sábado, 30 de março de 2013

Quando uma decisão-relâmpago é a melhor opção... e pensar não adianta

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 28/03/2013.
"Nós, humanos, acreditamos que o facto de ter tempo para pensar permite tomar decisões mais certas. E se isso fosse apenas um preconceito e o cérebro se baseasse muito mais na nossa intuição do que imaginamos?
As tomadas de decisão “intuitivas” dos ratos servem de modelo de estudo do comportamento humano
“Quando vou ao restaurante, demoro imenso a escolher o que vou comer. Não consigo fazer de outra maneira, mas não tenho a certeza de que essa deliberação me permita desfrutar mais da refeição do que se tivesse escolhido outro prato.” Foi com este exemplo da sua vida quotidiana que Zach Mainen, director do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, em Lisboa, explicou esta quinta-feira ao PÚBLICO os resultados do trabalho que publicou online a revista Neuron.
 
O estudo foi liderado por este neurocientista norte-americano no Laboratório de Cold Spring Harbor, nos EUA, antes de ele ter vindo viver para Portugal. Entretanto, já foram obtidos mais resultados cá e outros artigos foram ou deverão ser submetidos para publicação. Mas aquele foi o ponto de partida.

“Muitas vezes, se demorarmos mais tempo, conseguimos melhorar o nosso desempenho”, explica Mainen. Mas há limites: mesmo num exame escolar, após várias horas, isso já não é possível. E, muitas vezes, a melhor decisão pode também consistir em optar sem pensar, intuitivamente. É essa diferença que os cientistas querem elucidar: “Estamos interessados em saber por que algumas decisões parecem beneficiar da atribuição de tempo e outras não; por que é que algumas decisões exigem mais tempo e outras menos. É algo que tem sido pouco estudado.”
 
Para o fazer, submeteram ratos a tarefas perceptuais simples de discriminação de cheiros. E mostraram que, uma vez treinados, os animais demoravam, quando muito, 300 milissegundos a decidir. E mais: mesmo que os obrigassem a retardar a decisão — ou que reduzissem a água que recebiam por cada resposta certa quando decidiam demasiado depressa (como quem diz “atenção, pensem bem antes de responder!”) —, o desempenho dos ratos não era melhor do que quando apenas dispunham de umas centenas de milissegundos.
 
O que pareceu funcionar melhor nestas experiências foram as decisões “intuitivas”, os palpites, e não as decisões ponderadas, pensadas. “Os palpites funcionam como uma espécie de processo de reconhecimento de padrões que pode ser realizado muito depressa pelo cérebro”, salienta Mainen. “Pensamos que, quando os animais se tornam peritos na tarefa, deliberarem torna-se supérfluo.”
 
O mesmo acontece, especula Mainen, nos humanos. “A questão de saber se a deliberação acrescenta alguma coisa permanece em aberto”, diz. E exemplifica: há pessoas que são muito boas a ler expressões faciais para detectar suspeitos. Mas quando se tornam exímios nisso, deixam de conseguir analisar realmente o seu processo de decisão e passam a funcionar só com base em impressões, em informação sensorial. “Se continuassem a olhar para um rosto durante uma hora isso não adiantaria nada”, diz Mainen. “A única coisa que os poderia ajudar era terem mais informação.”
 
O derradeiro objectivo é saber o que se passa no cérebro durante as decisões-relâmpago — e se os circuitos e mecanismos das decisões rápidas são diferentes dos que lidam com decisões mais lentas. “Os processos de decisão estão na base de tudo o que fazemos”, diz Mainen. “Temos de perceber como funcionam.”  "

Identificadas dezenas de mutações associadas a três tipos de cancro

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 28/03/2013.
"Vários milhões de cancros da mama, do ovário e da próstata são diagnosticados por ano no mundo. As raízes genéticas da susceptibilidade a estas doenças começam a ser delineadas de forma sistemática.
Os cientistas querem determinar quais os indivíduos que apresentam maior risco de desenvolver diversos cancros
Uma lista de recém-identificadas "gralhas" genéticas que podem fazer aumentar o risco de desenvolver cancros da mama, do ovário ou da próstata é publicada hoje. No seu conjunto, são nove os artigos que reportam colectiva e simultaneamente, na revista Nature Genetics e noutras como a Nature Communications ou a Plos Genetics, a descoberta, no ADN humano, de 67 erros de ortografia pontuais que podem influenciar o aparecimento destes cancros.
 
Mais de dois milhões e meio de novos casos de cancro da mama, do ovário e da próstata são diagnosticados por ano em todo o mundo. A taxa de mortalidade ronda os 30%.
 
Os autores dos estudos agora publicados integram um superconsórcio internacional: o COGS (Collaborative Oncological Gene-environment Study). O objectivo do COGS, que envolve mais de 160 equipas científicas do mundo inteiro, incluindo de Portugal - e entre cujos maiores financiadores se encontra a União Europeia (UE) -, é "identificar os indivíduos que apresentam um risco acrescido face a estes cancros, de forma a conseguir reduzir o número de pessoas nas quais eles venham a ser diagnosticados", lê-se no site do COGS, em http://www.cogseu.org. E ainda "identificar os factores genéticos e de estilo de vida associados a certos subtipos de tumores e que influenciam o prognóstico".
 
Cem mil pessoas com cancro da mama, do ovário ou da próstata e cem mil pessoas saudáveis participaram nos estudos agora divulgados, que consistiram em analisar 200 mil localizações da molécula de ADN e em registar as diferenças genéticas pontuais ali detectadas entre as pessoas doentes e as pessoas sem cancro. Ou seja, as "gralhas" em que uma das quatro "letras" que compõem o alfabeto do ADN foi substituída por outra nas pessoas com cancro.
 
No que respeita ao cancro da mama, foram assim encontradas 41 novas mutações associadas à doença - até agora, conheciam-se 27. Três gralhas inéditas foram identificadas no cancro do ovário. E o estudo do cancro da próstata - no qual participou o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto - permitiu descobrir 23 novas mutações pontuais relevantes, o que eleva a mais de 70 o número total de erros ortográficos genéticos catalogados que poderão fazer aumentar o risco de contrair este cancro.
 
"Os trabalhos agora publicados na revista Nature Genetics constituem o maior estudo de sempre sobre susceptibilidade genética para os cancros da próstata, mama e ovário, tanto em número de variantes genéticas testadas simultaneamente como em número de doentes e controlos estudados", disse ao PÚBLICO Manuel Teixeira, director do Serviço de Genética e do Centro de Investigação do IPO do Porto, de cuja equipa fazem parte Paula Paulo e Sofia Maia, as duas co-autoras portuguesas do artigo sobre cancro da próstata. "Só um estudo multicêntrico desta envergadura, com financiamento da UE, tornou possível a descoberta de um número tão significativo de factores de risco genéticos."
 
Participação portuguesa
A equipa portuguesa realizou o perfil genético de 187 homens com cancro da próstata e um igual número de dadores de sangue saudáveis. "Os doentes portugueses foram seleccionados por terem cancro da próstata diagnosticado em idade jovem (antes dos 65 anos) ou por apresentarem uma história familiar da doença, o que aumenta a probabilidade de se detectarem variantes genéticas associadas ao risco de cancro da próstata clinicamente agressivo", diz Manuel Teixeira.
 
No total, o consórcio internacional estudou mais de 25 mil doentes com cancro da próstata e quase 25 mil homens saudáveis. E os resultados permitem dizer que, "neste momento, já foram identificadas variantes genéticas que explicam até cerca de 30% do risco familiar de cancro da próstata", salienta Manuel Teixeira.
 
É só o início, mas os cientistas do COGS já têm uma ideia do número total de mutações pontuais a descobrir nos cancros da mama e da próstata. "Conseguimos determinar quantos SNP [mutações pontuais] adicionais poderão influenciar os cancros da mama e da próstata: mil no primeiro caso e 2000 no segundo", diz Per Hall, do Instituto Karolinska e coordenador do COGS, num comunicado daquela instituição sueca. "E também temos uma boa ideia de onde no genoma é que vamos ter de procurar no futuro."
 
Os trabalhos também "permitiram identificar a existência de regiões de susceptibilidade comuns aos três tipos de cancros", explica a Nature Genetics, "o que sugere que estas doenças partilham uma base e um mecanismo genéticos comuns."
 
