quarta-feira, 24 de abril de 2013

Últimas décadas romperam tendência milenar de arrefecimento da Terra

Artigo da LUSA publicado pelo jornal Público em 22/04/2013
"Estudo global mostra que durante 1400 anos a Terra arrefeceu. Só no final do século XX é que esta tendência mudou devido às alterações climáticas.

Pintura de Pieter Brueghel, que retrata uma paisagem de Inverno durante a Pequena Idade do Gelo, que durou dos séculos XVI a XIX 
O final do século XX foi o período mais quente dos últimos 1400 anos, rompendo a tendência de mais de um milénio de arrefecimento global do planeta, revela um estudo publicado neste domingo na revista Nature Geoscience.

A investigação, na qual participaram 78 cientistas de 24 países, reconstruiu as temperaturas dos últimos 2000 anos nos cinco continentes da Terra. Para isso, recolheram-se 511 amostras de árvores, corais, foram feitas sondagens no gelo, onde se recolhem cilindros de centenas de anos de gelo acumulado, analisaram-se estalagmites, sedimentos marinhos e de lagos, além de documentos históricos.
 
Os resultados mostraram uma tendência de arrefecimento a longo prazo do planeta, que se inverteu no século passado, quando a temperatura média foi 0,4 graus superior à dos 500 anos anteriores. Entre 1971 e 2000, registaram-se os períodos mais quentes nos últimos 1400 anos.

“A característica mais surpreendente do aumento repentino da temperatura média global no século XX é de se seguir a uma tendência de arrefecimento global que durou mais de um milénio”, disse, em comunicado, um dos autores do estudo, Steven Phipps, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália.

A investigação “mostra que num século se reverteram 1400 anos de arrefecimento na Terra”, diz o investigador. Steven Phipps atribui esta tendência a ciclos naturais na órbita planetária e a flutuações causadas por erupções vulcânicas e variações da actividade solar.

A reconstrução da temperatura provou que o actual aquecimento ocorre em todo o planeta, ao contrário do Período Quente Medieval (séculos IX-XIV) e da Pequena Idade do Gelo (séculos XVI-XIX), que afectaram em momentos diferentes os hemisférios Norte e Sul.

“O Hemisfério Norte foi mais quente entre os anos 830 e 1000, enquanto a América do Sul e a Austrália só experimentaram este aquecimento nos anos 1160 e 1370”, diz o autor.

A Pequena Idade do Gelo, que ocorreu entre 1550 e 1850 devido a uma fraca actividade solar e a erupções vulcânicas, também teve um impacto irregular no planeta, visto que se registou no Árctico, Europa e Ásia e só depois na América do Norte e no Hemisfério Sul.

Phipps adiantou que a investigação vai contribuir para compreender os motivos das variações climáticas a nível regional e global, e vai ajudar a melhorar as previsões à medida que o planeta enfrenta um maior aquecimento."

Em minutos, ALMA detectou galáxias dos tempos iniciais do Universo

Texto publicado pelo jornal Público em 23/04/2013
"Entre poeiras, que tornam opacas muitas obseervações, o grande radiotelescópio no Chile conseguiu destrinçar formação de estrelas há cerca de 11.000 milhões de anos.
Galáxias observadas pelo ALMA (a vermelho) sobrepostas a observações do telescópio espacial Spitzer (a azul)
Mais de 100 galáxias primordiais, dos tempos de adolescência do Universo, foram detectadas em poucos minutos pelo recém-inaugurado telescópio ALMA, que tem as suas antenas espalhadas por um planalto do deserto de Atacama, no Chile, a cinco mil metros de altitude.
 
A luz que nos chegou agora destas galáxias revela-nos como elas eram há aproximadamente 11.000 milhões de anos, em média – ou seja, quando o Universo tinha então apenas 2500 milhões de anos de existência, desde o Big Bang. Era pois um adolescente, tendo em conta que actualmente a sua idade ronda os 13.500 milhões de anos.
 
