segunda-feira, 22 de outubro de 2012

CIENTISTAS DESCOBREM CAMPO DE CRINÓIDES AO LARGO DO ALGARVE



Cientistas descobrem campo de crinóides ao largo do Algarve
Ecossistema raro indica que a zona não tem sido afectada pelo arrasto

Publicado em www.cienciahoje.pt em 2012-10-16
Por Susana Lage

Uma equipa de investigação, coordenada pelo CCMAR, descobriu um campo de crinóides a mais de 500 metros de profundidade ao largo do Algarve. Este ecossistema é raro a esta profundidade e encontra-se numa zona não afectada pelo arrasto. 


Margarida Castro
 “A descoberta vai contribuir para o estudo da biodiversidade do mar profundo e para a avaliação dos efeitos do arrasto em mar profundo. Foi ainda a descoberta a maior profundidade deste tipo de ecossistema”, afirma Margarida Castro ao Ciência Hoje.

Segundo a investigadora que acompanhou a expedição, isto significa “o reconhecimento de uma potencial área marinha a proteger em mar profundo, uma vez que estes ecossistemas são considerados sensíveis e nunca tinham sido descritos para a costa do sul de Portugal”.

As primeiras colheitas de sedimentos foram feitas a bordo do navio de investigação Garcia del Cid. Posteriormente, a suspeita da existência dos campos de crinóides foi confirmada com a colaboração da ONG OCEANA, através de filmagem com um ROV (Remotely Operated Vehicle).

Este tipo de habitat está classificado como sensível pela União Europeia, já que pode ser utilizado como zonas de reprodução por distintas espécies de peixes, como por exemplo o salmonete e a pescada. A presença de crinóides, em altas densidades, é um indicador do bom estado dos fundos e de um baixo ou inexistente impacto humano.

A pesca de arrasto pode danificar este tipo de campos e afectar o fundo marinho, o que, consequentemente, tem também impacto no ecossistema do leito marinho. Porém, neste caso concreto, a existência de um campo tão denso de crinóides indica que a zona não tem sido afectada por esta arte de pesca.
Campo de Crinoides registado pelo ROV (Crédito: OCEANA)

Os próximos passos na investigação incluem análise de imagens e amostras para caracterizar este ecossistema quanto à biodiversidade (macrofauna, endofauna e microfauna), sedimentos (propriedades geoquímicas).

Foram também recolhidas amostras em zonas adjacentes em que o arrasto opera. A comparação entre zonas arrastadas e não arrastadas deverá indicar que impacto tem, a longo prazo, a pesca de arrasto neste tipo de ecossistema.

“Num futuro próximo esperamos poder voltar a esta zona com um ROV para avaliar a extensão deste ecossistema e a sua relação com a fossa submarina em cuja encosta se encontra”, avança Margarida Castro.

A equipa de investigação coordenada pelo CCMAR, responsável pela descoberta do campo de crinóides, integra diversas instituições nacionais e internacionais como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, da Universidade de Aveiro, o Instituto de Ciências do Mar, Barcelona) Marine Scotland e Universidade Politécnica de Marche, Itália.

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