quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Campo hidrotermal descoberto nos Açores tem características únicas que estão a atrair cientistas

Nuno Noronha
22 agosto 2018
O Campo Hidrotermal Luso, descoberto dia 16 de junho na ilha do Faial pela equipa científica da expedição organizada pela Fundação Oceano Azul em parceria com a Waitt Foundation e a National Geographic Pristine Seas, voltou a ser visitado por investigadores este mês para um estudo mais aprofundado.

Localizado a 570 metros de profundidade, no monte submarino Gigante, a 60 milhas da ilha do Faial, o novo Campo Hidrotermal Luso é uma zona de elevada riqueza biológica e mineral. Poderá ser o primeiro de mais focos de hidrotermalismo na região do Gigante, mas só se saberá havendo mais oportunidades de explorar o mar profundo de Portugal.

Durante um mergulho de aproximadamente seis horas, conduzido pela equipa da Expedição Oceano Azul dedicada aos ecossistemas de profundidade em colaboração com a equipa científica da campanha francesa TRANSECT, foram recolhidas com um ROV, robot subaquático, 16 amostras biológicas, sete amostras geológicas, cinco amostras da estrutura das chaminés para identificação de microrganismos e várias amostras de água e fluídos hidrotermais para quantificar matéria orgânica e inorgânica.

A par destas amostragens para análise posterior, já foi possível recolher nova informação científica: duas grandes chaminés ativas, a par de várias inativas, com fluídos a registarem temperaturas entre 50.ºC e 65.ºC, sendo as chaminés constituídas por argilas ricas em metais (ferro e óxido de manganês).

Verificou-se, igualmente, que existem várias espécies de corais de profundidade e de crustáceos associados à chaminé mais ativa, assim como a presença de lava basáltica recente em zonas adjacentes.

Área muito rica em ferro

Segundo Telmo Morato, coordenador da equipa da Expedição Oceano Azul dedicada aos ecossistemas de profundidade, investigador do IMAR e da Universidade dos Açores e líder científico desta missão, "ainda há muito por desvendar sobre este campo hidrotermal e as comunidades que aqui vivem, mas para já ficámos a saber que esta zona é riquíssima em ferro".
"Este mineral é um adubo natural que estimula a produtividade, ou seja, o crescimento de seres fotossintéticos que consomem dióxido de carbono.  Aliás a comunidade científica discute neste momento se a fertilização do oceano com ferro será uma hipótese de reduzir o dióxido de carbono e mitigar as alterações climáticas", acrescenta.
A maioria dos campos hidrotermais localiza-se em zonas de fronteira de placas tectónicas divergentes, como é o caso da Dorsal Médio-Atlântica que separa o grupo ocidental do grupo central do Arquipélago dos Açores, precisamente onde se encontra o monte submarino Gigante. São verdadeiros oásis escondidos no oceano profundo, que normalmente são encontrados a quilómetros de profundidade e a centenas de milhas das zonas costeiras.
"Este campo hidrotermal é único. Para além de se encontrar a uma baixa profundidade, o que é raríssimo, apresenta também condições ambientais diferentes de outros campos hidrotermais conhecidos. Pode assim sustentar comunidades biológicas muito diferentes das que habitam outras fontes hidrotermais", refere Emanuel Gonçalves, líder da Expedição Oceano Azul e Administrador da Fundação Oceano Azul.


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