O ALMA, a sigla inglesa de Atacama Large Millimeter/submillimeter Array, é tão potente que, em apenas algumas horas, fez tantas observações destas galáxias como as que tinham sido feitas por todos os telescópios semelhantes de todo o mundo ao longo de mais de uma década, sublinha um comunicado do Observatório Europeu do Sul (ESO), organização intergovernamental de astronomia e que é um dos parceiros do radiotelescópio.
 
Nos tempos primordiais do Universo, os episódios mais intensos de formação de estrelas ocorreram em galáxias distantes, que tinham uma enorme quantidade de poeiras cósmicas. Por isso, estas galáxias são uma peça fundamental para compreender a formação e a evolução das galáxias ao longo da história do Universo.
 
O problema é que as poeiras que estas galáxias continham as obscureciam, o que torna difícil a sua identificação com telescópios ópticos (que detectam a “luz visível”, a mesma que os nossos olhos também vêem). Para as observar, os astrónomos precisam de radiotelescópios como o ALMA, que observam outro tipo de radiação, com comprimentos de onda maiores do que a luz visível, por volta do milímetro.
 
Inaugurado oficialmente em Março, o ALMA, que já estava em funcionamento, trouxe essas capacidades. “Os astrónomos esperam por dados como estes desde há mais de uma década. O ALMA é tão potente que revolucionou o modo como observamos estas galáxias, e isto ainda quando o telescópio não se encontrava completamente operacional, altura em que foram feitas as observações”, disse Jacqueline Hodge, do Instituto Max Planck para a Astronomia, na Alemanha, autora principal do artigo científico que descreve estas observações, na revista The Astrophysical Journal.
 
Até agora, o melhor mapa destas galáxias distantes e poeirentas tinha detectado 126 galáxias deste tipo. Mas nestas imagens, os episódios de formação de estrelas aparecem como manchas difusas e tão desfocadas que não se sabe qual das galáxias está a formar estrelas, o que torna difícil o seu estudo no Universo primitivo.
 
Estrelas a nascerem a taxas moderadas
Combinando agora os sinais captados pelas várias antenas do ALMA, como se fossem recolhidos por um único telescópio gigante, depressa o problema das manchas difusas foi resolvido. Usando o grande radiotelescópio, quando ainda tinha menos de um quarto da rede final das suas 66 antenas, a equipa de Jacqueline Hodge só precisou de dois minutos de observação por cada galáxia para localizar cada uma delas.
 
“A equipa conseguiu não apenas identificar de forma clara quais as galáxias que apresentavam regiões de formação estelar activa, mas também descobriu, em metade dos casos, que várias galáxias com formação estelar tinham sido misturadas numa única mancha nas observações anteriores”, refere o comunicado de imprensa.
 
“Antes, pensávamos que as mais brilhantes destas galáxias estavam a formar estrelas mil vezes mais depressa do que a nossa própria galáxia, a Via Láctea, com o risco de explodirem em pedaços”, diz por sua vez outro membro da equipa, Alexander Karim, da Universidade de Durham, no Reino Unido, e autor de um artigo científico complementar deste trabalho, na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. “As imagens ALMA revelaram múltiplas galáxias mais pequenas a formarem estrelas a taxas relativamente mais razoáveis.”
 
Este é o primeiro catálogo considerado fiável de galáxias poeirentas com formação estelar dos tempos primordiais do Universo e vai agora permitir avançar na investigação destas galáxias, sem o risco de má interpretação por aparecerem juntas nas observações."

Morreu François Jacob, Nobel da Medicina de 1965

Artigo publicado pelo jornal Publico em 22/04/2013
"O francês François Jacob investigou a genética e as mutações nas bactérias. Foi um resistente durante a Segunda Guerra Mundial. Morreu aos 92 anos.
François Jacob em 1986
O biólogo francês François Jacob, prémio Nobel da Medicina em 1965, morreu na sexta-feira com 92 anos, noticiou neste domingo a AFP. O prémio que recebeu, juntamente com André Lwoff e Jacques Monod, foi graças aos estudos que fez sobre a genética e a regulação celular nas bactérias.
 
