segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dia Mundial da Alimentação 2011 - “Preço dos alimentos – da crise à estabilidade"

O Dia Mundial da Alimentação é este ano assinalado em todo o mundo dando especial atenção ao tema “Preço dos alimentos – da crise à estabilidade" proposto pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Conforme consta na publicação “Online24” são objetivos principais relativos à comemoração do Dia Mundial da Alimentação:
· Desenvolver medidas para combater a fome e sensibilizar as pessoas para adoção das mesmas;
· Sensibilizar as pessoas para necessidade da produção agrícola e estimular os apoios nacionais, bilaterais, multilaterais e não-governamentais para este fim;
· Ajudar no desenvolvimento de novas tecnologias em países subdesenvolvidos;
· Sensibilizar todos os países para importância da ajuda nacional e internacional na luta contra a fome, subnutrição e pobreza;
· Estimular participação da população rural, em especial as mulheres e as camadas sociais mais desfavorecidas, nas decisões e atividades que influenciam as suas condições de vida.
Estes objetivos vão ao encontro das preocupações manifestadas pela FAO ao propor para este ano o tema já referido.
Nos últimos anos tem-se verificado uma acentuada escalada dos preços dos bens alimentares, tornando cada vez mais difícil o acesso a estes, por parte de setores significativos da população mundial, de tal modo que “de acordo com o Banco Mundial, entre 2010 e 2011, o aumento do preço dos alimentos deixou quase 70 milhões de pessoas na pobreza extrema em todo o mundo”.
O problema está a atingir proporções tais que num artigo escrito pela jornalista Sandra Jódar, do departamento de Análise Económica do banco espanhol La Caixa, esta se interroga sobre se o mundo poderá aguentar o aumento incessante do preço da alimentação. Esta jornalista sugere cinco razões para a escalada do preço dos alimentos, que a seguir transcrevemos:
“1. Mais procura e menos oferta. A população mundial tem vindo a crescer exponencialmente e não dá sinais de abrandar. Como há poucas reservas, menos oferta e cada vez mais bocas para alimentar, o impacto sobre os preços é imediato.
2. Mais população nos centros urbanos e mais poder de compra em alguns países pobres. Quem tem um nível de vida alto e vive longe do campo, exige mais alimentos, o que origina uma ligação direta entre a procura e os custos. Só para se ter uma ideia, no caso do milho, 58% da volatilidade dos preços pode ser explicada por esta causa…
3. Energia e biocombustíveis. Tradicionalmente, o preço dos alimentos acaba por estar diretamente ligado ao da energia, devido ao custos de produção. Atualmente, a esta questão junta-se o cada vez mais intenso usos de produtos agrícolas na produção de biocombustíveis. A OCDE estima que entre 2005 e 2007 metade do aumento da produção de cereais se destinou aos biocombustíveis.
4. Mercados. O papel da especulação nos mercados de futuros e derivados agrícolas na subida dos preços é difícil de quantificar, mas há uma relação negativa entre o preço dos produtos e a atual crise da dívida. Porquê? Porque pode levar a uma subida do custo dos alimentos e à acumulação preventiva de stocks.
5. Políticas restritivas. Tanto os países desenvolvidos, como os em vias de desenvolvimento, atuam sobre os mercados internos perante os picos de preços. Os primeiros com medidas para proteger os produtores (aumentando os preços), os segundos apostando na segurança alimentar das populações (para reduzir os preços). Estas restrições ao comércio alteram o mercado internacional e impulsionam a volatilidade dos preços”.
Assiste-se à situação paradoxal de que nunca, como hoje foram produzidos tantos bens alimentares, e no entanto não se vislumbra uma resolução para o problema da fome e subnutrição que continuam a grassar em vastas zonas do mundo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

As pedras parideiras da serra da Freita

Resultante da colaboração entre o Visionarium e o jornal "Ciência Hoje" surge um interessante artigo intitulado "A "Vida" das Rochas, as Pedras Parideiras" escrito por José Manuel Lobo e Bruno Manuel Rodrigues Novo, onde é explicado o modo de formação deste raríssimo fenómeno geológico que ocorre próximo da Frecha da Mizarela, na serra da Freita, nas cercanias da aldeia de Castanheira, pertencente ao concelho de Arouca no distrito de Aveiro.
A transcrição deste artigo neste blogue advém do facto de constituir um importante material de aprofundamento de conhecimentos para os alunos de Biologia e Geologia da nossa escola.


