terça-feira, 13 de maio de 2014

Flora Intestinal: como mantê-la forte e saudável?

Escrito por Carla Mateus, com entrevista a Paula Ravasco e Pedro Neves, investigadores do IMM, e João Ramos de Deus, gastroenterologista, em 10 de março de 2014.
 

 
Um universo de microrganismos vive no interior da sua barriga. Mas não se assuste. Fundamentais para a manutenção da flora intestinal e para o funcionamento do intestino, estas bactérias ajudam a proteger a sua saúde.
 
A simples ideia pode parecer algo bizarra e inacreditável, mas sabia que milhões de bactérias habitam o nosso intestino e desempenham um papel essencial para o organismo? Não, não estamos a mentir. Ao seu conjunto chama-se flora ou microbiótica intestinal e esta é indispensável ao funcionamento do intestino, à manutenção de um trânsito intestinal normal e, consequentemente, da nossa saúde.

De um ponto de vista biológico, os nossos intestinos são a nossa raiz e têm a mesma função no corpo humano que as raízes das plantas têm para a saúde das mesmas. Uma planta com raízes fortes e um bom solo cresce forte e saudável, da mesma forma que uns intestinos saudáveis podem ser o ponto de partida para ajudar a criar seres humanos saudáveis.

Dentro do tubo digestivo humano, por exemplo, existem dez vezes mais bactérias do que as células que formam o corpo – cem biliões. Estes microrganismos não são, ao contrário do que muitas pessoas pensam assim que ouvem falar em bactérias, prejudiciais para a saúde. Muito pelo contrário. Eles mantêm uma convivência pacífica e harmoniosa no nosso organismo, contribuindo para o seu equilíbrio.

João Ramos de Deus, gastroenterologista, explica que as bactérias que constituem a flora intestinal "ajudam na digestão dos alimentos, controlam (por competição) o crescimento de microrganismos patogénicos (outras bactérias, fungos, protozoários, etc.), promovem o bom funcionamento intestinal e reforçam as defesas imunitárias". No fundo, são como um batalhão de pequenos soldados que constituem um escudo protetor e lutam para nos proteger de infeções e outras doenças.

Nos intestinos existem bactérias residentes, responsáveis pelos múltiplos efeitos benéficos da flora intestinal, e bactérias passageiras, compostas por uma grande variedade de estirpes e que, em condições ideais de saúde, devem existir em pequena quantidade.

Paula Ravasco, nutricionista, e Pedro Neves, especialista em Ciências da Nutrição, revelam que "embora se estime que existam entre 300 e 1000 espécies diferentes de bactérias nos nossos intestinos, 99 por cento da nossa flora intestinal é apenas constituída por 30 a 40 espécies", que se nutrem, em parte, dos alimentos que ingerimos.

De acordo com os investigadores da unidade de nutrição do Instituto de Medicina Molecular (IMM), "as principais famílias de bactérias presentes no intestino são Lactobacillus e Bifidobacterium". Estas são as bactérias benéficas para a flora intestinal e também aquelas que evitam as que prejudicam o nosso organismo de se multiplicarem e causarem problemas.
As bactérias amigas da sua saúde

O equilíbrio entre bactérias benéficas e nocivas é fundamental para a manutenção de um estado de boa saúde. Cada uma das bactérias que vive na nossa barriga tem o seu papel na digestão e, como João Ramos de Deus sublinha, "cada individuo tem a sua flora intestinal própria e única, adquirida nos primeiros meses de vida".

A colonização de bactérias começa assim que se nasce. A amamentação e o contacto com o mundo asseguram a formação da flora intestinal, que difere consoante os hábitos alimentares adotados. Isto significa que "uma boa alimentação é importante na manutenção e recuperação da flora intestinal quando desequilibrada", afirmam os investigadores do IMM.

Assim, para manter a microbiótica intestinal ou repô-la, se necessário, é fundamental alimentar estes microrganismos e recrutar novos moradores, dando prioridade à ingestão de alimentos ricos em bactérias como Bifidobacterium e Lactobacillus, pois, como já vimos, são as principais famílias de bactérias que habitam na nossa barriga e reduzem a concentração dos microrganismos nocivos, mantendo a flora intestinal em níveis aceitáveis pelo organismo.

