José Bessa tem-se dedicado ao estudo do pâncreas.
José Bessa olha para um peixe-zebra |
O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S), da Universidade do Porto, anunciou esta terça-feira que o seu investigador José Bessa foi contemplado com um financiamento de 1,5 milhões de euros para estudar o desenvolvimento e o funcionamento do pâncreas, nomeadamente a diabetes.
Este dinheiro foi atribuído pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês), numa ronda de negociações que fecha de vez a lista de contemplados em 2015 com estes financiamentos.
Assim, relativo ao ano passado, houve financiamento do ERC para um total de dez investigadores portugueses ou a trabalhar em Portugal: além de José Bessa, os outros contemplados foram Cláudio Franco, Vanessa Alexandra Morais e Edgar Gomes (os três do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa), Noam Shemesh e Rui Costa (ambos da Fundação Champalimaud), Helder Maiato (também do I3S), Mónica Bettencourt-Dias (do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras), Marina Costa Lobo (do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) e António Jacinto (da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa).
“Este financiamento vai ser excelente porque podemos de facto ter recursos para comprar toda a tecnologia de ponta para desenvolver este projecto de investigação, contratar pessoas e constituir uma equipa para desenvolver este projecto complexo”, afirma agora José Bessa.
O trabalho que o investigador está a desenvolver e que irá aprofundar nos próximos cinco anos visa “compreender melhor como é que modificações do nosso genoma podem contribuir para um determinado risco de desenvolvimento desta doença [a diabetes]”, disse José Bessa à agência Lusa. “Podemos, se calhar, melhorar a nossa capacidade de prever o risco associado ao desenvolvimento da doença. No caso de uma pessoa que tem risco demasiado elevado, pode ficar sob vigilância e tomar as devidas precauções em termos de tipo de vida.”
No seu projecto, os cientistas do I3S irão utilizar um modelo animal, o peixe-zebra, com pâncreas muito semelhante ao dos humanos. E irão introduzir mutações no genoma não codificante (parte do ADN que não comanda o fabrico de proteínas e que, portanto, não é expressada), para ver se conseguem originar algo semelhante à diabetes de tipo 2. “Queremos decifrar o código do DNA que não contém genes e compreender como é que modificações subtis nesse código podem contribuir para o aumento de risco de algumas doenças, em particular a diabetes”, explica o investigador.
O objectivo é compreender “o reguloma do pâncreas”, ou seja, as regiões do genoma que, no seu conjunto, regulam a formação e funcionamento desse órgão. “Sabe-se que durante a diferenciação de qualquer órgão há um conjunto de genes que são expressos e outros silenciados, e que essa expressão é crucial para o correto desenvolvimento e funcionamento dos órgãos. ‘Ligar’ e ‘desligar’ genes, no sítio certo e no momento certo, depende de zonas regulatórias espalhadas pelo genoma dos seres vivos. Erros nessas zonas regulatórias, ou nos reguladores que sobre ela agem, estão na base de várias doenças que conhecemos. É o caso da diabetes”, explica um comunicado do I3S.
“Sem este tipo de financiamentos mais avultados, ou com financiamentos mais limitados, os passos que se dão no conhecimento são também limitados”, considera o I3S no comunicado. “Em áreas científicas muito competitivas, como é o estudo da diabetes, haverá sempre alguém, noutro país, em condições para dar passos de gigante. Por isso, a ciência portuguesa está, mais uma vez, de parabéns ao conseguir angariar as condições para competir a nível mundial.”
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