François Jacob foi professor titular da cadeira de genética celular no prestigiado Collège de França (1965-1991), e tornou-se também membro da Academia de Ciências (1977) e da Academia Francesa (1996). Entre 2007 e 2011, foi chanceler da Ordem da Libertação, que homenageia os heróis que ajudaram na libertação de França durante a Segunda Guerra Mundial, quando o país foi ocupado pela Alemanha nazi.
 
O francês nasceu a 17 de Junho de 1920 em Nancy. Em Julho de 1940 entrou no exército da França Livre, onde participou nas campanhas de Fezão e Tripolitânia, na Líbia, e em França. Oito horas depois do desembarque na Normandia das tropas aliadas, a 1 de Agosto de 1944, François Jacob foi gravemente ferido. Pela sua conduta na guerra, obteve quatro medalhas.
 
Depois da guerra, terminou os estudos em medicina, mas não se tornou cirurgião devido aos ferimentos. Em vez disso, seguiu a carreira de investigação. Em 1950, começou a trabalhar no Departamento de Fisiologia Microbiana, dirigida por André Lwoff, no Instituto Pasteur, onde fez toda a sua carreira.
 
O seu trabalho centrou-se principalmente nos mecanismos genéticos que existem nas bactérias e os efeitos bioquímicos das mutações também nas bactérias. Estudou ainda as células dos mamíferos e o desenvolvimento embrionário inicial dos ratinhos. Em 1992 entrou no Comité Nacional de Ética francês.
 
Além de ter sido um pintor amador, foi autor de muitos artigos científicos e de livros como A Lógica da Vida, uma obra de 1970 que teve muito sucesso, O Jogo dos Possíveis ou O Ratinho, a Mosca e o Homem.
 
O biólogo casou-se com a pianista Lysiane Bloch em 1947 e voltou a casar-se em 1999 depois da morte da pianista. Teve quatro filhos."

Cientista portuguesa inventou teste rápido ao grupo sanguíneo

Artigo da LUSA publicado pelo jornal Público em 23/04/2013
"For a Better World é o nome da solução tecnológica inventada por uma cientista da Universidade do Minho, que em poucos minutos identifica o grupo sanguíneo.
O teste ao sangue demora no máximo cinco minutos
Uma investigadora da Universidade do Minho inventou um dispositivo portátil que permite em poucos minutos detectar o grupo sanguíneo da pessoa analisada, tendo sido seleccionada para participar na maior competição tecnológica mundial dirigida a estudantes do ensino superior.
 
Ana Ferraz, aluna de doutoramento na Universidade do Minho, ganhou a final nacional da edição 2013 da Microsoft Imagine Cup e irá representar Portugal na final internacional que decorrerá em São Petersburgo, na Rússia, entre 08 e 11 de Julho.
 
“O procedimento demora no máximo cinco minutos, tem baixo custo e é adequado a situações de emergência. É um sistema bastante pequeno, fácil de transportar e que pode ser usado em diferentes serviços hospitalares, em qualquer ambulância ou até no local do acidente”, explicou a investigadora à Lusa.
 
“A aplicação desenvolvida pode estar no telemóvel, num tablete ou num PC, de onde se envia a mensagem para qualquer laboratório com o resultado do teste”, disse ainda Ana Ferraz, acrescentando que, além de detectar o grupo sanguíneo, o dispositivo dá informações rigorosas que podem auxiliar os profissionais de saúde em situações de emergência, reduzindo os riscos de incompatibilidade e erro humano, nomeadamente em situações de transfusão.
 
“Gostaria de arranjar investidores e poder avançar com a produção deste sistema, criar uma empresa em Portugal, criar postos de trabalho, assegurando também o meu futuro”, sublinhou a investigadora, que disse estar confiante de que a sua participação na final mundial das olimpíadas de software, na Rússia, lhe possa trazer vantagens a este nível.
 
