quarta-feira, 13 de março de 2013

Cafeína atrasa desenvolvimento da doença de Machado-Joseph em ratinhos

Texto Nicolau Ferreira de publicado pelo jornal Público em 11/03/2013
Os ratinhos estiveram sujeitos a quantidades regulares de cafeína equivalentes a seis cafés diários
"É um resultado auspicioso para uma doença neurodegenerativa sem cura. Cientistas da Universidade de Coimbra verificaram que quantidades elevadas de cafeína atenuam os danos causados pelo modelo da doença de Machado-Joseph nos ratinhos. O trabalho foi publicado agora na revista Annals of Neurology, Nélio Gonçalves é o primeiro autor do artigo.
 
A doença de Machado-Joseph deve-se à mutação de um único gene e traduz-se na produção de uma proteína anormal que acaba por se acumular em excesso nas células nervosas, matando-as. O resultado é uma doença progressiva que afecta os movimentos: provoca a perda do controlo das extremidades, rigidez muscular, espasmos, problemas de deglutição, perturbações da visão e descontrolos dos movimentos oculares, perturbações do sono e problemas cognitivos.
 
Os sintomas podem surgir tanto na infância como aos 70 anos e os filhos de uma pessoa com esta doença têm 50% de hipóteses de terem recebido este gene e, por isso, de virem a sofrer do mesmo problema. A doença não é tratável, os medicamentos que estes pacientes tomam servem para controlar alguns sintomas.
 
A equipa da Universidade de Coimbra liderada por Luís Pereira de Almeida e Rodrigo Cunha utilizou um modelo equivalente em ratinhos para estudar esta doença que tem uma prevalência significativa em Portugal, especialmente nos Açores. Para isso, utilizou um vírus modificado que desencadeia a patologia no cérebro dos ratinhos. Depois, administrou-se regularmente uma concentração de cafeína equivalente a cerca de seis cafés diários para testar se havia algum efeito.
 
A cafeína exerceu “efeitos protectores, capazes de restabelecer a função [cerebral], por actuar como inibidora desta perturbação nos circuitos neuronais”, explica o comunicado de imprensa sobre a descoberta. A investigação também conseguiu associar o efeito da cafeína ao bloqueio de um receptor neuronal para a adenosina.
 
A descoberta representa "uma peça importante para o complexo puzzle" sobre esta doença, mas os investigadores são prudentes sobre o seu significado. “São necessários mais estudos e ensaios clínicos para confirmar se o alvo molecular é eficaz nos humanos”, defendem Luís Pereira de Almeida e Rodrigo Cunha, sublinhando que “estabelecer prazos para um novo medicamento chegar ao mercado é pura especulação.” "

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