"Na pacata aldeia de Castanheira, concelho de Arouca, um fenómeno raro no Mundo surge. Chamam-lhe as “Pedras Parideiras”, pois são pedras que parem pedras…O afloramento tem a forma de uma janela granítica oval, com 500x700m e apresenta no seu seio formações nodulosas (encraves ou jogas). Os curiosos nódulos têm forma de disco biconvexo que pode chegar aos 15-20 cm e diâmetro e 5-6cm de altura máxima. O seu núcleo é composto essencialmente por quartzo e feldspato e está envolvido numa coroa tipicamente biotítica (mica preta).
Para encontrarmos uma perspetiva capaz de dar luz a este fenómeno, precisamos mergulhar no granito da Castanheira e acompanhar a sua evolução. No momento em que se formou esta rocha magmática, outras rochas preexistentes, tendo sido esta a causa provável da génese das formações nodulosas de predominância biotítica. Há cerca de 320 milhões de anos e à medida que o magma arrefecia, poderosas pressões exerceram-se sobre o granito e, consequentemente, sobre os encraves, determinando assim o seu atual achatamento.
Entretanto, as massas graníticas que afloraram à superfície do solo vão, por ação da meteorização mecânica, nos nossos dias, desagregando-se e libertando os referidos encraves. A pedra racha e parte – porque tem uma foliação bem marcada – e nessa altura o nódulo de biotite sai. O que se passa neste caso é uma ação conjunta da meteorização pela ação do gelo (gelivação), e pela ação do calor (crioclastia/termoclastia).
A termoclastia constitui um tipo de agente de meteorização, provocada pela variabilidade da temperatura na superfície dos materiais rochosos, provocando uma variação no volume. Os encraves dilatam-se, como reação a temperaturas elevadas, e contraem-se por reacção ao arrefecimento. Como as rochas são em geral agregados poliminerálicos, e devido ao facto de cada mineral apresentar diferentes valores de coeficiente de dilatação, surgem diferentes velocidades de expansão e contração. As partes mais externas das rochas, sujeitas a fortes amplitudes térmicas diurnas vão-se fraturando.
A desagregação pela gelivação é das mais eficazes em termos de fracturação, embora seja um mecanismo de carácter sazonal e que ocorre, predominantemente, em zonas de alta montanha. Este agente, contribui ativamente para o “parir” do nódulo de biotite. A água contida nas fraturas, quando a temperatura é menor que 0ºC, começa a gelar na parte mais superficial. À medida que a temperatura exterior baixa, as cunhas de gelo vão crescendo no interior das fraturas. A água ao congelar, aumenta de volume (cerca de 10%), exercendo consequentemente, uma grande pressão, no interior dessas fraturas, provocando o seu alargamento e prolongamento. Logo, promove a desagregação das rochas, e o consequente “parir” do encrave biotítico.
As Pedras Parideiras, paulatinamente afloram à superfície da rocha, desprendem-se e vão-se acumulando no solo. Por isso, os camponeses da região chamam à rocha "a pedra que pare pedra", isto é, a rocha que produz uma outra rocha. Urge ainda atentar à preservação deste pecúlio, pois o vandalismo e usurpação indiscriminada dos nódulos em nada engrandece o património que é de todos".



















quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Prémio Nobel da Física 2011

Este ano, o Instituto Karolinski da Suécia atribuiu o Prémio Nobel da Física aos cientistas norte-americanos Saul Perlmutter, Adam Riess e Brian Schmidt, os quais com base nos seus estudos, descobriram que o Universo está se expandindo em aceleração ao invés de desacelerar como era anteriormente esperado. Segundo esta ideia o tamanho do Universo terá duplicado nos últimos 5 mil milhões de anos, curiosamente a idade que aproximadamente é atribuída ao nosso sistema solar.