Para preservarmos "a flora intestinal devemos incluir na nossa alimentação alimentos ricos em prebióticos e probióticos, como por exemplo o iogurte", recomendam Paula Ravasco e Pedro Neves. A principal diferença entre ambos é que os alimentos probióticos devem os seus efeitos saudáveis aos microrganismos vivos que contêm, enquanto que nos prebióticos os benefícios advêm da presença de uma fibra que favorece o desenvolvimento de uma flora intestinal benéfica.

Os prebióticos são alguns tipos de fibras alimentares, ou seja, hidratos de carbono, que se encontram naturalmente presentes em fruta e vegetais como por exemplo, a banana, a maçã, a cebola, o alho, o tomate, a alcachofra, mas que também se acrescentam a outro tipo de produtos. Neste caso, estamos a falar de sumos, bebidas de leite e fruta, alguns tipos de bolachas, cereais, e iogurtes, todos eles enriquecidos com fibras solúveis, como a inulina e a oligofrutose.

Por sua vez, os probióticos são uma classe de bactérias "boas" ou benéficas que estão presentes em alguns iogurtes e leite fermentados. Estes alimentos contêm fermentos lácticos (bactérias) vivos, que resistem à digestão no estômago e chegam vivos ao intestino, interagindo com as bactérias da flora intestinal e impedindo a invasão de bactérias nocivas.

Para além do consumo deste tipo de alimentos, é necessário seguir uma regra que já conhecemos bem e da qual a nossa saúde também depende: "é necessário manter uma dieta equilibrada e rica em vegetais hortícolas, frutos, reduzir a quantidade de proteína animal e reduzir o consumo excessivo de açúcares", sublinham Paula Ravasco e Pedro Neves.
 
Existe ainda a possibilidade de recorrer a suplementos alimentares que podem ser usados como complemento de uma dieta variada, no entanto, os investigadores do IMM realçam que ainda não está demonstrada a necessidade ou benefício do uso de suplementação de prebióticos ou probióticos.

Quando a flora intestinal está fragilizada

Na maior parte do tempo, as bactérias benéficas prosperam e conseguem manter uma flora intestinal saudável e equilibrada. No entanto, as bactérias "más" ou patogénicas podem provocar desequilíbrios e levar à doença e mal-estar. Esta situação pode dever-se a vários motivos, nomeadamente à toma de antibióticos e outros medicamentos, a uma alimentação incorreta ou ao stress.

Como resultado destes desequilíbrios "surgem quebras do sistema imunitário, défices de vitaminas e suas consequências, distúrbios intestinais, quer no sentido da diarreia, quer da obstipação [prisão de ventre], doenças de pele, entre outras", alerta o gastroenterologista.

Se a situação não for tratada no sentido de repor o equilíbrio da flora intestinal, os sintomas podem tornar-se crónicos (como no caso do síndroma do cólon irritável) e comprometerem o sistema imunitário, levando a outras doenças mais sérias.

Agora que já sabe que precisa de manter as bactérias benéficas saudáveis e bem nutridas, não deixe de cuidar da sua flora intestinal. Aposte numa alimentação rica em fibras e zele pela integridade e bem-estar do seu intestino. E, claro, pela sua saúde também.

VIH/SIDA: Factos e mitos

Escrito por Carla Mateus com entrevista a Bárbara Flor de Lima e Ricardo Correia de Abreu, médicos infecciologistas, em 11 de fevereiro de 2014.
 

