quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Culturas de óleo de palma libertam carbono "escondido"

Artigo publicado pelo jornal Público em 31/01/2013.
"Estudo mostra como as alterações nas florestas da Malásia estão a libertar carbono aprisionado durante milénios em turfeiras.
Cerca de 80% do óleo de palma mundial é plantado no Sudeste asiático
Um novo estudo científico publicado esta semana reforça as dúvidas sobre a sustentabilidade do óleo de palma como matéria-prima para a produção de biocombustível.
 
O estudo, publicado na edição desta quinta-feira da revista Nature, dá novas pistas sobre um dos impactos temidos da expansão da cultura do óleo de palma: que a desflorestação para abrir caminho às novas plantações liberte vastas quantidades de carbono armazenado em zonas húmidas.
 
Nas florestas tropicais pantanosas, as folhas, galhos e troncos caídos decompõe-se muito lentamente, dado que estão cobertos por água. A camada de turfa resultante deste processo é um enorme repositório de carbono. Com a destruição das florestas e a drenagem das zonas húmidas, a turfa, em contacto com ar, acaba por libertar grandes quantidades de dióxido de carbono, contribuindo para o aquecimento global.
 
Investigadores de várias universidades, do Reino Unido, Holanda e Indonésia, avaliaram os fluxos de carbono em zonas húmidas da Indonésia, transformadas pelo avanço da cultura do arroz, e da Malásia, com plantações de óleo de palma. Numa zona húmida “perturbada”, o fluxo de carbono é 50% maior do que em áreas “não-perturbadas”. Além disso, a origem do carbono é diferente. Nas áreas “não-perturbadas”, vem do crescimento das plantas. Nas “perturbadas”, a origem é o stock de carbono das turfas, onde está armazenado há milhares de anos.
 
“Já sabíamos que as plantações de óleo de palma do Sudeste asiático eram uma grande ameaça para a biodiversidade, e que a drenagem [de zonas húmidas] pode libertar grandes quantidades de dióxido de carbono durante os flogos florestais”, afirma Chris Freeman, um dos autores do artigo, citado pela agência Reuters. “Mas a descoberta de uma nova fonte ‘escondida’ de problemas nas águas destas turfeiras é um aviso de que estes frágeis ecossistemas precisam de ser conservados”, completa.
 
Mais de 80% do óleo de palma consumido no mundo é produzido na Indonésia. Todos os anos, uma área aproximadamente do tamanho da Grécia é desflorestada para dar lugar a novas plantações."

Um dia o ouriço-do-mar pode tirar-lhe as rugas

Artigo de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 30/01/2013.
"Jovem investigadora portuguesa ganha Prémio Pulido Valente Ciência 2012 e outro galardão francês. Fisiologia do ouriço-do-mar pode vir a ser imitada em biomaterial para regenerar tecidos humanos.
O ouriço-do-mar Paracentrotus lividus
Interior do ouriço-do-mar: do lado esquerdo, a seta aponta para a lanterna de Aristóteles; do lado direito, indica o ligamento das experiências
Mário Barbosa gosta de pescar nos tempos livres. Foi na pesca que descobriu os buracos que os ouriços-do-mar fazem nas rochas, mesmo nas que são graníticas e duras. A curiosidade levou o cientista do Instituto de Engenharia Biomédica (Ineb), no Porto, a estudá-los, primeiro na literatura científica já publicada, depois no laboratório. Agora, o investigador tem em mãos um projecto para desenvolver um material regenerativo para tecidos humanos com base num tecido encontrado nestes animais marinhos.
 
Os ouriços-do-mar fazem parte do grupo de animais que inclui as estrelas-do-mar e os pepinos-do-mar. Na praia, o que salta à vista são os espinhos que cobrem os seus corpos e o aspecto colorido. Mas os buracos que escavam e que despertaram a curiosidade a Mário Barbosa devem-se a uma estrutura chamada "lanterna de Aristóteles" – a região central do ventre dos ouriços que tem cinco dentes capazes de ir corroendo a rocha.
 
Mário Barbosa e Maria Carnevali, a investigadora principal de um grupo na Universidade de Milão, em Itália, que já trabalhava com ouriços-do-mar há décadas, acabaram por se lançar numa investigação para encontrar novos biomateriais com qualidade de regeneração de tecidos humanos usando o ouriço-do-mar. “A ideia foi estudar os ligamentos que prendem [internamente] os dentes dos ouriços ao resto do corpo”, disse o cientista ao PÚBLICO.
 