Conforme artigo publicado pelo jornal brasileiro Diário do Nordeste "A descoberta da expansão acelerada do Universo foi possível através da observação de um tipo muito especial de supernova: a supernova Ia.Trata-se da explosão de uma estrela muito antiga e compacta, tão pesada quanto o Sol, mas de tamanho relativamente pequeno, como o da Terra. Uma única supernova pode emitir, durante semanas, tanta luz quanto uma galáxia inteira.Os dois times de pesquisa descobriram mais de 50 dessas supernova e detectaram que a luz delas era mais fraca do que o esperado, um sinal de que a expansão do Universo estava acelerando.Os trabalhos do trio ainda estão em pleno acordo com as previsões feitas por Albert Einstein ao demonstrar a teoria da relatividade geral. Eles poderão salvar uma parte da pesquisa do alemão que era tida como um erro até mesmo por Einstein: a constante cosmológica, um recurso usado pelo cientista para tentar salvar a ideia.
Antes das observações do trio, os astrônomos acreditavam que o Universo estava se expandindo em consequência do Big Bang, há cerca de 14 bilhões de ano. No entanto, para muitos cosmólogos esta expansão estava ficando cada vez mais lerda. Isso porque eles achavam o espaço era feito apenas por matéria comum - feita de átomos e que forma os objetos e seres que vemos todos os dias. Mas ao se voltar para as supernovas - explosões que marcam o fim da vida de estrelas com muita massa -, o trio premiado pelo Nobel encontrou astros com menos brilho do que seria previsto caso o Universo se expandisse devagar. Daí os cosmólogos tiraram a ideia que o Universo estava crescendo em ritmo acelerado. O problema é que se somente existisse matéria comum, isso não seria possível, pois a atração da gravidade retardaria a rapidez da expansão. A solução foi encontrar algo para explicar um cosmo com pressa para crescer. Foi aí que os astrônomos norte-americanos surgiram com a ideia da energia escura, que acreditam que ela ocupe 73% do Universo".

A ativação do sistema imunitário

Na sequência da atribuição do Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina o jornal Público publicou um excelente artigo da jornalista Ana Gerschenfeld a seguir transcrito quase integralmente.

Ana Gerschenfeld
"Vivemos rodeados de inimigos invisíveis – bactérias, vírus, fungos, parasitas. Quais são os “guardiões” que alertam o nosso sistema imunitário para a presença destes perigosos intrusos quando eles se introduzem no nosso organismo? O norte-americano Bruce Beutler, o francês Jules Hoffmann e o canadiano Ralph Steinman…foram ontem distinguidos em Estocolmo com o Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina 2011 por terem permitido perceber como o sistema imunitário é ativado quando surge uma ameaça patogénica.
O sistema imunitário (humano, mas não só) possui duas linhas de defesa. A primeira é a imunidade inata, que, ao ativar-se em presença de um microrganismo potencialmente perigoso, consegue destruí-lo rapidamente. Os seus principais protagonistas são células chamadas fagócitos, que literalmente “devoram” os intrusos.
A segunda linha de defesa, dita de imunidade adaptativa, ativa-se quando um microrganismo causador de doença consegue vencer a primeira barreira. Os seus atores principais são os linfócitos B e T, que respetivamente produzem anticorpos e causam a multiplicação de células “assassinas” para destruir as células infetadas. Para mais, este segundo tipo de imunidade possui uma “memória”, que vai permitir que o organismo desenvolva rapidamente uma plena resposta imunitária da próxima vez que o mesmo agressor nos ameaçar. As vacinas exploram precisamente essa memória imunitária, mantendo-nos protegidos contra uma série de doenças durante anos a fio – e por vezes a vida toda.
Muitos componentes do sistema imunitário foram descobertos durante o século XX. “Graças a uma série de descobertas que foram recompensadas com Prémios Nobel”, explica o Instituto Karolinska em comunicado, “sabemos, por exemplo, como são construídos os anticorpos e como os linfócitos T reconhecem as substâncias estranhas ao organismo.” Contudo, seriam precisas as descobertas dos laureados do Nobel 2011 para se ficar a conhecer os processos de ativação de cada uma das duas facetas da imunidade (que envolvem, nomeadamente, uma forma de comunicação entre elas).
À procura dos “gatilhos”
Foram os trabalhos de Hoffmann e Beutler que permitiram desvendar a identidade do “gatilho” da imunidade inata…
Em 1996, Hoffmann estava a tentar perceber como faziam as moscas do vinagre para combater as infeções. Foi assim que descobriu que as moscas que tinham uma mutação ao nível de um gene chamado Toll morriam quando eram infetadas por bactérias ou fungos porque não conseguiam desenvolver uma reação imunitária adequada contra eles. Hoffman mostrou ainda que esse gene estava envolvido na deteção dos microrganismos patogénicos pelo sistema imunitário das moscas e que a sua ativação era necessária para a imunidade inata funcionar corretamente.
Entretanto, Beutler estava a tentar perceber como é que certos tipos de toxinas de origem bacteriana, os lipopolissacarídeos (LPS), conseguem produzir em certos doentes uma síndrome potencialmente letal, chamada choque tóxico. Para isso, procurava identificar recetores dos LPS à superfície das células imunitárias do ratinho – verdadeiras “antenas moleculares” capazes de se ligarem aos LPS e de desencadearem uma resposta imunitária eventualmente excessiva e mortal. Foi então que descobriu, em 1998, que os ratinhos resistentes aos LPS – ou seja, os ratinhos que não desenvolviam um choque tóxico – eram portadores de uma mutação num gene muito parecido com o gene Toll das moscas-do-vinagre. O gene do ratinho comandava o fabrico de um recetor a que Beutler deu o nome de receptor Toll-like (TLR). A seguir, o investigador mostrou que o facto de os LPS se ligarem a esse recetor provoca uma reação inflamatória – o que, em caso de doses excessivas de LPS, causa a síndrome de choque tóxico.
Células dendríticas
Quanto ao trabalho de Steinman (1943-2011), de 68 anos, nascido em Montreal e investigador da Universidade Rockefeller, em Nova Iorque, diz respeito à segunda fase da reação imunitária – e, mais precisamente, às células da primeira frente encarregadas de alertar as da segunda frente quando os invasores conseguiram derrotar a imunidade inata. Essencialmente, Steinman descobriu, em 1973, um novo tipo de células imunitárias: as células dendríticas. A seguir, decidiu ver se estas células (que, sendo fagócitos, integram a imunidade inata) eram capazes de ativar os linfócitos T, componentes-chave da imunidade adaptativa e da memória imunitária contra inúmeras substâncias. Quando demonstrou, in vitro, que a presença de células dendríticas aumentava fortemente a atividade dos linfócitos T contra essas substâncias, o resultado foi recebido com ceticismo. Mas Steinman acabaria por demonstrar que as células dendríticas têm de facto a capacidade única de ativar os linfócitos T. O conjunto destes resultados tem potenciais aplicações médicas de peso. Por um lado, pode permitir o desenvolvimento de vacinas mais eficazes contra as infeções e de maneiras de estimular o sistema imunitário para o tornar capaz de atacar eficazmente os cancros. Por outro, pode levar a perceber por que é que, em certos casos, o sistema imunitário se vira contra o seu dono, para conseguir um dia tratar as doenças inflamatórias autoimunes”.

