quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Aftas: tão pequenas e tão incómodas

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Inspire Saúde

Surgem mesmo em bocas saudáveis, mas incomodam. E muito! Apesar da sua reduzida dimensão, as aftas são dolorosas e têm tendência para reaparecer. A boa notícia é que desaparecem por si só ao fim de alguns dias e que o seu desconforto pode ser aliviado.
 
Provavelmente, é uma das muitas pessoas que conhece bem o desconforto causado pelas aftas. Calcula-se que cerca de 20 cento da população mundial já tenha tido aftas, pequenas lesões (ulcerações aftosas) não contagiosas que surgem na mucosa que reveste a boca e a língua.
 
Qualquer que seja o tamanho, o seu efeito é sempre o mesmo: a sensação de queimadura e ardor que se instala no local onde irão aparecer. Depois desenvolvem-se pequenas lesões com uma aparência característica: têm um tom esbranquiçado ou amarelado – a cor varia de acordo com a fase em que se encontram –, assemelham-se a pequenas crateras e costumam apresentar um contorno avermelhado que denuncia a inflamação.
 
Conhecidas cientificamente como estomatite aftosa, as aftas podem surgir em diferentes tamanhos e de forma isolada, apenas uma localizada, ou em grupos de duas, três ou mais em simultâneo. É a sua quantidade e o seu tamanho que vão tornar esta situação mais ou menos dolorosa.
 
Nélio Veiga, médico dentista, explica-nos que “na maioria dos casos, as úlceras individuais duram cerca de sete a 10 dias, e os episódios de ulceração ocorrem de três a seis vezes por ano, sendo que, em alguns casos, mais ainda”. São mais frequentes na face interna das bochechas, lábios, língua e gengivas, mas também podem estender-se por toda a boca. E, por vezes – embora seja menos comum –, até à garganta.
 
Ter uma afta de vez em quando não é caso para alarme até porque dificilmente evoluem para situações graves, mas quando surgem são dolorosas e qualquer toque com a língua ou alimentos, nomeadamente ácidos, muito quentes, picantes ou salgados, pode provocar dores intensas. Quem esperaria tamanho sofrimento de algo com dimensões tão pequenas?!
 
De facto, como confirma o médico dentista, a dor é o principal sintoma. “Esse incómodo ao toque pode interferir no consumo de comidas e bebidas, no entanto, as formas graves podem ser debilitantes, causando inclusive perda de peso devido à má-nutrição (dificuldade em mastigar e ingerir os alimentos)”, revela. Para além disso, nos casos das aftas maiores (ulceradas), pode ocorrer ainda um processo inflamatório mais extenso, provocando febre e inchaço dos gânglios do pescoço.
 
Nem todas as aftas são iguais
Estas pequenas úlceras não são todas iguais. Dividem-se, essencialmente, em três tipos, de acordo com o seu tamanho e profundidade. O mais comum são as aftas menores (úlceras aftosas menores), responsáveis “por cerca de 80 a 85 por cento de todos os casos”, indica Nélio Veiga. Por norma, possuem menos de 10 milímetros de diâmetro e a sua cura geralmente demora sete a dez dias sem deixar cicatrizes.
 
Já as aftas maiores (úlceras aftosas maiores), têm mais do que um centímetro de diâmetro, são mais profundas e dolorosas do que as menores e representam “cerca de 10 por cento de todos os casos de estomatite aftosa. Uma vez que as lesões são maiores, a cicatrização é mais demorada – cerca de vinte a trinta dias – e pode deixar cicatrizes”, explica o médico dentista.
 
E, por fim, as herpetiformes, semelhantes às lesões provocadas pelo herpes simples mas que, apesar do nome, não têm relação com esta doença. São mais raras do que os outros tipos, podem ocorrer na boca e/ou nos lábios e costumam surgir em grupo.
 
O especialista alerta ainda para a existência de um outro tipo de aftas que nem sempre corresponde ao diagnóstico de estomatite aftosa. Por vezes, há aftas que surgem como efeito secundário à toma de determinados medicamentos ou que “podem estar associadas a doenças sistémicas e mais graves como o caso da doença de Behçet”.
 
De origem incerta
Qualquer pessoa pode ter aftas, mas as mulheres são alvo deste problema com mais frequência do que os homens. Podem ocorrer em qualquer idade, mas geralmente aparecem pela primeira vez entre os 10 e 40 anos. Em algumas famílias são mais frequentes – não se sabe ainda porquê –, mas não são contagiosas.
 
As causas que levam ao seu aparecimento também continuam um mistério para os médicos. Contudo, apesar de se desconhecer o que as provoca, acredita-se que sejam de origem multifatorial, podendo estar associadas à ingestão de certos alimentos (como chocolate, café, amendoins, morangos, queijo), à deficiência de vitamina B12, ácido fólico e ferro, e a alterações no ciclo menstrual. “Alguns estudos indicam que pode haver o surgimento e agravamento das aftas após ingestão de alimentos citrinos (como limão e ananás) e em situações de maior stress da pessoa, pois é frequente que a ulceração se agrave durante os períodos de maior stress (trabalho e exames, no caso dos estudantes, por exemplo) e diminua durante os períodos de férias”, salienta Nélio Veiga.
 
Mastigar alimentos muito duros, morder a língua, ou bochechas, ou o uso incorreto da escova de dentes também pode ser meio caminho andado para que algum tempo depois constate o aparecimento de aftas.
 
Alívio da dor…
O tratamento das aftas baseia-se essencialmente em aliviar a dor, acelerar o processo de cicatrização e reduzir a frequência do seu aparecimento, uma vez que as aftas desaparecem espontaneamente ao fim de poucos dias. “A maioria das pessoas com estomatite aftosa apresenta sintomas menores que não requerem nenhuma terapia específica. A dor geralmente é tolerável com uma simples modificação da dieta durante os episódios de ulceração, como evitar alimentos e bebidas picantes ou ácidos”, reconhece Nélio Veiga.
 
No entanto, para as aftas maiores ou abundantes, poderá ser necessário aplicar anestésicos locais – para alívio a dor –, anti-inflamatórios e corticosteroides, que, na maioria das vezes, são administrados por via local, através de spray, colutórios (líquidos para bochechar) ou gel. Minimizar a agressão na boca através da evicção de alimentos difíceis de mastigar, reduzir o stress e cuidar da higiene dentária com uma escova suave – são outros cuidados a seguir.
 
E se já está a pensar em como pode prevenir o aparecimento destas incómodas lesões, saiba que não existe um tratamento preventivo para o problema. Ainda assim, o médico dentista diz-nos que “a utilização regular de um antisséptico oral (colutórios) para manter as gengivas saudáveis e a realização de uma boa higiene oral diária podem ser benéficos para reduzir a recorrência das lesões aftosas”.
 
Na maioria dos casos as aftas não são motivo para uma consulta médica, contudo, o seu aparecimento frequente pode ser um sinal de algo não está a 100 por cento. Por essa razão, o especialista aconselha que, quando notar o aparecimento destas ulcerações, consulte o seu dentista para obter um diagnóstico mais exato. “Muitas vezes, se uma pessoa tiver o hábito de realizar consultas regulares no médico dentista, este pode ser um assunto a falar na consulta de modo a perceber o que deve fazer quando voltar a surgir uma afta”, sublinha.
 
As aftas podem impedi-lo de comer, causar grande desconforto e dor, mas se tiver os cuidados necessários, é apenas uma questão de paciência e de dar tempo ao tempo.
Fontes:
- Nélio Veiga, médico dentista

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