quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Universidade do Minho descobre "espécie de fungo" que pode "evitar uso de pesticidas e químicos" nas maçãs

MadreMedia/Lusa
29 agosto 2018

Uma equipa de investigadores da Universidade do Minho descobriu uma "nova espécie de fungo", a "Penicililium tunisiense", que pode "ser muito útil" para combater doenças em maçãs, permitindo "evitar o uso de pesticidas e químicos", anunciou esta quarta-feira aquela academia.

Em comunicado enviado à Lusa, a Universidade do Minho (UMinho) explica que o novo fungo, descoberto por cientistas do Centro de Engenharia Biológica (CEB) da UMinho em parceria com a Universidade de El Manar (Tunísia), "tem a característica particular de não infetar nem apodrecer as maçãs".
Os investigadores acreditam que "assim, a partir de agora, será possível combater, de forma natural, a podridão do bolor azul (Penicillium expansum), uma das doenças mais comuns na fase pós-colheita, responsável por causar grandes prejuízos nos frutos".
Ao contrário do Penicillium expansum, explica o texto, aquela "nova espécie Penicillium tunisiense, além de ter o potencial de combater doenças específicas, não produz patulina, uma micotoxina produzida pelo bolor azul que contamina alimentos, em especial, a maçã".
A instituição minhota adianta que "a nova espécie está agora preservada e disponível no catálogo da MUM - Micoteca da Universidade do Minho, podendo vir a ser explorada para combater a podridão do bolor azul".
A MUM é uma coleção de culturas de fungos filamentosos sediada no Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho desde 1996, que tem como principal missão ser um centro de recursos para a preservação da diversidade fúngica e sua informação e criar soluções para o desenvolvimento sustentável e para o bem-estar do homem.
Com mais de 750 estirpes no catálogo, a MUM, salienta a UMinho, "tem colaborado de forma decisiva para os avanços na ciência, tendo recentemente conseguido trazer para Portugal a única sede de uma infraestrutura europeia de investigação, a MIRRI - Microbial Resource Research Infrastructure".
O Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho é um centro de investigação criado em 1995 e "altamente tecnológico", atuando nas áreas da Biotecnologia e Bioengenharia.
A atividade de investigação do CEB concentra-se nos setores ambiental, da saúde, industrial e alimentar.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Cavalos-marinhos desinteressam-se da gravidez ao verem fêmea mais atraente

MadreMedia/Lusa
22 agosto 2018
Um estudo do Centro de Investigação em Biodiversidades e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO) revelou que os machos da espécie do cavalo-marinho se “desinteressam pela gravidez quando são expostos a uma fêmea mais atraente”, disse hoje o investigador responsável.

Em declarações à Lusa, o investigador Nuno Monteiro explicou que a investigação da Universidade do Porto, que analisou mais de 400 peixes da espécie ‘Syngnathus abaster’ - pertencente à família dos cavalos-marinhos – teve como objetivo “descobrir qual o grau de controlo dos machos sobre a gravidez, visto que esta é uma gravidez masculina e única no reino animal”.
Durante a experiência, os investigadores observaram que, quando expostos a “uma fêmea mais atraente do que aquela com quem reproduziram”, os machos começavam a abortar e os embriões que geravam eram “muito pequenos”.
“Ao ver uma fêmea muito atraente, automaticamente o macho aumentou o número de abortos e os embriões que nasceram eram muito pequenos, alguns até com más formações”, explicou o investigador.
Segundo Nuno Monteiro, o aumento da taxa de abortos e as más formações dos embriões relacionam-se com o “desinteresse pela gravidez” por parte do macho, que deixa de produzir nutrientes para o embrião, guardando-os para uma “futura reprodução com a fêmea a que foi exposto”.
Para Nuno Monteiro, este estudo permitiu concluir que a estratégia utilizada por esta espécie ocorre “de forma similar ao efeito de Bruce”, apenas analisado em mamíferos e no qual a fêmea aborta quando exposta a um novo macho.
“Há uma série de evidências que mostram que existem paralelismos muito grandes, independentemente de a gravidez ocorrer num macho ou numa fêmea. Esta experiência é mais uma achega aos argumentos que mostram que existe uma semelhança entre a gravidez dos mamíferos placentários nas fêmeas e a família Syngnathidae”, salientou.
O estudo, batizado como o “efeito da Mulher de Vermelho” e desenvolvido por uma equipa de três investigadores portugueses deste e um sueco, foi hoje publicado na revista Proceedings of the Royal Society B.