No futuro, diz por seu lado Manuel Teixeira, "estas descobertas vão conduzir a uma melhor estratificação do risco de cancro a nível populacional, permitindo recomendar rastreio a quem tem risco mais elevado". E, embora cada uma das variantes descobertas tenha um efeito relativamente pequeno, calcula-se que a fracção de 1% da população com o maior número deste tipo de variações genéticas "pode ter um risco de cancro até cinco vezes superior ao da média da população geral". Por isso, se for possível concentrar as medidas de rastreio nos indivíduos de maior risco, conclui Manuel Teixeira, "aumenta-se a eficiência da utilização dos recursos existentes e torna-se possível diagnosticar mais precocemente o cancro e reduzir a sua mortalidade." "

Futura terapia quer aproveitar os açúcares anormais do cancro da mama

Texto de Teresa Firmino publicado pelo jornal Público em 27/03/2013.
"Em 30% dos cancros da mama existe um açúcar atípico à superfície das células, que uma equipa portuguesa pretende usar para fazer uma molécula terapêutica.

Campanha de 2005 de prevenção do cancro da mama, na escadaria da Assembleia da República
E se os açúcares anormais à superfície das células do cancro da mama pudessem ser aproveitados para desenvolver um tratamento contra a doença? É isso que a equipa de Paula Videira, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, se propõe levar por diante com um projecto que esta quarta-feira à tarde é premiado com 25 mil euros.
 
O Prémio de Mérito Científico Santander Totta/UNL, que distingue projectos que envolvam várias unidades científicas da Universidade Nova, vai na sexta edição. Desta vez, a equipa de Paula Videira, de 40 anos, inclui investigadores da sua faculdade (José Ramalho), do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (Carlos Novo) e da Faculdade de Ciências e Tecnologia (Angelina Sá Palma e Ana Luísa Carvalho).
 
A equipa não partiu do zero, mas de conhecimento já existente. No caso da mama e de outros cancros, como o gástrico e da bexiga, sabe-se há cerca de uma década que as células cancerosas têm uma característica muito própria: à sua superfície encontra-se um tipo de açúcares que é muito diferente dos que existem nas células normais. Esses açúcares são os glicanos, por isso o mecanismo que conduz à sua produção anormal chama-se “glicosilação aberrante”. “Todas as células têm proteínas na superfície que estão glicosiladas. Nas células tumorais, muitas coisas são aberrantes e uma delas é a glicosilação”, explica Paula Videira, que faz investigação em imunologia e glicobiologia.
 
“Se pensarmos que as células interagem umas com as outras, temos esta floresta alterada que também altera a maneira como as células comunicam umas com as outras. O sistema imunitário é muito sensível a isso. A partir do momento em que há células com glicosilação aberrante, elas também vão ser reconhecidas de maneira diferente pelo sistema imunitário, que pode ser para melhor ou pior.”
 
No caso da mama, nas fases iniciais do cancro ocorre a produção de um tipo de glicano designado por “sialil-Tn” e que, geralmente, está associado a um mau prognóstico. “Trinta por cento dos cancros da mama têm sialil-Tn.”
 
O que a equipa de Paula Videira já descobriu é que as células cancerosas que produzem o sialil-Tn parecem conseguir enganar as células do sistema imunitário, evitando ser destruídas pelas nossas defesas. Estes açúcares parecem assim promover a progressão do cancro. “Descobrimos – isso está em vias de publicação – que as células que expressam sialil-Tn, nomeadamente as células do cancro da mama, têm um efeito imunossupressor. O sistema imunitário tem mais dificuldade em eliminar este tipo de células.”

Dois anos até ter uma molécula
Agora, Paula Videira e colegas propõem-se construir anticorpos, moléculas geralmente produzidas pelo sistema imunitário contra um determinado agressor através do reconhecimento de alguma das suas especificidades, que combatam especificamente as células cancerosas. Como? Através de engenharia genética, tencionam fabricar um só anticorpo que reúna duas funções: por um lado, que essa nova molécula seja capaz de identificar e de se ligar às células cancerosas utilizando o sialil-Tn, por outro lado, que active o sistema imunitário para as ir destruir.
 
A investigadora diz que já têm duas moléculas e que vão agora juntá-las numa só, acrescentando que nesta parceria também entra a Biotecnol, empresa de biotecnologia com sede em New Brunswick (New Jersey, Estados Unidos) e o centro de investigação em Oeiras. Depois, será preciso caracterizar o anticorpo que vier a ser desenvolvido e realizar testes, tanto em células como em ratinhos. “Penso que vamos conseguir fazer isto rapidamente. Prevejo que demoraremos cerca de dois anos até termos uma molécula segura, que consiga ter o efeito que esperamos”, antevê Paula Videira.
 
Mas se nas células de outros tipos de cancro existe o sialil-Tn, a futura molécula não poderá também ser usada como tratamento desses cancros? “Achamos que, um dia, poderá também ser utilizada para outros tipos de cancro”, responde a investigadora.
 
Por ora, o alvo é o cancro da mama, que em Portugal é o segundo tipo de cancro mais comum nas mulheres (a seguir ao da pele), sendo detectados por ano, segundo as estatísticas mais recentes, cerca de 4500 novos casos e causando a morte a 1500 mulheres. “Para já, não vai substituir as terapias actuais, vai complementá-las. Se calhar no início será uma terapia alternativa adjuvante das convencionais, para eventualmente poder reduzir as doses terapêuticas e até haver menos efeitos secundários.”
 
Se tudo correr bem, essa molécula ainda terá de passar por todas as fases de ensaios em humanos, que testam desde a segurança até à eficácia, até chegar às mulheres com este tipo de cancro da mama. Se isso acontecer, então os açúcares atípicos que parecem trazer vantagens às células cancerosas serão aproveitados numa terapia que se virará contra elas."

Consumir metade do sal evitaria 6000 mortes por ano em Portugal

Texto de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 27/03/2013.
"Cloreto de sódio associado a 2,3 milhões de mortes no mundo em 2010. Em Portugal, o sal que se come está a léguas das recomendações internacionais.
Por dia, os portugueses ingerem 10,7 gramas de sal
O consumo de sal é um hábito de país que vive à beira-mar e aprendeu que salgar conserva e que a comida saborosa é a salgada. Mas este hábito pode ser mortal quando o consumo é excessivo. Um estudo mostra que, só em 2010, a ingestão de sal esteve associada à morte de mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo devido a doenças cardiovasculares. Ainda não há números para Portugal, mas um especialista português fez contas em 2012: se reduzíssemos em cerca de metade o sal, salvar-se-iam 6000 vidas por ano.
 
As pequenas pedras que misturamos na comida são formadas por milhões de moléculas de cloreto de sódio, que é composto por um átomo de cloro e outro de sódio. É este que nos causa problemas. Durante milhões de anos, o organismo dos mamíferos habituou-se a reter o sódio, porque na alimentação havia pouco sal. Hoje os nossos rins não excretam este sódio a mais, o que origina problemas. A tensão arterial aumenta e, com os anos, vêm os ataques cardíacos, os acidentes vasculares cerebrais ou a insuficiência renal.
 
Das mortes cardiovasculares, 15% devem-se ao sal, diz o comunicado sobre o novo estudo apresentado numa reunião da Associação Americana para o Coração. Liderado por Dariush Mozaffarian, médico da Universidade de Harvard, o estudo mostra que, entre os 2,3 milhões de mortes associadas ao sal em todo o mundo, um milhão ocorreu em quem tinha menos de 70 anos.
 
Os cientistas analisaram 247 estudos sobre consumo de sódio, tendo em conta a idade, o género, a região e o país, realizados entre 1990 e 2010 e que fizeram parte do Estudo Global do Peso das Doenças, um trabalho internacional em 50 países. De seguida, a equipa de Mozaffarian fez uma meta-análise para avaliar o efeito que o aumento do consumo de sal tem no risco cardiovascular. A partir daqui, os cientistas contabilizaram as mortes ocorridas em 2010 devido ao sal, usando como referência o consumo de um só grama de sódio por dia.
 
Um grama de sódio equivale a 2,54 gramas de sal (cloreto de sódio). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu, em Janeiro, que a dose recomendada de sal por dia é inferior a 5,1 gramas. Nos EUA, a Associação Americana para o Coração defende 3,8 gramas. Em Portugal, segundo o Estudo Português de Hipertensão, consumiu-se em 2012, em média, 10,7 gramas por dia. No Cazaquistão, o valor é de 15,2 gramas.
 
Estas variações resultam em mortalidades diferentes de país para país. Entre os 30 países mais populosos, é na Ucrânia que o sal mata mais: 2109 pessoas em cada milhão de adultos. Segue-se a Rússia (1803 pessoas) e o Egipto (836). Entre todos os países, morre-se menos por sal no Qatar - 73 habitantes por milhão de adulto -, no Quénia (78 habitantes) e nos Emirados Árabes Unidos (134).
 
O novo trabalho mostra ainda que 84% das mortes ocorrem em países pobres ou de riqueza média. "O consumo de sódio e os casos de doenças cardiovasculares são semelhantes, ou superiores, em muitos destes países, comparando com os países mais ricos", diz Mozaffarian.
 
