.
 
Será acessível para os doentes?
O custo desta tecnologia está a diminuir. E se estivermos a falar de uma enfermaria especializada para a tuberculose num hospital, é possível analisar várias amostras ao mesmo tempo. Por isso, pode ser relativamente barato. Principalmente se compararmos com os fármacos que se utilizam. Se dermos a um doente o antibiótico errado e o tratamento falhar, há um custo associado a essa falha. No futuro, a tecnologia será muito mais barata e o tamanho das máquinas vai ser mais reduzido, potencialmente estas máquinas poderão ser transportadas à mão. Não tenho a certeza de quanto é o custo de um tratamento total contra a tuberculose, talvez seja dezenas de milhares de libras (uma libra vale 1,4 euros). O custo de uma sequenciação do genoma é de cerca de 50 libras (70 euros).
 
A vossa base de dados continua a evoluir?Estamos a tentar relacionar as sequências genéticas com os perfis da resistência aos fármacos para encontrar novos marcadores de resistência e potencialmente também novos mecanismos de resistência. Com esta informação, podemos aprender mais sobre o que é que a bactéria está a fazer, qual é a função das novas mutações. Isso é muito importante porque podemos permite desenvolver novas ferramentas, diagnósticos e possivelmente tratamentos — e, algures no futuro, uma vacina.

De como a bactéria da peste se tornou letal e mudou a história do mundo

Ana Gerschenfeld - Público - 01/07/2015
Cientistas descobriram como, há pelo menos 1500 anos, o microorganismo que provoca a temível peste bubónica deixou de ser uma gastroenterite e tornou-se rapidamente mortífero.
Triunfo da Morte, por Pieter Bruegel, o Velho (c. 1562), Museu do Prado, Madrid
A inserção no seu ADN de um só gene, seguida de uma mutação nesse mesmo gene, bastou para transformar radicalmente uma bactéria relativamente inócua e dar origem a outra, muito mais temível: Yersinia pestis, causadora das grandes pandemias de peste bubónica que dizimaram a população europeia a partir do século VI da nossa era. Esta é a conclusão de um estudo publicado esta terça-feira na revista Nature Communications por cientistas norte-americanos.
 
A bactéria da peste é muito semelhante, do ponto de vista genético, a uma outra bactéria, mais antiga, chamada Yersinia pseudotuberculosis, que provoca uma infecção gastrointestinal. E os especialistas pensam que Y. pestis terá de facto evoluído a partir de Y. pseudotuberculosis há entre 20.000 e 1500 anos.
 
A mais tristemente célebre forma da peste é a peste bubónica, uma infecção generalizada do organismo humano que transforma os gânglios linfáticos nos característicos “bubões” – a marca mais aterradora desta praga que dizimou por várias vezes as populações da Europa durante a era cristã.
 
Sabe-se hoje, com base no estudo genético de Y. pestis, que a primeira pandemia historicamente documentada de peste bubónica foi a chamada “praga de Justiniano”. Entre os anos de 541 e 750, a doença matou mais de metade da população europeia e contribuiu para a queda do Império Romano do Oriente. Mais tarde, durante a Idade Média, uma outra grande pandemia de peste bubónica, que ficou na História como Peste Negra, mataria, entre 1347 e 1351, mais de 100 milhões de pessoas. A Europa demoraria 150 anos a recuperar da catástrofe.
 
Até aqui, porém, não se conheciam ao certo os pormenores genéticos desta radical mudança bacteriana que alterou a história mundial. Mas agora, a equipa de Wyndham Lathem, especialista de microbiologia e imunologia da Universidade Northwestern, descobriu que essa evolução se processou em duas etapas.
 
Numa primeira fase, a bactéria da peste a que Y. pseudotuberculosis dera origem apenas era capaz de infectar os pulmões das suas vítimas, provocando pneumonias fulminantes, altamente contagiosas e letais. Mas foi só numa segunda fase que a bactéria Y. pestis se transformou em peste bubónica. E a sua primeira manifestação "global", como já foi referido, surgiu, ao que tudo indica, no ano 514.
 
Mais precisamente, o que estes investigadores demonstraram agora foi que bastou que a bactéria ancestral (e relativamente inócua) Y. pseudotuberculosis adquirisse a dada altura um gene (e só um), designado Pla, para a primeira e letal forma de Y. pestis, causadora de pneumonias, emergir. E que a seguir, bastaria uma mutação no gene Pla para transfomar a forma pneumónica na forma bubónica da doença.
 
“Os nossos resultados mostram que Y. pestis já era capaz, numa fase muito precoce da sua evolução, de causar graves infecções respiratórias”, diz Lathem em comunicado da sua universidade.
 
Há quanto tempo terá acontecido esta primeira alteração evolutiva? “É uma pergunta de difícil resposta”, respondeu Lathem ao PÚBLICO por email. “Por enquanto, apenas podemos supor que a transição ocorreu há mais de 1500 anos” (isto é, antes do início da praga de Justiniano).
 
