domingo, 1 de fevereiro de 2009

O pólen e o crime

No Diário de Notícias de ontem, sábado, 31 de Janeiro, Filomena Naves, em mais um dos excelentes artigos, em que nos dá conta do "saber" nacional, chamou a atenção para o trabalho de Mafalda Faria, única palinóloga forense portuguesa. Que palavra estranha, dirão alguns, com um certo espanto. Pois bem, Mafalda Faria faz dos grãos de pólen o seu material de trabalho na descoberta de eventuais suspeitos ligados a determinados crimes, nomeadamente o de homicídio, ou seja, procede à aplicação da palinologia à ciência forense.
O pólen, fonte de vida no mundo das plantas com sementes, encontra-se por todo o lado, como os indivíduos que sofrem da febre dos fenos que, segundo a revista BMJ (British Medical Journal) afecta 1 em cada 6 pessoas nos países industrializados, bem o sabem. Têm sido encontrados grãos de pólen a 3 km de altitude e no mar a 600 km da costa, levados pelos ventos e pela água, respectivamente.
Os grãos de pólen possuem uma membrana externa, também designada de exina, extremamente rija e resistente, que lhe permite suportar as condições mais adversas, nomeadamente a acção de ácidos fortes e de calor intenso, podendo durar milhares de anos sem se decompor, como o provam as amostras de solo recolhidas a profundidades consideráveis e, daí a importância dos pólens no estudo da evolução das espermatófitas. O que faz desta camada externa objecto de particular interesse é o facto de apresentar na sua superfície desenhos distintivos consoante as espécies. Assim, nos grãos de pólen teremos uma exina mais lisa ou mais rugosa, com os mais variados padrões geométricos ou outras diferenciações, que fazem do pólen de cada espécie um pólen único, singular, quais impressões digitais de cada espécie. É esta singularidade que Mafalda Faria utiliza na triangulação entre os pólens encontrados no local de um homicídio (ou local de encontro do corpo, caso tenha havido remoção do mesmo), as amostras retiradas das cavidades nasais, dos cabelos e roupas da vítima e as encontradas no eventual suspeito
Não nos dando uma completa certeza pois, como refere a investigadora"Tem que haver pelo menos 80 por cento de coincidência entre o pólen que é característico de um determinado local e o que é encontrado no cabelo de uma vítima para se poder dizer, por exemplo, que aquele é o local onde ocorreu o crime", estes estudos não deixam de constituir mais um meio de prova posto à disposição da ciência forense.


Fernando Ribeiro
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?headline=98&visual=25&article=385468&tema=27

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