 
A SIDA é uma doença que pode afetar qualquer pessoa. Não é exclusiva de estratos sociais, faixas etárias ou de grupos específicos, mas a sua transmissão está associada a comportamentos considerados de risco. Porque ainda persistem ideias erradas e dúvidas sobre aquela que é uma das principais epidemias do século XXI, vamos esclarecer algumas delas com a ajuda de dois médicos infecciologistas.
Em 1993, o ator Tom Hanks, assumindo a identidade de um homossexual seropositivo, passou para o grande ecrã o estigma que acompanha os doentes infetados por VIH ou com SIDA (na maioria das vezes gerado pelo desconhecimento acerca da doença), no filme "Filadélfia". Cerca de 20 anos depois, a patologia deixou de estar na sombra e foram vários os tratamentos inovadores que surgiram e que conseguiram controlar o vírus dentro do organismo, impedindo a sua replicação.

A palavra SIDA significa Síndroma da Imunodeficiência Adquirida, uma doença resultante da infecção por VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana. Este vírus ataca as defesas do organismo, que nos protegem contra bactérias, vírus e outros germes, destruindo-as e deixando a pessoa infectada (seropositiva) vulnerável. Estas infecções são denominadas "oportunistas", uma vez que apenas ocorrem quando o sistema imunitário deixa de ser eficaz.

A infeção por VIH é uma doença para toda a vida. Apesar de não existir uma cura conhecida, os avanços no tratamento alteraram a ideia de que esta era uma doença fatal. Atualmente, os médicos consideram a infecção por VIH como uma doença crónica que pode ser controlada com medicamentos e com opções no que respeita a um estilo de vida saudável.

Ainda assim, importa lembrar que, desde 1981 – altura em que os médicos reconheceram pela primeira vez a infecção por VIH/SIDA como uma nova doença –, a patologia disseminou-se rapidamente por todo o mundo, tornando-se numa epidemia que já causou a morte de mais de 25 milhões de pessoas. Apesar de a situação estar a melhorar ao longo dos anos, atualmente existem, de acordo com os últimos dados publicados em 2012 pela UNAIDS – a agência das Nações Unidas para o VIH/SIDA –, cerca de 35,3 milhões de pessoas infectadas com o vírus VIH/SIDA em todo o mundo. A maioria destes casos ocorre nos países em vias de desenvolvimento e Portugal não é exceção. Segundo o relatório "Portugal Infecção VIH/SIDA e Tuberculose em números – 2013", desde 1983 até 2012 foram diagnosticados mais de 42 mil casos.

Porque está nas mãos de todos nós limitar esta epidemia e porque a prevenção passa pela informação, o MSN Saúde e Bem-Estar pediu a Bárbara Flor de Lima e a Ricardo Correia de Abreu, médicos infecciologistas, que nos esclarecessem 10 factos ou mitos geralmente associados ao VIH/SIDA. Descubra-os na galeria baixo.

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Ressonar: salve o seu sono reparador

Escrito por Pedro F. Pina, com entrevista a Paulo Gonçalves, Otorrinolaringologista, em 14 de dezembro de 2012.
 

Ressonar não é uma doença mas é um problema social
O ressonar em si não é uma doença. Mas o ruído que provoca pode ser ensurdecedor ao ponto de abalar até a mais estável das relações. E pode também ser sinal de algo maior a ter em conta. Antes de desesperar e decidir dormir no sofá, veja o que pode fazer para contrariar a situação.

Pelo consultório de Paulo Gonçalves, otorrinolaringologista, passam vários pacientes para quem a roncopatia tomou conta das noites de sono. Trata-se de um motivo de desassossego entre casais e até entre vizinhos, quando as paredes são finas demais. O especialista explica-nos que "a roncopatia em si não constitui uma doença, mas é um problema social, devido ao ruído que perturba o sono de quem rodeia o ressonador".

Na origem do ressonar podem estar as mais diversas causas. Talvez por isso não seja fácil encontrar estatísticas concretas. Mas o problema existe, pode ser um desafio à estabilidade de um casal, devido às consequências da privação de sono, e pode até ser um sinal de que aquele ronco merece cuidados médicos específicos. Daí ser essencial perceber-se exatamente o que está em causa quando um sono que deveria ser tranquilo se transforma numa espécie de pesadelo.