Prémio Nobel da Medicina 2011

O Instituto Karolinski da Suécia premiou este ano trabalhos de investigação realizados na área do sistema imunitário, ao atribuir o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina aos investigadores Jules Hoffmann e Bruce Beutler pelo seu trabalho no domínio da imunidade inata ou congénita e a Ralph Steinman, falecido no dia 30 de setembro vítima de cancro no pâncreas, pelo estudo das células dendríticas responsáveis pela regulação dos mecanismos de defesa do organismo.
A investigação destes cientistas tem incidido sobre os "guardas" do sistema imunitário, que possibilitam ao homem e outros animais defender-se de bactérias e outros microrganismos patogénicos.
Através do seu trabalho foi possível obter informações mais específicas sobre os mecanismos de resposta às doenças e abrir caminhos à prevenção e terapia contra infeções, cancro e doenças inflamatórias como o lúpus.

O mérito do norte-americano Beutler e do luxemburguês Hoffman advém do facto de terem descoberto uma proteína recetora capaz de reconhecer os microrganismos que entram em contacto com o corpo. Já ao canadiano Ralph Steinman coube a descoberta das células dendríticas do sistema imunitário e a sua capacidade única de ativar e regular a resposta imunitária com vista à destruição dos microrganismos.

A deteção dos mecanismos fundamentais da ativação do sistema imunitário permitirá um combate mais eficaz às doenças contagiosas e o desenvolvimento da sua prevenção através de vacinas específicas.
http://tv1.rtp.pt/noticias/?t=O-Premio-Nobel-da-Medicina-foi-atribuido-a-tres-cientistas-que-estudaram-o-sistema-imunitario.rtp&headline=20&visual=9&article=484921&tm=2

A Precaridade do Conhecimento

O artigo de Nicolau Ferreira que a seguir se transcreve, vem, mais uma vez, recordar-nos que todo o conhecimento é efémero e que perante novos dados, cabe aos cientistas elaborar as teorias que melhor respondam às novas situações. A ciência é, assim, um edifício em permanente construção e remodulação, em que a única certeza é a mudança. O par ciência-tecnologia, numa estreita relação biunívoca tem levado a que o conhecimento pule e avance num ritmo cada vez mais alucinante.
"Observações da sonda Messenger obrigam a repensar teorias sobre formação de Mercúrio.
Dados da sonda Messenger mostram que planeta Mercúrio ainda pode estar geologicamente activo.