Na altura, a investigadora Ana Ribeiro, formada em Engenharia dos Materiais pela Universidade do Minho, agarrou o projecto e candidatou-se a uma bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. “Pensei que era uma loucura”, lembra Ana Ribeiro, de 31 anos. “Como é que uma engenheira de materiais vai ser capaz de trabalhar e aprender a biologia fundamental dos tecidos dos ouriços-do-mar?”, questionou-se.
 
Mas não se arrependeu. Aliás, o desafio foi compensado e o doutoramento que fez valeu a Ana Ribeiro dois prémios científicos: o galardão francês Daniel Jouvenance de 2012 para jovens investigadores, de 4000 euros, entregue esta última terça-feira em Paris, e o prémio português Pulido Valente Ciência de 2012.
 
A investigadora descobriu que estes ligamentos no ouriço-do-mar eram compostos por fibras de colagénio muito bem estruturadas, muito parecidas com as dos mamíferos. Mas, nos ouriços-do-mar, estas fibras cumprem a função de músculos e são controladas pelo sistema nervoso. Para Mário Barbosa, esta propriedade pode ser recriada em biomateriais para regenerar tecidos humanos durante a cicatrização ou em utilizações cosmética, como suavizar as rugas.
 
O colagénio é uma das proteínas mais importantes do tecido conjuntivo – que é o nome generalizado para os tecidos dos ossos, ligamentos, tendões, cartilagem, tecido adiposo, entre outros. A molécula é composta por uma cadeia de aminoácidos, produzida nas células, e que se unem em feixes cada vez maiores. A unidade destes feixes é a fibrila.
 
Ana Ribeiro estudou uma espécie de ouriço-do-mar que existe na costa portuguesa, a Paracentrotus lividus, e utilizou a microscopia electrónica para caracterizar este ligamento, obtendo imagens ampliadas da estrutura. “O ligamento é um tecido de colagénio mutável característico dos equinodermes que podem sofrer alterações muito rápidas das suas propriedades mecânicas – rigidez, resistência à tração e viscosidade – num período curto de tempo”, explica.
 
Um jogo entre moléculas
Embora a estrutura molecular do colagénio no ouriço seja muito parecida com a dos mamíferos, a cientista descobriu que esta mutabilidade permite a contracção dos ligamentos do equinoderme, o que foi uma novidade: “Resulta de uma reorganização da matriz [do tecido conjuntivo]”, explica Ana Ribeiro.
 
O que acontece é um jogo entre várias proteínas que origina a contracção ou a distensão do colagénio. Mário Barbosa explica este jogo. No ligamento do ouriço, existe a tensilina, uma proteína que une as fibrilas de colagénio. Consoante a necessidade do ouriço-do-mar, assim o seu sistema nervoso envia estímulos para a produção de outras proteínas que quebram as ligações entre a tensilina e o colagénio, tornando as fibrilas relaxadas. Por fim, para voltar a haver contracção, uma terceira molécula inibe o funcionamento das proteínas que quebram as ligações.
 
“A tensilina é uma proteína natural do ouriço que o organismo humano não produz”, explica Mário Barbosa. A equipa do Ineb está agora a tentar imitar este sistema, integrando a tensilina nos biomateriais baseados no colagénio. O colagénio, já muito utilizado em cirurgia plástica, tem algumas limitações. “A maior parte dos biomateriais não se adaptam ao ambiente estruturalmente dinâmico dos tecidos e órgãos naturais”, explica Ana Ribeiro.
 
O objectivo é dar a este biomaterial a capacidade de mutabilidade encontrada nos ouriços-do-mar. Uma utilização imediata seria aplicar o colagénio com tensilina na pele para a tornar mais plástica e fazer desaparecer as rugas. Mas pode-se pensar em usos mais complexos, como a reconstituição da mama depois de uma mastectomia.
 
“Teremos um tecido com capacidade moldável”, sublinha Mário Barbosa. O cientista espera que esse tecido possa responder aos estímulos celulares e, desta forma, permitir que todos os tipos de células o invadam. No caso da mama, onde a sensibilidade proporcionada pelo sistema nervoso é muito importante, espera-se que também as células nervosas cresçam no colagénio.
 
