quinta-feira, 16 de maio de 2013

Reactor nuclear japonês fica sobre falha geológica activa

Texto de Clara Barata publicado pelo jornal Público em 15/05/2013
"Reveladas as primeiras recomendações sobre a segurança das centrais nucleares japonesas.
Central nuclear de Tsuruga, onde um dos reuters fica sobre uma falha geológica activa
 
Um dos dois reactores da central nuclear de Tsuruga, na costa ocidental do Japão, está sobre uma falha geológica activa e por isso deve ser encerrado definitivamente, recomendou uma comissão de sismólogos. E um reactor onde se fazem experiências de reciclagem de combustível nuclear é tão inseguro que nunca mais deve abrir portas, dizem os peritos. Começam a abrir-se as portas dos primeiros encerramentos definitivos de centrais nucleares no Japão desde a crise em Fukushima, em 2011.
 
Neste momento, apenas dois dos 50 reactores nucleares japoneses estão a funcionar. A indústria nuclear civil está a ser alvo de uma revisão de segurança, depois de o acidente da central de Fukushima ter revelado que havia uma grande falta de vigilância no sector. O encerramento das centrais nucleares, no entanto, pesou de forma inédita na economia japonesa – fez com que o seu habitual superavit passasse a défice, por ter de importar combustíveis fósseis. O actual Governo de Shinzo Abe gostaria de ver as centrais nucleares voltar a funcionar o mais rapidamente possível, e os industriais também.
 
Mas o Japão é um dos países com maior actividade sísmica do mundo. Os primeiros resultados da avaliação de segurança começam a ser divulgados. Nesta quarta-feira, a comissão de sismólogos revelou o seu parecer de que a falha geológica conhecida como D-1, que fica sob a central de Tsuruga, a mais antiga do Japão, está activa.
 
“Os níveis de segurança [em Tsuruga] têm sido baixos. Só por sorte é que não houve um acidente”, disse Kunihiko Shimazaki, o presidente da comissão e comissário da nova Autoridade de Regulação da Energia Atómica japonesa – criada após o acidente de Fukushima em resposta às críticas ao antigo regulador, considerado demasiado próximo da indústria nuclear –, a entidade que deverá aconselhar o Governo a mandar encerrar as centrais que não tiverem condições.
 
A empresa que explora a central, a Japan Atomic Power, reagiu mal e acusou os cientistas de serem preconceituosos. “Lamentamos profundamente que tivessem chegado a essa conclusão, que nos é impossível de aceitar. Pedimos à comissão de peritos que cheguem a uma conclusão diferente depois de reverem os dados existentes com um ponto de vista neutro e uma discussão com base estritamente científica.”

Há outras cinco centrais nucleares que podem estar assentes sobre falhas geológicas activas.
 
Outro grupo de geólogos aconselhou também nesta quarta-feira à nova Autoridade de Regulação da Energia Atómica japonesa a não permitir que seja reactivado o reactor experimental de Monju.
 
Aquele reactor, em utilização há quase 50 anos, segundo a Associated Press, usa plutónio e não urânio como combustível. O objectivo é tentar obter um ciclo de combustível nuclear auto-sustentável. A ideia é reciclar o urânio e o plutónio do combustível já utilizado nos reactores das centrais e juntá-lo num produto híbrido (MOX).
 
Além de poupar dinheiro, evitar-se-ia enviar o combustível nuclear para o estrangeiro, para centrais onde é reciclado ou guardado – em viagens em que pode haver sempre o risco de ser desviado e haver proliferação nuclear, e em que é costume haver protestos de ambientalistas. A central de Rokkasho, no Norte do Japão, foi construída com esse fim e têm lá sido feitos ensaios, tal como em Monju.
 
Mas os ensaios não têm corrido muito bem, e houve acidentes graves em Monju, como em 1995, e problemas técnicos em Rokkasho. Há também suspeitas de que o reactor de Monju esteja situado sobre falhas geológicas activas e que exista o perigo de terramotos, tal como em Tsuruga – que, aliás, não fica longe.
 
Os cinco peritos da comissão de sismólogos que emitiu agora a sua opinião consideram que a operadora da central de Monju, a Agência de Energia Atómica do Japão, “não tem capacidade para garantir de forma suficiente a segurança”. “Apesar das lições que aprendemos após o acidente de Fukushima, parece que a cultura da segurança ainda é insuficiente no Japão”, comentou Shunichi Tanaka, secretário da Autoridade de Regulação da Energia Atómica japonesa, citado pela Associated Press.
 
“Repetiram os mesmos erros, apesar de dizerem que estavam a analisar a raiz dos problemas. Penso que não têm uma compreensão fundamental do que é a segurança”, disse ainda Shunichi Tanaka, secretário da Autoridade de Regulação da Energia Atómica japonesa."

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