Os dados sobre Portugal ainda não estão disponíveis. Todos os anos morrem entre 35.000 e 45.000 portugueses com doenças cardiovasculares, a primeira causa de morte no país.
 
Na edição de Setembro/Outubro de 2012 da Revista Portuguesa de Hipertensão e Risco Cardiovascular, fez-se um cálculo para Portugal, adaptando estimativas sobre a redução de sal nos EUA e observações da diminuição dos consumos, ao longo de 25 anos, na Finlândia. Resultado: se se reduzisse o consumo médio de sal por dia em seis gramas, ou seja, para metade dos valores recentes, isso "permitiria salvar cerca de 6000 vidas por ano", escreve Jorge Polónia, da Faculdade de Medicina do Porto e especialista em hipertensão. Apesar de se ter reduzido em 1,2 gramas o consumo diário nos últimos anos, os valores actuais de 10,7 gramas estão a léguas da recomendação da OMS.
 
"Tem havido grandes campanhas para reduzir o sal, por exemplo no pão", diz Mário Lopes, presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. A campanha resultou numa lei em 2009, que definiu o limite máximo para 14 gramas de sal por quilo de pão. Mas não chega, diz Mário Lopes: "Cada um de nós tem de ingerir a menor quantidade possível de sal e ver os rótulos dos alimentos." "

quarta-feira, 27 de março de 2013

Cientistas portugueses desenvolvem super anticorpo para combater cancro da mama

Artigo divulgado pela agência LUSA em 27/03/2013
"Investigação já valeu prémio de Mérito Científico Santander Totta/Universidade Nova de Lisboa.
 
Uma equipa de investigadores portugueses está a desenvolver um novo tratamento para o cancro da mama, a partir da engenharia molecular, criando um anticorpo capaz de eliminar as células tumorais malignas.
 
A investigação, liderada por Paula Videira, venceu a sexta edição do Prémio de Mérito Científico Santander Totta/Universidade Nova de Lisboa, no valor de 25 mil euros, que é entregue hoje, no auditório da reitoria da universidade.
 
Em declarações à agência Lusa, a investigadora explicou que o trabalho, a decorrer nos próximos dois anos, pretende, através da manipulação de anticorpos, juntar as células do sistema imunitário, designadas células T, com as do cancro da mama, para que as primeiras eliminem as segundas.
 
Os anticorpos são moléculas geradas pelo desencadear do mecanismo de defesa imunitária específica. Quimicamente, são glicoproteínas.
 
Segundo Paula Videira, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, o cancro da mama tem características que "criam um efeito imunossupressor", isto é, o sistema imunitário não consegue eliminar as células tumorais malignas, que progridem no organismo.
 
As células tumorais malignas expressam, neste caso, à superfície, glicanos - um tipo de açúcares - muito diferentes dos encontrados nas células normais e que se designam “sialil-Tn”.
 
De acordo com Paula Videira, esta "expressão" verifica-se em 30 por cento dos casos de cancro da mama.
 
Contudo, explicou, as células do sistema imunitário, em vez de reconhecerem a aberração e eliminá-la, "não vão fazer nada".

Um super anticorpo
 
O que a equipa de cientistas se propõe fazer é criar um anticorpo "bi-específico", que una as células específicas do sistema imunitário com as do cancro da mama e, ao mesmo tempo, "ative" as primeiras para eliminar as últimas.
 
Numa primeira fase, os investigadores vão "finalizar" o "fabrico" do anticorpo que vai reconhecer as células do cancro da mama, uma vez que, adiantou Paula Videira, "já existem anticorpos que ativam as células T", as células do sistema imunitário.
 
Posteriormente, será feita a caracterização do anticorpo das células tumorais, antes da sua junção com o anticorpo das células T.
 
O novo anticorpo gerado será testado "in vitro" em células humanas e, depois, em animais vivos, "capazes de receber células humanas sem as rejeitar".
 
Se for bem sucedida, a investigação pode ser, na opinião de Paula Videira, um "passo importante" para o tratamento, mais eficaz e menos tóxico, do cancro da mama, mas também dos cancros do estômago, do pâncreas e do cólon, que expressam igualmente glicanos “sialil-Tn”."

terça-feira, 26 de março de 2013

Poluição aumenta com consumo de lenha para poupar na energia

Artigo publicado pelo jornal Público em 25/03/2013.
"Vendas de lenha não param de crescer para compensar aumento dos custos domésticos com a energia.
 
As queimas domésticas causam 30% da poluição atmosférica em Portugal, de acordo com um estudo da Universidade de Aveiro, que alerta para o aumento do consumo de lenha, face ao agravamento do gás e electricidade.
 
De acordo com estimativas da Universidade de Aveiro, em 2010 os portugueses queimaram dois milhões de toneladas de lenha em lareiras e recuperadores de calor e o consumo tem vindo a aumentar.

"Dos contactos que temos tido com fornecedores desses equipamentos e vendedores de lenha, no centro e norte do país e em particular nos distritos de Aveiro e Viana do Castelo, as vendas não têm parado de aumentar", disse à Lusa a investigadora Célia Alves.

Célia Alves, do grupo de Qualidade de Atmosfera do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), atribui o fenómeno ao aumento dos preços do gás e electricidade e à redução do rendimento das famílias, tanto mais que a tendência se está a verificar também noutros países do sul da Europa, em particular na Grécia, segundo informações que tem trocado com investigadores de outros países.

De acordo com o estudo daquele centro de investigação da Universidade de Aveiro, a queima de madeira em equipamentos caseiros representa uma fonte considerável de emissão de poluentes para a atmosfera com consequente agravamento da qualidade do ar.

As conclusões da investigação do CESAM da UA alertam para o perigo que a percentagem tendencialmente crescente constitui para a saúde pública.

"A queima doméstica é uma fonte de poluição que tem vindo a aumentar e que até recentemente, nos inventários de emissões, tinha sido quase desprezada", afirma Célia Alves.

As partículas presentes no fumo caseiro "são inaláveis e têm capacidade de se depositarem nos alvéolos, podendo ainda provocar danos no aparelho respiratório", acrescenta a investigadora.

O trabalho da equipa do CESAM centrou-se na quantificação e análise das partículas emitidas pela queima em lareiras tradicionais, num recuperador de calor não certificado, e num equipamento semelhante, mas com certificação em vários países europeus.

O nível da emissão das partículas não varia particularmente conforme as espécies lenhosas utilizadas mas sobretudo com os equipamentos usados e com as práticas de queima.

Num país onde a certificação de equipamentos de queima "ainda está a ser discutida", Célia Alves aponta que "há imensas diferenças quando se comparam os três tipos de equipamento" no que diz respeito às partículas poluentes que cada um deles lança para a atmosfera.

O recuperador de calor certificado, usado apenas em 7% das casas com equipamentos de queima, permite um aproveitamento de calor mais eficiente e uma combustão mais eficaz do que recuperador tradicional (presente em 44% das casas) e que a lareira tradicional, em que o nível de partículas poluentes produzidos é oito vezes superior."

Terapia genética fez doentes com leucemia aguda entrar em remissão

Artigo publicado pelo jornal Público em 25/03/2013.
"Um pequeno ensaio clínico acaba de mostrar que é possível, graças a células imunitárias manipuladas, destruir as células cancerosas e permitir assim que o doente receba um transplante de medula óssea.
Células do sangue vistas ao microscópio electrónico
Cientistas do Centro do Cancro Memorial Sloan-Kettering de Nova Iorque utilizaram células imunitárias geneticamente manipuladas para destruir um cancro do sangue que é fatal em 60% dos casos (e em poucas semanas, se não for tratado): a leucemia linfoblástica aguda. Os seus resultados foram publicados na revista Science Translational Medicine.
 
O ensaio envolveu cinco doentes que sofriam de leucemia linfoblástica aguda das células B – e que já não respondiam aos tratamentos convencionais. As células ou linfócitos B são as células do sistema imunitário que fabricam anticorpos. Existem outras células imunitárias, os linfócitos T, que são capazes de identificar e neutralizar as células “inimigas” do organismo, como por exemplo as células infectadas por vírus. Mas, muitas vezes, revelam-se incapazes de reconhecer como agressoras as células cancerosas.
 
Michel Sadelain e colegas tornaram justamente os linfócitos T extraídos dos próprios doentes capazes de detectar e de destruir os seus linfócitos B. Mais precisamente, os linfócitos T foram geneticamente modificados, antes de serem reinjectados, de forma a conseguirem reconhecer uma determinada proteína presente à superfície de todos os linfócitos B – os saudáveis e os cancerosos. E a terapia resultou, de facto, na destruição da esmagadora maioria dos linfócitos B.
 