A equipa já conseguiu produzir tensilina utilizando bactérias. “Já sabemos que, se tivermos colagénio e tensilina, o colagénio agrega-se. O problema fundamental é saber se in vivo o efeito é aquele que esperamos”, diz o cientista.
 
Ana Ribeiro já não vai testemunhar em primeira mão as próximas experiências. Está no Brasil, em São Paulo, a fazer um pós-doutoramento na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita e Filho. O tema une a engenharia e a biologia: “Estudo o comportamento das células humanas para aplicações em implantes dentários.”
 
Saltou para o lado de lá do Atlântico e para o lado de lá das oportunidades na ciência em Portugal. “O Brasil é um país em que existe muito financiamento para a ciência, é assustadora a diferença com Portugal”, lamenta Ana Ribeiro, que considera haver poucas saídas para os jovens cientistas portugueses no seu próprio país.
 
E os prémios? “É uma satisfação muito grande. O doutoramento é um período de estudos intenso, muitas vezes colocamos de parte a vida pessoal para nos dedicarmos ao trabalho. Ver esse esforço e dedicação reconhecidos é óptimo.”  "

Tumor do ovário encontrado em esqueleto de mulher da época romana

Artigo de Ana Gerschenfeld pubicado pelo jornal Público em 31/01/2013.
"É a primeira vez que este tipo de patologia é descoberto em restos mortais humanos tão antigos.
Da esquerda à direita: o tumor, com dois dentes presos à parede interna; mais dois dentes; e um fragmento de osso
Uma equipa de cientistas espanhóis encontrou, no esqueleto de uma mulher que viveu há 1600 anos na Catalunha, um teratoma ovárico calcificado. Trata-se de uma estrutura arredondada, com 4,4 centímetros de diâmetro, cuja análise por tomografia computadorizada revelou conter quatro dentes malformados e um pequeno fragmento ósseo.
 
Os teratomas são tumores que costumam ser benignos e que podem conter cabelo, dentes, ossos e outros tecidos. São assintomáticos na maioria dos casos. E hoje em dia são rapidamente detectados e removidos, para evitar complicações ligadas ao seu eventual crescimento, que poderia perturbar a função dos órgãos vizinhos.
 
Núria Armentano e colegas, da Universidade Autónoma de Barcelona, que publicaram os seus resultados na revista International Journal of Paleopathology, detectaram o tumor na pélvis (do lado direito) do esqueleto de uma mulher que tinha 30 a 40 anos na altura da sua morte. O esqueleto – encontrado, em 2010, no sítio arqueológico de La Fogonussa, perto de Lérida (Catalunha) – data do período romano tardio da Península Ibérica.
 
O achado é tanto mais invulgar quanto este tipo de calcificações abdominais podem ser facilmente confundidas com pedras. Para mais, são muito difíceis de distinguir dos cálculos renais, fibromas, restos de artérias e uma série de outras coisas, explica um comunicado da universidade.
 
“A calcificação e preservação das paredes externas deste tumor são excepcionais, dado que o que é normal neste tipo de restos é que apenas se conservem as estruturas internas e desapareçam as externas, que são muito frágeis”, diz a co-autora Assumpció Malgosa, citada no mesmo documento.
 
Neste caso, os cientistas não excluem que a mulher possa ter sucumbido ao tumor, embora não seja possível determiná-lo. Mas uma coisa é certa, a partir de agora: este tipo de patologia humana já existia naquela altura."

Alimentação: Organização Mundial de Saúde recomenda novos níveis de sal e potássio

Artigo publicado na rubrica Saúde - Sapo, em 31/01/2013.

ONU pretende reduzir o risco de doenças cardíacas e AVC
Alimentação: Organização Mundial de Saúde recomenda novos níveis de sal e potássio
A Organização Mundial de Saúde recomendou hoje que os adultos consumam menos de 2.000 mg de sódio e mais de 3.510 mg de potássio por dia, alertando que a maioria consome demasiado do primeiro e pouco do segundo.

As novas orientações divulgadas pela agência das Nações Unidas apontam que uma pessoa que tenha níveis elevados de sódio ou níveis reduzidos de potássio corre o risco de hipertensão arterial, o que aumenta o perigo de doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais (AVC).

Segundo as orientações, o nível máximo recomendado de sódio equivale a cinco gramas de sal.

O sódio existe naturalmente em alimentos como o leite e as natas (cerca de 50 mg de sódio em cada 100 g) e nos ovos (aproximadamente 80 mg/100 g).