Campo hidrotermal descoberto nos Açores tem características únicas que estão a atrair cientistas

Nuno Noronha
22 agosto 2018
O Campo Hidrotermal Luso, descoberto dia 16 de junho na ilha do Faial pela equipa científica da expedição organizada pela Fundação Oceano Azul em parceria com a Waitt Foundation e a National Geographic Pristine Seas, voltou a ser visitado por investigadores este mês para um estudo mais aprofundado.

Localizado a 570 metros de profundidade, no monte submarino Gigante, a 60 milhas da ilha do Faial, o novo Campo Hidrotermal Luso é uma zona de elevada riqueza biológica e mineral. Poderá ser o primeiro de mais focos de hidrotermalismo na região do Gigante, mas só se saberá havendo mais oportunidades de explorar o mar profundo de Portugal.

Durante um mergulho de aproximadamente seis horas, conduzido pela equipa da Expedição Oceano Azul dedicada aos ecossistemas de profundidade em colaboração com a equipa científica da campanha francesa TRANSECT, foram recolhidas com um ROV, robot subaquático, 16 amostras biológicas, sete amostras geológicas, cinco amostras da estrutura das chaminés para identificação de microrganismos e várias amostras de água e fluídos hidrotermais para quantificar matéria orgânica e inorgânica.

A par destas amostragens para análise posterior, já foi possível recolher nova informação científica: duas grandes chaminés ativas, a par de várias inativas, com fluídos a registarem temperaturas entre 50.ºC e 65.ºC, sendo as chaminés constituídas por argilas ricas em metais (ferro e óxido de manganês).

Verificou-se, igualmente, que existem várias espécies de corais de profundidade e de crustáceos associados à chaminé mais ativa, assim como a presença de lava basáltica recente em zonas adjacentes.

Área muito rica em ferro

Segundo Telmo Morato, coordenador da equipa da Expedição Oceano Azul dedicada aos ecossistemas de profundidade, investigador do IMAR e da Universidade dos Açores e líder científico desta missão, "ainda há muito por desvendar sobre este campo hidrotermal e as comunidades que aqui vivem, mas para já ficámos a saber que esta zona é riquíssima em ferro".
"Este mineral é um adubo natural que estimula a produtividade, ou seja, o crescimento de seres fotossintéticos que consomem dióxido de carbono.  Aliás a comunidade científica discute neste momento se a fertilização do oceano com ferro será uma hipótese de reduzir o dióxido de carbono e mitigar as alterações climáticas", acrescenta.
A maioria dos campos hidrotermais localiza-se em zonas de fronteira de placas tectónicas divergentes, como é o caso da Dorsal Médio-Atlântica que separa o grupo ocidental do grupo central do Arquipélago dos Açores, precisamente onde se encontra o monte submarino Gigante. São verdadeiros oásis escondidos no oceano profundo, que normalmente são encontrados a quilómetros de profundidade e a centenas de milhas das zonas costeiras.
"Este campo hidrotermal é único. Para além de se encontrar a uma baixa profundidade, o que é raríssimo, apresenta também condições ambientais diferentes de outros campos hidrotermais conhecidos. Pode assim sustentar comunidades biológicas muito diferentes das que habitam outras fontes hidrotermais", refere Emanuel Gonçalves, líder da Expedição Oceano Azul e Administrador da Fundação Oceano Azul.


"A sobrevivência do mais preguiçoso": Preguiça pode ser uma boa estratégia de continuidade das espécies

MadreMedia/Lusa
22 agosto 2018
A preguiça pode ser uma boa estratégia de sobrevivência das espécies, podendo a extinção estar relacionada com a taxa metabólica, tornando mais aptos, se não os mais preguiçosos, pelo menos os mais lentos, indica um estudo divulgado esta quarta-feira. O estudo foi feito com fósseis de bivalves e gastrópodes do oceano Atlântico.

