sábado, 26 de janeiro de 2013

O combustível proibido

Texto de Rui Antunes publicado pelo Jornal Sol em 26/01/2013.
"O aumento dos glóbulos vermelhos no sangue para valores próximos do limite permitido (taxa de hematócrito de 50%) é a meta de qualquer ciclista que recorre ao doping.
 
Os glóbulos vermelhos são responsáveis pelo transporte de oxigénio e, quanto maior for o seu número, mais ‘combustível’ chega aos músculos para trabalharem de forma eficaz e durante mais tempo.
 
Esta é a razão pela qual o consumo de EPO e o recurso às transfusões sanguíneas se tornaram tão tentadores no ciclismo, um desporto que pode obrigar a esforços sobre-humanos: uma etapa de seis horas na Volta a França implica um desgaste de energia equivalente a oito jogos de futebol.
 
Os ciclistas podem gastar sete mil calorias ou mais antes de cortar a meta. Nas provas de três semanas, como o Tour, é como se corressem duas maratonas e meia por dia.
 
A taxa de hematócrito de uma pessoa normal ronda os 40% e tanto a EPO (uma hormona que existe no corpo humano) como as transfusões fazem disparar os glóbulos vermelhos, como explicou ao SOL o médico Robalo Nunes, especialista em imunohemoterapia.
 
No primeiro caso, já há testes para detectar o consumo, mas no segundo é «impossível» a não ser através de um histórico que permita verificar oscilações anormais do hematócrito. É essa forma de batota que o passaporte biológico, introduzido no ciclismo em 2008, veio ajudar a combater.
 
Mas na época áurea de Lance Armstrong não existia nada. «A transfusão não deixa rasto», sublinha Robalo Nunes, que diz ser possível o ciclista ter recorrido ao método sempre antes do Tour para escapar aos controlos. «Tem lógica». Ao injectar o sangue extraído um tempo antes ao que ficou no corpo a produzir mais glóbulos vermelhos para compensar, a gasolina dos músculos ganha novas qualidades."

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