O país é vulnerável a eventos meteorológicos, bens e pessoas expõem-se ao pior e a perigosidade de tais fenómenos promete aumentar no futuro.
Apesar da vulnerabilidade evidente, muitas pessoas expõem-se ao perigo |
Na linguagem técnica, o risco é produto de três factores: vulnerabilidade, exposição e perigosidade. Todos estão presentes em dose elevada na costa portuguesa, mas muitas vezes são negligenciados.
Vulnerabilidade: o factor Atlântico
A costa portuguesa é altamente susceptível a eventos como o que causou novamente prejuízos em vários pontos do litoral nos últimos dias. A razão é essencialmente geográfica: o país está voltado para o Atlântico, por onde passam sucessivas vagas de mau tempo no Inverno, no sentido oeste-leste. O efeito sobre o estado do mar é triplo. O mau tempo está associado a baixas pressões atmosféricas. Com menos ar a pressioná-lo, o nível do mar sobe naturalmente. Além disso, o vento empurra a água sobre a costa, acumulando-a e acentuando a subida do nível do mar. Em terceiro lugar, os ventos causados pelas frentes de mau tempo transferem enormes quantidades de energia para o mar, formando as ondas que depois darão à costa. Em terra, há um factor adicional: dois terços da linha de costa em Portugal são susceptíveis de erosão – fenómeno causado tanto pela configuração geológica do litoral, como por factores humanos, como a retenção de sedimentos pela construção de barragens. Ou seja, o país tem todos os ingredientes para episódios de forte agitação marítima e avanço do mar sobre a terra.
A costa portuguesa é altamente susceptível a eventos como o que causou novamente prejuízos em vários pontos do litoral nos últimos dias. A razão é essencialmente geográfica: o país está voltado para o Atlântico, por onde passam sucessivas vagas de mau tempo no Inverno, no sentido oeste-leste. O efeito sobre o estado do mar é triplo. O mau tempo está associado a baixas pressões atmosféricas. Com menos ar a pressioná-lo, o nível do mar sobe naturalmente. Além disso, o vento empurra a água sobre a costa, acumulando-a e acentuando a subida do nível do mar. Em terceiro lugar, os ventos causados pelas frentes de mau tempo transferem enormes quantidades de energia para o mar, formando as ondas que depois darão à costa. Em terra, há um factor adicional: dois terços da linha de costa em Portugal são susceptíveis de erosão – fenómeno causado tanto pela configuração geológica do litoral, como por factores humanos, como a retenção de sedimentos pela construção de barragens. Ou seja, o país tem todos os ingredientes para episódios de forte agitação marítima e avanço do mar sobre a terra.
Exposição: cada vez mais junto ao mar
Basta olhar para a ocupação urbana do litoral para se concluir o que significa estar exposto aos elementos. Sem regras eficazes durante décadas, as construções avançaram para zonas nitidamente vulneráveis – como falésias instáveis, ilhas de barreira, dunas e leitos de cheia. E mesmo com sucessivas leis a condicionar a ocupação de zonas de risco no litoral nas décadas mais recentes, o número de pessoas junto ao mar continuou a aumentar. Entre 2001 e 2011, a população das freguesias do país que confinam com o mar aumentou 10%, segundo o estudo Change – Mudanças Climáticas, Costeiras e Sociais, apresentado em Novembro por investigadores do Instituto de Ciências Sociais e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Entre 1970 e 2011, o número absoluto de habitantes junto ao mar subiu de 738 mil para 1,2 milhões. Na Cova do Vapor, em Almada, explodiu o número de habitantes (94%), de edifícios (44%) e de alojamentos sazonais (60%) nas últimas duas décadas, apesar dos 26 metros de costa comidos por ano pelo mar. Em Quarteira, no Algarve, a população duplicou e os alojamentos aumentaram 74% no mesmo período, mas todos os anos perdem-se seis metros de terra para o mar, em média. Há um outro tipo de exposição: o das pessoas individualmente. Um exemplo cabal é dado pelas imagens de dezenas de pessoas a fotografar e a filmar as ondas na Foz do Douro na segunda-feira, junto à orla e à mercê de vagas maiores, que sempre acabam por aparecer. Resultado: vinte carros varridos pela água e quatro feridos. Nos últimos sete anos, pelo menos 40 pessoas morreram em Portugal arrastadas por ondas, sobretudo no Inverno.