Cinco doentes com este cancro foram assim tratados – e melhoraram rapidamente, explica um comunicado da Science Translational Medicine. Num dos doentes, a doença tornou-se indetectável uma semana apenas a seguir à aplicação do tratamento experimental. Outros três doentes também atingiram um estado de “remissão molecular” em 18 a 59 dias. O quinto doente teve uma recaída. Foi o facto de esses quatro doentes entrarem em remissão que lhes permitiu beneficiar de transplantes de medula óssea – algo que, antes de iniciar o tratamento, teria sido impossível, dado o estádio avançado do seu cancro.
 
Este tipo de terapia não está isenta de efeitos secundários indesejáveis e precisa de ser adaptada a cada doente para produzir uma resposta imunitária suficientemente poderosa. Mas os autores acreditam que esta é uma via prometedora para o desenvolvimento de uma nova classe de medicamentos contra o cancro."

quinta-feira, 21 de março de 2013

Versão final do genoma dos Neandertais posta na Internet

Texto de Teresa Firmino publicado pelo jornal Público em 19/03/2013
"Os Neandertais e os Denisovanos, um grupo de humanos revelado ao mundo apenas no final de 2010, reproduziram-se com a nossa espécie, os humanos modernos. Espera-se que a comparação dos três genomas traga novidades em breve.
Reconstituição de um grupo de neandertais
E a versão final e completa do genoma dos Neandertais foi finalmente obtida, mais de 150 anos depois da descoberta destes humanos no vale de Neander, na Alemanha. Toda a informação da descodificação do genoma encontra-se acessível à comunidade científica desde hoje, terça-feira.
 
A equipa de Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva de Leipzig, Alemanha, já tinha apresentado em 2010 uma primeira versão da leitura das letras que compõem o genoma dos Neandertais. Essa leitura baseou-se em ADN de três pedaços de osso de três mulheres neandertais, que tinham sido encontrados numa gruta na Croácia entre o fim dos anos de 1970 e início de 1980. Com esse ADN, a equipa reconstituiu cerca de 60% dos três mil milhões de pares de bases (ou “letras”) do genoma dos Neandertais.
 
Agora, a equipa de Pääbo apresentou uma versão de alta qualidade do genoma dos Neandertais através de ADN extraído de 0,038 gramas retirados de um osso do pé, descoberto em 2010 na gruta Denisova, na Sibéria. Na versão de 2010, a posição de cada uma das quatro “letras” (pequenas moléculas) com que se escreve o genoma foi determinada uma vez, em média. Na última versão – em http://www.eva.mpg.de/neandertal/index.html e que terá uma análise publicada no final do ano numa revista científica –, cada letra foi determinada mais de 50 vezes, o que permite que mesmo pequenas diferenças entre as cópias de genes que este neandertal herdou da mãe e do pai possam ser distinguidas, explica um comunicado do Instituto Max Planck.
 
Além de compararem o genoma deste neandertal com os dos outros, os cientistas estão a fazer comparações com o genoma dos Denisovanos, um grupo de humanos revelado em Dezembro de 2010 e que viveu entre há 30 mil a 50 mil anos na Sibéria e Sudeste asiático. Tanto os Neandertais como os Denisovanos já não existem, mas ambos se reproduziram com a nossa espécie, os humanos modernos. Os Neandertais terão deixado um contributo de até 4% no nosso genoma e os Denisovanos até 6% nalgumas populações actuais.
 
“Teremos assim mais pistas de muitos aspectos da história dos Neandertais e Denisovanos e aperfeiçoaremos o conhecimento sobre as mudanças genéticas ocorridas no genoma dos humanos modernos desde que se separaram dos antepassados dos Neandertais e Denisovanos”, diz Svante Pääbo. "

Este é o mapa mais detalhado de como era o Universo com 380 mil anos

Texto de Teresa Firmino publicado pelo jornal Público em 21/03/2013
"Dados do ovo cósmico foram obtidos pelo telescópio espacial Planck, da Agência Espacial Europeia.
O mapa da radiação fóssil do Big Bang obtido pelo telescópio Planck
 O mapa mais pormenorizado de como era o Universo 380 mil anos depois do Big Bang foi divulgado esta quinta-feira. A luz desses tempos, que agora nos chega sob a forma de microondas – e que se chama radiação cósmica de fundo –, permite ver pequeníssimas diferenças de temperatura no Universo. Foi nas regiões ligeiramente mais quentes que mais tarde nasceram as galáxias, grandes ilhas de concentração de matéria.
 
Este novo “ovo cósmico”, obtido pelo telescópio espacial Planck, lançado pela Agência Espacial Europeia em Maio de 2009, revela agora de forma mais refinada as diferenças de temperatura da radiação cósmica de fundo. Diferenças essas que vão permitir aos cientistas entrar numa máquina do tempo e viajar até pouco depois do Big Bang, que originou o Universo como o conhecemos. As regiões um pouco mais quentes são as sementes das futuras galáxias. Numa delas, a Via Láctea, estamos agora nós a olhar para tudo isto."

terça-feira, 19 de março de 2013

Estudo sugere que vitamina E pode prevenir e tratar cancro

Investigadores advertem que os suplementos vitamínicos à venda não têm este efeito 

Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-03-18 

Ching-Shih Chen, professor na
 Universidade Estatal do Ohio
Uma equipa de investigadores identificou uma propriedade anticancerígena na vitamina E. Já há muito se pensava que esta existia, mas encontrá-la não foi uma tarefa fácil. Muitos estudos com animais sugeriam que a vitamina E podia prevenir o cancro, mas os ensaios clínicos em humanos não mostraram esses benefícios. 


Nesta nova investigação, os investigadores demonstram que nas células cancerosas da próstata uma forma de vitamina E inibe a ativação de uma enzima que é essencial para as células cancerosas sobreviverem. Com a perda dessa enzima – chamada Akt – a célula do tumor morre. A vitamina não tem efeitos negativos nas células normais. 

“É a primeira demonstração de um mecanismo único que permite que a vitamina E tenha alguns benefícios em termos de prevenção e tratamento do cancro”, diz o autor principal do artigo Ching-Shih Chen, professor na Universidade Estatal do Ohio e investigador Ohio State’s Comprehensive Cancer Center. O estudo será publicado na edição de amanhã do «Science Signaling». 

O cientista adverte que tomar suplementos vulgares de vitamina E não oferece quaisquer benefícios contra o cancro. Isto porque os suplementos encontrados no mercado são sintéticos a baseiam-se predominantemente numa forma da vitamina que não combate o cancro. Além disso, o corpo humano não consegue absorver as altas doses necessárias para o efeito anticancerígeno se fazer sentir. 

“O nosso objetivo é desenvolver um comprimido seguro com a dose ideal para ser tomado diariamente como prevenção. Demora algum tempo a otimizar a formulação e a dose”, explica. 

A vitamina E pode ocorrer em numerosas formas dependendo da sua estrutura química. A forma mais comum pertence a uma variedade chamada tocoferol. Neste estudo, os investigadores mostraram que, dos tocoferóis testados, a forma gama-tocoferol é a mais potente. 

Através da manipulação da estrutura da molécula da vitamina descobriu-se que a eficácia do novo agente criado é 20 vezes mais elevada do que a própria vitamina. Em experiências realizadas com ratinhos, este agente reduziu o tamanho de tumores na próstata.

Derivados de hidratos de carbono podem originar novos fármacos anticancerígenos

Estudo espanhol associa açúcares ao ADN de hélice quádrupla 

Publicado em www.cienciahoje.pt2013-03-12 

Estrutura da conjugação entre açúcares e DNA de hélice quádrupla . (imagem: Juan Carlos Morales) 

Uma investigação do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), em Espanha, identificou que diferentes tipos de açúcares interagem de maneira favorável com guaninas (um dos quatro tipo de bases nitrogenadas que compõem o DNA) tétrade do DNA em hélice quádrupla. Esta descoberta pode contribuir para o desenvolvimento de novos fármacos anticancerígenos. 

“Todos os genes como os oncogenes são partes do DNA linear de dupla hélice, mas segundo a sequência de bases pode haver duas zonas que formem uma estrutura distinta. É o caso do DNA de hélice quádrupla que é uma estrutura em forma de caixa com plataformas de quatro guaninas dispostas uma sobre a outra. Estas estruturas são frequentes em zonas do DNA ricas em base guanina”, explica o coordenador da investigação Juan Carlos Morales. 

O material genético de hélice quádrupla diferencia-se do material genético de hélice dupla porque forma estruturas onde se sobrepõem unidades de base de guanina. Os investigadores verificaram que distintos oncogenes têm estruturas semelhantes ao material genético de hélice quádrupla.

Os investigadores utilizaram interações moleculares que, até ao momento, não tinham sido associadas em estruturas do DNA de hélice quádrupla. 

