sexta-feira, 24 de maio de 2013

GENE VIRIATO ESSENCIAL À FORMAÇÃO DO OLHO

Experiências com moscas trazem à luz a complexidade das malformações
Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-05-23
Este tipo de malformações impede a capacidade de ver
(Imagem: DR)

Um artigo publicado recentemente na revista «Developmental Biology» expõe de forma clara a necessidade de equilíbrio entre as funções de vários genes para a formação correcta do olho da mosca-da-fruta. No centro da questão está o gene Viriato que os investigadores do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) já tinham provado controlar a função de MYC, um gene associado ao desenvolvimento de várias formas de cancro. Agora, a mesma equipa demonstra que o Viriato não só está envolvido no processo de proliferação das células como também interage com uma cascata de vários outros genes responsáveis pela diferenciação correcta do olho.

Os autores mostram que o gene assume um papel preponderante no delicado processo de crescimento e formação do olho. Para isso, suprimiram individualmente vários genes no olho da mosca durante o desenvolvimento, todos relacionados com o crescimento ou diferenciação deste órgão, entre eles o Viriato. A supressão deste último não impedia o desenvolvimento do olho, apesar da redução de tamanho em relação ao olho normal.

De forma semelhante, quando um gene da via TGF-β, uma cascata de genes que controla a diferenciação dos tecidos, foi suprimido o olho também apresentava um atraso na formação levando a uma diminuição do tamanho do olho. No entanto, a surpresa ocorreu quando os dois genes foram suprimidos em simultâneo. Neste caso o olho apresentava uma malformação muito severa pois não ocorria qualquer formação de retina impossibilitando a visão.

Os investigadores testaram cerca de 300 outros genes e verificaram que a supressão simultânea do Viriato com genes da via TGF-β resultava em deformações muito mais dramáticas que a simples soma do efeito da supressão individual de cada um dos genes.

Este estudo exigiu da equipa uma enorme inovação técnica: “fizemos quase 300 combinações de duplo-RNAi para reduzir a função de pares de genes ao mesmo tempo”, explica Paulo Pereira, coordenador da equipa. De facto, a técnica de duplo-RNAi nunca tinha sido usada nesta escala e de forma dirigida para tecidos específicos de um organismo vivo.

“Avançamos no sentido de perceber melhor como múltiplas mutações podem estar na base do desenvolvimento de patologias”, como adianta Paulo Pereira. Percebe-se claramente deste trabalho que “o resultado não é uma simples adição dos efeitos individuais de cada gene suprimido”, explica o investigador, havendo “sinergias entre o efeito dos genes, com resultados surpreendentes”.

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