Existe também, em quantidades muito mais elevadas, em alimentos processados como o pão (250 mg/100 g), carnes processadas como o toucinho fumado (1.500 mg/100 g), aperitivos como os 'pretzels', e as pipocas (1.500 mg/100 g), e em condimentos como o molho de soja (7.000 mg/100 g), e os caldos alimentares (20.000 mg/100 g).

Entre os alimentos ricos em potássio estão o feijão e as ervilhas (1.300 mg de potássio por 100 g), os frutos secos (600 mg/100 g), vegetais como os espinafres, a couve ou a salsa (550 mg/100 g) e frutos como as bananas, papaias e tâmaras(300 mg/100 g).

Quando processados, muitos destes alimentos perdem parte da quantidade de potássio que têm naturalmente.

AVC são a causa número um de morte

“A hipertensão arterial é um grande fator de risco para a doença cardíaca e o AVC – a causa número um de morte e deficiência a nível mundial", alertou Francesco Branca, diretor do departamento de nutrição para o desenvolvimento e a saúde da OMS.

As orientações da OMS são um instrumento importante para especialistas em saúde pública e legisladores, nomeadamente quando abordam, em cada país, questões como a doença cardíaca, o AVC, a diabetes ou o cancro.

Em Portugal, desde 2010 que existe uma lei que define um teor máximo de 1,4 gramas de sal por 100 gramas de pão e obriga a que os rótulos das embalagens de alimentos pré-embalados prestem informação sobre a quantidade relativa e absoluta de sal na embalagem, por percentagem do produto e por porção/dose.

A OMS está também a atualizar as suas orientações sobre o consumo de gorduras e açúcares para reduzir o risco de obesidade e de doenças não transmissíveis.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Novo hidrogel antimicrobiano combate biofilmes e bactérias multirresistentes



Material sintético é ativado pela temperatura corporal

Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-01-25

 Ver vídeo em:

Investigadores da IBM e do Instituto de Bioengenharia e Nanotecnologia (IBN) de Singapura acabam de revelar o lançamento de um hidrogel antimicrobiano que promete combater os biofilmes e erradicar por completo as bactérias transmitidas por contacto que já desenvolveram resistência a medicamentos.
Novo hidrogel pode ser aplicado como creme na pele.
O hidrogel sintético, ativado pela temperatura corporal, é biodegradável, biocompatível e não-tóxico, tornando-se no método ideal para combater episódios de risco para a saúde dos profissionais hospitalares, visitantes e pacientes. O estudo foi recentemente publicado na revista científica «Angewandte Chemie».



Tradicionalmente utilizados para a desinfeção de superfícies, os agentes antimicrobianos podem ser encontrados em produtos domésticos, como o álcool ou a lixívia. No entanto, passando das bancadas dos hospitais para as doenças infeciosas, já se provou que estes organismos estão a tornar-se num desafio cada vez maior à medida que os antibióticos convencionais estão a tornar-se menos eficazes.

O hidrogel sintético antimicrobiano é composto por mais de 90 por cento de água, ideal para aplicações como cremes ou terapêuticas injetáveis para a cicatrização de feridas, implantes e revestimentos de cateteres ou infeções da pele.
Capazes de penetrar em quase todos os tecidos ou superfícies, os biofilmes microbianos – agrupamentos de células doentes presentes em 80 por cento de todas as infeções – persistem em vários locais do corpo humano, especialmente em associação com equipamentos e dispositivos médicos. Estes biofilmes contribuem significativamente para as infeções adquiridas no hospital, que estão entre as cinco principais causas de morte nos Estados Unidos.
Apesar da esterilização e de técnicas de assepsia mais avançadas, as infeções associadas a dispositivos médicos representam ainda um grave problema relacionado, em parte, com o desenvolvimento de bactérias resistentes aos medicamentos.

"Esta é uma abordagem fundamentalmente diferente para o combate aos biofilmes resistentes a medicamentos. Quando comparada com as terapêuticas dos atuais antibióticos e hidrogéis, esta nova tecnologia traz um imenso potencial", disse James Hedrick, investigador dos laboratórios da IBM Research. "Esta nova tecnologia aparece no momento crucial de combate às bactérias resistentes aos medicamentos e a doenças infeciosas que são cada vez mais problemáticas".