Por que razão ressonamos

Em Portugal há estimativas que apontam para cerca de dois milhões de pessoas que sofrem de roncopatia. Sabemos que afeta mais adultos do que crianças. Sabemos que é mais comum entre os homens do que entre as mulheres – estimativas recentes apontam para 40 por cento dos homens a partir dos 30, contra 30 por cento das mulheres a partir da menopausa. Mas embora possa ser mais frequente nos homens e haver tendência para agravar com a idade, são muitas as razões por trás do ronco. Algumas mais fáceis de contrariar do que outras.

Em primeiro lugar convém perceber por que razão ressonamos. Paulo Gonçalves explica-nos que isto acontece "porque as paredes das vias respiratórias superiores vibram e fazem ruído com a passagem do ar que respiramos". Se se verificar estreitamentos nessas vias ou tecidos excedentários, a "tendência a ressonar será maior", adianta. Mas também podem existir características anatómicas específicas que contribuem para o problema, como é o caso de uma língua grande, um queixo "recuado" (retrognatismo) ou até da obesidade, tal como circunstâncias pontuais, como o consumo de álcool antes de dormir ou efeitos secundários de anti-histamínicos, por exemplo.

Ressonar não constitui apenas um incómodo do ponto de vista social ou conjugal. Também pode ser o indício de algo mais preocupante. "Quando a roncopatia se acompanha de paragens de respiração, por colapso das paredes das vias aéreas, aí sim começam os problemas, com as chamadas hipopneias e apneias, que são paragens com duração igual ou superior a 10 segundos", conta-nos Paulo Gonçalves, acrescentando que "nessas situações o sono fragmenta-se com várias repercussões nefastas".

Quando surgem paragens respiratórias longas, o esforço sobre o organismo é muito maior. O sono desregula-se e até o coração é sujeito a mudanças de batimento cardíaco. O que quer dizer que as horas de sono na prática parecem ter o efeito contrário, fazendo com que a pessoa acorde tão ou mais cansada do que quando se foi deitar. Percebe-se assim que ressonar pode ser um problema que extravasa as horas de sono. Se acorda da manhã e já sente o cansaço, ou se a memória e a concentração parecem mais debilitadas, pode dar-se o caso de o sono não estar a ser tão reparador quanto deveria. É importante perceber-se nestes casos se o ressonar não é sinal de Síndrome de Apneia Obstrutivo do Sono (SAOS).
"Em regra as apneias são testemunhadas por quem dorme ao lado de quem ressona sendo por vezes assustadoras", esclarece o especialista. Em situações mais graves de SAOS, o doente pode referir adormecimento fácil durante o dia (hipersónia diurna), cansaço persistente". Mas pode haver outros sintomas, como por exemplo a hipertensão ou impotência no homem, que por vezes acabam por acompanhar a SAOS.

Para resolver esta situação, Paulo Gonçalves refere que "a abordagem dum doente com roncopatia e principalmente dum doente com SAOS deve ser multidisciplinar". Para além da área de otorrinolaringologia, a colaboração da pneumologia, e até da nutrição ou de endocrinologia é muitas vezes determinante. Mas atenção: não basta o acompanhamento profissional. "O doente tem de estar motivado para ser tratado", o que quer dizer que não basta ser "empurrado" para o consultório.

Quando a cirurgia é necessária

Paulo Gonçalves alerta para o facto de se poder ter criado a ilusão de que esta "situações se resolvem de uma forma simples". Infelizmente, nem sempre é o caso. Daí o especialista insistir na "necessidade de envolver o doente no seu tratamento e fazê-lo entender bem os prós e contras de cada opção bem como as expectativas quanto aos resultados, que nomeadamente no que diz respeito à cirurgia, têm de ser o mais realistas quanto possível".

São vários os pormenores a que os especialistas estarão atentos, como é o caso de se perceber se o septo nasal, a estrutura de osso e cartilagem que divide as duas fossas nasais, não tem um desvio que possa ser a causa do ronco. Mas além dos hábitos e de vida e da postura durante o sono, há outros pequenos cuidados que a pessoa pode ter, que contribuirão para evitar o ressonar, como por exemplo a importância de uma pessoa se manter hidratada ou o cuidado em verificar se no quarto onde dorme não há elementos que possam provocar alergias, já que o aumento das secreções nasais também pode obstruir a respiração, provocando o ronco.

