segunda-feira, 10 de outubro de 2011

As pedras parideiras da serra da Freita

Resultante da colaboração entre o Visionarium e o jornal "Ciência Hoje" surge um interessante artigo intitulado "A "Vida" das Rochas, as Pedras Parideiras" escrito por José Manuel Lobo e Bruno Manuel Rodrigues Novo, onde é explicado o modo de formação deste raríssimo fenómeno geológico que ocorre próximo da Frecha da Mizarela, na serra da Freita, nas cercanias da aldeia de Castanheira, pertencente ao concelho de Arouca no distrito de Aveiro.
A transcrição deste artigo neste blogue advém do facto de constituir um importante material de aprofundamento de conhecimentos para os alunos de Biologia e Geologia da nossa escola.


"Na pacata aldeia de Castanheira, concelho de Arouca, um fenómeno raro no Mundo surge. Chamam-lhe as “Pedras Parideiras”, pois são pedras que parem pedras…O afloramento tem a forma de uma janela granítica oval, com 500x700m e apresenta no seu seio formações nodulosas (encraves ou jogas). Os curiosos nódulos têm forma de disco biconvexo que pode chegar aos 15-20 cm e diâmetro e 5-6cm de altura máxima. O seu núcleo é composto essencialmente por quartzo e feldspato e está envolvido numa coroa tipicamente biotítica (mica preta).
Para encontrarmos uma perspetiva capaz de dar luz a este fenómeno, precisamos mergulhar no granito da Castanheira e acompanhar a sua evolução. No momento em que se formou esta rocha magmática, outras rochas preexistentes, tendo sido esta a causa provável da génese das formações nodulosas de predominância biotítica. Há cerca de 320 milhões de anos e à medida que o magma arrefecia, poderosas pressões exerceram-se sobre o granito e, consequentemente, sobre os encraves, determinando assim o seu atual achatamento.
Entretanto, as massas graníticas que afloraram à superfície do solo vão, por ação da meteorização mecânica, nos nossos dias, desagregando-se e libertando os referidos encraves. A pedra racha e parte – porque tem uma foliação bem marcada – e nessa altura o nódulo de biotite sai. O que se passa neste caso é uma ação conjunta da meteorização pela ação do gelo (gelivação), e pela ação do calor (crioclastia/termoclastia).
A termoclastia constitui um tipo de agente de meteorização, provocada pela variabilidade da temperatura na superfície dos materiais rochosos, provocando uma variação no volume. Os encraves dilatam-se, como reação a temperaturas elevadas, e contraem-se por reacção ao arrefecimento. Como as rochas são em geral agregados poliminerálicos, e devido ao facto de cada mineral apresentar diferentes valores de coeficiente de dilatação, surgem diferentes velocidades de expansão e contração. As partes mais externas das rochas, sujeitas a fortes amplitudes térmicas diurnas vão-se fraturando.
A desagregação pela gelivação é das mais eficazes em termos de fracturação, embora seja um mecanismo de carácter sazonal e que ocorre, predominantemente, em zonas de alta montanha. Este agente, contribui ativamente para o “parir” do nódulo de biotite. A água contida nas fraturas, quando a temperatura é menor que 0ºC, começa a gelar na parte mais superficial. À medida que a temperatura exterior baixa, as cunhas de gelo vão crescendo no interior das fraturas. A água ao congelar, aumenta de volume (cerca de 10%), exercendo consequentemente, uma grande pressão, no interior dessas fraturas, provocando o seu alargamento e prolongamento. Logo, promove a desagregação das rochas, e o consequente “parir” do encrave biotítico.
As Pedras Parideiras, paulatinamente afloram à superfície da rocha, desprendem-se e vão-se acumulando no solo. Por isso, os camponeses da região chamam à rocha "a pedra que pare pedra", isto é, a rocha que produz uma outra rocha. Urge ainda atentar à preservação deste pecúlio, pois o vandalismo e usurpação indiscriminada dos nódulos em nada engrandece o património que é de todos".



















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