O estudo, publicado na revista Proceedings of the Royal Society B por uma equipa de investigadores da Universidade do Kansas, Estados Unidos, envolveu uma grande quantidade de dados sobre fósseis de bivalves e gastrópodes do oceano Atlântico e concluiu que a preguiça pode ser uma bem-sucedida estratégia para a sobrevivência de um indivíduo, de uma espécie ou mesmo de um conjunto de espécies.
Segundo o estudo, foram analisadas as taxas metabólicas (a quantidade de energia que os organismos precisam para viver no dia a dia) de 299 espécies num período de cinco milhões de anos, desde o período do Plioceno até ao presente.
Questionando se é possível aferir a probabilidade de extinção de uma espécie tendo em conta a absorção de energia pelos organismos dessa espécie, Luke Strotz, investigador de pós-doutoramento do Instituto de Biodiversidade e Museu de História Natural da Universidade, dá a resposta: “Encontrámos uma diferença entre as espécies de moluscos que foram extintas nos últimos cinco milhões de anos e as que ainda existem hoje: as que foram extintas tendem a ter taxas metabólicas mais altas”.
Bruce Lieberman, coautor do estudo, adianta que “talvez a longo prazo a melhor estratégia evolutiva para os animais é usar a lassitude e a lentidão – quanto mais baixa a taxa metabólica maior a probabilidade que a espécie tem de sobreviver”.
“Em vez da 'sobrevivência do mais apto' talvez a melhor metáfora para a história da vida seja a 'sobrevivência do mais preguiçoso', ou pelo menos 'a sobrevivência do mais lento'”, acrescenta.
Os investigadores dizem que o estudo pode dar uma importante contribuição nas previsões sobre que espécies podem desaparecer durante a mudança climática que se aproxima, afirmando que a taxa metabólica não será o principal fator de extinção e que há muitos fatores, mas que é mais uma “ferramenta” para ajudar a determinar a probabilidade de extinção de uma espécie.
No estudo, os investigadores concluíram também que o indicador de taxa metabólica estava mais relacionado com a extinção quando as espécies viviam num habitat mais pequeno.
“Descobrimos que as espécies amplamente distribuídas não mostraram a mesma relação entre a extinção e o metabolismo que as espécies com uma distribuição confinada”, disse Strotz.
A equipa quer agora, na mesma linha de investigação, perceber em que medida a taxa metabólica tem influência na propensão para a extinção de outros tipos de animais.
“Nós vemos estes resultados como generalizáveis a outros grupos, pelo menos dentro do meio marinho”, diz Strotz.
Por isso, acrescenta, o próximo passo será verificar a consistência com outros dados de outros grupos, até para perceber se se trata apenas de um fenómeno relacionado com os moluscos. Ou se se pode generalizar até mesmo aos vertebrados que andam na terra.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Descodificado o genoma do trigo ao fim de 13 anos de investigação


MadreMedia/Lusa
16 agosto 2018
Uma descrição detalhada do genoma do trigo foi hoje publicada na revista Science, permitindo no futuro produzir novas variedades do cereal, potencialmente adaptadas às alterações climáticas, mais rentáveis, mais nutritivas e sustentáveis.


A descodificação da sequência do genoma do trigo foi o resultado de 13 anos de investigação, juntando mais de 200 cientistas de 73 instituições de 20 países, um consórcio, o International Wheat Genome Sequencing Consortium, que agora publica o artigo na revista.

A revelação da estrutura do genoma do trigo foi durante muito tempo considerada uma missão impossível, devido ao grande tamanho - cinco vezes maior do que o genoma humano - e complexidade - a existência de três sub-genomas e mais de 85% do genoma ser composto por elementos repetidos.

Além da sequência dos 21 cromossomas o artigo da Science apresenta a localização exata de 107.891 genes e de mais de quatro milhões de marcadores moleculares.

Realizada com uma variedade de trigo chamada “Chinese Spring” a descodificação anunciada hoje é apresentada como a de maior qualidade feita até hoje.

Cultura essencial para a segurança alimentar, o trigo é o alimento básico para mais de um terço da população mundial e contribui para quase 20% do total de calorias e proteínas consumidas pelas pessoas, mais do que qualquer outra fonte alimentar. E é também uma importante fonte de vitaminas e minerais.