Seja como for, os cientistas quiseram testar a hipótese, proposta por Lathem, segundo a qual o gene Pla, que comanda o fabrico de uma proteína de superfície da bactéria Y. pestis, aumenta fortemente a capacidade de a bactéria infectar os pulmões. Para isso, utilizaram a estirpe mais ancestral, do ponto de vista genético, de todas as estirpes de Y. pestis actuais.
 
Primeiro, verificaram que, embora esta estirpe ancestral já conseguisse colonizar os pulmões de ratinhos, ainda era incapaz de provocar pneumonias graves. E depois, inseriram o gene Pla no ADN dessa estirpe ancestral – e aí sim, constataram que a bactéria alterada causava nos animais a forma pneumónica da peste. Por último, descobriram que uma única mutação no gene Pla era essencial para a bactéria se conseguir espalhar ao resto do organismo, dando lugar à forma bubónica da peste.
 
“É provável que as bactérias já fossem capazes de provocar peste bubónica antes da mutação no gene Pla surgir, mas pensamos que terá sido de forma menos eficiente”, diz-nos Lathem. “O que pensamos é que essa mutação foi um dos principais factores que permitiram que Y. pestis, que até lá causava epidemias localizadas, se tornasse pandémica.”
 
O que é que esta descoberta implica em termos de futuras potenciais pandemias humanas? “Acho que o nosso estudo reforça a ideia de que pequenas alterações genéticas podem ter um imenso impacto na capacidade patogénica de uma bactéria”, responde-nos Lathem. “E sugere que pequenos eventos do mesmo tipo possam ter grande impacto noutras bactérias”.
 
Questionado pelo PÚBLICO acerca de perigosidade potencial de realizar este tipo de experiências no laboratório, Lathem responde que “é da responsabilidade dos cientistas não inserirem dentro de microrganismos patogénicos capacidades que possam afectar o seu potencial infeccioso ou aumentar o número de possíveis hospedeiros”. Contudo, acrescenta que no estudo, não conferiram a Y. pestis "qualquer capacidade que não tivesse naturalmente, uma vez que todos os casos humanos de peste são causados por estirpes portadoras do gene Pla.” E conclui: “Para além disso, o nosso trabalho é feito em instalações de alta segurança, sob a supervisão de múltiplas agências e grupos – e por pessoas altamente treinadas na manipulação adequada de Y. pestis.”

Cuba é o primeiro país a eliminar transmissão do VIH de mãe para filho

Juliana Martins - Público - 01/07/2015
Organização Mundial da Saúde fala de “um passo importante para a conquista de uma geração livre de sida”.
Cuba providencia cuidados básicos de saúde a todos os seus cidadãos de forma gratuita
A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou nesta terça-feira que Cuba foi o primeiro país a eliminar a transmissão de mãe para filho do vírus da imunodeficiência humana (VIH) e da bactéria Treponema pallidum causadora da sífilis, durante a gravidez, parto e aleitamento.
 
“Eliminar a transmissão de um vírus é uma das maiores conquistas para a saúde pública possível”, disse Margaret Chau, directora-geral da OMS, sublinhando tratar-se de “uma grande vitória na nossa luta contra o VIH e contra as infecções sexualmente transmissíveis e um passo importante para a conquista de uma geração livre de sida”.
 
Segundo os parâmetros da OMS, a eliminação da transmissão de um vírus acontece quando há “uma redução da transmissão a níveis que já não constituam um problema de saúde pública”, o que aconteceu em Cuba em 2013. Nesse ano nasceram apenas dois bebés com VIH e cinco com sífilis congénita.
 
Por ano, globalmente, cerca de 1,4 milhões de mulheres portadoras do VIH engravidam, segundo dados do centro norte-americano de Controle e Prevenção de Doenças. Sem qualquer tipo de tratamento, há uma hipótese que varia entre os 15 e os 45% de a mãe transmitir o vírus da sida à criança durante a gravidez, o parto e o aleitamento. Mas a solução é relativamente simples. Caso mãe e criança sejam tratadas com medicamentos anti-retrovirais durante as fases em que é possível ocorrer a transmissão, a probabilidade de isso acontecer reduz-se para 1%. No caso da sífilis — uma doença que, segundo a OMS, afecta quase um milhão de mulheres grávidas a cada ano e que pode causar morte fetal —, para que não haja transmissão basta que após o diagnóstico a grávida seja tratada com penicilina.
 
O que Cuba fez para conseguir eliminar a transmissão do vírus foi assegurar o acesso desde cedo a cuidados pré-natais e a realização de testes à sida e à sífilis tanto às mulheres grávidas quanto os seus companheiros. Cuba providencia cuidados básicos de saúde a todos os seus cidadãos de forma gratuita e tornou o diagnóstico e o tratamento parte integrante desses mesmos cuidados, tornando-os acessíveis a todas as grávidas.
 
Para Michel Sidibé, director executivo do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/sida (UNAIDS), “isto é um motivo de celebração para Cuba e um motivo de celebração para crianças e famílias de todo o mundo. Está aqui a prova de que acabar com a epidemia da sida é possível e nós esperamos que Cuba seja o primeiro de muitos países a confirmar que conseguiram eliminar as suas epidemias entre as crianças”.
 
