quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Arrancou a segunda época de reintrodução do lince ibérico

Julien Vergé _ Público

Três Linces ibéricos, duas fêmeas e um macho, foram libertados hoje na Herdade das Romeiras, no concelho de Mértola, como parte da segunda época de reintrodução da espécie em Portugal.
O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas quer enviar para a natureza mais seis linces ibéricos até final de Março
A protecção do lince ibérico avançou ontem para uma nova fase. Com o início da segunda época do projecto Recuperação da Distribuição Histórica do Lince Ibérico (Lynx pardinus) em Espanha e Portugal foram introduzidos três novos espécimes na Herdade das Romeiras, no concelho de Mértola.
Localizado em São João dos Caldeireiros, este habitat vai receber duas fêmeas, Myrtilis e Mirandilla e um macho, Monfragüe. As fêmeas serão postas, num primeiro momento, num cercado de adaptação de forma a garantir uma devolução sustentável à natureza. Ambas nascidas em 2014, a primeira vem do Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico em Cativeiro de Silves, ao passo que a segunda vem do Centro de Reprodução em Cativeiro La Olivilla, em Espanha.
 
Monfragüe, o único macho a ser reintroduzido nesta primeira fase da nova época, também nasceu no centro espanhol em 2014. Para ele, a reintrodução na natureza será feita de forma directa.
 
O nome destes três linces foi escolhido pela população de Mértola, tal como já tinha acontecido no ano passado com Liberdade e Luso, dois linces que se encontram agora estabilizados no concelho.
 
Segundo Sofia Castel-Branco, membro da direcção do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), estes três linces são os primeiros de um grupo de nove a serem introduzidos na natureza nesta segunda época, seis fêmeas e três machos. Esta reinserção dos animais irá decorrer até ao final do próximo mês de Março.
 
Antes de libertar os restantes animais na natureza, as equipas de protecção e tratamento do centro de Silves vão submetê-los a uma série de testes de segurança e de adaptação, de forma a minimizar o risco de a experiência ter efeitos negativos ou inesperados, assegura a vogal do ICNF.
 
A introdução destes três espécimes alarga assim o número de linces ibéricos portugueses de nove para 12, aos quais se juntam também dois linces espanhóis. Durante a primeira fase em Portugal, que se iniciou em Dezembro de 2014, foram introduzidos dez animais, mas a fêmea Kayakweru morreu envenenada no passado dia 12 de Março.
 
Os linces soltos em território nacional encontram-se actualmente adaptados ao novo meio e estão bem instalados naquela área, segundo Sofia Castel-Branco. Está previsto continuar a inserir entre oito a dez linces por ano, até haver um número sustentável de exemplares desta espécie em liberdade.
 
Em risco, mas menos
O lince ibérico, ou Lynx pardinus, é um pequeno felino que possui cerca de um metro de comprimento, com cor castanha e geralmente pintalgado, que tem como outras características um focinho farfalhudo e orelhas com pêlos compridos nas extremidades. A sua presa de caça predilecta são os mamíferos da ordem Lagomorpha — herbívoros como coelhos e lebres.
 
Estima-se que este animal terá surgido há cerca de 1,8 milhões de anos, segundo um estudo publicado em Novembro na revista científica Quaternary Science Reviews. Essa antiguidade foi revelada depois de ter sido estudado um crânio encontrado em 2003 na gruta Avenc Martel, nos arredores de Barcelona, em Espanha. Estima-se que a idade do crânio em questão ronde os 1,6 milhões de anos, mais 500 mil anos do que se julgava ser a idade desta espécie.
 
O lince ibérico difere em vários aspectos do seu antepassado. As diferenças começam no tamanho, já que os animais que podemos encontrar agora tanto em Portugal como em Espanha são mais pequenos do que o antecessor. Outra grande diferença passa por possuir dentes pré-molares significativamente maiores, resultado de uma adaptação à dieta de coelhos e lebres.
 
Apesar do estatuto de predador, este felino encontrou-se recentemente em perigo de extinção devido a uma série de factores como a caça, a fragmentação do habitat e as doenças que afectaram as populações de coelhos. A confluência destes factores atingiu o lince ibérico de tal forma que sobraram apenas duas pequenas populações, localizadas nas regiões andaluzas de serra Morena e Doñana, no Sul de Espanha.
 
Tendo chegado a cerca de 5000 indivíduos em 1950, a espécie atingiu o mínimo durante o ano de 2001, com apenas 52 indivíduos em idade de reprodução. Por isso, a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN em inglês) colocou o lince ibérico na lista vermelha como uma espécie em “perigo crítico de extinção” em 2002. Foi assim que se activaram os primeiros movimentos para a protecção e salvaguarda do felino mais ameaçado do mundo. Entre 2002 e 2012, estes movimentos tiveram o devido efeito, ajudando a triplicar o número de linces existentes.
 
A protecção da espécie intensificou-se também com o fortalecimento da acção dos cinco centros de reprodução em cativeiro da península ibérica, com quatro em Espanha e um português, o de Silves, que existe desde 2009. O resultado desse fortalecimento foi o programa de colaboração entre os centros, que se desenvolveu agora para esta operação de devolução dos linces ao seu habitat natural. O lince ibérico manteve-se na categoria de perigo crítico de extinção até Junho do ano 2015, altura em que regressou ao estatuto menos grave de “em perigo” – apesar de continuar a ter um nome pouco animador é, em termos concretos, menos preocupante.
Texto editado por Victor Ferreira

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