For a Better World é o nome desta solução tecnológica que Ana Ferraz começou a desenvolver ainda na licenciatura, no Instituto Politécnico do Cávado e Ave. Além de rápida e portátil, esta invenção não representa grandes custos: segundo Ana Ferraz, o protótipo custou-lhe “apenas 130 euros”."

Portugueses revelam à escala atómica um canal de potássio das células

Texto de Teresa Firmino publicado pelo jornal Público em 20/04/2013
"Trabalho desvenda a estrutura de uma minúscula passagem na membrana das células. É uma nanomáquina que se abre e fecha consoante a salinidade no exterior. Um dia pode ajudar as plantas a resistir ao sal a mais.
http://www.publico.pt/j667328
Viajemos até ao mundo das células e, uma vez aí chegados, paremos na membrana, a fronteira entre o interior e exterior celular, para dizer que há aí minúsculos canais a transportar coisas para dentro e para fora. Um desses canais deixa entrar potássio - mas, como funciona ao certo? Em busca da resposta, uma equipa portuguesa prosseguiu viagem, avançando para uma escala ainda mais pequena, como se de um zoom nas paredes da membrana celular se tratasse. E conseguiu chegar ao destino, os átomos que compõem esse canal.
 
É na última edição da revista Nature que a equipa liderada por João Morais Cabral, do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto, revela a estrutura molecular desse canal, que é uma proteína, com o nome KtrAB. Já se sabia ter a função de transportador de potássio para dentro das células, mas perceber como o fazia implicava desvendar a sua estrutura molecular, determinando a posição de cada um dos seus átomos.
 
A tarefa foi tudo menos fácil tecnicamente. Antes de mais, a proteína que serve de canal está numa nanoescala: tem apenas dez nanómetros, o que é dez vezes mais pequeno do que as partículas de fumo. Portanto, uma nanomáquina. "As proteínas que estão inseridas nas membranas têm características que as tornam mais difíceis de estudar e de entender como funcionam", refere Ricardo Vieira Pires, o primeiro autor do artigo, assinado ainda pelo húngaro Andras Szollosi, ambos do IBMC.
 
Como chegaram então à estrutura deste canal? Existente na bactéria Bacillus subtilis, usada como modelo de estudo, ele é semelhante a outros presentes em fungos e plantas, daí um interesse mais alargado. Enquanto aqui a sua função é a de resistência à salinidade, nos humanos os canais de potássio têm funções diferentes. A mais importante relaciona-se com a actividade eléctrica das células, essencial para a contracção do coração e a comunicação dos neurónios.
 
Depois de produzirem em laboratório a proteína que serve de canal em grande quantidade, os cientistas purificaram-na com detergentes especiais e transformaram-na em cristais - que, em seguida, submeteram a raios X intensos, em França.
 
Foram milhares os cristais submetidos a radiação e, de cada cristal, obtiveram-se centenas ou milhares de dados. Daqui resultou uma quantidade inimaginável de imagens, cada uma cheia de pontinhos. Cada um dos pontos corresponde à passagem de um feixe de raios X pelo cristal da proteína. Como cada feixe é muito intenso, ao incidir no cristal, dividiu-se em múltiplos feixes, que por sua vez foram captados por um detector registando-os como pontos de intensidades diferentes. E é isso que se vê em cada uma dessas radiografias.
 
Seguiram-se muitos cálculos. "Utilizámos as intensidades de todos os pontos em centenas de imagens para calcular matematicamente um mapa tridimensional da estrutura molecular. Nessa estrutura estão as posições de todos os átomos que compõem a proteína", explica Morais Cabral.
 
Dez anos depois de ter iniciado este projecto na Universidade de Yale, nos EUA, Morais Cabral concluiu-o em Portugal, onde regressou em 2008 para criar o seu grupo no IBMC e onde o recomeçou do zero. Determinada que estava a posição dos cerca de 20 mil átomos - de carbono, oxigénio, azoto e enxofre - que constituem este canal de potássio, a equipa chegou por fim à estrutura.
 