É importante por isso, quando se trata de roncopatia, recuperar a velha máxima de que "cada caso é um caso". São várias as opções de tratamento existentes, e estas podem funcionar isoladamente ou em conjunto. Paulo Gonçalves refere algumas hipóteses: a correção do peso quando se justifica e melhorar a tonicidade muscular promovendo o exercício físico; correções posturais durante o sono (dormir de lado é melhor opção do que de barriga para cima, por exemplo); o uso de dispositivos intraorais; oxigenoterapia (nomeadamente uso de um técnica denominada Continuous Positive Airway Pressure), "muito útil e eficaz sobretudo em casos de SAOS" e, naturalmente em último caso, a cirurgia.

"As cirurgias mais frequentes são as que incidem sobre o nariz, palato e amígdalas palatinas. E existem de facto alguns procedimentos que podem ser efetuados inclusivamente no gabinete de consulta". Alguns casos mais complexos podem implicar "cirurgias também elas bem mais complexas, como avanços mandibulares e outras, em que muitas vezes há também a necessidade da avaliação e colaboração da cirurgia maxilo-facial". Mas uma eventual decisão pelo bloco operatório deve ser muito bem ponderada e decidida em conjunto com o seu médico. E lembre-se: ressonar não se resolve com culpabilização. Converse e informe-se, sem receios ou preconceitos. Para que o sono lá em casa seja aquilo que deve ser: um prazer reparador.
 

Snacks saudáveis? Veja as sugestões das nutricionistas

Escrito por Pedro F. Pina com as especialistas em nutrição Ana Rito, Ana Teresa Ramos, Emília Alves e Inês Gil Forte em 13 de novembro de 2013.
 

 
Os especialistas em nutrição aconselham-nos a comer nos intervalos entre as refeições. Há boas razões para tal. Mas é importante que essas escolhas também sejam saudáveis.

É um dia de semana normal. Almoçou em condições mas a meio da tarde já sente alguma "larica". O que fazer? Optar por esperar pela hora de jantar até pode parecer uma boa opção: poupa-se algum dinheiro; é menos uma refeição, o que quer dizer que se calhar até perco algum peso. Até parece ser uma boa ideia, não? Na realidade, não é nada boa ideia.

O ideal mesmo é manter regularidade na hora das refeições – o que quer dizer que não se devem saltar refeições – mas também a frequência. A baliza sugerida por muitos especialistas em nutrição, de comer de três em três horas, é um ponto de referência a ter em conta. E não é à toa.

Ao não comermos nada nos intervalos das grandes refeições, o risco que corremos é de chegar à refeição seguinte com mais fome. O que quer dizer que podemos acabar a comer bem mais do que desejávamos, para nos sentirmos saciados.

A nutricionista Inês Gil Forte explica-nos que comer nos intervalos das principais refeições (pequeno-almoço, almoço e jantar) passa também por manter os níveis da glicémia no organismo, através da ingestão de quantidades adequadas de hidratos de carbono, proteína e fibra (demasiadas vezes esquecida). "Este equilíbrio é essencial para que não haja um pico glicémico, que mais tarde leva a uma fome imensa", alerta a especialista. Mas além de ser importante perceber que se deve comer entre refeições, é também importante ter uma ideia do que devemos comer em particular. E são muitas as soluções que temos ao nosso alcance.

A este propósito, e pensando tanto nos adultos como nos mais pequenos, o MSN Saúde e Bem-estar pediu a alguns especialistas em nutrição sugestões de snacks saudáveis. São opções simples de pôr em prática, saborosas e saudáveis. Inês Gil Forte, Emília Alves e Ana Rito deram-nos sugestões a pensar nos mais crescidos. Enquanto Ana Teresa Ramos nos sugere dois menus diferentes para os mais novos.
 