Prevenir a replicação de bactérias

Quando aplicado em superfícies contaminadas, a carga positiva do hidrogel atrai todas as membranas microbianas com carga negativa, fazendo lembrar a forte gravidade num buraco negro. No entanto, ao contrário da maioria dos antibióticos e hidrogéis que têm por alvo o mecanismo interno das bactérias para prevenir a replicação, este hidrogel mata as bactérias por rutura da membrana, impedindo o aparecimento de qualquer resistência.

"Desenvolvemos uma terapia mais eficaz contra superbactérias devido à ameaça letal de infeção por estes microrganismos de rápida mutação e à falta de novos medicamentos para os combater. Utilizando os materiais poliméricos versáteis e de baixo custo que temos desenvolvido em conjunto com a IBM, podemos agora lançar um ágil ataque aos biofilmes resistentes aos medicamentos, ajudando assim a melhorar os resultados médicos", referiu Yi-Yan Yang, líder no Instituto de Bioengenharia e Nanotecnologia de Singapura.

O programa IBM de nanomedicina de Polímeros – que se iniciou nos laboratórios da IBM Research há apenas quatro anos com a missão de melhorar a saúde humana - decorre de décadas de desenvolvimento de materiais tradicionalmente utilizados para tecnologias de semicondutores.

Este avanço vai alargar o âmbito do programa de colaboração entre a IBM e o IBN, permitindo que os cientistas possam perseguir simultaneamente múltiplos métodos para a criação de materiais que melhorem a medicina e a descoberta de novas drogas e medicamentos. Uma colaboração a esta escala entre empresas e institutos de investigação reúne as mentes e os recursos para responder ao complexo desafio de tornar as soluções de nanomedicina numa realidade.



Descoberto dinossauro com penas datado do Jurássico Superior



A espécie encontrada acrescenta conhecimento sobre a origem das aves

Publicado em www.cienciahoje.pt2013-01-25
Por Sara Pelicano (imagem: Royal Belgian Institute of Natural Sciences)

Reconstrução do Eosinpteryx.
A espécie foi encontrada no nordeste da China e designada por Eosinpteryx. O Ciência Hoje falou com paleontólogo português Octávio Mateus que explicou: “Sabemos que as aves descendem de dinossauros carnívoros chamados terápodos, mas aqueles que conhecemos com penas são do Período Cretáceo, mais recente. Este agora descoberto é bem mais antigo, na verdade é da altura do Jurássico superior, com cerca de 150 milhões de anos”.


O paleontólogo português considera o achado “interessantíssimo” e “importante” porque vem colocar “mais uma peça no puzzle daquilo que compreendemos sobre a evolução das aves a partir de dinossauros carnívoros. No jurássico não era conhecido nenhum com penas”.

O Eosinpteryx levanta outra questão que é perceber como é que as aves começaram a voar. “Ainda não percebemos bem se as aves evoluíram de animais que corriam e começaram a saltar cada vez mais alto até que começaram a voar ou de dinossauros que eram arborícolas e que, voando de árvore em árvore começaram a voar”, conta Octávio Mateus.

Estas duas hipóteses ainda estão em conflito, contudo “esta descoberta parece sugerir que se tratava de um animal corredor e que não teria capacidade de voar”, conclui Octávio Mateus.

Um dos coautores do trabalho de descoberta do dinossauro com penas do Jurássico Superior, Gareth Dyke (Universidade de Southampton, Reino Unido), explica que “o fóssil encontrado, apesar de ter penas, seria incapaz de voar devido à sua envergadura pequena e uma estrutura óssea que teria restringido sua capacidade de bater suas asas”. O dinossauro mede 30 centímetros.

Gareth Dyke explica ainda que “o dinossauro também tinha dedos adequados para caminhar no chão e poucas penas na cauda e pernas”.

Análise de DNA revela origem comum de asiáticos e nativos americanos


Estudo estabelece relações genéticas entre primeiros humanos modernos e populações atuais

Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-01-24
Escavações na gruta Tianyuan, perto de Pequim

A análise de DNA de fósseis da perna de um humano moderno com 40 mil anos, achado na China, revelaram que este humano partilha uma origem comum com os antepassados de muitos asiáticos atuais e americanos nativos.
 