Basta olhar para a ocupação urbana do litoral para se concluir o que significa estar exposto aos elementos. Sem regras eficazes durante décadas, as construções avançaram para zonas nitidamente vulneráveis – como falésias instáveis, ilhas de barreira, dunas e leitos de cheia. E mesmo com sucessivas leis a condicionar a ocupação de zonas de risco no litoral nas décadas mais recentes, o número de pessoas junto ao mar continuou a aumentar. Entre 2001 e 2011, a população das freguesias do país que confinam com o mar aumentou 10%, segundo o estudo Change – Mudanças Climáticas, Costeiras e Sociais, apresentado em Novembro por investigadores do Instituto de Ciências Sociais e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Entre 1970 e 2011, o número absoluto de habitantes junto ao mar subiu de 738 mil para 1,2 milhões. Na Cova do Vapor, em Almada, explodiu o número de habitantes (94%), de edifícios (44%) e de alojamentos sazonais (60%) nas últimas duas décadas, apesar dos 26 metros de costa comidos por ano pelo mar. Em Quarteira, no Algarve, a população duplicou e os alojamentos aumentaram 74% no mesmo período, mas todos os anos perdem-se seis metros de terra para o mar, em média. Há um outro tipo de exposição: o das pessoas individualmente. Um exemplo cabal é dado pelas imagens de dezenas de pessoas a fotografar e a filmar as ondas na Foz do Douro na segunda-feira, junto à orla e à mercê de vagas maiores, que sempre acabam por aparecer. Resultado: vinte carros varridos pela água e quatro feridos. Nos últimos sete anos, pelo menos 40 pessoas morreram em Portugal arrastadas por ondas, sobretudo no Inverno.
Perigosidade: pior num futuro mais quente
A perigosidade é a combinação da intensidade de um fenómeno com a sua probabilidade de ocorrência. Ambos os factores não só já se reflectem em eventos como o desta semana, como poderão agravar-se no futuro, em função das alterações climáticas. Um dado importante é a previsível subida do nível do mar, devido sobretudo à expansão térmica dos oceanos. O último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, divulgado pela ONU em Setembro, fala numa subida de 28 a 82 centímetros até ao final do século, numa média global. Aumentará, com isso, a intensidade da erosão costeira. Localmente, os valores podem ser diferentes. Segundo o projecto Siam II – Alterações Climáticas em Portugal, Cenários, Impactos e Medidas de Adaptação, que envolveu cientistas de várias universidades nacionais, num futuro mais quente, as ondas poderão chegar à costa portuguesa com uma orientação ligeiramente diferente, agravando ainda mais a erosão, em 15% a 25% até ao final do século. O futuro das vagas de mau tempo é mais incerto, sendo que o estado do mar em Portugal depende do que acontece ao longo de milhares de quilómetros do Atlântico. Os modelos climáticos apontam, de qualquer forma, para uma maior probabilidade de ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos.
A perigosidade é a combinação da intensidade de um fenómeno com a sua probabilidade de ocorrência. Ambos os factores não só já se reflectem em eventos como o desta semana, como poderão agravar-se no futuro, em função das alterações climáticas. Um dado importante é a previsível subida do nível do mar, devido sobretudo à expansão térmica dos oceanos. O último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, divulgado pela ONU em Setembro, fala numa subida de 28 a 82 centímetros até ao final do século, numa média global. Aumentará, com isso, a intensidade da erosão costeira. Localmente, os valores podem ser diferentes. Segundo o projecto Siam II – Alterações Climáticas em Portugal, Cenários, Impactos e Medidas de Adaptação, que envolveu cientistas de várias universidades nacionais, num futuro mais quente, as ondas poderão chegar à costa portuguesa com uma orientação ligeiramente diferente, agravando ainda mais a erosão, em 15% a 25% até ao final do século. O futuro das vagas de mau tempo é mais incerto, sendo que o estado do mar em Portugal depende do que acontece ao longo de milhares de quilómetros do Atlântico. Os modelos climáticos apontam, de qualquer forma, para uma maior probabilidade de ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos.
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