sexta-feira, 30 de março de 2012

Cientistas portugueses criam repelente de mosquitos ativado pela luz do Sol


Samuel Silva, num artigo da edição de 29 de março do jornal Público, dá-nos conta do que por cá se vai fazendo no campo da investigação científica. Os insetos e, em particular os mosquitos, que se cuidem, com a criação de um produto que liberta repelentes e inseticidas por ação da luz solar. E já agora, quando será a vez, de um produto que atue sobre os demagogos da nossa praça...


"Malária, febre de dengue e outras doenças transmitidas por mosquitos podem ter a propagação mais dificultada com um novo material desenvolvido em Portugal. Uma equipa de cientistas, liderada pela Universidade do Minho (UM), criou um material que liberta repelentes e inseticidas por ação da luz solar. Já mereceu atenção no Brasil e é visto como uma forma de combater epidemias nos países em desenvolvimento.


Os cientistas desenvolveram minúsculas cápsulas no interior das quais pode colocar-se praticamente qualquer composto: em contacto com a luz do Sol, libertam-se os repelentes ou inseticidas, de forma controlada. "Deixamos de precisar de eletricidade, que é normalmente utilizada para libertar os repelentes", explica o físico Carlos Tavares, da UM, que coordena o projeto.

A tecnologia pode ser usada em zonas remotas, onde não exista rede elétrica, sobretudo em países em desenvolvimento. O material pode depois ser aplicado a qualquer superfície, seja um vidro de uma casa ou o tecido de uma tenda. As potencialidades desta microcápsula motivaram o interesse de alguns países, nomeadamente do Brasil, onde serão feitos testes aos materiais no terreno (Carlos Tavares prefere não avançar o nome dos interessados, dizendo que o acordo ainda não é concreto).


Desodorizante nas cortinas


No centro desta investigação estão materiais fotocatalíticos, que são ativados pela luz solar, provocando várias reações. Um composto é colocado numa cápsula polimérica, que o sol faz abrir os poros e o químico é libertado. Mas tudo é feito à escala de mícrones (milésimos de milímetro) e os materiais dentro das cápsulas são ainda mais pequenos.


Desde 2004 que a investigação de Carlos Tavares está concentrada nos materiais fotocatalíticos, o que lhe permitiu desenvolver revestimentos que podem aplicar-se a um vidro, para se limpar sozinho. Expostos à luz solar, estes materiais, bastante finos para não interferirem na transparência do vidro, entram em contacto com os poluentes e degradam-nos.


A partir desta inovação, Carlos Tavares começou a pensar noutros usos que poderia dar a estes materiais. Durante uma palestra de um colega da sua universidade, ouviu falar de aromas e pensou em usar a tecnologia que tinha desenvolvido na libertação controlada de aromas.


O projeto integra também cientistas das universidades do Porto e Coimbra e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, onde serão feitos os últimos testes ao inseticida, nas colónias de mosquitos deste centro. Nos próximos três anos, os 15 cientistas da equipa vão aperfeiçoar as tecnologias já disponíveis para tornar os produtos mais eficazes, como por exemplo levar os materiais a absorver mais energia solar. Os fotocatalíticos desenvolvidos pela UM só absorvem a luz ultravioleta, que é três a cinco por cento da luz solar. A equipa também trabalha na espessura dos poros das cápsulas, para controlar melhor a quantidade libertada de substâncias.

Além das instituições académicas, há uma empresa no projeto, a Micropolis, nascida na incubadora da UM, que tem desenvolvido cápsulas libertadoras de repelentes para a indústria têxtil, ativadas por ação mecânica, por exemplo através da fricção do corpo num tecido.

A cápsula ativada pela luz solar permitirá reduzir a perda de efeito dos repelentes com as lavagens. Até porque não são só inseticidas e repelentes que podem ser introduzidos nas cápsulas. O composto pode ser aplicado a cortinas e servir como desodorizante de espaços interiores, o que, antecipa Carlos Tavares, até "pode ser mais atrativo do ponto de vista comercial"."

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