Nicolau Ferreira
O resultado dos primeiros 90 dias de órbitas da Messenger ao planeta mais próximo do Sol foi publicado na Science. O que se sabe sobre Mercúrio mudou.
Não há nada como ver os objetos de perto para os conhecer melhor, e a última vez que se olhou com atenção para Mercúrio foi há 37 anos, com a sonda Mariner 10. Teorias sobre o planeta mais pequeno do Sistema Solar foram feitas a partir destes resultados, mas tudo mudou com a Messenger. A sonda que foi enviada em 2004 começou a orbitar o planeta a 18 de Março deste ano e os dados dos primeiros 90 dias já obrigaram os cientistas a deitar fora estas teorias, de acordo com sete artigos publicados agora na revista Science.
“A presença em abundância de enxofre e potássio na superfície de Mercúrio mostra que o planeta não sofreu as altas temperaturas no início da sua história que pareciam prováveis nas teorias sobre a formação de Mercúrio”, disse Sean Solomon, um dos vários autores dos sete artigos, que trabalha no Instituto Carnegie, em Washington, e que foi o cientista escolhido pela Science para conversar num podcast.
Solomon explica que o tamanho de Mercúrio e as forças gravíticas entre os planetas do Sistema Solar levaram gerações de cientistas a concluir que a quantidade de ferro presente no planeta tinha que ser muito maior do que a que existe nos outros planetas do interior do Sistema Solar – Vénus, Terra e Marte. Ou seja, Mercúrio é um planeta densíssimo, com um terço do diâmetro da Terra, com imenso ferro. Em 1974, a Mariner 10, que fez três aproximações a Mercúrio – nunca orbitou o planeta como a Messenger –, confirmou esta visão.
As teorias que foram nascendo sobre a sua formação envolviam ou altas temperaturas vindas do Sol, que queimaram uma parte mais externa e mais rochosa do planeta e deixaram a versão mais pequena e mais metálica que hoje conhecemos. Ou um outro objeto com um tamanho semelhante ao de Mercúrio embateu contra este e arrancou essa camada mais rochosa, com a ajuda de altas temperaturas. Em ambos os casos, e de acordo com o que se sabe hoje, se isto realmente tivesse acontecido grande parte do potássio e do enxofre que se encontrou agora à superfície do astro teria sido volatilizado. Por isso, o cientista é perentório, há que “repensar todas as ideias sobre a formação de Mercúrio”.
O espectrómetro de raios X foi o instrumento que permitiu medir estes elementos na superfície do planeta e faz parte dos seis instrumentos principais da Messenger, cujo nome é uma espécie de acrónimo para Mercury Surface, Space Environment, Geochemistry and Raging.
Os instrumentos trouxeram mais surpresas. Os cientistas descobriram uma camada de lava solidificada que cobre seis por cento da área do planeta, o equivalente a três quintos dos Estados Unidos, e tem uma espessura de mais de um quilómetro. A lava brotou de rachas na superfície em grandes quantidades, num fenómeno de vulcanismo que durou pouco tempo e aconteceu entre 3,5 e quatro mil milhões de anos atrás. Esta lava seria tão quente que derretia a superfície, provocando sulcos.
A equipa também descobriu uma paisagem nunca vista, formada por muitos buracos sem bordas, adjacentes, que ocorrem em zonas de substratos brilhantes no meio de crateras de impacto de meteoritos. “A melhor explicação é que há um material destes depósitos que sublimou”, defendeu Solomon. As altas temperaturas diurnas de Mercúrio podem ter volatilizado alguma substância, formando estas concavidades. Isto mostra que ainda “é possível que Mercúrio esteja geologicamente ativo”, disse o cientista, acrescentando que a sua superfície pode estar a alterar-se pela perda de alguns materiais.
A sonda tem pelo menos mais seis meses de observação se a NASA não quiser prolongar os trabalhos. Solomon espera que prolongue. O Sol está a atingir o pico do seu ciclo de atividade e, segundo o cientista, é um privilégio ter um observatório que testemunha esta interação com o planeta mais próximo da sua estrela. Isto e tentar perceber como é que astros irmãos como Mercúrio, Vénus, Marte e Terra são hoje tão diferentes".

