quinta-feira, 18 de abril de 2013

Volume do cérebro do homem das Flores sugere nanismo das ilhas

Artigo publicado pelo jornal Público em 18/04/2013.
"Nova investigação estima que o cérebro do hobbit tinha 426 centímetros cúbicos e defende que este hominíneo não é da nossa espécie, mas que descendeu do Homo erectus.
O homem das Flores desapareceu há 13.000 anos e os seus fósseis foram descobertos só em 2003
Um novo estudo ao tamanho do cérebro do Homo floresiensis, descoberto na ilha das Flores, na Indonésia, defende que o tamanho deste humano sofreu um processo de nanismo associado à insularidade. O trabalho foi publicado na revista Proceedings of the Royal Society B.
 
O Homo floresiensis tinha cerca de um metro de altura, pesava 25 quilos e terá desaparecido há 13.000 anos. O seu cérebro era anormalmente pequeno, teria um volume semelhante ao de um chimpanzé. Este hominíneo, algumas vezes chamado hobbit – uma referência às pequenas criaturas da famosa trilogia O Senhor dos Anéis –, está no coração de uma controvérsia desde a sua descoberta em 2003. Será que evoluiu a partir de um outro hominíneo ou é um humano moderno, a nossa espécie, com uma deficiência física grave?
 
De acordo com os investigadores japoneses que fizeram um exame tridimensional ao cérebro de um dos fósseis encontrados, o homem das Flores é o resultado de uma evolução local: é um descendente do Homo erectus, que terá progressivamente diminuído de tamanho ao longo das gerações para se adaptar aos recursos pouco abundantes que existiam na ilha.
 
Este fenómeno, chamado nanismo insular, é muito bem conhecido nalguns animais. Os hipopótamos-pigmeus que existiram em Madagáscar são um destes exemplos: eram mais pequenos e tinham um cérebro 30% menor do que o que seria esperado para o seu tamanho.
 
Graças aos restos que se encontraram numa gruta, sabe-se que o homem das Flores caçava e comia elefantes-pigmeus que terão passado pelo mesmo fenómeno evolutivo.
 
“É possível que o Homo erectus de Java tenha migrado para uma ilha isolada e tenha evoluído para o Homo floresiensis devido a um nanismo insular muito forte”, disse Yousuke Kaifu, do Museu Nacional da Natureza e Ciência de Tóquio, um dos autores do artigo.
 
O cérebro deste pequeno homem teria 426 centímetros cúbicos, de acordo com o modelo feito pelos investigadores, menos de metade do que o volume do cérebro do Homo erectus, com 860 centímetros cúbicos. O volume do cérebro do homem moderno ronda os 1300 centímetros cúbicos.
 
Existem várias hipóteses que propõem outras explicações sobre este nanismo exacerbado e sobre a cabeça pequena dos hobbits. Uma hipótese defende que o homem das Flores descende de um hominíneo mais primitivo do que o Homo erectus, como por exemplo o Homo habilis, que tem um cérebro mais reduzido. Mas nunca foi descoberto um fóssil do Homo habilis fora de África.
 
Outros investigadores defendem que a microcefalia apresentada pelo homem das Flores poderá ser ainda causada por um problema neurológico chamado cretinismo, causado por uma alimentação pobre em iodo, que limita o crescimento do cérebro. Mas os críticos desta segunda hipótese argumentam que, se o homem das Flores tivesse este problema, não teria capacidade de fazer fogo ou de caçar."

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