Retomemos a viagem, para perceber a importância do estudo. Há sempre mais potássio (um sal) dentro das células do que fora, enquanto com o sódio (outro sal) ocorre o inverso. "Esta proteína faz parte do mecanismo que mantém essa assimetria essencial e continua a transportar potássio para dentro da célula."
 
Quando há sódio e sais no exterior em quantidades elevadas, a célula perde água através da membrana, que, no entanto, é pouco permeável à passagem dos sais. O movimento da água faz-se sempre do meio com menor concentração de sais (o interior da célula) para o que tem a maior concentração (o exterior da célula). Por isso, ela começa a perder volume e a contrair-se e é então que este mecanismo é activado como protecção. "Este é o primeiro processo de resistência [da bactéria] a um choque de salinidade ou quando há alterações das concentrações de sais no exterior."
 
Para que as coisas não fiquem tão desequilibradas, com excesso de sais no exterior que fazem a célula perder água, a membrana abre um canal - um poro - e deixa entrar potássio, que não é tóxico para ela como o sódio. Para explicar como tudo funciona, é preciso dizer que a proteína que serve de canal tem duas partes: uma embutida na membrana da célula e que constitui o próprio poro; e outra já dentro da célula, que controla a abertura e o fecho do poro, mudando de configuração na presença de duas outras moléculas (uma que activa o poro, outra que o desactiva).
 
Sem aplicações imediatas, a revelação da estrutura deste canal poderá um dia traduzir-se em biotecnologias que tornem as plantas mais resistentes ao sal. Mas o objectivo não era resolver este problema dos solos agrícolas. "Ao percebermos todos os mecanismos usados na natureza para resistir à hipersalinidade, podemos desenvolver estratégias que podem aplicar-se na criação de variedades de plantas que cresçam em solos com hipersalinidade. Muitas plantas não sobrevivem nessas condições", diz Morais Cabral. "Se criarmos variedades mais resistentes à salinidade, poderíamos usar esses solos."
 
O que faz correr este cientista de 48 anos é outra coisa. "A descoberta intelectual é que me deixa empolgado." O que o fez regressar a Portugal após 20 anos fora, num vaivém entre a Grã-Bretanha e os EUA? "Apareceu a oportunidade e o sistema [científico] português tinha evoluído drasticamente. Tem sido fantástico trabalhar cá, apesar das dificuldades."
 
Fim da viagem a esta nanomáquina da célula? Nada disso. "Agora vamos explorar os detalhes do canal."  "

Cientistas detectaram sinais de consciência em bebés de cinco meses

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 19/04/2013
"Quando é que começamos a tornar-nos conscientes do mundo que nos rodeia? Segundo os mais recentes resultados, isso poderá acontecér muito mais cedo do que se pensava.
Um dos bebés de cinco meses que participaram no estudo com a mãe
Pela primeira vez, foi possível detectar, no cérebro de bebés com apenas cinco meses de vida, um tipo de actividade cerebral que assinala que a sua consciência visual está a emergir. Os resultados são publicados esta sexta-feira na revista Science.
 
Sabe-se que, nos adultos, a apresentação de uma imagem, mesmo por brevíssimos instantes, dá origem a um padrão de activação neuronal característico, explica a Science no seu site. A activação começa no córtex visual e, passados uns 300 milissegundos, a mensagem chega ao córtex pré-frontal, a região do cérebro onde residem as nossas mais sofisticadas funções cognitivas – e em particular o pensamento.
 
Sid Kouider e colegas da Ecole Normale Supérieure, em Paris, decidiram testar, através da técnica de electroencefalografia, se a segunda fase deste padrão de ondas cerebrais se verificava também nos bebés muito novos. O estudo envolveu 80 crianças de cinco, 12 e 15 meses de idade, cuja actividade cerebral foi medida graças a um “gorro” de electrodos, enquanto visionavam séries de imagens dentro das quais estava “escondida” a de uma face humana.
 
Confirmaram assim que os bebés com mais de um ano respondiam àquela imagem desenvolvendo o mesmo tipo de resposta neuronal semelhante à dos adultos – o que não admira, visto que, nesta idade, a interacção visual e social do bebé com o mundo já é muito rica. Mas ficaram surpreendidos ao descobrirem que, embora de forma incipiente e muito mais lenta, essa segunda fase da resposta cerebral já estava presente nos bebés de cinco meses.
 
