quinta-feira, 20 de junho de 2013

Cientistas portugueses alteram pela primeira vez código genético de um ser vivo

Artigo da SAPO Saúde com LUSA

"Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) conseguiu alterar, pela primeira vez, o código genético de um ser vivo, anunciou hoje fonte daquela universidade.

A equipa de investigação descobriu que o fungo patogénico "Candida albicans" utiliza um código genético diferente do dos outros seres vivos e conseguiu compreender como é que esse fungo alterou o seu código genético. Com esse conhecimento, os investigadores da Universidade de Aveiro conseguiram, pela primeira vez, fazer a alteração artificial do código genético de um ser vivo.

A investigação dos doutorandos Ana Rita Bezerra e João Simões, sob coordenação de Manuel Santos, professor do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), decorreu nos últimos quatro anos e foi agora publicada na revista da academia norte americana das ciências, "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS).

Os fungos com o código genético alterado produzidos pelos investigadores da UA são "fascinantes do ponto de vista biológico e evolutivo, têm alterações morfológicas impressionantes e uma enorme capacidade de adaptação a novos nichos ecológicos. São também tolerantes aos antimicóticos, mostrando que pequenas alterações na fidelidade da biosíntese de proteínas desempenham um papel importante na evolução da resistência a drogas antimicrobianas", refere uma nota da Universidade.

No sentido de aprofundar o estudo da biologia dos novos fungos, os investigadores da Universidade de Aveiro sequenciaram o seu genoma e analisaram a resposta imunitária humana a esses fungos, em parceria com colegas do centro de sequenciação de genomas de Barcelona (CNAG) do Instituto Europeu de Bioinformática (EBI) e das Universidades de Florença e Perugia.

Os resultados das investigações mostram "profundas alterações no genoma destes fungos, na resposta imune humana e inflamação crónica em ratinhos de laboratório, sugerindo novas pistas para compreender o mecanismo de infeção de C. albicans".

Esse fungo, esclarece a nota informativa, é o quarto microrganismo patogénico mais importante, causando inúmeras infeções e hospitalizações, em particular em indivíduos imunodeprimidos, sendo o tratamento das infeções disseminadas muito problemático."

Os investigadores da UA estão agora a analisar as novas características da biologia dos novos fungos de modo a compreender melhor como é que eles toleraram a alteração do código genético, como causam infeções e se tornam resistentes às drogas usadas na clínica.

Esperam também ser capazes de manipular o código genético doutros seres vivos de modo a produzirem microrganismos com "características interessantes" para a biotecnologia e biomedicina.

Os estudos do grupo de Aveiro foram financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pelo projeto Europeu do sétimo programa quadro (FP7) Sybaris.

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