O cardo e a saúde



No passado dia 3 de Outubro, a agência noticiosa Lusa deu a conhecer um excelente artigo sobre as propriedades antitumorais do cardo, evidenciando-se, mais uma vez, a importância da preservação da biodiversidade, neste caso da flora, e da conveniência em não esquecer os ensinamentos da medicina popular que transportam consigo uma sabedoria construída ao longo de séculos.
Se em tempos mais recuados o tipo de afeções que afligia as populações e era responsável pelos elevados índices de mortalidade então existente, com a consequente curtíssima esperança média de vida, residia no âmbito das doenças infeciosas potenciadas por situações de carência nutricional generalizadas, na actualidade, é o cancro que constitui uma das principais causas de morte. Tal facto, por paradoxal que pareça, está relacionado com a situação de vivermos muito mais tempo que os nossos antepassados. Assim sendo, ao cancro, não falta tempo para poder desenvolver-se e manifestar-se.

Muitos têm sido os cientistas que se têm empenhado na investigação desta doença com vista a encontrar soluções que permitam a sua cura, conforme está patente no artigo da Lusa que a seguir se transcreve:

"Descoberta planta anti tumoral: Cardo tem potenciais propriedades para prevenir e tratar dois tipos de cancro fatais.
O cardo, planta usada no fabrico de queijo, tem potenciais propriedades anti tumorais que poderão prevenir e tratar dois tipos de cancro, um da mama e outro do fígado, pouco frequentes mas fatais, defendem cientistas.
Este é um dos resultados de uma linha de investigação sobre o potencial anti-tumoral dos extratos do cardo seguida por cientistas do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Baixo Alentejo e Litoral (CEBAL), situado em Beja.
A equipa, liderada por Fátima Duarte, estuda desde 2008 o potencial do cardo para prevenir e tratar doenças, nomeadamente os dois tipos de cancro.
Estudos e a medicina popular, através do uso do cardo em mezinhas, como infusões para tratar problemas digestivos, indicavam que a planta “poderia ter compostos muito interessantes” a nível fitoterapêutico (uso de compostos naturais para prevenir e tratar doenças), explicou à Lusa Fátima Duarte.
Os cientistas dividiram o cardo em partes para obter extratos naturais de cada uma e têm percebido que o extrato da folha “parece ser o mais ativo ou o que tem mais potencialidade fitoterapêutica”.
“Neste momento não posso dizer que o extrato da folha consegue ser um tratamento eficaz”, mas, através de ensaios ‘in vitro’, com recurso a um modelo de um tipo de cancro da mama, o fenótipo triplo-negativo, o trabalho tem mostrado que “conseguimos bloquear o crescimento das células tumorais” quando são incubadas com o extrato da folha do cardo, disse.
Aquele tipo de cancro da mama é pouco frequente, mas quase 100 por cento dos casos são fatais, já que as terapias existentes são “pouco eficientes”, disse a especialista, referindo que a equipa está também a trabalhar com um modelo de um tipo de cancro do fígado, o hepatocarcinoma humano, também fatal.
A responsável explicou que o extrato da folha do cardo parece ser mais eficaz no tipo de cancro da mama do que no do fígado, mas neste “também tem atividade e os resultados também são muito promissores”.
“Se calhar estamos a lidar com um composto ou vários compostos que têm propriedades anti-tumorais, mais do que propriedades anti-tumorais específicas do cancro da mama”, admitiu, frisando que as respostas podem ser esclarecidas com ensaios ‘in vivo’ em ratinhos.
O extrato da folha “consegue bloquear e reduzir muito significativamente a proliferação das células tumorais”, mas, antes de avançar para eventuais ensaios “in vivo”, a equipa tem que percorrer vários passos.
A equipa está a iniciar a identificação e a caracterização química dos compostos do extrato da folha do cardo, para saber qual é o composto ou quais são os compostos com potencial anti-tumoral, disse, frisando que talvez “não se trata de um composto, mas de uma sinergia entre compostos”.
Por outro lado, a equipa vai tentar perceber se o extrato “consegue influenciar a mobilidade das células tumorais”, porque um tumor tem o “poder” de desenvolver metástases.
A evolução da investigação, financiada por fundos comunitários, vai depender de financiamento, mas, se continuar ao ritmo atual, dentro de quatro a cinco anos a equipa deverá ter informação suficiente para avançar com os ensaios ‘in vivo’ ou já terá desistido, se tiver percebido que o extrato não tem atividade que justifique tais ensaios, estimou".

Desta equipa faz parte a Doutora Zélia Velez, que em Abril, esteve na nossa escola, no âmbito dos Dias da Saúde, onde foi oradora brilhante da palestra "Percurso de um cientista".