quinta-feira, 17 de julho de 2014

Vírus da sida ressurgiu no organismo do “bebé do Mississippi”

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 16/07/2014.

Um bebé norte-americano que nascera já infectado pelo VIH, que fora tratado com altas doses de antirretrovirais logo à nascença – e que desde então era considerado “curado” – tornou a apresentar sinais de infecção activa pelo vírus da sida.
Um dos bebés tratados com antirretrovirais voltou a apresentar sinais do VIH
Os médicos que trataram uma menina contra o VIH apenas horas após ter nascido anunciaram há dias que, ao contrário do que acreditavam até agora, a menina já não se encontra em remissão.
 
A menina, que não recebia tratamento há cerca de dois anos, aparentava ainda recentemente ter ficado livre da infecção.
 
O resultado é “obviamente uma desilusão”, declarou aos jornalistas Anthony Fauci, director do Instituto Nacional das Alergias e das Doenças Infecciosas norte-americano, citado pela BBCNews.
 
Os médicos, liderados por Deborah Persaud, da Universidade Johns Hopkins (EUA), tinham tratado o bebé, que nascera no Mississippi já infectado pelo vírus, com altas doses de um cocktail de medicamentos antirretrovirais, habitualmente utilizado nos adultos infectados. Mas a dada altura, tinham perdido contacto com a mãe do bebé – e o tratamento fora interrompido. Quando o contacto foi retomado, os médicos constataram que os testes habituais não revelavam qualquer presença do VIH no organismo da criança, o que suscitou esperanças de que o tratamento antirretroviral fosse particularmente eficaz quando administrado muito precocemente aos bebés.
 
Aliás, um estudo financiado com dinheiros públicos estava previsto nos EUA para testar este método de tratamento e determinar se ele poderia ser aplicado a todos os recém-nascidos infectados pelo VIH. Mas agora, acrescentou Fauci, “vamos ter de olhar muito bem para esse estudo para ver se é preciso alterá-lo”.
 
Este desfecho vai ao encontro de outros resultados recentes, que também apontam para o facto de os reservatórios de VIH – os locais do organismo onde o vírus se esconde e fica em estado latente – serem muito maiores e portanto mais difíceis de erradicar do que se pensava.
 
Entretanto, um segundo bebé igualmente tratado, mas desta vez na Califórnia, ainda permanece livre do vírus. Porém, esta criança continua a tomar antirretrovirais, ao contrário da primeira – não sendo agora nada provável que os médicos arrisquem interromper o tratamento.
 
Até aqui, apenas um doente no mundo parece ter conseguido expulsar totalmente o vírus VIH – e isso após um transplante de medula óssea. Mas o caso deste homem, conhecido como o “doente de Berlim”, é diferente do dos bebés na medida em que o transplante que recebeu provinha de um dador que apresentava uma mutação, num gene chamado CCR5, que torna as células sanguíneas imunes ao vírus da sida.

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