quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A CIÊNCIA NA IMPRENSA

Os media portugueses inserem, com crescente frequência, notícias e comentários sobre a evolução da Ciência, em especial quando os protagonistas são nacionais. Foi o caso recente da agência Lusa que relatou os avanços conseguidos, no domínio da evolução das espécies, por uma equipa de cientistas do prestigiado Instituto Gulbenkian de Ciência. Numa altura em que se comemoram o nascimento de Charles Darwin e a publicação da sua obra “A Origem das Espécies”, esta notícia ganha redobrada importância, pelo que a transcrevemos.
Drosophila melanogaster.

“Investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em colaboração com colegas norte-americanos, recriaram um processo de selecção natural numa população de moscas do vinagre e voltaram atrás no tempo numa experiência de reversão evolutiva.Os resultados do estudo, coordenado por Henrique Teotónio (36 anos), responsável pelo Laboratório de Genética Evolutiva do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), vieram ontem na edição online da revista Nature Genetics. O estudo insere-se no caminho aberto pela teoria da evolução de Charles Darwin, há 150 anos, e "demonstra uma parte dessa teoria que até agora toda a gente aceitava mas nunca ninguém tinha confirmado do ponto de vista empírico", disse o investigador. "A diferença é que quando fazemos experiências de evolução no laboratório estamos a observar a evolução a decorrer defronte dos nossos olhos, não é ir para a natureza e depois tentar inferir o que se passou."Henrique Teotónio e colegas da Universidade da Califórnia, em Irvine, usaram moscas recolhidas no Estado de Massachusetts (EUA) em 1975, demonstrando pela primeira vez a ocorrência de um processo de selecção natural na variação genética da população. A partir de 1980 as moscas ficaram em condições laboratoriais diferentes, e mudaram de acordo com os ambientes."Mudando os ciclos de reprodução ou de sobrevivência através de condições de stress ambiental, como falta de comida ou falta de água, por exemplo, foi observado que as populações derivadas da original evoluíram muito diferentes umas das outras", disse. Em 1996, Henrique Teotónio começou a trabalhar com estas populações diferenciadas para as colocar de volta a um ambiente próximo do original para estudar as alterações genéticas ao longo de 50 gerações, como parte do doutoramento na Universidade da Califórnia. "O que eu fiz foi pô-las num ambiente idêntico àquele em que foram colocadas em 1975, quando retiradas da natureza, a que chamamos de controlo ou ancestral", explicou. O que aconteceu foi que, ao recuarem no tempo, "muitas voltaram ao estado ancestral, mas muitas não voltaram e fizeram-no a taxas diferentes durante as 50 gerações". As alterações foram observadas na morfologia, metabolismo ou demografia, tendo esta parte do estudo sido já publicada, em 2000, na revista Nature.Ao fim das 50 gerações, as moscas estavam bem adaptadas ao ambiente ancestral e, no entanto, apresentavam características diferentes. O trabalho agora publicado estudou a variação em sequências de ADN nestas populações e concluiu que "toda a variação genética já era preexistente, já lá estava no estado ancestral. É apenas uma mudança nas frequências relativas dessa variação genética que está por detrás da evolução das características que observámos anteriormente". A variação estava toda lá mas, ao contrário do que se antecipava, não se registou uma reversão total ao estado ancestral em termos de frequências ao fim das 50 gerações. Segundo o investigador, "este estudo sugere que a formalização matemática da teoria evolutiva ainda é extremamente simples e como tal não preditiva". "Por definição a evolução é contingente no passado", afirmou. "O que conseguimos foi quantificar essa contingência."

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