Os especialistas descobriram também que a proporção de DNA neandertal e denisovano neste ser não é mais alta do que nas pessoas que vivem naquela região atualmente.
Os restos analisados foram encontrados em 2003 na gruta Tianyuan, perto de Pequim. A equipa de investigadores na qual se encontra Svante Pääbo e Qiaomei Fu, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva de Leipzig (Alemanha), sequenciaram o DNA nuclear e mitocondrial extraído de uma perna e fizeram a datação por carbono.

Segundo se explica no trabalho, publicado na «PNAS», os humanos com uma morfologia semelhante à dos homens e mulheres atuais aparecem em registos fósseis na Eurásia, datados entre 40 mil e 50 mil anos. As relações genéticas entre estes primeiros humanos modernos e as populações humanas atuais ainda não tinham sido estabelecidas.
Fu e Pääbo utilizaram novas técnicas que permitem identificar material genético antigo procedente de achados arqueológicos. Graças à tecnologia, os investigadores conseguiram reconstruir o perfil genético do dono da perna.

Este indivíduo viveu durante uma transição evolutiva importante, o momento em que os primeiros humanos modernos começaram a substituir os neandertais e os denisovanos, que acabaram por se extinguir, explica Pääbo.

Da mesma forma, o perfil genético deste humano moderno revelou que o indivíduo está relacionado com os antepassados de muitos dos asiáticos e dos nativos americanos do presente, apesar de já se ter separado geneticamente dos antepassados dos atuais europeus.

Futuras análises dos primeiros humanos modernos na Euroásia irão melhorar a nossa compreensão sobre quando e como os humanos modernos se expandiram pela Europa e Ásia, conclui o investigador.


sábado, 26 de janeiro de 2013

Mulheres fumadoras morrem mais hoje do que há 20 anos

Texto publicado pelo jornal Sol em 24/01/2013.
"As mulheres fumadoras têm hoje muito maior risco de morte por cancro do pulmão ou doença pulmonar obstrutiva crónica do que as fumadoras de há 20 ou 40 anos, o que reflecte mudanças no comportamento tabágico, revela um estudo hoje publicado.
 
Segundo o estudo, divulgado na revista científica 'New England Journal of Medicine', o aumento do risco de morte nas mulheres fumadoras foi tão grande que apagou por completo as melhorias na longevidade que os avanços médicos proporcionaram ao resto da população nos últimos 50 anos.
 
Hoje, dizem os investigadores, as mulheres fumam mais como os homens do que as gerações anteriores de mulheres fumadoras: começam mais cedo na adolescência e até recentemente fumavam mais cigarros por dia (o consumo entre as fumadoras atingiu o pico nos anos 1980).
 
Para verificarem o impacto destas mudanças comportamentais no risco de morte das mulheres, os investigadores, liderados por Michael J. Thun, MD, ex-presidente emérito da Sociedade Americana do Cancro, mediram 50 anos de dados sobre a mortalidade associada ao tabaco. No total, o estudo incluiu mais de 2,2 milhões de adultos com 55 anos ou mais.
 
Para as mulheres que fumavam nos anos 1960, o risco de morte por cancro do pulmão era 2,7 vezes mais alto do que o das pessoas que nunca tinham fumado.
 
Na última década (2000-2010) o risco era 25,7 vezes mais alto do que o das pessoas que nunca fumaram.
 
Já o risco de morte por doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) entre as mulheres fumadoras era 4,0 vezes maior do que entre os não fumadores nos anos 1960, aumentando, na década mais recente, para 22,5 vezes.
 
Cerca de metade desses aumentos ocorreu nos últimos 20 anos.
 
Nos homens fumadores, o risco de morte por cancro do pulmão estabilizou no nível observado na década de 1980, enquanto o risco de morte por DPOC continua a aumentar por razões que os cientistas não conseguem identificar.
 
Tanto os homens como as mulheres têm, actualmente, idênticos níveis elevados de risco de morte quando comparado com os não fumadores, o que, segundo os cientistas, confirma a previsão de que "se as mulheres fumarem como os homens, vão morrer como os homens".
 
O estudo confirma ainda que deixar de fumar - em qualquer idade - reduz dramaticamente a mortalidade por qualquer das grandes doenças provocadas pelo tabaco, e que deixar de fumar é muito mais eficaz do que reduzir o número de cigarros fumados.
 
O estudo concluiu que os fumadores que deixaram de fumar até aos 40 anos evitaram quase todo o excesso de mortalidade associada ao cancro do pulmão e à DPOC."