segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Antes que seja tarde

Inicia-se, hoje, segunda-feira, dia 27 de Outubro, feriado municipal de Lagos, em todo o país o programa de vacinação de adolescentes nascidas em 1995 contra o vírus do papiloma humano (HPV). Este vírus, de que se conhecem mais de 90 variantes, é considerado o principal responsável pelo cancro do colo do útero, que a seguir ao cancro da mama é o mais mortífero na população feminina, matando em Portugal, mais de 300 mulheres por ano, sendo mesmo o nosso país o que apresenta uma incidência mais elevada na Europa Ocidental.

A vacina contra o HPV foi integrada, há um ano, no Plano Nacional de Vacinação. Esta vacina preventiva contra o vírus foi obtida em 2006 e, este ano, o médico alemão Harald Zur Hausen recebeu o Prémio Nobel da Medicina pelo seu contributo no estabelecimento da relação entre o HPV e o cancro do colo do útero. Este vírus faz parte de uma vasta família conhecida por atacarem a pele e as mucosas e nela se incluem os que provocam as "verrugas" cutâneas.
Como é sabido os vírus são seres acelulares, cujo património genético é constituído por DNA ou por RNA, nunca os dois em simultâneo, protegido por uma camada proteica. São parasitas intracelulares obrigatórios, só manifestando características vitais, uma vez no interior das células vivas que invadem. Ultrapassadas as "muralhas da fortaleza" e integradas as suas sequências genéticas no DNA da célula invadida, tomam o comando da sua maquinaria metabólica, colocando-a ao seu serviço, isto é, a célula passa a produzir as proteínas e o ácido nucleico virais que permitem a formação de centenas de milhar de novos vírus, acabando, geralmente, por ser destruída.
O facto de em 99,7% das células tumorais do colo do útero se encontrarem as sequências genéticas do vírus, é prova mais que suficiente da ligação entre o HPV e o cancro do colo do útero. Dentro das variantes de HPV já identificadas, há 17 que por estarem relacionadas com o desenvolvimento de cancro são conhecidas como HPV oncogénicos, de que o HPV16 e HPV18 são os mais frequentemente encontrados nas células tumorais do colo do útero.
Aos HPV oncogénicos que funcionarão como iniciadores do tumor, associam-se cofactores, ou seja, "ajudantes" como o "backgrond genético", o fumo do tabaco, os contraceptivos orais, as doenças venéreas e a carência de alguns nutrientes que potenciarão o desenvolvimento do tumor.
No quadro das doenças sexualmente transmissíveis (DST), a infecção pelo HPV é das mais frequentes nos adolescentes e jovens adultos sexualmente activos. A via sexual apresenta-se, assim, como a principal forma de transmissão do vírus, favorecida pela cada vez maior precocidade da primeira relação sexual e existência de elevado número de parceiros sexuais. Neste contexto o uso do preservativo é factor essencial na defesa da saúde pública e, dado que o desenvolvimento do cancro resulta, em primeiro lugar, da acção viral, podendo, por isso, ser tratado e mesmo prevenido, justifica-se plenamente o arranque deste programa de vacinação, esperando-se que em breve seja estendido a outras faixas etárias.
Fernando Ribeiro

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