quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Descoberto um asteróide que parece um cometa com seis caudas

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 07/11/2013
A estranha aparência do objecto deixou os especialistas a coçar a cabeça.

O aspecto do asteróide a 10 de Setembro (à esquerda) e a 23 de Setembro (à direita)
O telescópio Hubble acaba de descobrir, pela primeira vez, um asteróide que não parece um asteróide, anunciaram esta quinta-feira as agências espaciais europeia ESA e norte-americana NASA, as duas entidades responsáveis por aquele telescópio espacial, em simultâneo com a publicação online do inédito achado na revista Astrophysical Journal Letters.
 
Segundo os seus autores – uma equipa internacional liderada por David Jewitt, da Universidade da Califórnia –, o estranho objecto parece “um regador automático da relva”, com seis “caudas” luminosas a sair do seu centro.
 
O asteróide, nome de código P/2013 P5, faz parte da cintura de asteróides situada entre Marte e Júpiter. Normalmente, os asteróides parecem apenas pontinhos de luz ao telescópio, mas a luz emitida pelo P/2013 P5, que foi avistado pela primeira vez por um telescópio terrestre no Havai e apresentado oficialmente em Agosto deste ano, parecia invulgarmente difusa. Por isso, os cientistas apontaram o Hubble na sua direcção a 10 de Setembro – e descobriram as suas múltiplas caudas. Mais: quando o Hubble voltou a olhar para o asteróide a 23 de Setembro, o seu aspecto era totalmente diferente, como se toda a sua estrutura tivesse rodado.
 
"Ficámos completamente banzados”, diz Jewitt, citado pela NASA. “Mais surpreendente ainda foi o facto de a sua estrutura de caudas se alterar em apenas 13 dias (…). Isso também nos apanhou de surpresa. É difícil acreditar que estamos a olhar para um asteróide.”
 
Uma explicação possível do inédito fenómeno é que a velocidade de rotação do asteróide tenha aumentado ao ponto de a sua superfície começar a ser despedaçada, produzindo ejecções de poeiras em erupções episódicas que tiveram início na Primavera, explica um comunicado da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
 
A equipa descarta que se possa tratar do resultado de uma colisão de asteróides, uma vez que isso teria causado a expulsão de uma enorme quantidade de poeiras de uma só vez. Ora, não parece ser o que terá acontecido: com base numa modelização, Jessica Agarwal, do Instituto Max Planck de Lindau (Alemanha) e co-autora dos resultados, calculou que, ao longo de cinco meses, terá havido uma série de ejecções de poeiras – a 15 de Abril, 18 de Julho, 24 de Julho, 8 de Agosto, 26 de Agosto e 4 de Setembro.
 
Segundo Jewitt, o fenómeno agora observado no P/2013 P5 é provavelmente algo de frequente na cintura de asteróides – e até poderá ser a forma como os asteróides costumam morrer. “Em astronomia, quando encontramos um [objecto de um dado tipo], acabamos sempre por encontrar mais um montão deles. Este é um objecto espantoso e quase de certeza o primeiro de muitos outros a vir.”
 
Diga-se já agora que Jewitt desempenhou um papel importante, em 1993, na descoberta da cintura de Kuiper, que de repente revelou a presença, para lá de Neptuno, de milhões de objectos num local onde se pensava não haver nada. Isso mudou radicalmente a visão que os astrónomos tinham do sistema solar, faz notar o comunicado da UCLA.
 
Até agora, apenas uma pequena fracção da massa principal do asteróide P/2013 P5 – talvez entre cem e mil toneladas de poeiras – foi ejectada, salienta Jewitt. O núcleo do asteróide, com mais de 400 metros de diâmetro, é milhares de vezes mais maciço.
 
Os astrónomos tencionam continuar a observar o bizarro objecto, não só para medir à velocidade com que gira sobre si próprio como para determinar se as poeiras são ejectadas no plano equatorial do asteróide. A se confirmar, isto sugeriria fortemente que o asteróide está de facto a sofrer uma ruptura provocada pela sua rotação.

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