terça-feira, 29 de dezembro de 2015

D. Ana: Do bonito areal ao "paredão" atual

Rosa Ruela - Visão - 29/12/2015

Ainda nem passaram seis meses desde a alimentação artificial da praia D. Ana, em Lagos, e já o mar levou tanta areia que os desníveis metem medo.
 
 
 
 
 
 
 
 




 
 
 
 
 
 
Com temperaturas máximas a rondar os 20 graus, as férias de Natal e Ano Novo têm atraído muito boa gente à joia das joias da Costa d'Oiro. Vista de cima, do miradouro, a praia D. Ana continua enquadrada à direita por deliciosos leixões no meio do mar, como se caminhassem na direção da Ponta da Piedade. Mas por estes dias não será boa ideia olhar para baixo porque o areal parece ter sido cortado longitudinalmente, aqui e ali, como se o mar fosse uma faca afiada.
 
 
Olhar para a esquerda também não traz na volta uma boa imagem. Logo abaixo do edifício Montana, um dos dois empreendimentos turísticos de vários andares que castigam a arriba há cerca de vinte anos, há um grande buraco, rodeado por um velho gradeamento que ameaça cair a qualquer momento e terminado por canos de plástico.
 
E para a direita, muito perto das escadas de madeira maltratadas, escorre um esgoto a céu aberto. As autoridades dizem ser apenas águas pluviais inofensivas, mas os moradores sabem que estão misturadas com o que sai da estação de tratamento a funcionar cá em cima, no largo.
 
"É esgoto puro; mesmo que 80% tenha sido tratado, como dizem, basta ver a cor e o cheiro", diz Maria Trigoso. "Antes, ia diretamente para o mar, mas agora, como escorre para a areia, cavou um enorme vale na praia."
 
Foi em julho, já a época balnear começara, que terminou a alimentação artificial da praia D. Ana. Além de alargar o areal em 50 metros, com areia dragada ao largo, a obra, orçada em quase 2 milhões de euros, incluiu a construção de um esporão com 40 metros que ligou a falésia ao Leixão da Artilharia.
 
O esporão deveria ser suficiente para conter os 140 mil metros cúbicos de areia dragada ao largo, ou pelo menos grande parte deles. Tudo com o objetivo principal de aumentar o espaço para estender a toalha longe das arribas instáveis.
 
Agora, nem seis meses decorridos, o mar já fez desaparecer vários metros de areal. Na Agência Portuguesa do Ambiente garantem que a movimentação era esperada, que a praia foi "sobrealimentada" em 15 a 25 por cento, e que os desníveis, com o tempo, vão desaparecer. Mais: sem esta intervenção, o mar teria incidido com frequência batido na base da arriba, tornando-o ainda mais vulnerável.
 
Mas quem ali mora ou passa férias não se cansa de deplorar o estado atual da D. Ana. "Começou a ficar sem areia a partir de outubro, com as suestadas", conta Maria Trigoso "E ainda não houve um daqueles ventos muito fortes que levam tudo."
 
Os efeitos secundários também já se fizeram sentir – parte da areia levada pelo mar apareceu no Pinhão, uma praia pequenina à sua esquerda. Fernando Silva Grade, artista plástico e ativista do grupo ambientalista Almargem, chama-lhe "metástase".
 
Exagero? A Quercus, que ainda no verão suspendeu a classificação "Qualidade de Ouro" à praia D. Ana, "por considerar que as intervenções realizadas colocaram em causa o equilíbrio ambiental e paisagístico que deve nortear a atribuição deste galardão", escolheu essa suspensão um dos "piores factos ambientais de 2015" no balanço do ano agora publicado.

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