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domingo, 16 de junho de 2019
O ritual de fumar “cannabis” tem (pelo menos) 2500 anos
Andrea Cunha Freitas
13 de Junho de 2019
É uma das plantas cultivadas mais antigas, mas não se sabia quando é que começou a ser usada pelas suas propriedades psicoactivas. Uma descoberta em oito túmulos no Oeste da China coloca as origens do ritual de fumar cannabis no alto das montanhas Pamir.
Uma equipa de investigadores encontrou a assinatura química da
cannabis
em pequenos artefactos de madeira enterrados ao lado das ossadas em túmulos do cemitério Jirzankal, na China. Os investigadores arriscam dizer que a
cannabis
seria inalada e usada nas cerimónias fúnebres como meio para comunicar com entidades divinas ou com os mortos. Uma das surpresas foi o facto de os vestígios encontrados pertencerem a uma variedade de
cannabis
com elevados níveis de THC (tetra-hidrocanabinol), a principal substância psicoactiva nesta planta. A história é contada num artigo publicado esta quarta-feira na revista
Science Advances
.
A
cannabis
“é uma das drogas psicoactivas mais utilizadas no mundo actualmente, mas pouco se sabe o sobre o seu uso como psicoactivo ou sobre quando é que as plantas cultivadas desenvolveram o traço fenotípico de aumento da produção de compostos especializados”, começam por constatar os cientistas.
Faltam provas arqueológicas que confirmem o consumo ritualizado desta droga e a descoberta feita no cemitério Jirzankal, nas montanhas Pamir, será um importante contributo para reconstituir as origens deste consumo que é hoje mundialmente famoso. “Aqui, apresentamos algumas das primeiras provas directamente datadas e verificadas cientificamente sobre o ritual de fumar
cannabis
”, lê-se no artigo que apresenta os resultados de análises que indicam que as plantas eram queimadas em “braseiros” (artefactos de madeira com pedras) nos funerais realizados naquele cemitério criado 500 anos a.C. na região oriental do maciço de Pamir.
Numa conferência de imprensa, Robert Spengler, do Departamento de Arqueologia do Instituto Max Planck (Alemanha), esclareceu que o que “é novo” neste trabalho é precisamente a ligação que é possível fazer entre a
cannabis
e o consumo por causa das suas propriedades psicoactivas. “Esta é a prova mais antiga que temos do ritual de fumar
cannabis
na região da Ásia”, disse, acrescentando que fica em aberto se esta potente variedade (por apresentar elevadas concentrações de THC) foi (ou não) propositadamente cultivada pelo homem. “Pode tratar-se de uma variedade selvagem ou ter sido o homem que de alguma forma provocou o aumento destes compostos químicos na planta”, questionou.
Foi Yimin Yang, investigador na Universidade da Academia das Ciências da China e no Instituto Max Planck, que apresentou o cenário que coloca o consumo de
cannabis
no alto das montanhas num ritual em que seria usada como meio para comunicar com entidades divinas ou com os mortos. Assim, as pedras seriam aquecidas, depois transferidas para os queimadores de madeira e, nessa altura, as pessoas em volta inalavam o fumo. Nos vestígios analisados foram encontrados biomarcadores da planta
cannabis sativa
, mas não havia qualquer sinal de sementes, acrescenta.
A presença da versátil planta
cannabis sativa
na região da Ásia já tinha sido notada e documentada antes, existindo algumas provas que indicam que o cultivo de algumas variedades terá começado quatro mil anos a.C. (ou seja, há mais de 6000 anos). É uma das mais antigas plantas cultivadas no Leste da Ásia. No entanto, tudo indica que se tratava de versões com concentrações muito baixas de THC e serviriam apenas para a produção de sementes e fibras. “A espécie
cannabis sativa
é uma planta muito diversificada”, sublinhou Robert Spengler, dando o exemplo do cânhamo Hemp, uma variedade com concentrações muito reduzidas de THC e que serve para fins industriais, como a indústria têxtil. E esse rasto da
canábis
é antigo.
O investigador confirmou, no entanto, que sobre o ritual de fumar esta droga existe pouco mais do que umas passagens nos registos escritos do antigo historiador grego Heródoto (485-420 a. C.). Com os novos métodos de análise foi possível isolar os compostos químicos encontrados nas pedras dos queimadores descobertos durante uma escavação levada a cabo por uma equipa de arqueólogos da Academia Chinesa de Ciências Sociais. E ali se encontrou a “assinatura química” de uma potente versão de canábis que será a prova mais antiga do seu uso pelas suas propriedades psicoactivas.
O comunicado de imprensa do Instituto Max Planck refere ainda que alguns dos esqueletos e objectos encontrados no local apresentavam características que se assemelham às dos povos contemporâneos mais a oeste na Ásia Central. “Além disso, estudos de isótopos estáveis sobre os ossos humanos do cemitério mostram que nem todas as pessoas enterradas lá cresceram localmente”, refere o documento, concluindo que os dados encaixam na ideia de que as montanhas desta região tenham tido “um papel fundamental nas primeiras trocas transasiáticas”. “De facto, a região do Pamir, hoje tão remota, pode uma vez ter estado junto a uma importante e antiga rota comercial da Rota da Seda.”
Na conferência de imprensa, Robert Spengler também falou desta hipótese, sublinhando que esta rota foi nalguns momentos da história um dos mais importantes veículos da disseminação cultural no mundo antigo. “As rotas de intercâmbio da antiga Rota da Seda funcionavam mais como os raios de uma roda de carroça do que uma estrada de longa distância”, explicou o investigador. E a canábis terá sido uma das muitas tradições culturais que se terá espalhado com a ajuda desta antiga rede comercial.
Apesar de não ser possível dizer se as pessoas enterradas no cemitério de Jirzankal cultivavam ou apenas encontravam e colhiam esta variedade especial de canábis, o facto de terem elevadas concentrações de THC poderá ser explicado com a posição geográfica. “Uma teoria é que as plantas de canábis produzirão maiores quantidades de compostos activos em resposta ao aumento da radiação UV e outros factores de stress relacionados com o crescimento em altitudes mais elevadas”, nota o comunicado de imprensa, considerando plausível que pessoas que andavam pelas regiões montanhosas pudessem descobrir “plantas selvagens mais potentes e iniciar um novo tipo de uso da planta”.
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