sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Estudo suscita controvérsia sobre papel do cobre na doença de Alzheimer

Artigo publicado pelo jornal Público em 20/08/2013.
Acumulação de cobre nos vasos sanguíneos do cérebro faz aumentar proteína associada a este problema de saúde, mostra novo estudo. Cientistas contestam, referindo que mineral combate a doença.
A doença de Alzheimer aparece normalmente numa idade mais tardia
A acumulação de cobre nos vasos sanguíneos contribui para a doença de Alzheimer, conclui um novo estudo. O trabalho, publicado na segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, suscita uma controvérsia sobre o papel deste elemento, já que há outros estudos que mostram que este mineral evita esta doença neurodegenerativa.
 
“Ao longo do tempo, o efeito acumulado do cobre afecta o sistema que remove do cérebro a proteína beta-amilóide”, que é tóxica e tem um papel importante no desenvolvimento do Alzheimer, explica Rashid Deane, autor do estudo e professor de medicina no centro de neurocirurgia médica universitária de Rochester, no estado de Nova Iorque, EUA.
 
“Esta disfunção é um dos factores ambientais que causam a acumulação desta proteína no cérebro, o que forma as placas características da doença de Alzheimer”, adianta o investigador, que fez este trabalho em ratinhos e em células nervosas humanas.
 
Estes resultados são contrários aos dos trabalhos realizados por investigadores britânicos da Universidade de Keele, no Reino Unido, que foram publicados na revista Nature, em Fevereiro. “A quantidade de cobre no cérebro de pessoas idosas e em particular naquelas que têm Alzheimer é menor do que nas pessoas saudáveis”, explicou à AFP Christopher Exley, autor daquele estudo.
 
A esta questão, Rashid Deane respondeu que os dois estudos não se debruçam sobre o mesmo mecanismo e que “o problema é complexo”. O estudo britânico publicado em Fevereiro concluía que o cobre deveria prevenir a doença de Alzheimer, já que no caso dos cérebros das pessoas estudadas, os níveis deste metal eram mais baixos do que o normal. Mas, para Rashid Deane, isso não é conclusivo.
 
Mineral é importante
Já o novo trabalho, adianta Rashid Deane, debruça-se sobre os efeitos da acumulação de cobre – um oxidante forte –, nos vasos sanguíneos do cérebro, ao longo do tempo. Este metal acaba por afectar dois mecanismos importantes: um que previne as toxinas de entrar no cérebro e outro que ajuda a eliminar a proteína beta-amilóide, permitindo que se forme as placas. O cientista lembra que outros estudos mostram que estas placas que se produzem durante a doença de Alzheimer têm altos níveis de cobre.
 

“O trabalho do Dr Deane ajuda a clarificar o papel do cobre como factor maior de toxicidade cerebral que foi identificado juntamente com a doença de Alzheimer”, diz, por sua vez, George J. Brewer, da Universidade de Michigan, em Nova Iorque.
 
O investigador diz ter feito estudos mostrando “uma ligação entre a epidemia da doença de Alzheimer nos países industrializados e a utilização de canalização de cobre”. George J. Brewer sublinha que o cobre vindo da alimentação, que é orgânico, e essencial para a saúde, não provoca nenhum mal no organismo. Pelo contrário, o cobre inorgânico, que está presente na água canalizada, é tóxico.
 
O cobre orgânico é essencial para o sistema nervoso, para o crescimento ósseo e para a secreção hormonal, dizem os investigadores.
 
No trabalho que fez agora, Rashid Deane injectou nos ratinhos, durante três meses, doses de cobre correspondentes às quantidades deste metal que são consumidas pelos humanos quando bebem água da torneira.
 
Os investigadores constataram que o cobre entra rapidamente no sangue e acumula-se nas células que formam a parede de protecção entre os vasos sanguíneos e o cérebro. Estas células constituem um importante sistema de defesa que controla as moléculas que passam do sangue para o cérebro e vice-versa.
A equipa do cientista também observou que este cobre estimula a actividade dos neurónios, aumentando a produção da beta-amilóide, o que é mais um argumento para a influência deste mineral no desencadeamento da doença de Alzheimer.

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