quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Redução de calorias ou administração de resveratrol trava doença de Machado-Joseph

Os resultados, publicados na revista científica Nature Communications, sugerem que os efeitos positivos verificados em ratinhos, que mimetizam a DMJ, não se revelam apenas ao nível dos sintomas, observando-se um bloqueio efetivo do desenvolvimento da doença.
 
Redução de calorias ou administração de resveratrol trava doença de Machado-Joseph
Luís Pereira de Almeida, Janete Cunha-Santos e Cláudia Cavadas.créditos: UC

Cláudia Cavadas, coordenadora de uma das equipas de investigação, clarifica que "o estudo sugere que uma ligeira redução de calorias, extremamente controlada, sem incorrer no risco de malnutrição e com a presença de todos os nutrientes essenciais ao organismo, ou a administração de resveratrol, contribuem para a melhoria da coordenação motora, marcha, equilíbrio, neuropatologia e ativam o processo de reciclagem dos elementos envelhecidos e danificados das células (autofagia)".
Luís Pereira de Almeida, coordenador da equipa parceira de investigação, salienta que "os efeitos benéficos obtidos são explicados através de um regulador de informação presente nas células, chamado sirtuina 1, uma enzima cujos níveis aumentam no cérebro através da redução calórica ou administração de resveratrol".
 
O investigador acrescenta que "estamos neste momento a desenvolver todos os esforços para testar os resultados do resveratrol em contexto de ensaios clínicos, algo que depende somente de financiamento".
A Doença de Machado-Joseph é uma doença incurável, fatal e hereditária, de grande prevalência nos Açores, sendo caracterizada pela descoordenação motora, atrofia muscular, rigidez dos membros, dificuldades na deglutição, fala e visão, associadas a um progressivo dano de zonas cerebrais específicas.
A investigação foi financiada por fundos FEDER através do COMPETE - Programa Operacional Fatores de Competitividade via Fundação para a Ciência e a Tecnologia, pelos programas europeus E-Rare e JPND, pela AFM e pelo fundo privado Richard Chin and Lily Lock Machado-Joseph Research Fund.
Caminho a novos tratamentos contra depressão e vício
O estudo foi publicado na revista científica Nature Communications.
Num comunicado enviado à agência Lusa, a academia minhota adianta que o resultado da investigação, coordenada por Ana João Rodrigues e Nuno Sousa, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho (UMinho), "ajuda a perceber melhor o sistema de recompensa, essencial na sobrevivência das espécies, que falha em doenças como a depressão, o défice de atenção e a adição de substâncias".
Segundo explica o texto, situações de prazer "ativam o circuito cerebral chamado sistema de recompensa", no qual se destacam dos neurónios D1 e D2, sendo que a comunidade científica associava os D1 ao processamento de estímulos positivos/prazer e os D2 a um papel relevante nos estímulos negativos.
"A equipa portuguesa provou agora que ambos podem ter funções positivas no comportamento", anuncia a UMinho, explanando que aquele estudo "é importante para compreender melhor como funciona o sistema de recompensa, que está disfuncional em patologias como a depressão e a adição, e pode abrir caminho para terapias direcionadas na eventual ativação daqueles neurónios".
Segundo o texto, os investigadores realizaram testes em laboratório que envolveram duas espécies de roedores que tinham que carregar determinadas vezes numa alavanca para obter um doce (recompensa).
Ao longo dos dias tinham de carregar cada vez mais para receberem o mesmo, provando que "quanto mais motivado o animal estava na tarefa, mais neurónios D1 e D2 ativava, carregando até 150 vezes por doce".
Numa segunda fase, os cientistas "ativaram ou inibiram seletivamente estes neurónios durante a tarefa usando um laser (técnica de otogenética)" e observou-se que "a motivação do animal aumentava drasticamente ao ativar-se tanto os D1 como os D2, levando-o a carregar mais vezes na alavanca" e que a inibição dos neurónios D2 diminuía a sua motivação.