Juan Carlos Morales adianta que o DNA de hélice quádrupla tem uma estrutura com uniões semelhantes à de alguns genes cancerígenos o que vai “permitir desenhar novas moléculas, que sejam potencialmente anticancerígenas, com base num novo conceito. Este será centrado em moléculas com uma plataforma de açúcar juntamente com outras modificações que se unirão ao DNA em hélice quádrupla. Assim evitar-se-ia a disseminação da proteína que favorece o desenvolvimento do cancro”. 

A partir deste conceito, os investigadores do CSIC vão começar a desenhar e sintetizar moléculas baseadas em hidratos de carbono (açúcar) para testar medicamentos que possam atuar em diferentes tipos de cancro.

O estudo contou com a participação de investigadores do CSIC, Carlos Gónzález, do Instituo de Química e Física Rocosalano e Ramón Eritja, do Instituto de Química Avançada da Catalunha. 

Mulheres são mais rabugentas se dormirem pouco

Privação de sono também aumenta risco de doenças cardiovasculares 

Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-03-18 

Segundo um estudo da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, as mulheres são mais rabugentas de manhã se tiverem horas de sono insuficientes, mas os investigadores sublinham que é uma questão natural.



A equipa refere mesmo que as mulheres sofrem mais do que os homens, física e psicologicamente, caso tenham de suprir umas horas de sono. Elas dependem de mais tempo de descanso, devido à sua capacidade cerebral de multitarefa. 

A privação de sono nas mulheres pode mesmo levar ao risco de desenvolver doenças cardíacas e de depressão, assim como aumentar os níveis de inflamação, que levam à dor e o mau humor. Segundo Michael Breus, psicólogo clínico especialista em doenças do sono, “o efeito pode até ser dramático”.

O especialista aconselha mesmo a reparar essas horas em falta através de pequenas sestas, entre 25 a 90 minutos, porque se forem demasiado longas poderão ter efeitos negativos. 
Esta é a primeira vez que um estudo sugere que as mulheres necessitam de dormir mais do que os homens. O investigador britânico Jim Horne, do Centro de Investigação do Sono da Universidade de Loughborough explica que o sono serve para descansar o cérebro e que as mulheres precisam de mais descanso devido à capacidade cerebral de multitarefa.

Problemas de sono podem antecipar Alzheimer


Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-03-12
Baixos níveis de AB42 no fluido cérebroespinal associados à formação de placas
Mesmo antes das primeiras falhas de memória e oscilações de humor, problemas de sono podem ser indicadores de Alzheimer, segundo sugere um estudo recentemente publicado na revista «JAMA Neurology».
A equipa de investigação do Departamento de Neurologia da Universidade de Washington, liderada por David Holtzman, considera que esta anomalia está associada a um depósito de amiloides em estado pré-clínico da doença. 
Para o estudo, o grupo de trabalho seguiu 145 voluntários, de meia-idade e mais velhos. No início da investigação não apresentavam qualquer problema cognitivo; mas, entre outros testes, foi-lhes pedido que realizassem um diário com padrões de sonho, durante duas semanas, enquanto a atividade noturna dos participantes era monitorizada.


Em concomitância, a equipa analisou o líquido cefalorraquidiano dos indivíduos, procurando biomarcadores de Alzheimer incipiente, estudando especialmente os níveis de AB42, uma das proteínas precursoras das placas características desta doença – já que estudos percursos tinham mostrado que baixos níveis desta proteína no fluido cérebroespinal estão associados à formação de placas. 

No final, detetaram que 12 dos indivíduos tinham sinais pré-clínicos da doença neurodegenerativa. A equipa cruzou os dados com a informação sobre os sonos dos voluntários e observou que esta dozena tinha uma pior qualidade de sono, comparativamente aos restantes. 

No entanto, o artigo publicado que “não dormem menos horas”, mas “descansam mais mal e têm tendência para fazer sestas durante o dia”. Os cientistas consideram que existem vários mecanismos que poderiam explicar como os depósitos de amiloides levam à fragmentação do sono, destacando que a agregação de proteínas típica da doença pode interferir diretamente no funcionamento neuronal das áreas do cérebro implicadas no sono. 

Os autores concluem que esta relação poderá ajudar a desenvolver novas abordagens contra a doença.

Descoberto conjunto planetário jovem com planetas gigantes

HR 8799e tem aproximadamente nove vezes a massa de Júpiter 

Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-03-18
O planeta HR 8799e tem aproximadamente nove vezes a massa de Júpiter (Imagem:Dunlap Institute for Astronomy & Astrophysics)

Uma equipa de investigadores do Dunlap Institute for Astronomy & Astrophysics, da Universidade do Toronto, localizou uma estrela a 130 anos-luz, quatro planetas gigantes, maiores do que qualquer um dos existentes no nosso Sistema Solar. Os cientistas referem que o sistema é relativamente novo em termos cósmicos – 30 milhões de anos – e ainda tem grandes discos de poeira, além de asteroides e cometas.

Os planetas circundam a estrela HR 8799, um astro que tem cerca 1,5 vez o tamanho do Sol e é cinco vezes mais brilhante do que ele. A descoberta deste sistema ocorreu usando os telescópios Gemini e Keck, no Havaí.

O planeta HR 8799e tem aproximadamente nove vezes a massa de Júpiter – o maior planeta do nosso Sistema Solar – e está 14,5 vezes mais longe da sua estrela do que a Terra está do Sol.


Ao estudarem a luz refletida pelo planeta, os cientistas identificaram que sua atmosfera tem água e carbono. O planeta mais externo do grupo, HR 8799b, tem cerca de sete vezes a massa de Júpiter. Ele está 68 vezes mais longe da estrela do que a Terra está do Sol.


Apesar das fortes evidências, os planetas ainda são considerados candidatos. Ainda é preciso que a descoberta seja confirmada por outros cientistas sobre a sua existência e características desta descoberta.

domingo, 17 de março de 2013

Nasceram quatro crias de lince-ibérico em Silves

Artigo publicado pelo jornal Público em 16/03/2013
"Crias nasceram a 5 de Março, ao abrigo do programa de conservação do lince-ibérico.
 
Quatro crias de lince-ibérico nasceram este mês no Centro Nacional de Reprodução, em Silves, onde foram também recolhidos pela primeira vez embriões de uma fêmea, anunciou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
A notícia é avançada no site do instituto, que refere que as quatro crias, que inauguraram a temporada de partos no centro de Silves, nasceram a 5 de Março, ao abrigo do programa de conservação daquela espécie, em quatro centros espanhóis e um português.
 
As crias são filhas de “Biznaga”, fêmea de oito anos que fundou o centro e que já tinha parido nas últimas duas temporadas, e “Fado”, um macho de quatro anos de idade nascido em cativeiro.
 
A fêmea teve um parto normal e não abandonou a ninhada, ao contrário dos últimos dois anos, em que a inexperiência e a confusão na altura do parto a terão levado a abandonar as crias, refere o ICNF.
 
Janes e Juromenha, suas filhas e as primeiras crias nascidas em Silves a atingir o ano de idade, mamaram colostro (primeiro leite após o parto) nas primeiras horas de vida, tendo sido criadas artificialmente exclusivamente por humanos até atingirem os 49 dias de idade.
 
A partir do dia 71 de vida, as crias foram unidas à mãe, que as aceitou e parece tê-las reconhecido, tomando a iniciativa de as ensinar a caçar.
 
Também no centro de Silves, foi realizada a primeira colheita de embriões com sucesso na primeira fêmea de lince-ibérico a chegar a Portugal vinda de Espanha, no âmbito do programa de reprodução em cativeiro da espécie.
 
As crias geradas durante três temporadas consecutivas (entre 2010 e 2012) pela fêmea “Azahar”, de nove anos, morreram sempre, pelo que a equipa do Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI) decidiu congelar os seus embriões. Depois de congelados em azoto líquido, os embriões foram transportados para o Banco de Recursos Biológicos do Museu Nacional de Ciências Naturais, em Madrid, onde estão armazenados.
 
Estes embriões podem agora ser descongelados e transferidos para outra fêmea de lince, técnica que permitirá preservar a informação genética da “Azahar”, que depois se confirmou ter no útero defeitos graves incompatíveis com o parto. “Azahar” é proveniente de umas das últimas populações selvagens de lince-ibérico existentes na Península Ibérica, tendo chegado a Silves em Outubro de 2009, com seis anos.
 
Foi o primeiro lince-ibérico a chegar a Portugal proveniente de Espanha no contexto do programa de reprodução em cativeiro da espécie, e o primeiro lince-ibérico a ser observado de forma comprovada no país desde o início da década de 90 do século XX."

