sábado, 16 de junho de 2012

Fibras vegetais utilizadas para criar suportes publicitários biodegradáveis

Artigo escrito por Samuel Silva, jornalista do Público.

"Fibras de milho, soja e bambu constituem os têxteis utilizados por duas universidades portuguesas para criar o primeiro outdoor publicitário biodegradável a nível mundial. A inovação está agora pronta para chegar ao mercado e cria condições para que a lei da publicidade passe a ser cumprida. É que desde o ano 2000 que o Estado português exige que as mensagens publicitárias sejam impressas em materiais "verdes", o que não está a ser cumprido.

A alteração feita há 12 anos à Lei 97/88, que regula a "a fixação e inscrição de mensagens de publicidade e propaganda", "proíbe a utilização, em qualquer caso, de materiais não biodegradáveis na fixação e inscrição" dessas mensagens. Mas essa é uma determinação que "ninguém cumpre", denuncia a investigadora Fernanda Viana, que desenvolveu nos novos outdoors. Quase todos os suportes publicitários utilizados têm por base materiais sintéticos, especialmente poliéster e polivinilcloreto (PVC), que não são biodegradáveis.

Foi ao cruzar-se com esta norma da lei que Fernanda Viana descobriu o caminho que queria dar à investigação para o seu doutoramento. Professora de Publicidade da Universidade Fernando Pessoa (UFP), ela procurou na Universidade do Minho (UM) os meios para a investigação e deste cruzamento nasceu esta inovação.

Feitos em fibras de milho, soja e bambu, materiais naturais, os novos outdoors têm a biodegrabilidade facilitada. Isso foi comprovado durante a investigação e os têxteis decompuseram-se em matéria orgânica, inclusivamente em compostagem caseira, ao fim de 28 semanas.

Além disso, o uso destes componentes não põe em causa a fiabilidade dos suportes publicitários. "O protótipo que desenvolvemos mostra que tem uma resistência tão grande como os outros", sublinha Jorge Neves, da UM, que orientou o projecto.

 A UM e a UFP já pediram a patente em Portugal da inovação, que será partilhada em 50% pelas duas instituições. Só depois de oficializado o registo é que os investigadores avançarão com os contactos com o mercado para perceber a abertura das empresas à adopção desta solução. "Quisemos jogar pelo seguro e manter o segredo à volta do produto", diz Fernanda Viana.

Os têxteis biodegradáveis são "ligeiramente mais caros" do que os sintéticos, mas a diferença de custo tem-se esbatido ao longo dos últimos anos, à medida que os novos tecidos vão sendo aperfeiçoados. Por isso, a alternativa "verde" tem condições para ser "perfeitamente competitiva" no mercado publicitário, considera a investigadora. Até porque, na produção de um outdoor, o principal custo é o do design, mais do que o suporte ou a sua impressão.

Como forma de atrair o mercado, os investigadores acrescentaram outra inovação aos outdoors que desenvolveram: o uso de cristais líquidos. Este material, que nunca tinha sido usado antes em têxteis, é incorporado no tecido através de microcápsulas, que permitem criar uma película preta sobre o placard impresso.

A inovação deste outdoor resulta assim do uso, num suporte publicitário, de fibras biodegradáveis, às quais se juntaram ainda cristais líquidos.

Os cristais são termossensíveis e respondem à variação de apenas meio grau Celsius. Por isso, mudam de cor em função da temperatura e das condições meteorológicas, o que permitirá aos anunciantes transmitir diferentes mensagens no mesmo suporte e usar a mudança do tempo como elemento das suas campanhas. "Pode-se ir despindo um modelo à medida que o tempo fica mais quente durante o ano, passando de roupas de Inverno a fatos de banho", exemplifica Jorge Neves.

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