quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O cardo e a saúde



No passado dia 3 de Outubro, a agência noticiosa Lusa deu a conhecer um excelente artigo sobre as propriedades antitumorais do cardo, evidenciando-se, mais uma vez, a importância da preservação da biodiversidade, neste caso da flora, e da conveniência em não esquecer os ensinamentos da medicina popular que transportam consigo uma sabedoria construída ao longo de séculos.
Se em tempos mais recuados o tipo de afeções que afligia as populações e era responsável pelos elevados índices de mortalidade então existente, com a consequente curtíssima esperança média de vida, residia no âmbito das doenças infeciosas potenciadas por situações de carência nutricional generalizadas, na actualidade, é o cancro que constitui uma das principais causas de morte. Tal facto, por paradoxal que pareça, está relacionado com a situação de vivermos muito mais tempo que os nossos antepassados. Assim sendo, ao cancro, não falta tempo para poder desenvolver-se e manifestar-se.

Muitos têm sido os cientistas que se têm empenhado na investigação desta doença com vista a encontrar soluções que permitam a sua cura, conforme está patente no artigo da Lusa que a seguir se transcreve:

"Descoberta planta anti tumoral: Cardo tem potenciais propriedades para prevenir e tratar dois tipos de cancro fatais.
O cardo, planta usada no fabrico de queijo, tem potenciais propriedades anti tumorais que poderão prevenir e tratar dois tipos de cancro, um da mama e outro do fígado, pouco frequentes mas fatais, defendem cientistas.
Este é um dos resultados de uma linha de investigação sobre o potencial anti-tumoral dos extratos do cardo seguida por cientistas do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Baixo Alentejo e Litoral (CEBAL), situado em Beja.
A equipa, liderada por Fátima Duarte, estuda desde 2008 o potencial do cardo para prevenir e tratar doenças, nomeadamente os dois tipos de cancro.
Estudos e a medicina popular, através do uso do cardo em mezinhas, como infusões para tratar problemas digestivos, indicavam que a planta “poderia ter compostos muito interessantes” a nível fitoterapêutico (uso de compostos naturais para prevenir e tratar doenças), explicou à Lusa Fátima Duarte.
Os cientistas dividiram o cardo em partes para obter extratos naturais de cada uma e têm percebido que o extrato da folha “parece ser o mais ativo ou o que tem mais potencialidade fitoterapêutica”.
“Neste momento não posso dizer que o extrato da folha consegue ser um tratamento eficaz”, mas, através de ensaios ‘in vitro’, com recurso a um modelo de um tipo de cancro da mama, o fenótipo triplo-negativo, o trabalho tem mostrado que “conseguimos bloquear o crescimento das células tumorais” quando são incubadas com o extrato da folha do cardo, disse.
Aquele tipo de cancro da mama é pouco frequente, mas quase 100 por cento dos casos são fatais, já que as terapias existentes são “pouco eficientes”, disse a especialista, referindo que a equipa está também a trabalhar com um modelo de um tipo de cancro do fígado, o hepatocarcinoma humano, também fatal.
A responsável explicou que o extrato da folha do cardo parece ser mais eficaz no tipo de cancro da mama do que no do fígado, mas neste “também tem atividade e os resultados também são muito promissores”.
“Se calhar estamos a lidar com um composto ou vários compostos que têm propriedades anti-tumorais, mais do que propriedades anti-tumorais específicas do cancro da mama”, admitiu, frisando que as respostas podem ser esclarecidas com ensaios ‘in vivo’ em ratinhos.
O extrato da folha “consegue bloquear e reduzir muito significativamente a proliferação das células tumorais”, mas, antes de avançar para eventuais ensaios “in vivo”, a equipa tem que percorrer vários passos.
A equipa está a iniciar a identificação e a caracterização química dos compostos do extrato da folha do cardo, para saber qual é o composto ou quais são os compostos com potencial anti-tumoral, disse, frisando que talvez “não se trata de um composto, mas de uma sinergia entre compostos”.
Por outro lado, a equipa vai tentar perceber se o extrato “consegue influenciar a mobilidade das células tumorais”, porque um tumor tem o “poder” de desenvolver metástases.
A evolução da investigação, financiada por fundos comunitários, vai depender de financiamento, mas, se continuar ao ritmo atual, dentro de quatro a cinco anos a equipa deverá ter informação suficiente para avançar com os ensaios ‘in vivo’ ou já terá desistido, se tiver percebido que o extrato não tem atividade que justifique tais ensaios, estimou".

Desta equipa faz parte a Doutora Zélia Velez, que em Abril, esteve na nossa escola, no âmbito dos Dias da Saúde, onde foi oradora brilhante da palestra "Percurso de um cientista".

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