Cura funcional observada em 14 adultos infectados pelo vírus da sida

Artigo publicado pelo jornal Público em 15/03/2013
"Poucos dias após o anúncio da remissão de longo prazo de um bebé infectado pelo VIH e tratado à nascença, o mesmo efeito de uma terapia anti-sida precoce foi agora anunciado em adultos.
Tratar os adultos temporariamente, logo após a infecção, poderá permitir o controlo do VIH pelo sistema imunitário
Catorze adultos seropositivos residentes em França, que foram tratados com anti-retrovirais nas dez semanas a seguir à infecção, continuam sete anos e meio depois de ter interrompido o tratamento a controlar naturalmente o vírus VIH presente no seu organismo.
 
Os resultados pormenorizados deste estudo, que tinham sido anunciados em Julho passado, durante do congresso internacional da sida nos EUA, pela equipa de Christine Rouzioux, do hospital Necker de Paris, foram publicados esta quinta-feira na revista online de acesso livre PloS Pathogens.
 
Segundo os autores, nos últimos quatro anos, estes 14 adultos, todos eles participantes num estudo conhecido como "estudo de Visconti", viram diminuir o número de células infectadas pelo VIH a circular no seu sangue apesar da ausência de tratamento.
 
Recorde-se que, no início de Março, a equipa de Deborah Persaud, da Universidade Johns Hopkins, EUA tinha revelado, também num congresso, “o primeiro caso bem documentado de cura funcional de uma criança com VIH”. Um bebé norte-americano cuja mãe era seropositiva e que começara a ser tratado com doses terapêuticas de anti-retrovirais contra o VIH, quando tinha apenas 30 horas de vida, encontrava-se em remissão dez meses depois de o tratamento ter sido interrompido (quando a criança tinha 18 meses). No caso do estudo de Visconti, os participantes foram tratados durante três anos.
 
O VIH não foi totalmente erradicado do organismo do bebé nem do dos 14 adultos, mas a sua presença é tão ténue que o próprio sistema imunitário destas pessoas consegue controlá-lo. “O tratamento precoce permitiu provavelmente conter os reservatórios virais, preservando as respostas imunitárias, uma combinação que terá certamente favorecido o controlo da infecção após a interrupção do tratamento”, explica Christine Rouzioux.
 
Embora não se saiba se os participantes em remissão teriam ou não conseguido controlar espontaneamente o VIH sem tratamento, a maior parte dos 14 seropositivos franceses, salientam ainda os cientistas, não tinha o perfil genético nem o tipo de respostas imunitárias característicos das pessoas que são naturalmente imunes ao vírus da sida (e que representam, estima-se, menos de um por cento da população geral).
 
Estes casos [de cura funcional] “permitem esperar a descoberta de novos mecanismos capazes de controlar a infecção”, disse à AFP Laurent Hocqueloux, do hospital Orléans-La Source (França) – e um dos elementos da equipa do estudo de Visconti. Nos próximos meses, deverá arrancar um estudo semelhante à escala europeia, coordenado também pela agência francesa de estudo da sida (ANRS)."

Portugal deverá ter menos 25% de capacidade para produzir energia hídrica após 2070

Artigo publicado pelo jornal Público em 15/03/2013
"Segundo as projecções de modelos do clima, entre 2070 e 2100 Portugal terá meno um quarto da capacidade de produzir energia hídrica devido às alterações climáticas, diz Filipe Duarte Santos.
Poderá haver mais anos seguidos de seca no futuro, diz Filipe Duarte Santos
Portugal deverá ter menos 25% da capacidade de aproveitamento hídrico para produzir electricidade, a partir de 2070, revelou na quinta-feira um especialista em alterações climáticas, que defende a necessidade de uma “gestão adequada” das barragens.
 
O professor universitário Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas, referiu que as consequências das mudanças no clima vão provocar um decréscimo do potencial de produção de energia a partir dos rios, em Portugal e Espanha, entre 2070 e 2100, o que exige cuidados na gestão entre energia e abastecimento de água para consumo directo.
 
Com base nos cenários de previsões de clima para os próximos anos, utilizados no projecto SIAM da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (projecto de estudo de Cenários, Impactos e Medidas de Adaptação), coordenado por Filipe Duarte Santos, “deverá haver uma queda de 25% do potencial, entre 2071 e 2100, em Portugal e Espanha, e as empresas têm de pensar nisso”.
 
O investigador falava à margem do encontro “Alterações Climáticas - Escassez de Água e Eficiências Energética e Hídrica no Ciclo Urbano da Água” que hoje decorre em Lisboa, organizado pela Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA).
 
“Pode haver anos de precipitação elevada, mas também anos sucessivos de seca e isso é que é preocupante”, alertou o especialista à Lusa. Por isso, apontou a necessidade de “fazer uma gestão adequada da água nas barragens, para produção de energia e para o consumo”.
 
O especialista recordou a subida da temperatura média do planeta, mais pronunciada em algumas regiões, a subida do nível da água, “maior que o previsto”, e a ocorrência mais frequente de eventos meteorológicos extremos, como vagas de calor ou precipitação elevada.
 
“No norte da Europa têm-se registado mais tempestades, no sul, mais secas”, disse, durante a sua intervenção no Encontro, dando o exemplo dos registos a apontar para ocorrência de menos chuva nos invernos mediterrânicos, nos últimos 30 anos."

Tubarões do Mediterrâneo e do Mar Negro em risco de extinção

Artigo publicado pelo jornal Público em 15/03/2013
"A diminuição das populações de tubarões e raias nos mares Mediterrâneo e Negro obrigam a medidas de conservação, mostra relatório da FAO.
Em geral, os tubarões e as raias não têm sido pescados propositadamente no Mediterrâneo e no Mar Negro, mas são capturados acidentalmente
As populações de tubarões nos mares Mediterrâneo e Negro estão em risco de extinção, podendo levar a graves consequências para os ecossistemas marinhos e a cadeia alimentar, adverte um estudo divulgado nesta quinta-feira pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
 
De acordo com a investigação feita pela organização, o número de tubarões tem vindo a diminuir significativamente ao longo dos últimos dois séculos. O estudo Elasmobrânquios do Mediterrâneo e do Mar Negro: estado, ecologia e biologia, foi realizado pela Comissão Geral das Pescas do Mediterrâneo (CGPM), um dos órgãos regionais da FAO dedicado à indústria da pesca.
 
“O número de tubarões e o peso das capturas no Mediterrâneo diminuíram mais de 97% nos últimos 200 anos. Se a actual pressão da pesca continuar, correm o risco de extinção”, refere o documento. No Mar Negro, embora a informação seja escassa, as capturas das principais espécies de tubarão também diminuíram para quase metade em relação às capturas do início dos anos de 1990.
 
“Esta perda de grandes predadores pode ter implicações graves em todo o ecossistema marinho, afectando substancialmente a cadeia alimentar na região”, de acordo com o estudo.
 
O documento adverte que as espécies de peixes cartilaginosos, como os tubarões e as raias, “são de longe o grupo mais ameaçado de peixes marinhos no Mediterrâneo e no Mar Negro, onde se conhece a existência de até 85 espécies diferentes”. Das 71 espécies estudadas no Mediterrâneo em 2007, constatou-se que 30 (42%) foram consideradas ameaçadas.
 
Os peixes cartilaginosos têm os esqueletos constituídos por cartilagem em vez de ossos e dentro desse grupo, os tubarões e as raias têm o nome científico de elasmobrânquios. As suas características biológicas, incluindo a baixa fecundidade, a maturidade tardia e o lento crescimento, tornam-nos mais vulneráveis do que os peixes ósseos devido às suas taxas de regeneração mais lentas.
 
Em geral, os tubarões e as raias não têm sido pescados propositadamente no Mediterrâneo e no Mar Negro, mas são capturados acidentalmente.
 
Os desembarques totais anuais registados no Mediterrâneo e no Mar Negro são actualmente de cerca de 7000 toneladas, em comparação com as 25.000 toneladas em 1985, uma indicação da gravidade do declínio das espécies. No entanto, tem-se intensificado a captura de tubarões devido à crescente procura por barbatanas, carne e cartilagem.
 
A situação é ainda agravada pelos danos ou alterações aos seus habitats, causados pelo transporte marítimo, pela construção e mineração submarina ou por poluentes químicos, pelo ruído e pela contaminação electromagnética.
 
Entre as medidas mais recentes tomadas pela comissão para proteger os tubarões e as raias encontra-se a proibição da prática de finning (remoção das barbatanas no mar e descarte das carcaças) e limitações à pesca de arrasto a menos de três milhas da costa para aumentar a protecção aos tubarões costeiros.
 
A comissão também recomendou aos países da bacia do Mediterrâneo e pelo Mar Negro que invistam em programas de investigação científica destinados a identificar áreas potenciais de criação e que considerem encerramentos sazonais de certas áreas para proteger os tubarões e as raias juvenis das actividades pesqueiras.
 