Queijo fresco com canela, sugestão de Ana Rito, investigadora, e Emília Alves, nutricionista

O queijo fresco é uma fonte de proteína e de minerais (principalmente cálcio e zinco). As proteínas do queijo são consideradas de alto valor biológico, uma vez que fornecem ao organismo os aminoácidos necessários ao seu desenvolvimento, são absorvidas quase integralmente no intestino e ajudam a manter a saciedade. O cálcio, existente no queijo fresco, tem benefícios ao nível da formação dos dentes, ossos e cartilagens e na prevenção da osteoporose. O zinco, iodo e selénio, também presentes, desempenham papel importante ao nível do sistema imunitário, do desenvolvimento cognitivo e como antioxidante.

A canela possui vitamina A, vitaminas do complexo B, magnésio, zinco, iodo e flavonoides que, pelas suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, diminuem a formação de colesterol e os triglicéridos, prevenindo as doenças cardiovasculares. A canela tem ainda propriedades termogénicas, aumenta o metabolismo basal, podendo assim ajudar no processo de controlo de peso.

Maçã com nozes (1 maçã e 4 nozes), sugestão de Ana Rito, investigadora, e Emília Alves, nutricionista

A maçã é rica em água, fibras dietéticas, vitaminas B1, B2, C, E e potássio. A principal fibra solúvel é a pectina que atua na diminuição do colesterol sérico e torna a absorção da glicose mais lenta evitando assim a formação de triglicéridos. A fibra insolúvel, presente na casca, ajuda na regulação do trânsito intestinal. As fibras da maçã dão também uma sensação de saciedade e são um bom auxílio no controle de peso. O alto teor de potássio contido na maçã ajuda a eliminar o sódio excedente e, consequentemente, o excesso de água retida no organismo.

As nozes são um fruto seco rico em ácidos gordos polinsaturados ómega-3, com propriedades anti-inflamatórias importantes na diminuição dos níveis de triglicéridos e de colesterol LDL (mau colesterol). Esses ácidos gordos ajudam também a diminuir a resistência à insulina, contribuindo assim para um menor risco de diabetes tipo 2. As nozes apresentam ainda teores consideráveis de selénio, um antioxidante, que atuando juntamente com a vitamina E, é essencial para o controle da produção hormonal, para a saúde dos cabelos, pele e visão.

Palitos de cenoura e pepino, sugestão de Ana Rito, investigadora, e Emília Alves, nutricionista

A cenoura contém excelentes quantidades de vitamina A, que atua como antioxidante, e tem ação importante na proteção da visão, evitando o aparecimento de doenças como a cegueira noturna e a xeroftalmia. A cenoura contém ainda vitamina C, K, minerais como o potássio e fibras dietéticas (pectina), que ajudam no trânsito intestinal e na redução dos níveis de colesterol do sangue, vitamina E, que tem uma importante ação antioxidante e ácido fólico, fundamental para o bom funcionamento do sistema imunitário, nervoso e cardiovascular.

O pepino é um fruto composto principalmente por água, o que o torna um alimento leve e de baixo valor calórico (17kcal por 100g). Contém quantidades significativas de vitamina C, B5, potássio, magnésio, folato, fibras e antioxidantes como o beta caroteno, alfa caroteno, luteína e zeaxantina, o que lhe confere ação anti-inflamatória, calmante, digestiva, estimulante, remineralizante, diurética e laxativa, sendo recomendado no controlo da pressão arterial, no rejuvenescimento da pele e no fortalecimento do cabelo e unhas.
Iogurte e frutos secos, sugestão de Inês Gil Forte, nutricionista

Em primeiro lugar, nunca esquecer a importância da ingestão de água e tisanas ao longo do dia, para manter uma boa hidratação. Mesmo quem está o dia inteiro com ar condicionado deverá ter cuidados redobrados, uma vez que o ar condicionado desidrata muito.