Para que qualquer país possa eliminar a transmissão do VIH de mãe para filho é necessário que, a cada 100 nascimentos de bebés cujas mães são seropositivas, apenas se concretize uma transmissão. No caso da sífilis, para cada 2000 nascimentos só pode existir um caso de transmissão.
 
Actualmente, mais de 35 milhões de adultos e crianças são portadores do VIH, mas a taxa de infecção diminuiu significativamente de 2005 para 2013. Segundo dados da UNAIDS, em 2005, 2,9 milhões de pessoas tinham sido testadas positivo para o vírus da sida. Em 2013, o valor diminuiu para os 2,1 milhões.
 
Os países que integram a OMS comprometeram-se em 2010 a eliminar as transmissões do VIH entre mães e filhos até 2020. Apesar de o número de crianças que nascem com o VIH estar longe do zero, em 2009 quase 400 mil bebés nasciam com o vírus; hoje, a nível global, há pouco mais de 240.000 casos anualmente.

A forma dos montes e vales joga-se entre a água que escorre e o solo que desliza

Nicolau Ferreira - Público - 03/07/2015
Usando um modelo experimental, uma equipa concluiu que a intensidade dos movimentos do solo, no topo e nas encostas dos montes, influencia a frequência dos vales e a largura dos montes. Estudo foi publicado na revista Science.
A formação dos vales demora milhões de anos
Muitas vezes, é difícil compreender os processos geológicos que explicam as paisagens. Os investigadores, quando olham para aspectos geológicos, são frequentemente apanhados no meio de uma narrativa natural que já se iniciou há milhões de anos. O problema é que há questões que continuam por ser respondidas, como quais são as forças de erosão mais importantes que formam os complexos sistemas de montes e vales de uma bacia hidrográfica.
 
Uma equipa tentou contornar este problema, recriando este processo em laboratório, num sistema controlado que imitou a formação dos montes e dos vales tendo em conta os efeitos da água que escorre e do deslizamento de solos. Os cientistas descobriram que quando os “deslizamentos de terra” aumentam, os montes acabam por ser mais largos e menos entrecortados pelos vales. O trabalho foi publicado nesta quinta-feira, na revista Science.
 
“Os montes e os vales fazem parte de um padrão de paisagem fundamental que as pessoas reconhecem facilmente”, diz Kristin Sweeney, autora do estudo, da Universidade de Oregon, EUA, citada num comunicado da instituição. “Quando se olha de um avião, vêem-se bacias hidrográficas, vales, e eles tendem a surgir a distâncias muito regulares. A explicação deste padrão é uma questão fundamental na geomorfologia.”
 
A erosão acontece devido à chuva que cai e escorre montanha abaixo. Nesses cursos de água cada vez mais volumosos e velozes, as partículas do solo vão sendo arrastadas e criam sulcos. À medida que o tempo passa, esses sulcos vão-se aprofundando, dando lugar aos vales. Por outro lado, distúrbios no solo causados por raízes de árvores, pelos animais ou pela congelação das águas podem criar deslizamentos de terra, que são uma força contrária à escorrência da água: os detritos caem e tendem a apagar os sulcos formados pela água.
 
Segundo os cientistas, esta dinâmica pode ser importante na evolução dos padrões de montes e vales.
Para testar esta hipótese, a equipa usou uma caixa quadrada de meio metro de lado cheia de cristais de sílica que imitavam o terreno natural. Depois, usaram vários burrifadores, que lançavam pequenas gotículas de água (0,3 milímetros), para simular a escorrência. Quanto aos movimentos de solo, foram provocados usando dispersores de água que lançavam para o terreno gotas com um tamanho bastante maior (2,8 milímetros), “suficientemente energéticas para criar respingos e crateras na superfície que resultavam em transporte de sedimentos”.
 
Ao todo, foram feitas cinco experiências que duraram entre dez e 15 horas. Em cada uma, a duração da precipitação com gotas grossas foi aumentando, de 0% para 18%, 33%, 66% e, finalmente, 100% do tempo. Em paralelo, a precipitação de gotas muito pequeninas foi diminuindo. Por isso, apesar do fenómeno de escorrência de água se manter nas cinco experiências (havia sempre água a cair), o fenómeno que imitava o deslizamento de terra foi sendo cada vez maior em relação ao que imitava a escorrência da água.
 
Essa preponderância crescente dos “deslizamentos de terra” mudou completamente o aspecto final da paisagem. Os montes e os vales surgiram sempre, mas o padrão era diferente. Quando não havia deslizamento de terra, a frequência de vales era muito maior – e a largura dos montes entre os vales menor. À medida que havia mais deslizamentos de terra, os montes foram-se dilatando e os vales passaram a estar mais distantes entre si.
 
Segundo os autores, vai ser preciso compreender o impacto das alterações climáticas – que mudam, por exemplo, os padrões da chuva – para perceber melhor como é que as paisagens do nosso planeta irão evoluir.