 
Outras iniciativas levadas a cabo pela comissão incluem a organização de várias reuniões e cursos que visem uma melhor compreensão destas espécies e dos seus habitats e a criação de uma base de conhecimento regional para orientar os membros da CGPM no desenvolvimento de planos nacionais para proteger as principais espécies."

quarta-feira, 13 de março de 2013

E as antenas apontaram-se ao centro da Via Lactea

Texto de Teresa Firmino publicado pelo jornal Público em 13/03/2013
"O arranque oficial do maior radiotelescópio do planeta contou com um "bailado" das 57 antenas gigantes instaladas no deserto de Atacama, no Chile, ao som da banda sonora do "Cinema Paraíso".

Vista geral do planalto de Chajnantor, com antenas lá em baixo

O céu do Sul rodopia sobre as antenas do radiotelescópio ALMA, no planalto de Chajnantor, a 5000 metros de altitude, no Chile

A banda sonora do filme “Cinema Paraíso” predispôs todos os que nesta quarta-feira estavam na tenda da cerimónia, vindos de muitas partes do mundo, para a beleza do momento que se seguia: o início oficial do arranque do radiotelescópio ALMA, no planalto de Chajnantor, nome que na língua dos povos indígenas significa “o ponto de partida, o ponto de observação”. Sincronizados, os pratos da meia centena de antenas giraram em comunhão com a música, e a plateia aplaudiu.
Segundos antes, o Presidente do Chile, Sebastian Piñera, na tenda no Centro de Operações do ALMA, a 2900 metros de altitude, comunicava com um astrónomo chileno no planalto de Chajnantor, tendo as antenas como cenário. “António, preciso que ponhas em marcha esta grande aventura da humanidade chamada ALMA.” Dali, via rádio, o astrónomo comunicou cá para baixo, com a sala de controlo no Centro de Operações: “Atenção, sala de controlo: apontar o ALMA ao centro galáctico.” E ele, que resultou da junção de 18 países, ficou a escutar o centro da nossa galáxia, a Via Láctea, visto apenas do hemisfério Sul.

Além da parte mais teatral da cerimónia, Piñera deixou claro para uma assistência de astrofísicos de todo o mundo e de ministros de vários países envolvidos no ALMA, incluindo Nuno Crato, ministro português da Educação e Ciência, como a astronomia é importante para o Chile. Aqui estão alguns dos melhores telescópios do mundo, a que o ALMA agora se junta, e os planos futuros incluem mais. “Queremos fazer do Chile a capital mundial da astronomia e um dos pontos de turismo astronómico. O Chile vai concentrar 60% da capacidade de observação do Universo”, referiu Piñera, que começou por se dirigir à plateia como “amigos e amigas da ciência, da astronomia, do progresso”.

O director do Observatório Europeu do Sul (ESO), organização europeia de astronomia que é um dos principais parceiros do ALMA, que custou mil milhões de euros, assinalou o momento com uma referencia a um livro de ficção de Fred Hoyle, o astrofísico britânico que avançou na compreensão de como os elementos pesados (como o carbono e o oxigénio) são formados dentro das estrelas a partir do hidrogénio e hélio; e foi o inventor, já agora, da expressão Big Bang. Mas também escrevia ficção e num dos seus livros, “The Inferno”, de 1973, no qual imaginou uma catástrofe iminente devido a um quasar, fala da instalação de um radiotelescópio na Austrália.

A personagem principal, no entanto, aponta outro local: “Sugere que o telescópio fosse no Chile”, disse o director do ESO. Tudo isso se passa muito antes de se falar sequer em construir o ALMA, o radiotelescópio mais poderoso da Terra, com um “staff” próprio de 45 cientistas. “No dia de hoje, esta visão tornou-se realidade”, rematou Tim de Zeeuw, referindo-se ‘a imaginação de Fred Hoyle. "

NASA afirma que o planeta Marte já foi propício à vida

Artigo publicado pelo jornal Público em 13/03/2013
O pó cinzento recolhido pelo robô da NASA há umas semanas
"A análise de uma amostra de rocha recentemente recolhida pelo robô Curiosity mostra, segundo a agência espacial norte-americana, que o planeta vermelho poderá ter sustentado vida microbiana no passado.
 
A amostra de solo marciano, recolhida pelo Curiosity no passado mês de Fevereiro, contém enxofre, azoto, hidrogénio, oxigénio, fósforo e carbono – alguns dos ingredientes indispensáveis à vida –, anunciou a agência espacial norte-americana NASA em comunicado.
 
“A pergunta fundamental nesta missão é a de saber se Marte poderá ter possuído um ambiente habitável”, disse Michael Meyer, responsável científico pelo programa de exploração de Marte da NASA, citado pelo mesmo documento. “E pelo que sabemos agora, a resposta é sim”.
 
A amostra analisada provém de um veio de rocha sedimentar de grãos finos, de cor cinzenta, que contrasta com a rocha avermelhada da paisagem marciana. Foi recolhida perto do antigo leito de um rio, na cratera Gale, e agora analisada por dois equipamentos do Curiosity: o instrumento de química e mineralogia e o instrumento de análise de amostras de Marte.
 
“O leque de ingredientes químicos que identificámos na amostra é impressionante e sugere associações, por exemplo de sulfatos e sulfuretos, que indicam uma potencial fonte de energia para microrganismos”, disse por seu lado Paul Mahaffy, responsável da NASA pelos instrumentos de recolhas de amostras do robô.
 
Quanto a John Grotzinger, cientista da NASA e do Instituto de Tecnologia da Califórnia, acrescenta: “Caracterizámos um muito antigo, mas curiosamente novo, ‘Marte cinzento', onde as condições foram em tempos favoráveis à vida”. "

Cafeína atrasa desenvolvimento da doença de Machado-Joseph em ratinhos

Texto Nicolau Ferreira de publicado pelo jornal Público em 11/03/2013
Os ratinhos estiveram sujeitos a quantidades regulares de cafeína equivalentes a seis cafés diários
"É um resultado auspicioso para uma doença neurodegenerativa sem cura. Cientistas da Universidade de Coimbra verificaram que quantidades elevadas de cafeína atenuam os danos causados pelo modelo da doença de Machado-Joseph nos ratinhos. O trabalho foi publicado agora na revista Annals of Neurology, Nélio Gonçalves é o primeiro autor do artigo.
 
A doença de Machado-Joseph deve-se à mutação de um único gene e traduz-se na produção de uma proteína anormal que acaba por se acumular em excesso nas células nervosas, matando-as. O resultado é uma doença progressiva que afecta os movimentos: provoca a perda do controlo das extremidades, rigidez muscular, espasmos, problemas de deglutição, perturbações da visão e descontrolos dos movimentos oculares, perturbações do sono e problemas cognitivos.
 
Os sintomas podem surgir tanto na infância como aos 70 anos e os filhos de uma pessoa com esta doença têm 50% de hipóteses de terem recebido este gene e, por isso, de virem a sofrer do mesmo problema. A doença não é tratável, os medicamentos que estes pacientes tomam servem para controlar alguns sintomas.
 
A equipa da Universidade de Coimbra liderada por Luís Pereira de Almeida e Rodrigo Cunha utilizou um modelo equivalente em ratinhos para estudar esta doença que tem uma prevalência significativa em Portugal, especialmente nos Açores. Para isso, utilizou um vírus modificado que desencadeia a patologia no cérebro dos ratinhos. Depois, administrou-se regularmente uma concentração de cafeína equivalente a cerca de seis cafés diários para testar se havia algum efeito.
 
A cafeína exerceu “efeitos protectores, capazes de restabelecer a função [cerebral], por actuar como inibidora desta perturbação nos circuitos neuronais”, explica o comunicado de imprensa sobre a descoberta. A investigação também conseguiu associar o efeito da cafeína ao bloqueio de um receptor neuronal para a adenosina.
 
A descoberta representa "uma peça importante para o complexo puzzle" sobre esta doença, mas os investigadores são prudentes sobre o seu significado. “São necessários mais estudos e ensaios clínicos para confirmar se o alvo molecular é eficaz nos humanos”, defendem Luís Pereira de Almeida e Rodrigo Cunha, sublinhando que “estabelecer prazos para um novo medicamento chegar ao mercado é pura especulação.” "

sexta-feira, 8 de março de 2013

Cientistas provam de vez que um composto do vinho tinto prolonga a vida e protege da doença

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 08/03/2013.
"Os benefícios do resveratrol para a saúde foram questionados durante anos. Agora, o seu mecanismo de acção foi desvendado.
Vinho tinto, amendoins e frutos vermelhos contêm resveratrol
Quem diria que quando fazemos um brinde com vinho tinto e entoamos o proverbial "saúde!", estamos mesmo a falar literalmente? No entanto, é isso que mostra um novo estudo, publicado hoje na revista Science por David Sinclair, da Universidade Harvard (EUA), e colegas - entre os quais duas portuguesas.