Uma mistura de iogurte magro ou natural com fruta, meia dúzia de nozes ou avelãs ou um punhado de sementes de girassol ou de abobora, uma fatia de pão centeio ou alemão com queijo fresco ou mozzarela ou uma fatia de salmão ou presunto magro. As variações são várias! Há que evitar no entanto as barras de cereais, muitas vezes demasiado ricas em açúcar e pobres em proteína e fibra, os chocolates, bolos (mesmo sem creme!).
Dois menus para aos mais novos (dos 6 aos 12 anos), sugestões de Ana Teresa Ramos, nutricionista

As opções alimentares e respetivas doses devem ser escolhidas e calculadas de acordo com as necessidades nutricionais de cada criança. Fatores como a idade, percentil e atividade diária devem aqui ser considerados. Como tal, e a estarem o dia fora de casa, devem levar consigo logo de manhã tudo preparado na lancheira.
A meio da manhã:
1 pacote de leite meio gordo simples (200mL)
3 a 6 bolachas Maria [de acordo com a idade]
1 pera ou 1 banana pequena
e ao lanche:
1 iogurte sólido aroma
1 pão de mistura (ou metade, dependendo da idade), com 1 colher de sobremesa de manteiga ou 1 fatia de queijo
meia maçã
Ou então uma segunda opção de snacks saudáveis:
A meio da manhã:
1 iogurte sólido aroma
1 ou 2 fatias de pão de forma integral (de acordo com a idade), com 1 colher de doce de fruta
e ao lanche:
1 pacote de leite meio gordo simples (200mL)
meio pão de centeio com 1 fatia de queijo ou fiambre
9 a 10 uvas ou 5 a 6 morangos
(E atenção: devem ainda levar na lancheira uma garrafa pequena de água!)
 

O alimento visto pelo especialista em nutrição: o pimento

Escrito por Ana Russo e Paula Ravasco, Unidade de Nutrição e Metabolismo, do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa em 12 de maio de 2014.
 
Lembra-se da última vez que comprou pimentos? De certeza que os encontrou junto aos legumes. Embora possa ser difícil de acreditar, o pimento é o fruto com mais alto teor de vitamina C e é ainda rico em vitamina A, vitamina B6, vitamina K, fitoquímicos, fibra e folato.
Trazido do Novo Mundo por Cristovão Colombo, o pimento foi um alimento bastante popular na civilização Asteca, mas está longe de o voltar a ser nos dias que correm, sendo mais conhecido como acompanhamento da afamada sardinha durante o mês dos Santos Populares.

Podemos mais facilmente encontrar pimentos de cor vermelha ou verde, porém existem ainda nas cores amarela e laranja. Estas diferentes cores estão associadas às diferentes famílias de fitoquímicos presentes em cada um.

Por ser um alimento particularmente rico em vitamina A e C, o pimento apresenta diversos benefícios para a saúde: a vitamina A é importante para uma visão saudável e sistemas imunitário e reprodutor; e a vitamina C é também importante para o sistema imunitário e necessária para a síntese de colagénio e absorção de ferro. Juntas conferem um grande poder antioxidante ao alimento, contribuindo para a diminuição do risco de doenças cardiovasculares e cancro.

O potássio, também presente neste alimento, é essencial na dieta e regula as funções cardíacas e de contração muscular. A proporção de potássio-sódio que o pimento possui na sua constituição favorece a manutenção do equilibro de fluídos no organismo e previne a retenção de líquidos. Também o magnésio, o fósforo e o cálcio apresentam benefícios para a saúde dos ossos e dentes.

Devido ao seu elevado conteúdo em água e baixo teor energético, o pimento é uma boa opção para integrar dietas de controlo de peso. Além disso, a fibra que contém promove uma maior sensação de saciedade e facilita o trânsito intestinal, o que ajuda a regular o apetite.

Em algumas pessoas, o pimento causa sensação de desconforto no estômago ou azia. Retirar a pele pode ajudar a diminuir ou eliminar estes inconvenientes. Para isto, basta assar o pimento até a pele começar a sair e, então, colocá-lo dentro de água para que possa retirar o resto da pele.

O pimento pode ser consumido cru ou assado e servir de acompanhamento a carne e peixe. Uma chávena de pimento cru aos pedaços (aproximadamente 150g) contém um baixo valor energético (33kcal) e cerca de 2 vezes a dose diária recomendada de vitamina C (aproximadamente 135mg).