sexta-feira, 19 de abril de 2013

Identificadas células envolvidas no reconhecimento dos números



Estudo está publicado no «Journal of Neuroscience»
Publicado em  www.cienciahoje.pt  2013-04-18

Cientistas da Universidade de Stanford localizaram um grupo de células nervosas especializadas no reconhecimento dos números. Tendo em conta a evolução do nosso cérebro, o uso dos números é uma “invenção” recente à que os nossos neurónios tiveram de se adaptar, diz o estudo publicado no «Journal of Neuroscience».

Josef Parvizi, professor associado de Neurologia e diretor do Programa de Eletrofisiologia Cognitiva intracraniana Humana, dirigiu a equipa que demonstrou pela primeira vez a existência de um grupo de neurónios que se especializaram no processamento de números. “Nesta pequena população de células nervosas, vimos uma resposta muito maior aos números do que a símbolos semelhantes”, explicam.
A descoberta abre portas a futuras investigações que poderão permitir determinar como se processa a informação nas matemáticas. Poderá ter, também, repercussões clínicas para problemas como a dislexia para os números ou com discalculia (incapacidade de processar informação numérica).
O grupo identificou entre 1 e 2 milhões de células nervosas localizadas à volta do temporal inferior. Esta região do córtex, situada em ambos os lados do cérebro, está envolvida no processamento da informação visual. Processa a informação procedente do córtex visual e encarrega-se de reconhecer formas geométricas e objetos. Está também ligada à memória de longo prazo para estas formas.

"Ninguém nasce com capacidade para reconhecer números"

Para o nosso cérebro, os algarismos, que representam quantidades, são algo relativamente recente. O nosso cérebro não estava preparado e teve de aprender a reconhecê-los. Nenhum ser humano nasce com esta capacidade e o mesmo acontece com a leitura, a escrita ou a música, afirmam os investigadores.
A solução para adaptar-se a essas novas formas culturais, processá-las e reconhecê-las passou por uma espécie de “reciclagem neuronal” em que alguns neurónios aprenderam a identificar os símbolos associados aos números e a dar-lhes significado.
Estes neurónios tinham uma função muito mais primitiva, como reconhecer curvas ou linhas entrecruzadas que são frequentes na natureza (ramos de árvores, arestas) que também fazem parte dos números e das letras.
Graças a esta 'plasticidade', a parte do córtex que tinha como função reconhecer essas formas geométricas pôde adaptar-se aos novos conhecimentos culturais, reconhecendo códigos arbitrários que representam letras ou números. Diz Parvizi: “é uma demonstração espetacular da capacidade que os nossos circuitos cerebrais têm para se modificarem como resposta à educação. Ninguém nasce com capacidade para reconhecer números”.

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