Quer isto dizer que desde tão cedo, os bebés têm consciência do que viram, que sabem que viram uma face? Nem por isso: Kouider, citado pela revista New Scientist, diz que o trabalho não constitui uma prova directa de que os bebés estão a ter uma experiência subjectiva. Segundo ele, não é claro que os timings da segunda fase da resposta cerebral, que são ainda muito lentos, permitam uma autêntica experiência consciente.
 
Mas os rudimentos já lá estão, concluem os cientistas. “Estes resultados mostram que os mecanismos cerebrais subjacentes à percepção consciente já estão presentes na primeira infância”, escrevem no seu artigo na Science.
 
A abordagem utilizada neste trabalho também poderá servir, salientam, para perceber melhor os estados de consciência mínima nos adultos – seja na sequencia de lesões cerebrais, seja durante uma anestesia – para determinar até que ponto essas pessoas têm consciência do mundo exterior."

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Tratamento por crioablação pode matar tumores nos pulmões



Estudo foi apresentado na 38ª reunião científica anual da Sociedade Norte-americana de Radiologia Intervencionista
Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-04-15

A temperatura desce 100 graus, congelando o tumor.
A crioablação percutânea pode matar com segurança os tumores cancerosos que se propagaram nos pulmões, dizem os resultados de um estudo apresentado na 38ª reunião científica anual da Sociedade Norte-americana de Radiologia Intervencionista, que está a decorrer em Nova Orleães (EUA).
A crioablação tem um grande potencial como tratamento para o cancro que se propagou para os pulmões a partir de outras partes do corpo e pode prolongar a vida dos pacientes que estão a ficar sem opções”, afirma David A. Woodrum, autor do estudo e radiologista da Clínica Mayo (Rochester, EUA). O estudo está publicado no «Journal of Vascular and Interventional Radiology».
Podemos não ser capazes de curar o cancro, mas com a crioablação podemos, pelo menos, reduzir significativamente a sua velocidade e fazer com que os pacientes possam ter mais qualidade de vida”, diz Woodrum.

A doença pulmonar metastática é difícil de tratar e, com frequência, tem mau prognóstico. Nos resultados iniciais do estudo, intitulado ECLIPSE, 22 indivíduos com um total de 36 tumores foram tratados com 27 sessões de crioablação. Estas foram 100 por cento eficazes na eliminação de tumores em três meses de acompanhamento. Aos seis meses, os tumores tratados de cinco dos 22 pacientes estavam como mortos.
A crioablação realiza-se por um radiologista com uma pequena agulha de sonda. Faz-se uma incisão na pele e insere-se a agulha até esta chegar aos tumores cancerosos no pulmão disseminados de tumores primários. Isto é feito através da orientação de imagens radiológicas.
Quando se encontra na posição certa, o gás faz a ponta do instrumento arrefecer, havendo um abaixamento de temperatura em 100 graus. A auréola de cristais de gelo resultante pode destruir o cancro devido à interrupção da sua função celular, protegendo as imediações saudáveis e o delicado tecido pulmonar.
Os cientistas vão seguir os pacientes durante cinco anos.

Descoberta da função do gene Meis1 inicia nova era no tratamento de falhas cardíacas



Investigadores perceberam como podem promover regeneração do coração
Publicado em www.cienciahoje.pt  2013-04-18

Gene Meis1 é um fator de transcrição que controla a função de outros genes.

Uma equipa de investigação do departamento médico da Southwest Texas State University relatou recentemente a descoberta da função que o gene Meis1 tem na regulação da capacidade de regeneração do coração.
Descobrimos que a atividade do Meis1 aumenta significativamente nas células do coração logo depois do nascimento, coincidindo com a altura em que as células do músculo param de se dividir”, diz Hesham Sadek, professor assistente de medicina interna na divisão de cardiologia e autor sénior do estudo, agora publicado na «Nature».