Em 2006, a equipa de Sinclair publicava os primeiros resultados que sugeriam que o resveratrol, composto presente na casca das uvas, nos amendoins e nos frutos vermelhos, era capaz de prolongar a vida de ratinhos de laboratório. Criou-se então uma empresa, a Sirtris Pharmaceuticals (do grupo GSK), para desenvolver compostos de acção semelhante à do resveratrol.

Segundo Sinclair e colegas, o resveratrol agia estimulando a actividade de uma proteína, chamada SIRT1 (sirtuína 1). Mas a seguir, houve quem argumentasse que o resveratrol só agia em presença de compostos sintéticos específicos utilizados nas experiências - ou seja, em condições artificiais.

Entretanto, ao longo dos anos, foi-se acumulando uma massa de resultados que indicavam fortemente que em muitas espécies animais, incluindo a nossa, a SIRT1 protege, por sua vez, o organismo de doenças ligadas ao envelhecimento como o cancro, a Alzheimer, a diabetes. Os ratinhos que tomam resveratrol são relativamente imunes aos efeitos da obesidade e da velhice - e o composto aumenta a longevidade de leveduras, nemátodos, abelhas, moscas e ratinhos, lembra um comunicado de Harvard.

Como? Melhorando o desempenho das mitocôndrias, que são as "baterias" das células vivas. Com a idade, elas começam a ter problemas de funcionamento - e o facto de a SIRT1 as conseguir "recarregar" tem efeitos profundos sobre a saúde. Restava, porém, a questão de saber se o resveratrol estimulava mesmo directamente a SIRT1 e tinha efectivo potencial terapêutico, ou se o seu efeito era uma miragem experimental.

No novo estudo, os cientistas põem fim ao debate. Primeiro, mostram que o resveratrol activa a SIRT1 em presença de moléculas naturalmente produzidas pelas células vivas. "Descobrimos uma assinatura da activação que se encontra de facto nas células e que não exige qualquer composto sintético", diz Basil Hubbard, co-autor, citado pelo mesmo comunicado. Em segundo lugar, identificam, na molécula de SIRT1, o local de acção preciso do resveratrol.

Para isso, a equipa testou umas 2000 variantes do gene que comanda o fabrico da SIRT1 pelas células e descobriu uma mutação específica que torna esta proteína completamente insensível ao resveratrol e a uma série de moléculas semelhantes ainda mais potentes. Basta trocar um único aminoácido num dado local da cadeia molecular da SIRT1 (os aminoácidos são os "tijolos" de construção das proteínas) para o resveratrol não se conseguir ligar à SIRT1.

A partir daí, os investigadores puderam testar o efeito da mutação em culturas de células. E constataram que, enquanto nas células com uma SRT1 normal, as mitocôndrias eram efectivamente "recarregadas" graças ao resveratrol, nas células com uma SRT1 mutante as mitocôndrias tornavam-se completamente "imunes" ao composto. "Esta foi a experiência decisiva. Não permite qualquer outra opção senão concluir que o resveratrol activa directamente a SIRT1 nas células", diz Sinclair. Os investigadores pensam que o mecanismo de acção do resveratrol, quando ele se liga à SIRT1, é como se carregasse num "pedal acelerador", tornando a SIRT1 hiperactiva.

"A sirtuína tem um efeito regulador muito importante na função mitocondrial e este estudo vem retirar qualquer dúvida acerca da activação directa da SIRT1 pelo resveratrol", disse ao PÚBLICO Anabela Rolo, da Universidade de Aveiro, também co-autora do trabalho, juntamente com Ana Gomes (neste momento a trabalhar no laboratório de Sinclair). O interesse específico destas investigadoras - que colaboram há vários anos com a equipa norte-americana - é a regulação mitocondrial. A sua participação teve por isso a ver com a avaliação, nas culturas celulares, das consequências funcionais, ao nível das mitocôndrias, da mutação da SIRT1.

"Agora, torna-se possível sintetizar compostos mais eficazes, com um efeito terapêutico mais acentuado", diz-nos Anabela Rolo. Aliás, já estão a decorrer ensaios clínicos de vários compostos desenvolvidos pela Sirtris - mas ainda não há data marcada para uma eventual comercialização."

Sal e doenças auto-imunes, uma relação inesperada

Artigo publicado pelo jornal Público em 07/03/2013.
"Três estudos na edição desta semana da revista Nature dizem que há uma ligação entre as doenças como a artrite reumatóide e o consumo excessivo de sal.
O sal pode estar relacionado com as doenças auto-imunes
Nas últimas décadas, os casos de doenças auto-imunes, como a esclerose múltipla, a diabetes tipo 1 e a artrite reumatóide, têm vindo a aumentar. Três trabalhos científicos, em ratinhos, revelam agora que pode ter-se descoberto uma das razões para esse aumento: o sal.
 
Na edição desta semana, a revista Nature publicou três trabalhos científicos, liderados por investigadores das faculdades de medicina de Yale e Harvard e do Instituto Broad, nos Estados Unidos, que põem a hipótese de o sal potenciar as doenças auto-imunes.
 
Os investigadores aplicaram a ratinhos uma dieta com quantidades bastante elevadas de sal, ou cloreto de sódio. Observaram, então, que o sal potencia a produção de um tipo de células imunitárias, os linfócitos T. Estas células são importantes para combater agentes infecciosos, mas, quando são de mais, podem entrar em conflito com o organismo e desencadear doenças auto-imunes.
 
Em demasia e em conjunto com factores genéticos e ambientais, podem surgir doenças auto-imunes, em que as defesas do organismo deixam de reconhecer os próprios tecidos e atacam-nos como se fossem intrusos.
 
“Actualmente, as dietas ocidentais têm altos níveis de sal e isso levou ao aumento da hipertensão e, possivelmente, também das doenças auto-imunes”, refere David Hafler, um dos autores do estudo de Yale, citado num comunicado de imprensa.
 
Estas investigações foram inspiradas, em parte, na observação de uma alimentação à base de fast food, com altos níveis de sal, e que tende a desencadear o aumento da produção de células envolvidas nos mecanismos de inflamação, que são mobilizadas pelo sistema imunitário quando nos ferimos ou somos atacados por agentes infecciosos. Só que, nas doenças auto-imunes, o sistema imunitário vira-se contra nós. Os factores genéticos, só por si, não podem explicar o aumento dos casos de doenças auto-imunes, consideram os cientistas, e por isso foram à procura de outros possíveis factores. E dizem ter encontrado esta relação inesperada entre sal e doenças auto-imunes.
 
“Estes resultados são um contributo importante para a compreensão da esclerose múltipla e pode estabelecer novos alvos para tratar melhor esta doença, para a qual ainda não há cura”, diz Ralf Linker, director do Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Erlangen, na Alemanha.
 
“Claro que não é só o sal”, refere Vijay Kuchroo, do Instituto Broad. “Temos uma arquitectura genética: genes ligados a várias formas de doenças auto-imunes e que predispõem uma pessoa para estas doenças. Mas também suspeitamos que os factores ambientais desempenhem um papel: infecções, fumar, falta de luz solar e de vitamina D. O sal pode ser mais uma coisa na lista dos factores ambientais que promovem o desenvolvimento da auto-imunidade.”
 
Por isso, outros dos cientistas envolvidos nestes trabalhos, Aviv Regev, também do Instituto Broad, faz a pergunta que temos na cabeça, principalmente num país como Portugal, onde o consumo de sal é excessivo: “Como podemos olhar para estes resultados para a saúde humana? É prematuro dizer: ‘Não deve comer sal porque vai ter uma doença auto-imune.’ Estamos a avançar com uma hipótese interessante – uma ligação entre o sal e a auto-imunidade – que agora tem de ser testada através de estudos epidemiológicos nos humanos.”
 
Num comentário na mesma edição da Nature, John O’Shea, do Instituto Nacional de Artrite e Doenças Musculoesqueléticas e da Pele dos Estados Unidos, e Russell Jones, da Universidade McGill, no Canadá, também consideram que vai um grande passo entre estes resultados em animais e a sua extrapolação para os humanos: “Estes estudos mostram que o cloreto de sódio potencia uma doença criada artificialmente; não há dados que indiquem que promova ou piore o aparecimento espontâneo da doença.” Estes dois especialistas dizem ainda: “Apesar de estes dados serem entusiasmantes, é claramente prematuro – como apontam autores dos estudos – dizer que uma dieta à base de sal influencia as doenças auto-imunes nos humanos.”
 
Mesmo sendo ainda uma hipótese que necessita de mais estudos, uma coisa é certa em relação ao sal: quando é de mais, está relacionado com as doenças cardiovasculares."