Para responder à procura de trigo no futuro, com uma população mundial projetada de 9,6 mil milhões de pessoas até 2050, a produtividade do cereal precisa de aumentar 1,6% por ano. Mas esse aumento terá de se dever essencialmente à melhoria das culturas e das características das terras atualmente cultivadas, para preservar a biodiversidade e a água.

Com a descodificação da sequência do genoma agora concluída, salientam os autores do trabalho, os agricultores poderão ter grãos com mais rendimento e qualidade, mais resistentes a doenças fúngicas e mais tolerância a stress abiótico (influências do meio envolvente).

E acrescentam que se espera uma melhoria do trigo nas próximas décadas, com benefícios semelhantes aos observados com o milho e o arroz, depois de concluídas as suas sequências de referência.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Sabia que o colesterol alto é hereditário?

Nuno de Noronha
Saúde e Medicina
Estar informado sobre a sua história pessoal e familiar é um caminho para a saúde e prevenção de doenças cardio e cérebro-vasculares. Leia os conselhos dos médicos da Associação Hipercolesterolémia Familiar.

Sabia que um jovem com 20 ou 30 anos pode ter doença aterosclerótica, um dos fatores de risco mais importantes para eventos cardiovasculares como o enfarte ou o AVC, equivalente à de uma pessoa com 50 ou 60 anos?

A doença aterosclerótica resulta da elevação dos níveis de colesterol, nomeadamente o LDL-C (mau colesterol), sendo acelerada por estilos de vida modificáveis tais como o tabagismo, sedentarismo, excesso de peso e uma má alimentação. Sabia que o colesterol LDL (mau colesterol) elevado não escolhe idades?

O colesterol elevado não existe apenas em pessoas de idades mais avançadas. Mesmo crianças, adolescentes e jovens adultos podem ter níveis de colesterol elevados desde o seu nascimento. O colesterol elevado pode ser mesmo encontrado num jovem magro e ativo com estilos de vida saudáveis.

A Hipercolesterolémia Familiar (FH) existe mesmo

A Hipercolesterolémia Familiar (FH) é uma doença hereditária que se transmite de pais para filhos, com uma probabilidade de 50%, e carateriza-se por níveis de colesterol total e LDL-C elevados desde o nascimento. Esta doença afeta cerca de um indivíduo em cada 300 ou 500.

Os níveis elevados de LDL-C vão-se depositando silenciosamente nas artérias desde o nascimento, dando origem a doença aterosclerótica e doenças cardiovasculares prematuramente.

A FH resulta de um defeito no receptor hepático que capta o LDL-C da circulação sanguínea para o fígado, levando assim ao aumento dos níveis de LDL-C no sangue e, consequentemente, à sua deposição, infiltração, inflamação e envelhecimento das artérias – doença aterosclerótica. A doença aterosclerótica não é exclusiva das artérias do coração nem das do cérebro. Trata-se de uma doença sistémica e generalizada, podendo afetar qualquer órgão e ser responsável por vários sintomas, nomeadamente, disfunção eréctil.

Sabia que a FH, apesar de ser uma herança indesejada, pode ser tratada?

Por se tratar de uma doença que passa de geração para geração, pode dizer-se que é uma herança indesejada. Contudo o seu diagnóstico precoce permite um tratamento eficaz com uma sobrevida igual à da população em geral.
Visto ser uma doença silenciosa, é importante estar informado e conhecer a sua história pessoal e familiar. Saber mais e a tempo é um bom princípio para o tratamento já que lhe permite identificar se tem a doença, ou se algum familiar a tem, e agir preventivamente.
A modificação de estilos de vida pode não ser suficiente para corrigir valores elevados de colesterol, sendo muitas vezes necessárias medidas terapêuticas específicas. Nesse sentido, deve procurar apoio de médicos especializados.

Como pode saber se algum familiar também terá a doença?

Para a deteção de FH a história familiar é muito importante, especialmente:
- Se existem familiares com história de enfarte do miocárdio, AVC, doença arterial periférica, disfunção sexual ou morte súbita antes dos 55 anos nos homens e antes dos 60 anos nas mulheres.
- Se existem familiares com colesterol total e LDL-C elevados desde a infância/juventude ou se fazem medicação específica há muitos anos.
Quando é detetada uma situação de FH deve-se medir os níveis de colesterol em todos os membros da família para que o tratamento preventivo seja iniciado o mais precocemente possível.