Baseando-se nesta observação, os investigadores questionaram: se o Meis1 for eliminado do coração, as células continuarão a dividir-se ao longo da idade adulta? A resposta é positiva.
Hesham Sadek.
Em 2011, experiências de laboratório de Sadek mostraram que o coração de mamíferos recém-nascidos é capaz de uma vigorosa resposta regenerativa aos danos através da divisão das suas próprias células. À medida que o recém-nascido se desenvolve, o coração perde rapidamente esta habilidade de regeneração e de reparação de danos como, por exemplo, os provocados por um ataque cardíaco.


A equipa demonstrou que através do bloqueio do Meis1, é possível alargar o período de proliferação no coração de ratinhos recém-nascidos. É reativado, igualmente, o processo regenerativo do coração de ratos adultos sem provocar problemas a nível das funções cardíacas.

Meis1 é um fator de transcrição que atua como um programa de software, com capacidade de controlar a função de outros genes. Neste caso, verificou-se que o Meis1 controla vários genes que normalmente atuam como travões na divisão celular”, explica Sadek.
Assim sendo, o Meis1 poderá ser utilizado “como um botão de ligar/desligar para fazer as células dos corações adultos dividirem-se. Se isto for feito com sucesso, esta capacidade pode dar início a uma nova era no tratamento de falhas cardíacas”.

Identificadas células envolvidas no reconhecimento dos números



Estudo está publicado no «Journal of Neuroscience»
Publicado em  www.cienciahoje.pt  2013-04-18

Cientistas da Universidade de Stanford localizaram um grupo de células nervosas especializadas no reconhecimento dos números. Tendo em conta a evolução do nosso cérebro, o uso dos números é uma “invenção” recente à que os nossos neurónios tiveram de se adaptar, diz o estudo publicado no «Journal of Neuroscience».

Josef Parvizi, professor associado de Neurologia e diretor do Programa de Eletrofisiologia Cognitiva intracraniana Humana, dirigiu a equipa que demonstrou pela primeira vez a existência de um grupo de neurónios que se especializaram no processamento de números. “Nesta pequena população de células nervosas, vimos uma resposta muito maior aos números do que a símbolos semelhantes”, explicam.
A descoberta abre portas a futuras investigações que poderão permitir determinar como se processa a informação nas matemáticas. Poderá ter, também, repercussões clínicas para problemas como a dislexia para os números ou com discalculia (incapacidade de processar informação numérica).
O grupo identificou entre 1 e 2 milhões de células nervosas localizadas à volta do temporal inferior. Esta região do córtex, situada em ambos os lados do cérebro, está envolvida no processamento da informação visual. Processa a informação procedente do córtex visual e encarrega-se de reconhecer formas geométricas e objetos. Está também ligada à memória de longo prazo para estas formas.

"Ninguém nasce com capacidade para reconhecer números"

Para o nosso cérebro, os algarismos, que representam quantidades, são algo relativamente recente. O nosso cérebro não estava preparado e teve de aprender a reconhecê-los. Nenhum ser humano nasce com esta capacidade e o mesmo acontece com a leitura, a escrita ou a música, afirmam os investigadores.
A solução para adaptar-se a essas novas formas culturais, processá-las e reconhecê-las passou por uma espécie de “reciclagem neuronal” em que alguns neurónios aprenderam a identificar os símbolos associados aos números e a dar-lhes significado.
Estes neurónios tinham uma função muito mais primitiva, como reconhecer curvas ou linhas entrecruzadas que são frequentes na natureza (ramos de árvores, arestas) que também fazem parte dos números e das letras.
Graças a esta 'plasticidade', a parte do córtex que tinha como função reconhecer essas formas geométricas pôde adaptar-se aos novos conhecimentos culturais, reconhecendo códigos arbitrários que representam letras ou números. Diz Parvizi: “é uma demonstração espetacular da capacidade que os nossos circuitos cerebrais têm para se modificarem como resposta à educação. Ninguém nasce com capacidade para reconhecer números”.